sábado, 5 de março de 2016

Ariella - Capítulo 1


Madri, Espanha, em 2005

     
            Diego Bueno encarava a fotografia de uma mulher atentamente. Não qualquer mulher. Aquela lhe era especial, mesmo nunca tenho lhe conhecido nem trocado nenhuma palavra. Era bela, sem dúvida. Isso, no entanto, não iria afetar em nada seus planos. A família de Afonso Amaral havia tido paz por anos demais, enquanto os Bueno se despedaçavam. Não havia justiça em permitir que tudo seguisse assim. E não seriam aqueles olhos doces que o convenceriam do contrário. Silvana, sua mãe, de quem pouco se lembrava, morreu ao deixar o lar para viver com o amante.
            Ramón, seu pai, entregou-se ao álcool e jogou fora todo o dinheiro e o prestigio que a família possuía antes de morrer. Restara a ele reerguer tudo ao completar 18 anos e receber a herança deixada por sua mãe. Esse, o único dinheiro que possuía, já que o pai não pode gastá-lo em investimentos errados e jogos de azar. Diego investiu esse dinheiro na compra de um hotel. E daí o fez se multiplicar. Hoje tem 23 anos e é um dos grandes empresários do setor hoteleiro da Europa, com empreendimentos em diversos países. Construiu tudo com o próprio trabalho. Seu pai não lhe deixou nenhuma herança monetária. Apenas um título que pouco lhe serviu na vida: Conde. Como se ser um Conde tivesse impedido seu pai de morrer pobre e infeliz. E Ramón também lhe deixou o ódio. Esse sim passado de pai para filho com muito esforço ano após ano. Tanto que, após considerar-se realizado como empresário, Diego concluiu que faltava cumprir seu compromisso com o pai e assim firmar-se como homem. Agora Afonso iria experimentar a agonia que ele viveu e assistiu seu pai viver.



            - Ela é linda. Isso eu não posso negar. – Reconheceu desejando ler as informações do arquivo, mas sem conseguir tirar os olhos de Ariella Amaral.

Aquela beleza toda, no entanto, só conseguia levá-lo de volta ao passado. Um tempo de muito sofrimento. Depois que sua mãe foi expulsa de casa por ter sido seduzida por Afonso, sua família foi reduzida a brigas. Seu pai não demonstrava amor ou compaixão por ninguém, nem mesmo por ele, seu filho, com apenas quatro anos. Ramón jamais tornou a se casar e não por continuar a amar a esposa. Tratava-se apenas de orgulho. Diego ainda se perguntava se Silvana teria entrado na justiça para conseguir a guarda de seu menino. O acidente tornou impossível ele ter essa resposta. Ramón repetiu por anos que ela teria ido morar com o amante se Deus não tivesse lhe castigado tomando-lhe a vida. Diego jamais teve certeza se Afonso Amaral teria assumido o relacionamento ou se, depois de expulsa pelo marido e sem os privilégios de uma Bueno o amante também a abandonou. Fato é que ela se acidentou sozinha no carro. E tudo levava a crer que ele ganhou muito dinheiro de Silvana, já que ela retirou grandes quantias da conta conjunta no banco semanas antes de ter o caso descoberto. Sem mãe e sem pai, as boas lembranças da infância de Diego eram com Anita, sua avó paterna. Ela, que agora era sua única família, fora seu respiro de felicidade durante muitos anos.
Enquanto isto, Afonso, após destruir um lar, causou-se novamente na Argentina. Com uma mulher rica, é claro. E teve sua linda filha. A garota havia sido criada em colégios internos e nunca dera problemas ao pai. Afonso continuava vivendo no país da América Latina e, agora viúvo, era conhecido como um homem honrado e trabalhador. O que os argentinos não sabiam é que Afonso recomeçara sua vida na Argentina com o dinheiro que tomou de Silvana. Afonso hoje podia fingir-se de empresário bem sucedido, mas, na realidade, não passava de um ladrão qualquer.
A alegria de Diego ao investigá-lo foi perceber que mesmo de formas ilícitas, Afonso não possuía nem perto do valor de sua fortuna. Por um tempo manteve uma empresa bem estruturada e a fez aumentar os lucros. Mas depois sua incompetência falou mais alto. E ele permitiu que tudo começa-se a se enfraquecer. Quando se casou com Martina Aguirre, já tinha sérios problemas financeiros e usou do dinheiro dela para salvar o próprio patrimônio. A mulher engravidou logo após o casamento e logo percebeu não passar de um joguete nas mãos do marido. De saúde frágil, Martina preferiu deixar a filha em um colégio interno e ir viajar pelo mundo para aproveitar o tempo que ainda lhe restava. Morreu quando Ariella tinha sete anos. Ariella Aguirre Amaral fora criada como uma princesinha. As melhores escolas conseguiram apenas transformá-la em uma jovem fútil e desmiolada, mesmo que realmente linda. Diego devorou aquele relatório como um faminto que encontra um banquete. Ariella parecia a preza perfeita e logo estaria em suas mãos.

