domingo, 31 de julho de 2016

Ariella - Capítulo 18


Quando Ariella percebeu já estava beijando o marido desesperadamente, como se sua vida fosse acabar naquele instante. Não queria pensar em qual sentimento ou instinto levava-a a fazer aquilo. Ela desejava apenas fazer exatamente o que fazia. E iria, até o fim, sem se deixar parar por medos ou preocupações.



Diego estava em êxtase. Por quase onze longos anos desejou ter a chance de tocar Ariella novamente e agora conseguia. Quando o amanhã chegasse, talvez ela não se sentisse tão liberta e ficasse furiosa com sigo mesma. Talvez o acusasse de se aproveitar de suas fraquezas. Mas e as fraquezas dele? Era impossível resistir quando tudo o que precisava era justamente dela.
Nenhum dos dois teve paciência para esperar ou acarinhar o outro por horas sem fim.  Uma década representava muito tempo, ainda mais para quem amava e estava distante da fonte daquele sentimento. Um beijo roubado na madrugada era pouco para tanta saudade e desejo. Ariella era outra mulher, Diego percebia em seu cheiro e seus toques. Ele notava a desenvoltura e desinibição de seus toques. Hoje ela não mais era a menina inexperiente do passado e essa certeza o incomodou. Aquela desenvoltura certamente fora desenvolvida nos braços de outro, ou outros. Ele decidiu não pensar nisso. Agora Ariella pertencia a ele novamente.

- Diga se algum outro já te fez sentir assim? – Diego cobrou quando ela respondeu com um gemido ao senti-lo colocar a mão dentro de sua calcinha. – Diz.



- Não, ninguém nunca conseguiu. – Ela respondeu, fazendo crescer o ego e o desejo do ex-marido.
- Você está vestida demais. Vamos tirar essa roupa.
- Apague a luz e feche a cortina. Agora. – A afirmação foi dita em tom de comando, sem deixar margem para nenhum argumento.
- Por quê? Você é linda, mora numa praia e pelas marcas de biquíni que vejo, não sente vergonha de olhares indiscretos. Duvido que agiu assim com outros amantes. – Diego ousou questionar.
- Ninguém na praia me conheceu como você, quando minha pele era lisa e livre de cicatrizes. Nenhum deles tem lembranças de como eu era há 11 anos.

Aquilo doeu em Diego. Nunca tinha visto suas cicatrizes, mas conhecia cada uma delas pelos relatórios dos médicos que a atendiam. Sabia que além das marcas físicas, o acidente poderia ter lhe deixado rastros psicológicos. Mas como Ariella jamais se fechou para o mundo e por diversas vezes posou para revistas mostrando sua beleza, nunca havia imaginado que ela se envergonhava do próprio corpo.
Pensando em não estragar aquela noite, decidiu fazer o que ela lhe pedia. Apagou as luzes, fechou a cortina e, já na penumbra, tirou cada peça das próprias roupas. Depois voltou aos braços de Ariella e despiu-a com carinho e cuidado. Ao toque, as cicatrizes estavam lá, mas não o atrapalhavam em amá-la.



Sentia em Ariella aquele mesmo desejo, aquela mesma sensação de libertação. O corpo dela o desejava, aceitava ser feliz junto dele, nos braços dele. Mesmo que a mente dela não reconhecesse, eles se encaixavam perfeitamente. E quando enfim uniu seus corpos, encontrou no grito de prazer dela a própria felicidade. Se pudesse, pararia o tempo naquele instante apenas para poder seguir com ela, dentro dela, sem nenhuma outra preocupação. Quando o auge do prazer chegou ao fim, porém, descobriu uma nova e voraz alegria, a de sentir Ariella explodir em prazer para depois relaxar sobre seu peito. E juntos esperaram o sono chegar.
Depois da paixão com ares de tempestade, o sol carioca chegou para acordar Diego escapando por uma fresta aberta da cortina. Ele ficou observando-a dormir sem acreditar no que haviam feito. Veio para o Brasil para proteger Ariella, mas tinha que reconhecer que se quisessem, teriam entrado na casa e os feito refém sem ele sequer perceber, de tão inebriado que se encontrava. Claro que havia deixado pessoas de sua confiança observando de longe a casa. Jamais brincaria com a segurança de Ariella, mas sequer pensou nisso enquanto estiveram perdidos na paixão. Certo que ela estava bem, deixou o quarto e foi dar um mergulho na piscina aberta, que se rendia ao mar.




O sol estava alto quando Ariella realmente acordou. A noite havia sido longa e movimentada e ela não tinha vontade alguma de encarar a realidade. Sua vontade era ficar na cama até ter certeza de que seu ex-marido já estava de volta á Espanha, assim não teria de encarar as consequências do que havia feito. Ele tinha outras intenções, no entanto, claramente tinha outras intenções. Não fora o sol a acordá-la, mas o leve abrir da porta e a entrada de um homem belo, lindamente despido e com um sorriso aberto no rosto enquanto carregava uma bandeja com o café da manhã. Ele largou-a sobre a mesa, abriu completamente a cortina e, sob o alcance dos raios, jogou-se sobre a cama para beijá-la antes de dizer qualquer palavra.



