sábado, 2 de abril de 2016

Ariella - Capítulo 5


            Algumas semanas se passaram e o estranho comportamento de Diego começava a gerar desconfianças. Ele seguia sendo o mais atencioso e perfeito dos namorados. Nada o irritava nem incomodava. Jamais erguia a voz para Ariella. Porém, nunca mostrava muito de si falava de sua família, nem cogitava aproximar-se dos amigos e familiares de Ariella. Apaixonada e sem se preocupar com nada daquilo, Ariella seguia vivendo seu conto de fadas e dizia amar a cada dia mais o seu conde espanhol. Aos amigos, no entanto, aquele relacionamento soava um tanto estranho.
            Dulce, apesar de tão jovem quanto Ariella, não tinha todo esse romantismo e desconfiava mais de Diego a cada dia. Estudante de direito, Dulce costumava dizer que a amiga artista vivia em outro mundo, muito mais fácil a adocicado que a vida dos outros. Mesmo tão diferentes, as duas mantinham uma amizade antiga e muito sincera. Não escondiam nada uma da outra, nem mesmo os segredos que guardavam de todos os demais.



            Muitas foram as oportunidades em que Ariella ouviu detalhes dos namoros e dos problemas de Dulce. E em tantas outras Ariella abriu o coração para Dulce. Sempre tiveram uma na outra o conselho certo e a aceitação da outra quando cometiam uma bobagem típica da adolescência.  Dessa vez, porém, não foi assim. Ariella contou tudo e, ao final, viu em Dulce um surpreendente olhar de repreensão.

            - Não me condene, Dulce. – Ariella disse ao ver o olhar no mínimo incrédulo de sua amiga. – Diego não quer envolver nossas famílias e nos amamos. Não vou estragar tudo por um capricho!
            - E você não vê absolutamente nada de errado nisso?
            - Não. Porque haveria? Ele quer manter só nós dois, em segredo. É errado?

            Para Dulce sim, obviamente havia algo de errado. E a confiança de Ariella em tudo o que Diego falava era apenas uma prova de que ela estava envolvida demais com um homem que pouco ou quase nada conhecia.

            - Você acha normal um estrangeiro aparecer aqui e ficar sem data para voltar? Diego diz ser um conde e ter uma rede de hotéis. E se nada disso for verdade? A única certeza que temos é de que grana não falta pra ele. Mas nada garante a fonte! Pode ser um criminoso!
            - Agora você já está passando do limite, Dulce. Viajando!
            - Pode ser. Mas esse papinho de ‘não conte ao papai porque quero manter o nosso amor em segredo’ comigo não colou.
            - E o que você me sugere? Terminar e mandar Diego de volta para Madri? Não quero! Gosto dele. E a explicação para ficar n Argentina eu julguei muito realista. Ele quer abrir hotéis na América Latina. Qual o problema de estar em Buenos Aires analisando o mercado?
            - Nenhum. Você não abriria os olhos mesmo. Mas eu, no seu lugar, ficaria de olhos abertos.




            Mais três semanas se passaram e, apesar de Dulce investir muito tempo a investigar Diego em sites da Espanha e também na Redes Sociais, nada encontrou que comprovasse mentiras. Ele realmente possuía o título de Conde, era proprietário de uma cadeia de hotéis e não morava em família. Mas quando ela começava a deixar a preocupação arrefecer, outra atitude estranha tornou a deixá-la desconfiada. Diego avisou que não compareceria a uma reunião de amigos organizada por Ariella  na casa de campo de Afonso.

            - Ele não poderá. Nem me venha com teorias mirabolantes! – Ariella tratou de dizer à amiga.
            - Eu não disse nada. – Dulce respondeu, afinal, nada a faria vê o obvio mesmo.

            Ariella recebeu seus amigos, conversou, dançou e bebeu por toda a noite. Tinha a casa de seu pai a sua disposição e, como ele já havia lhe dito, desde que ela estivesse em segurança, tinha toda a liberdade para fazer o que desejasse. Todos terminaram a noite um pouco bêbados demais e nadando na piscina. Já zonzos, tornavam-se mais sinceros. E sem freios, Ariella ligou para Diego e declarou-se.

            - Te amo! Muito, muito e muito. – Disse assim que ele atendeu ao celular.
            - Está bêbada, Ariella?
            - Estou. Mas só um pouquinho. Vem pra cá. Quero você, agora.

