domingo, 14 de agosto de 2016

Vida Roubada - Capítulo 25


                Há cinco dias Sebastian vivia em família, com a mãe, a filha e Beatriz. Já nem se lembrava de quando passou tanto tempo sem sair de casa, seja por uma viagem internacional ou séries intermináveis de reuniões. Angelina estava encantada com Bia, sua “nora” como não parava de dizer. Essa estada feliz em sua casa, porém, trouxe problemas. Não foi fácil convencer sua mãe de que Beatriz não podia sair de casa para fazer compras ou, nem mesmo, para ir num parque qualquer. E Luisa estava avisada de que nenhuma coleguinha de escola deveria vir na casa por agora.

            - Você gosta de estar com a Bia, não é mesmo?
            - Sim, papai.
            - Então não deve contar para ninguém que ela está conosco. Ou Bia terá de ir embora. – Sebastian explicou.

            O pedido funcionou e a menina se comportou muito bem. Nada falou na escola ou na vizinhança, passando muito tempo em casa junto de sua mais nova amiga. Todos esses alertas e cuidados, porém, deixaram Angelina muito desconfiada. E ela chamou o filho para uma conversa séria. A mãe estava muito distante da verdade, porém, percebia claramente que algo de muito errado ocorria na vida de seu filho.

            - Ela tem problemas com a lei? Ou um marido perigoso? Diga o que há de errado com Beatriz, Sebastian. Estou preocupada.
            - Você gosta dela?
            - É claro, é uma moça agradável, educada e muito atenciosa com minha neta. Mas isso não me faz fechar os olhos para o que ocorre em minha casa. Obviamente, ela não está aqui por problemas no encanamento! – Angelina, discreta como de costume, falou em tom baixo, mas firme, ao único filho.

            Em silêncio Sebastian encarou a mãe e cogitou contar-lhe toda a verdade. Porém, como dizer a uma senhora idosa que ele, um empresário sério e de credibilidade, frequentava boates clandestinas e havia comprado uma prostituta. Sorriu ao pensar que de tudo o que tinha para contar, certamente o que menos preocupara Angelina era o passado de Beatriz. Encantada como estava com nova nora, ela muito provavelmente só teria críticas ao seu comportamento como filho e pai de família, que dera um péssimo exemplo à filha.

            - Do que está rindo?
            - Nada mamãe. É só que...você está certa. Eu tenho coisas a lhe contar. Mas ainda não é hora.
            - E quando será? - Angelina estava realmente preocupada com o filho.
            - Logo. Eu prometo.



            Ele então resolveu que precisava sair, respirar outro ar e arejar os pensamentos. Porém, a ideia de sair sozinho não o agradava. Na verdade, a ideia de viver sozinho nunca lhe pareceu tão sem graça quanto agora. Enquanto Luísa estava na escola, avisou que Beatriz deveria se arrumar para sair com ele, iriam passear em um lugar qualquer.

            - Passear? – Beatriz viveu feliz nesses dias, mesmo que lá no fundo a consciência lhe lembrasse minuto a minuto que muito longe dali uma família sofria por ela. – Eu não tenho roupa pra me arrumar muito.
            - Nós vamos resolver esse problema no passeio. Vista qualquer coisa e estará linda.

            Primeiro sozinhos enquanto Luisa estava na escola e depois acompanhados da menina, Beatriz e Sebastian tiveram um dia especial. Ele não se sentia completamente livre, por isso manteve-se longe das áreas mais movimentadas e disfarçou sua identidade com roupas esportivas e um boné que cobria parte de seu rosto. Também manteve-se distante dos lugares que normalmente frequentava e dos centros de compras mais badalados e levou Beatriz para ver lugares discretos, mas que satisfaziam a ambos.
            As compras foram rápidas e simples. Somente o necessário ao que ela precisava para viver, já que Francisco trouxe algumas coisas que ficaram no apartamento. Sebastian já havia aprendido que Beatriz é uma mulher prática e daquelas que não gasta tempo além do necessário com cuidados de beleza. Ela escolheu algumas peças, ele as deixou no carro e, depois, foram aproveitar o dia. Depois de pegarem Luisa na escola, levaram-na para um parque e simplesmente observaram enquanto ela brincava.

