domingo, 20 de março de 2016

Ariella - Capítulo 3


Diego surpreendeu Ariella ainda naquela tarde quando ao retornar para seu apartamento, encontrou na portaria um imenso boque de flores. Elas por si só já teriam grandes chances de agradar a jovem Amaral, mas, para garantir o sucesso daquele segundo passo da conquista, ele ainda adicionou uma doce declaração. Nela, Diego afirmava ter lutado para lhe dar espaço e tempo para pensar antes de dar uma chance aquele desconhecido. Mas a lembrança de seus cabelos e de seu perfume não permitiram. Por fim, dizia-lhe que passaria ali às 21hs para levá-la para jantar e que se não estivesse interessada, ele compreenderia e voltaria para Madri sem jamais incomodá-la novamente.

- Com isso você a impede de fazer o charme típico das mulheres que desprezam a primeira tentativa de encontro. – Ítalo lhe disse quando viu Diego preparar o cartão.
- Infalível, não?
- Certamente. A questão é: conquistar a garota e destruir Afonso, trará sua mãe de volta e apagará todo o ódio que você tem?
- Não. Mas quitará uma dívida antiga. E pare de falar como se ela fosse um anjo caminhando na terra e eu um demônio que a levarei ao mau caminho. Ariella não é nenhuma santa. Ela teve a vida de uma rainha por cada um de seus 18 anos, sem fazer por merecer nenhum de seus mimos. Um choque de realidade lhe fará bem.

O resultado foi eficiente. E poucas horas depois Ariella encarava-se no espelho, tentando estar pronta para encanar Diego com sua beleza. As flores no fim da tarde, quando ela já estava triste por ele não ter feito nenhum contato durante todo o dia lhe fizeram sorrir, mas o convite para jantar a deixou ansiosa. Talvez naquela noite ele desejasse tê-la para si por toda a madrugada e só essa possibilidade a fazia tremer. Então abriu seu guarda roupa e tentou escolher algo que fosse elegante e sexy ao mesmo tempo. Preferiu ser ousada e escolheu um modelo vermelho, com uma fenda que valorizava suas pernas. A mensagem era clara: estava interessada nele.



Já na roupa íntima, que realmente esperava que ele visse, não encontrou nada sexy o bastante entre suas opções e que combinasse com o vestido. Então optou por um lingerie de estilo jovem, mas, ainda assim, capaz de colocar fogo em um homem. Desejava Diego. E se ele realmente tinha de voltar logo para Madri, queria tê-lo para si antes disso.

- É impressionante como você consegue ficar ainda mais bela. Não parece real, Ariella. – Diego disse cumprimentando-a logo após chegar para pegá-la.

Se fosse sincero, diria que não gostou do vestido nem da postura dela com ele. Ariella estava se oferecendo e, talvez em qualquer outra situação ele gostasse a te se sentisse lisonjeado. Ali, pensava que ela mostrava sua índole e vulgaridade. Não tinha nenhum recato nem se valorizava. E Diego, que não pretendia levá-la para a cama ainda, começou a repensar a decisão. Ela podia até estar vulgar, mas despertava sua libido. Antes, porém, seguiria com sua sedução e armadilhas. Só uma noite com ela em nada o ajudaria a destruir Afonso Amaral, por mais que fosse convidativa. Precisava que Ariella estivesse a ponto de largar tudo e vir com ele quando lhe propusesse casamento. Desconfiava que uma informação ajudaria muito. E não tardou a lhe oferecer.