            O álcool livrou Ariella de sua natural delicadeza. Ela estava mais direta, mais objetiva e muito mais oferecida. Uma parte de Diego sentiu-se orgulhosa. Ela o queria, de qualquer forma. E isso era a maior prova de que Ariella Amaral estava pronta para ele lhe oferecer o próximo golpe. Mas não agora. Assim que ela estiver sóbria. Por outro lado, sabia que a namorada estava cercada de homens, provavelmente também bêbados. E a ideia dela passar a noite com algum deles o irritava.

            - Não posso. Mas garanto te recompensar quando nos encontrarmos.
            - Eu vou cobrar hem. Vou querer você todinho, todo meu, gostoso como só você.
            - Terá. Mas veja se não faz nenhuma bobagem Ariella...não divido minha mulher. – Diego teve o cuidado de usar a palavra mulher. Apesar de ser uma menina, Ariella odiava quando a chamavam assim.
            - Sua mulher? Gostei disso. Sou só sua, toda sua. Eles...eles são só amigos.
            - Ótimo. Então aproveite sua noite entre amigos. E comporte-se. Um beijo, mi sol!
            - Diz que me ama! – Com a coragem do álcool, Ariella gritou.
           
            E Diego titubeou. Aquela era uma frase muito forte. Não para ela. Afinal, Ariella já demonstrara que amar era algo muito fácil em sua vida. Amava o antigo namorado, gritava amá-lo nesse momento e, no futuro, se tivesse a chance, amaria a tantos outros. Não que ele pretendesse que ela tivesse a oportunidade de ter os olhos atraídos a outro homem nos próximos anos. Não foi algo natural, mas ele disse a mentira que Ariella precisava ouvir.

            - Eu te amo. Vá aproveitar sua noite e depois volte para mim. – Afirmou antes de desligar o telefone.

            Nas semanas que se seguiram tudo voltou ao normal. Com a diferença que agora Diogo falava em deixar Buenos Aires. Dizia que seus negócios na Argentina estavam chegando ao fim e que, muito em breve, seria necessário voltar. A primeira reação de Ariella foi a da tristeza. Seu conto de fadas parecia estar chegando ao fim.

            - Não fique assim. Vamos encontrar uma forma de continuar juntos. Eu garanto. – Diego disse, acalmando-a.

            Depois desse primeiro aviso, Diego evitou falar em despedidas nos dias seguintes. Para seu plano funcionar, Ariella precisava sentir-se segura e jamais receber-se pressionada. Ele então cuidou para que ela se sentisse mais amada a cada dia e transformou todas as suas noites em encontros especiais. Quando encontravam-se, era sempre em locais discretos, sem a presença de amigos ou de familiares. Por vezes, Ariella entristecia-se com isso e questionava a necessidade de se esconderem daquela forma. Mas então, quase que para lhe mostrar como o segredo podia transformar tudo em algo mais gostoso.
            Quando completavam três meses juntos, levou-a para dançar num encontro a dois, romântico e discreto. A casa noturna era pequena, contava com uma iluminação baixa, que passava uma intimidade única. Eles tinham a sensação de que estavam sozinhos, mesmo que a pista estivesse lotada de casais.



            - Eu sei que você gostaria de estar curtindo a noite com seus amigos. Mas eu prefiro ter você só para mim, Mi sol. Prometo te recompensar por essa dificuldade.
            - Você é a minha felicidade. Não tem o que recompensar. – Apaixonada, Ariella respondeu.

            Eles dançaram calmamente, abraçados, no ritmo lento imposto pela música. Até que Diego resolveu levá-la para o hotel. Não houve bebedeira, mas, ainda, assim, Ariella sentia-se livre para demonstrar seu amor. E quando a noite terminou na cama que já tinha seu cheiro, ela se disse inebriada de Diego Bueno. Nua, Ariella desfilou suas curvas delicadas, de menina, cobertas por uma pele perfeita, sem nenhuma manhã além das sardas que pareciam dar o toque final de sua beleza.

            - Linda. Não me canso de você. – Diego lhe disse e, intimamente, reconhecia que aquela afirmação era verdadeira.