            - Há muito eu não via minha filha tão feliz. – Sebastian reconheceu enquanto acariciava os cabelos da companheira de passeio. – Você é responsável por isso. Tenho de te agradecer.
            - Bobagem. Sua filha é uma criança maravilhosa. Aceitaria bem qualquer mulher que estivesse em sua casa.
            - Pode ser. – Ele, porém, jamais tinha levado nenhuma outra. – Mas ela não sorria assim pra mim. Nem eu passava tanto tempo em casa para vê-la feliz.
            - Que bom que isso mudou, então. Luisa está crescendo. Um dia a infância dela terá fim e ficarão apenas as lembranças. – Assim como ocorria com Eva. E ela estava perdendo o crescimento de sua bebê. – Momentos assim não voltam, Sebastian.
            - Conte-me sobre sua filha. Se ela está com sua irmã, diga-me o nome dela e onde vivem. – Sebastian percebia a oferta que estava prestes a fazer. Errada e muito arriscada. Ainda assim, fez. – Eu a busca e nós viveremos todos aqui. Minha filha e a sua crescerão juntas.



            Beatriz encarou Sebastian e, por um momento, quis que tudo aquilo fosse possível. Imaginou Eva ali nos EUA, com Luisa como irmã e Sebastian como pai. Aquele conto de fadas fora sonhado por ela em um momento de sua vida. Por isso casou-se com um homem que não conhecia tanto assim e foi mãe antes de estar pronta para isso. Queria apenas forma uma família. Só que agora, depois de tudo o que viveu nos últimos meses, não mais acreditava em contos de fadas finalizados por finais felizes.

            - Não, Sebastian. Nós dois sabemos que o nosso relacionamento não permite isso. Por favor, eu não quero falar de Eva.

            Sebastian foi para casa chateado. Não com Beatriz, mas com a situação em que a vida deixou os dois. A vida e, ele reconhecia, suas próprias atitudes repletas de erros. Algumas ações cometidas na vida jamais poderiam ser concertadas. Comprar uma mulher é uma delas. Por isso, por mais dolorido que fosse aceitar, ele reconhecia as razões de Beatriz e não lhe confiar qualquer informação a respeito de sua filha. Respeitava a decisão dela, porém, lutaria com as próprias armas. E assim que chegou em casa, cobrou por telefone o profissional que deveria lhe enviar o relatório de investigação a respeito de Bia, Gabriela e Miguel Benitez. Algo lhe dizia que Gabriela teve motivos escusos para procurá-lo e a resposta estaria em Miguel.

            - Eu lhe falei que levaria tempo. – O detetive e conhecido de muitos anos afirmou. – Até tenho um relatório preliminar a te oferecer, mas o final ainda demora.
            - Que seja o preliminar então, Clark. É urgente. Me envie o que tiver e alerte imediatamente, qualquer avanço.
            - Está bem. Estará na sua caixa de e-mail em alguns minutos.



            Longos cinco minutos se passaram até que a correspondência eletrônica enfim chegasse. Sebastian trancou-se no escritório na clara mensagem de que não desejava ser incomodado. E então começou a ler a sequência de informações. Conforme as linhas iam sendo vencidas, preocupava-se cada vez mais. Não poderia ter se enganado mais com Beatriz.

            - É claro que ela não é uma prostituta qualquer. – Esso esse já imaginava há bastante tempo. Porém, os esclarecimentos trouxeram coisas bem preocupantes.

            As informações se sucederam. Em pouco mais de meia hora Sebastian descobriu que Beatriz fora uma repórter num dos jornais de maior circulação de São Paulo. Acostumada a atuar em matérias cotidianas e de política, um de seus últimos trabalhos fora uma reportagem investigativa. O tema chamou a atenção de Clark, que fez questão de incluir uma cópia da matéria no relatório.

            - Você investigou o esquema de tráfico de pessoas que levava mulheres à prostituição na Europa. – Enchendo o copo com mais uma dose de bebida, Sebastian demorava a acreditar em tudo aquilo.