-O que pensa em fazer? – Ítalo lhe questionou após observá-lo por longo tempo. Apesar de não ter idade para isso, Ítalo era como seu segundo pai. Trabalhava há anos na segurança da família e hoje era também seu amigo.
-Você sabe muito bem. – Isso era verdade, porém, Ítalo jamais concordou com suas ideias.
-Olhe bem para essa jovem, Diego. Ela não tem nada a ver com o que o pai fez.



Ainda assim, Diego continuou olhando para a pasta de arquivo que continha informações de Ariella. Se ela sequer desconfiasse de intimidade daquelas informações teria um ataque nervoso. Possivelmente seria capaz de vesti-la sem precisar lhe tocar o corpo para saber as medidas. Tinha todas as informações possíveis ao seu respeito. Ariella era uma garota de 18 anos, com uma beleza clássica. Ruiva, de olhos claros, cor de mel, e estatura mediana. Deveria causar inveja em algumas mulheres e desejo em muitos homens. Era descrita pelos que havia mandado para investigá-la como uma mulher sem grandes responsabilidades. Cursa o primeiro semestre de Artes Plásticas e mora sozinha, em um apartamento comprado pelo pai. Apesar de fazer alguns trabalhos de desenho e pintura, é ele quem a sustenta. Ariella é, por tanto, dependente financeiramente de Afonso Amaral. Isso servia para irritar e alegrar Diego. Irritava-o saber que a jovem não precisava se preocupar em ganhar a vida porque o pai a sustentava com dinheiro sujo. E alegrava-o por oferecer mais uma razão para vingar-se. Ela passou a vida lucrando com as sujeiras de Afonso. A dependência de Ariella era ótima para seus planos. Demonstrava fraqueza. Depois que descobrisse como seria seu futuro, ela não teria como viver sem seu auxílio.

- Você ainda é um menino, Diego. Não faça nada do que irá se arrepender futuramente. – Ítalo tentou mais uma vez mudar o rumo daqueles planos.
- E você, não fale como se fosse um idoso. – Diego desconversou. Mas resolveu responder ao amigo. - Nunca fui dado a ataques de sentimentalismo, Ítalo. Se fosse, não teria criado minha empresa e ampliado minha própria fortuna.
-Que é um grande empresário não tenho dúvidas, mas é quanto sua forma de cuidar da vida pessoal que me refiro. Você passou de uma aventura a outra sem preocupar-se em se estabelecer.
-É isso que vou fazer agora!
-Falo sério. É óbvio que, nos termos que tem em mente, um relacionamento não terá futuro. – Ítalo viu Diego planejar cada passo do que faria. E isso o assustava.
-Terá o futuro que eu decidir. Essa família tem uma conta para acertar comigo. Financeira e emocionalmente, vou cobrar o que Afonso Amaral me tomou. – Ele pensou por alguns instantes. – Chega de fazer planos. Vou à Argentina conhecer minha futura esposa e mãe de meu filho.
-O que o faz pensar que este homem irá lhe entregar todas as empresas em troca da filha? Ele pouco vê a garota. Podem muito bem dar às costas à filha.

-Ele dará às costas, mas eu tenho muitas outras armas. Eu vou tirar tudo dele! Já tenho a documentação da casa, as ações da empresa e a posse de todos os grandes investimentos dele. A filha é apenas a gota d’água. Vou envergonhá-lo perante todos os que o julgam como um homem honesto. Ele vai vender a filha, e farei com que todos saibam.

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