            Nesses poucos meses que se passaram, Diego conseguiu conhecer Ariella na intimidade. Ele lhe dava exatamente o que ela dizia precisar e, às vezes, o que a jovem nem mesmo sabia apreciar, mas que fazia seus olhos vibrarem. É verdade que ele já havia chegado à Argentina tendo em mãos detalhes da vida de Ariella, mas, sob os lençóis, conheceu uma mulher bem diferente da narrada nas páginas do dossiê de investigação.
            A menina sabia comportar-se feito mulher e exigia um homem atencioso e dedicado na cama. Ariella gosta de carinhos, de preliminares, de relações longas, não transas afobadas. E Diego aprendeu rapidamente como usar aquela informação privilegiada contra ela. Aquela noite era especial e ele soube necessitar dedicar-se ao máximo e adiar o próprio prazer para levar Ariella à loucura e à armadilha final. Quando enfim viu-o pegar um preservativo para vestir, Ariella suspirou. Também sentia urgência em tê-lo.

            - Desculpe. Já deveria estar tomando pílula. Eu...esqueço de marcar o médico. – Ela disse com os cabelos vermelhos reluzindo sobre o travesseiro.
            - Não se preocupe. – Para os seus planos, aquilo era ótimo. – Eu até gosto disso. Principalmente se você colocar a camisinha em mim.

            Com um sorriso safado nos lábios, ela atendeu ao pedido do namorado e pôde senti-lo enrijecer em suas mãos e boca. Diego, normalmente sério e controlado, naquele momento aparentava estar fora de controle. E isso era a maior satisfação de Ariella. Junto dele, deixou-se levar sem se preocupar com nada mais. E deleitou-se naquele corpo maravilhosamente entalhado que, sem a seriedade habitual, exibia um sorriso relaxado de menino após explodir em prazer dentro dela.

            Na manhã seguinte, Ariella dormiu até tarde. Acordou sentindo-se plena em felicidade. Percebia o sol entrando forte pela janela, o cheiro de café e o barulho de pratos. Já estava acordada, mas ficar com os olhos fechados e esperar pelo beijo de Diego parecia convidativo demais.

            - Bom dia, mi sol. É hora de deixar essa cama e vir fazer o meu dia mais feliz. – Ele disse ao salpicar muito beijos sobre seu rosto.

            Com esse convite tão delicado e cheio de amor, Ariella ergueu-se da cama, tomou banho e se juntou a Diego para o café. Havia um clima especial naquela manhã e ela percebia sem entender o motivo. O café estava saboroso, o suco adocicado, os alimentos perfeitos. Mas não era nada disso. Diego estava diferente. E Ariella observava tudo tentando adivinhar o que se passava. Quando enfim viu Diego erguer-se da mesa, puxá-la para sala junto de si e ajoelhar-se à sua frente, enfim, percebeu quais eram os planos do namorado.
           



            - Ariella, você sabe que eu te amo. Eu descobri que não posso, não consigo, viver sem você. Por isso, não quero voltar para Madri sem você, mi sol. Case-se comigo e venha ser a minha mulher, a minha condessa, na Espanha.
            - Casar? Assim....tão cedo...
            - Sim. Casar, Ariella. Agora. Só nós dois e Deus abençoando nossa união. E ser a minha mulher para todo o sempre. – Diego insistiu. Não podia deixá-la escapar.
            - Não...não posso. Papai não me perdoaria se eu cassasse sem sua presença.
            - Tenho certeza de que seu pai quer apenas a sua felicidade e prometo lhe fazer feliz. Casando comigo você deixará de ser sustentada por ele, mas, garanto, eu lhe oferecerei tudo do bom e do melhor.
            - Mas porque assim, com pressa e sem papai na cerimônia? – Ariella estava confusa. Tentada por ele, mas preocupada com a reação de seu pai.
            - Eu tenho pressa Ariella. Volto ainda essa semana para Madri e não sei se poderei retornar nem quando. Mas, caso você não esteja disposta a abandonar sua faculdade, amigos e família e vir ser feliz ao meu lado, eu compreenderei. E essa noite maravilhosa que tivemos será nossa despedida.

            Foi uma estratégia arriscada, Diego reconhecia. Talvez ela ainda não estivesse pronta ou fosse mais ligada ao pai do que aparentava. Ainda assim, Diego resolveu arriscar e ficou encarando com seus olhos azuis, ajoelhado a seus pés, esperando uma resposta de Ariella.
            Perdida entre o certo e o errado, entre o seu desejo e suas obrigações, Ariella pensou que aqueles três últimos meses haviam sido seu período mais feliz em toda a vida. E por isso não havia o que pensar. Desejava Diego e se tornaria a sua esposa.


            - Sim. Eu aceito me casar com você, meu amor.

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