            A jornalista Beatriz Santos, ele seguiu lendo, desapareceu a cerca de oito meses após uma emboscada que matou seu namorado a tiros. Até hoje o crime não foi esclarecido pela polícia brasileira, que encerrou o caso.

            - A polícia acredita que Beatriz está morta. – Sebastian, por um momento, teve esperança de que pudesse viver aquela mentira eternamente. Até que seguiu lendo e descobriu que tinha pouco tempo para tentar resolver tudo aquilo se não quisesse terminar sem Beatriz ou, até mesmo, preso.

            A Polícia Civil havia engavetado o caso, mas ele continuava sendo revirado por uma investigadora da Polícia Federal. Não por acaso. A policial Elizabeth Santos Benitez, casada com Miguel Benitez, investiga o tráfico de pessoas há muitos anos. Fora a partir dela que a irmã, Beatriz, conseguiu informações precisas para construir a reportagem que a levaram até muito próximo da quadrilha que denunciou. Próximo demais. Aparentemente, Elizabeth não conseguiu convencer seus colegas de polícia de que os fatos estavam interligados. Porém, sabia que ao investigar a quadrilha que sempre prosseguiu, também chegaria na irmã.
            E chegou. Pessoalmente, ela foi à Rússia e invadiu a Noxotb um dia depois que ele havia comprado e levado Beatriz de lá. Se a tarefa mostrou-se inócua para rever sua irmã, ao menos Elizabeth conseguiu desbaratar a quadrilha e prender um de seus principais líderes.

            - Gregory! – O homem, com quem pessoalmente negociou o preso por Beatriz. E que segundo o relatório acabara de ser morto numa prisão brasileira.

            Algumas coisas começavam a fazer sentido para Sebastian. Em especial a forma diferente com que Beatriz era tratada na Noxotb. Obviamente, ela não estava lá para dar lucro através de programas, mas como uma retaliação ao que fez e a investigação da irmã. O que Sebastian ainda não entendia era a ligação de Gabriela com o assunto. Porém, não seria ingênuo a ponto de acreditar em coincidências.
            O relatório nada dizia sobre Gabriela. Ao que parecia, o que ela escondia estava tão bem guardado que, ao menos por enquanto, Clark nada tinha descoberto. Porém, algumas suposições começaram a surgir em sua mente quando leu um trecho a respeito de Miguel Benitez. O primo de Gabriela e atual presidente da BTez Motors conheceu sua atual esposa ao ser preso por ela. Ele esteve envolvido numa investigação que o acusava de lavar dinheiro utilizando a montadora. Depois descobriu-se que outro diretor, Javier Alencastro Benitez, o pai de Gabriela Alencastro era o culpado. Apesar de jamais ter conseguido provar, Elizabeth chegou a declarar publicamente que acreditava que o dinheiro ilegal lavado na BTez vinha de prostituição.

            - É essa a ligação. Javier lavava o dinheiro que Gabriela conseguia escravizando mulheres. – Sebastian enfim entendeu tudo. – E ela quer Beatriz morta.

            Eram muitas novidades e muitas decisões que precisavam ser tomadas. Sebastian decidiu nada fazer naquela noite. Nada, a não ser pôr fim às mentiras que feito um muro seguiam entre ele e Beatriz. Engolindo o último gole de bebida que restava em seu copo, Sebastian decidiu que era necessário resolver tudo aquilo e que essa solução passava por dar o nome certo àquela relação e trazê-la para a luz. Há muito Beatriz já não era uma prostituta para ele, apesar de tê-la comprado, jamais a viu como um objeto sob sua posse. A desejava ao seu lado para sempre, porém, não em meio a fugas e mentiras. Entrou em seu quarto e encontrou-a arrumando-se para dormir após o banho. Sempre gostava de vê-la com o rosto livre de maquiagem, numa beleza liberta e fascinantemente verdadeira.

            - Você demorou tanto. Pensei que iria dormir no escritório. – Beatriz disse, sem entender o que acontecia, mas percebendo algo de diferente no olhar e na postura de Sebastian. – Você esteve bebendo.
            - Sim. – E não fora pouco. – Às vezes um homem precisa da ajuda do álcool para ter coragem. Temos de conversar, Beatriz.