- Chega a ser pecado você ficar tanto tempo nesta cama quando há um sol tão lindo à sua espera.

Ariella ficou sem palavras, aceitou seus beijos sem saber o que dizer ou como reagir. Ficou com vergonha e tratou de cobrir-se com o lençol. Era constrangedor ter na sua cama um homem que não fazia parte de sua vida há uma década e que, ainda assim, era quem a conhecia mais intimamente no mundo. Sentiu-se sufocada por ele. Física e, principalmente, emocionalmente. Sentia que estava se afogando numa felicidade falsa, porque não tinha alicerces sinceros.

- Pare Diego. – Enfim ela o empurrou. – Obrigada pelo café. Mas eu quero me levantar, me vestir e depois conversamos. Preciso de privacidade, por favor.

Ela estava tentando se fechar novamente. E Diego pensou se deveria ou não permitir isso a Ariella. Não tinha o direito de tomar decisões em nome da ex, porém tinha o dever de tentar libertá-la de dores do passado. Dores pelas quais ele era o responsável.

- Levante, pegue sua roupa e vista. Não vou impedi-la nem forçá-la a nada. – Jamais faria algo assim. – Por mais que ver seu corpo mexa comigo.
- Saia, por favor.
- Não se esconda, por favor. – Ele respondeu. – Você é a mais bela mulher que eu tive o prazer de conhecer. Com ou sem cicatrizes.
Ariella não desejava ter com ele, naquele momento, aquela conversa. Entre outros tantos assuntos difíceis, esse era o pior. Aqueles riscos que poderia ter tirado do corpo com plásticas eram como um escudo para protegê-la de Diego. Com eles ali, a cada manhã ao olhar-se no espelho, lembrava-se do mal que ele lhe causou, lembrava da obrigação de odiá-lo. Lutar contra tudo isso parecia difícil demais.



- Vamos, Ariella. O café está esfriando. – Sem ver efeito naquele pedido, mudou de armas. – Coragem, Ariella. Você jamais foi covarde, sempre soube enfrentar seus piores demônios. Mesmo quando esse era eu. Ora, minha esposa, se desfilou nua na minha frente quando eu te feria a cada palavra dita, porque não agora que todo o meu desejo é te ver feliz?
- Ex-esposa. Aquela Ariella não existe mais, Diego. Será que não entende!
- Existe sim. Ela estava nessa cama, comigo, ontem à noite. E pode permanecer pra sempre, basta você deixar. Quem não existe mais é aquele Diego. Eu não sou mais dominado pelo ódio, nem pelo desejo de vingança.
- Mas eu carrego agora as minhas magoas. Não posso esquecer o que aconteceu...
- Não te pedi isso. – Esse era um objetivo distante demais. – Pedi apenas para não se acovardar. Saia dessa cama, Ariella, vista seu roupão e venha tomar cama. Deixe o resto para decidirmos depois.

Mais por medo do rótulo da covardia do que por convicção, a passos acelerados demais, ergueu-se da cama e cobriu-se com o longo roupão. Depois de uma breve passada pelo banheiro, sentou-se na pequena mesa localizada num cantinho do quarto. Aquele quarto que dias atrás lhe parecia gigantesco, hoje era pequeno. Estava transbordando de apreensão e de sentimentos que não reconhecia. Estava transbordando de Diego e de tudo o que ele representava.

- Pare de pensar, querida. Tome café comigo, apenas isso. Sem conversas difíceis nem discussões. Apenas um café da manhã.
- Não dá pra fingir que somos dois amigos lanchando juntos. Só vamos manter a relação até o final do Carnaval, depois você tem que ir embora, voltar para a sua vida em Madri e me deixar seguir com a minha por aqui.
- Não vou brincar com sua segurança, já disse.
- Você aceita ir embora assim que o feriado acabar, ou o obrigarei a pegar suas coisas e deixar minha casa agora mesmo. Nem que tenha de mobilizar toda a força policial desse país!

 Ela o olhou firme e Diego entendeu que era necessário aceitar a derrota naquela batalha e assim poder seguir na guerra.

- Está bem, vamos comer. E vamos viver esse nosso acordo.
- O que quer dizer com isso? – Ariella viu os olhos de Diego brilharem e sentiu que ele maquinava algo. A inteligência daquele homem sempre a encantou.
- Quero dizer que ainda tenho quatro dias pra te mostrar que há muito para nós vivermos. E vou mostrar, Ariella. Termine seu café e se arrume. Vamos sair e passear pela cidade. Quero entender porque ama tanto esse país.

A ideia de sair com ele, algo que jamais fizeram em casados foi inicialmente assustadora. Mas também tentadora. Como aquilo lhe fez falta? Agora Diego se dizia interessado a se mostrar como homem. E ela não resistia a conhecer esse homem. Engolindo o café adocicado, ela foi se arrumar. Desejava estar bonita para o mundo e para Diego. Que fossem apenas quatro dias então. Mas seriam três dias verdadeiramente vividos.


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