- Sério?!?!? Mas então você é um legítimo conde espanhol? – Ariella surpreendeu-s quando ele, casualmente, lhe confidenciou isso. Ela quase se engasgou com o prato, uma insossa salada ao molho de ervas.
- Sim, sou. Herdei de papai o título. Mas não é nada demais. Não serve para nada. – Diego lhe respondeu. Era verdade, uma das poucas frases verdades que disse à garota até agora. E só lhe disse porque sabia não ser capaz de desfazer o fascínio que via em seus olhos. Ela estava encantada por ter um conde lhe cortejando. Típico de uma menina sem princípio, que valorizava apenas a aparência. – Tem certeza que vai comer só isso?
- Sim. Não como carboidrato a noite.
- Entendo. – No fundo, colocava aquela afirmação na lista de frescuras dela. – Mas preciso que tenha energia hoje a noite.
- Terei, não se preocupe.



Ainda no restaurante, Diogo beijou-a e acariciou-a como se já estivessem em lugar privado. Passava a sensação de ansiar por ela. Era assim que se sentia, mesmo que por vezes  dissesse a si mesmo que era tudo uma farsa, tudo parte de um objetivo. Poderia até fazer parte do plano tantas vezes imaginado para vingar-se e acabar com Afonso Amaral, mas teria um grande prazer naquela etapa.

- Quero você, Ariella. Não deveria lhe pedir isso já, assim, sem cortejá-la adequadamente. Mas preciso. Não aguento. Venha para o meu quarto de hotel. – Disse mordiscando-lhe a orelha, garantindo que ela não tivesse forças para negar.
- Não prefere meu apartamento? – Ela ofereceu.
- Não. – Disse bruscamente e depois teve de explicar. – O hotel é mais perto e cada minuto é tempo demais. - A verdade é que preferia não usar uma cama que foi paga por Afonso. E também não duvidava que ele tivesse acesso a câmeras de segurança do prédio. Então devia ter cuidado.
Com os dois desejando exatamente a mesma coisa, não demoraram a estar na suíte de hotel. Com diferentes objetivos, nenhum deles mostrou como realmente era. Diego escondia sua fúria por trás de um sorriso doce e voz suave. Ariella mostrava-se serena e natural enquanto lutava para ele não perceber sua ansiedade e timidez.

- Você é um conde, um empresário, um homem maravilhoso. O quer comigo? Uma estudante de arte, no primeiro semestre? – Ariella teve coragem o bastante para externar sua preocupação.
- Quero muito mais do que você pode imaginar. – E pela primeira vez ele lhe disse uma frase totalmente verdadeira.



- Nossa! Isso foi meio assustador. – A forma como ele disse a frase tão pouco tempo depois de conhecê-la deixou-a preocupada.
- Não! Por quê? – Diego percebeu que precisava disfarçar melhor o seu comportamento. Tinha pressa em enredá-la, mas ela parecia não estar pronta ao um relacionamento tão rápido. – Eu fui afobado. Desculpe-me.
- Tudo bem.
- Mas, Ariella, não fique preocupada por eu ter alguns anos mais, um título de nobreza que não serve para nada ou uma empresa que me trás preocupações. Nada disso importa. Eu só tenho 23 anos. Você faça como se fosse um velho solitário que nada no dinheiro.
- Não...é só que é estranho um rapaz de 23 anos ser dono de uma rede de hotéis. E você disse que não a herdou do seu pai então...
- Eu a fundei com um dinheiro que recebi de minha mãe. Uma herança. Dei sorte em alguns investimentos e fiz apostas corretas. E trabalho bastante. Só isso. Agora prefiro falar de você.
- Não tem muito o que falar. Vivo em um apartamento bancado por papai e faço faculdade de artes plásticas. Eu amo pintar e desenhar. O plano é um dia viver disso. Sem precisar de mesada.
- É um bom plano. Você e seus pais são próximos?
- Minha mãe morreu há vários anos. Mas sim, ela era maravilhosa. Apoiava-me em tudo. E era uma artista também. Papai é mais distante. Eu...estudei em colégios internos depois que mamãe morreu. Mas ele é bom pra mim. Nunca nega nada que peço...mesmo que eu tenha de pedir por e-mail ou ligar para sua secretária porque ele raramente tem tempo de me ver.