            Em poucas e duras palavras, Sebastian contou tudo o que acabara de ler a respeito da vida daquela mulher. Desnudou-a a ela mesma, sem censurar nenhuma palavra. Ao final, perguntou como a jornalista se sentia diante da maior e mais extensa matéria de sua vida. E viu aquela mulher, que tanto havia suportado, desmoronar frente a verdade.

            - Me tiraram do jornalismo já faz algum tempo, Sebastian. Me tiraram da minha família. Da minha vida toda. – Mesmo lutando para frear as emoções, Beatriz começou a chorar. – Eu mudei tanto que...que nem mesmo sei se me encaixo naquela vida novamente.

            Sebastian também não sabia como ele iria se encaixar na vida da jornalista Beatriz Santos, aquela que denunciou homens como ele. Mas não tinham alternativa. Somente quando o choro de Beatriz cessou é que Sebastian continuou o assunto. Faltava confirmar o encaixe da última peça.

            - Por que Gabriela Alencastro quer você morta? – Perguntou claramente. – Eu estava com ela, no Brasil, quando coincidentemente você foi atacada. Tenho claras razões para pensar que você é um alvo dela.
            - Fique longe dela! – Beatriz jamais imaginou que Gabriela viria atrás de Sebastian. – Essa mulher é um demônio.
            - Eu fiz uma pergunta, Beatriz! Quero a resposta, não conselhos! – Irritado, ele respondeu.
            - Eu conheci Gabriela através de fotos, quando minha irmã começou a investigar a família Benitez. Mas jamais Elizabeth a considerou suspeita. Então, quando atacaram Will...e o mataram na minha frente...me levaram e...e então ela apareceu. Gabriela foi a assassina de Willian, um homem bom, um médico que só fez coisas boas por todos, por mim e por Eva. Ele morreu por estar comigo, só pelo prazer dela.
            - Você ainda o ama? – Sebastian não gostou daquela definição de Willian feita por Bia. Lhe soava muito injusto ouvir os elogios que ela fazia aquele homem, aos olhos dela tão perfeito, quando ele mesmo estava cheio de defeitos. Enquanto Will morreu defendendo-a, ele a tinha usado e escravizado. – Responda!
            - Não! – Beatriz respondeu, sendo completamente sincera. – Aquela Beatriz o ama. Mas ela também morreu naquela madrugada. Essa aqui é outra...nasceu naquele...bordel onde você me encontrou vendendo bebidas e alugando meu corpo. E tudo por culpa da crueldade de Gabriela. Ela podia ter me matado naquela noite, mas disse que me faria viver o inferno. E cumpriu direitinho a promessa.



            - Ao que me parece, você representa mais do que uma vingança pessoal. Sempre foi a apólice de seguro dela contra Elizabeth. Se a investigação de sua irmã avança-se, ela poderia usá-la para atingir a investigadora do caso. Mas então, estranhamente, Gregory resolve leiloá-la e eu a compro.
            - Não foi Gregory, mas sim Samantha. Ela não suportava o interesse pessoal do marido por mim.
            - Você é uma mulher que desperta muitos amores, Beatriz. Isso é inegável.
            - Eles não me renderam muitas alegrias. Veja a situação em que nos encontramos. – Havia uma melancolia na voz dela. Claramente, chegava ao ponto final. Mas ela ainda tinha o que lhe falar. – Sebastian...depois disso tudo...não sei o que vai acontecer, mas preciso que você saiba que em algum momento desses meses você se tornou alguém muito especial pra mim. Você cicatrizou a ferida que se formou quando me tiraram Will e me fez encontrar a felicidade, mesmo no meio disso tudo. Às vezes eu cheguei a me sentir constrangida em ser feliz, quando minha filha está tão longe.

            Sebastian desejava poder lhe prometer que logo estaria junto de Eva, mas isso não seria tarefa fácil de cumprir. Não só pelas dificuldades da lei como também porque ele necessitaria ter bons sentimentos dentro de si para abrir mão de Beatriz. E ele não tinha certeza de que conseguiria fazer isso, mesmo em nome de fazê-la feliz.

            - Agora você sabe da minha vida inteira, da mais bela parte, até o trecho mais vergonhoso. – Beatriz disse observando-o tirar a roupa e se atirar na cama. – Acho que é minha vez de conhecer você. Sei tão pouco ao seu respeito.
            - Amanhã. Vamos dormir. Hoje estou exausto. – Em todos os sentidos, principalmente emocional. Ele manteve essa parte da resposta só para si.

            Sebastian, porém, não dormiu nada naquela madrugada. Passou-a em claro, observando Beatriz dormir e tomando as mais importantes decisões de sua vida. Era hora de enfrentar todos os seus erros e arcar com as consequências, mesmo as mais dolorosas. Iria lutar para que nada o fizesse perder Beatriz, mas caso essa fosse a decisão dela, aceitaria.
            Na manhã seguinte, quando Bia acordou, Sebastian já não estava mais na cama. Ele havia saído ao amanhecer e cheio de decisões tomadas. Chamou seu advogado de confiança e depois de abrir o jogo ao jurista, ordenou algumas coisas surpreendentes.

            - Quero que Beatriz tenha seus documentos de volta. Tudo, inclusive o passaporte. E que com isso retorne ao Brasil, de cabeça erguida, como ela merece. Custe o que custar. – Afirmou.
            - Pode custar a sua liberdade. – O advogado afirmou. – Como você pretende explicar que uma mulher desaparece no Brasil e surge na sua casa? Na melhor das hipóteses, e contando com um depoimento favorável dela, você responderia por cárcere privado. Se vier à tona que a comprou de uma quadrilha de tráfico de pessoas, a situação se complica ainda mais.

            Sebastian ouviu uma série de conselhos. E, ao final, apenas repetiu:

            - Custe o que custar. – E se retirou.

            Elizabeth vivia momentos decisivos e difíceis na Polícia Federal. Decisivos porque nos últimos dias a investigação evoluiu muito, fazendo com que Elizabeth sentisse nos lábios um gosto conhecido. Ela sentia estar próxima de pôr as mãos em Gabriela, agora que estava convencida de ter encontrado o grande peixe que buscava.

            - Uma sereia, eu diria. – Rebeca lembrou-a. – O que faz uma mulher rica, de boa família e linda assim ir para o crime?
            - Não sei. Mas me lembre de perguntar quando for interrogá-la. Por mim, ela pode ser linda o bastante para ser a miss presídio, não importa. – Elizabeth respondeu. – E o nosso mister? O que temos? Seu último relatório foi bom, mas acho que ainda temos o que descobrir.
           
            O primeiro relatório apresentado por Rebeca fora muito completo. Mas apesar de oferecer um grande panorama a respeito do empresário Sebastian Gonzáles, homem de reconhecida capacidade profissional e de boa reputação. Porém, eram as entrelinhas que mais interessava a Elizabeth. E Rebeca fora muito eficiente em comprovar que ele tinha outro lado em sua vida, um lado bem mais obscuro. Se nos EUA Sebastian nadava em águas tranquilas e agia de forma muito familiar e responsável, quando ia para Europa ele frequentava lugares bem diferentes. Não se tratava apenas de alguém que curtia sair com prostitutas. Ele parecia extravasar a pior face de sua personalidade por lá. Porém, Elizabeth ainda acreditava ter mais.

            - Tem de ter uma explicação para ele ter vindo ao Brasil junto de Gabriela. Sebastian tem envolvimento com o tráfico. Essa é a minha aposta. – Liz disse.
            - Não encontrei absolutamente nada que levasse a isso.
            - Eu sei. Mas são indícios demais. Ele não deve frequentar tantas boates e sair com essas mulheres apenas por prazer. Ele deve estar envolvido sim.
            - Eu, se fosse você, preocupava-me mais com Gabriela do que com Sebastian. Ele não me parece perigoso.
            - Os piores são os que não parecem, Beca. – Liz respondeu. Reconhecia a si mesma que havia desenvolvido certa implicância contra Sebastian. – Estou de olho em Gabriela. Só preciso de uma prova, ligando-a ao que seu pai fez. Quero-a presa, seja qual for o motivo. E ela está sentindo isso. Sabe que eu estou perto. Por isso ordenou a morte de Gregory. Mas vou pegá-la. Vamos analisar as transferências bancárias dos dois nos últimos cinco anos. Eles não tinham medo algum da justiça, duvido que Gabriela possa explicar cada uma das transferências que seu papai deve ter lhe feito.