Perfeito, pensou Diego. Ela não correria para contar ao papai que vinha sendo cortejada por um espanhol que apareceu do nada. Ariella parecia uma vítima tão fácil, tão exposta, que, às vezes, ele sentia vergonha pelo que fazia. Isso passava sempre que ela fazia um comentário sobre alguma extravagância financeira de seu passado. Tudo pago com um dinheiro que Afonso Amaral jamais deveria ter conseguido. E, pelo que havia descoberto, o mesmo golpe ele repetiu com a mãe de Ariella. Talvez, quando tudo acabasse, ela até lhe agradeceria por acabar com seu pai. Ou não. Talvez seu caráter fosse idêntico ao do genitor. Era bem possível, já que ela não via problema em usufruir do dinheiro, mesmo reclamando da falta de tempo do genitor.
Algumas doses de bebida depois, os assuntos familiares ficaram no passado e tudo o que Ariella lhe contou de mais íntimo foi um dos relacionamentos amorosos passados. Ela até tentou saber mais da vida dele, mas Diego lhe disse preferir o futuro. E começou a despi-la. Teve a grata surpresa de ver que a menina tinha curvas de uma mulher.



- Linda. Perfeita. A ideia de outro apenas olhá-la começa a me incomodar. – Diego disse analisando as curvas cobertas por uma pele muito banca e macia.

Ariella poderia ser chamada de ‘falsa magra’. Ou assim ele acreditava. Porque após vê-la em inúmeras fotos do dossiê de investigação, não percebeu que era tão linda. Sempre observou os cabelos ruivos e chamativos, a pele delicada complementada por minúsculas sardas e o sorriso doce. Era como se ela gritasse uma falsa inocência. Agora, porém, via que ela estava mais para uma ninfeta sensual e perigosa. Precisava ficar atento a ela. Ou cairia em seus encantos.

- Você merece um amante paciente e delicado. Não sei se consigo. Não te olhando assim, tão sexy.
- Eu não sei se quero paciência ou delicadeza. – Ariella respondeu, fascinada por aquele homem.

Nos braços dele, Ariella viu a madrugada passar entre ápices de prazer, intercalados de sussurros safados. Ao contrário do que deu a entender, Diego não foi bruto nem apressado. Amou-a com firmeza, mas em nenhum momento mostrou-se menos afetuoso. Ariella estendeu-se sobre seu peito quando o cansaço tornou-se maior que o desejo e sorriu aconchegada contra o pescoço dele. Aquele riso tranquilo fez Diego sentir-se bem, era sinal que estava satisfeita e seguia enredada em suas mentiras.

- É hora de eu ir para o meu apartamento. Tenho aula...e antes preciso ligar para papai. – Ariella disse vestindo a calcinha.

Aquilo desagradou Diego. E se ela falasse algo e Afonso resolvesse investigar o homem que saía com sua filha? Qualquer desconfiança podia protegê-lo de cair no golpe final, mesmo que ele já estivesse atado a diversas armadilhas.

- Hermosa niña. Mi sol! – Diego disse enquanto os primeiros raios de sol atingiam os cabelos avermelhados. - Posso te pedir uma coisa, minha linda?
- Você me chamou de meu sol?
- Sim. Com esses cabelos avermelhados, você pode ser comparada ao sol. Então? Posso fazer um pedido?
- É claro.
- Não conte a ‘su padre’ sobre nós.
- Por quê?
- É tão lindo o que temos...prefiro manter em segredo por enquanto. Promete?
- Está bem. Eu não falaria mesmo. Tenho poucos minutos com papai. Preciso aproveitá-los com o essencial. Agora preciso ir. Verei você novamente, não é?
- Por muito tempo. Não duvide disso, mi sol.

Feliz, Ariella deixou o hotel e, satisfeito, Diego começou a trabalhar em seu computador antes de planejar seu próximo passo.



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