            Duas noites atrás Gabriela Alencastro tinha lhe feito uma visita. No início da noite apareceu no apartamento, dizendo procurar pelo primo.

            - Ele ainda não chegou. Mas chega logo. Quer ficar para jantar? – Liz a tinha tratado com a falsidade que lhe é habitual.
            - Acho que não. Afinal, você, com essa barriga, e depois de um dia de trabalho, deve estar exausta.
            - Pouca coisa. Não me falta energia para colocar atrás das grades quem não merece viver em liberdade.

            Apesar de não se permitir transparecer em nada aquela sensação, por alguns instantes Elizabeth temeu que Gabriela sacasse uma arma e atirasse à queima roupa. Racionalmente, porém, sabia que ela havia passado pela portaria e deixado rastros, seria entregar-se à justiça. Gabriela veio ali para algo, obviamente, mas não seria cometer um assassinato. Porém, a chegada de Miguel, mais cedo do que o normal, a impediu de descobrir.
            Miguel por muito pouco não conseguiu se segurar e acabou por expulsar a prima. Apenas o olhar de Liz o fez se calar e manter-se naquela farsa dolorosa. A ideia de ter Liz e seu filho ao alcance de Gabriela o assustava. O ar tornou-se mais denso. E fora a loura a colocar fim no encontro após Miguel colocar-se entre ambas as mulheres.

            - Acho que está na hora de todos repousarmos, meu amor. – Disse beijando os lábios de Liz. – Podemos jantar outro dia, não é mesmo, Gabriela?
            - É claro. – Ela respondeu. – Qualquer dia desses.
            - Sim. Mas ligue antes de aparecer. É melhor. – O aviso de Miguel fora claro.

            Aquela estranha visita, além de preocupação de Elizabeth, gerou uma briga com Miguel. No fundo, apesar de divergirem, eles concordavam na preocupação e temiam pelo filho. Elizabeth sempre lidou com criminosos e estava habituada com o risco, mas agora carregava outra vida dentro de si. E essa responsabilidade lhe pesava tanto quanto aquela barriga.

            - Está na hora de você sair de licença. – Miguel lembrou-a.
            - Sim, está. Mas eu preciso pôr fim nesse caso antes de Benício nascer. – Há poucos dias, enfim, haviam decidido o nome de seu menino. – Você sabe que não tenho escolha, Miguel. Gabriela não pode ficar impune!

            Ele sabia. Porém, assim como se orgulhava da policial com quem se casara, temia pela esposa e pelo filho. O que ela fazia não é saudável. Miguel não era o único a estar preocupado com a licença maternidade de Elizabeth. Tomaz, seu chefe, apesar de todas as desculpas ditas em resposta, não parecia mais disposto a adiar os prazos.

            - Já era para você estar de licença, Elizabeth. Não pode parir aqui na Polícia Federal. Por favor! Quer me causar um problema grave.
            - Não estou no serviço de campo. Qual o problema? – Ela conhecia as regras da polícia e sabia que as estava infringindo. – Quero trabalhar até meu filho nascer como tantas mães fazem!
            - Elas não lidam com criminosos.
            - Eu tenho um caso a resolver. E você sabe o quanto é importante.
            - E você sabe que a sua equipe é competente. Assinei a sua ordem de entrada de licença com data para início em cinco dias. E não tente me fazer voltar atrás, seu filho e você merecem esse tempo de descanso. – Ele avisou e saiu da sala.



            Chateada com aquele ultimato e muito cansada, Liz deixou a Polícia naquela noite. Ligou para Miguel avisando que estava indo e rumou para a rua. Devido a barriga muito grande não estava mais dirigindo e, como Miguel ainda estava na BTez, esperá-lo para pegar carona não foi uma opção. Parou na calçada e ficou tentando atacar um táxi. Apenas não percebeu que era observada atentamente de dentro de um carro.



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