sábado, 21 de novembro de 2015

Diaba Ruiva - Passado Revelado: cap 26 (FIM)


       Quando o dia seguinte chegou, não trouxe felicidade. Neal e Rachel amanheceram separados, tristes e desiludidos com a vida. Lutaram tanto e pareciam não sair do lugar. Estavam novamente separados, distantes e prontos a tomar caminhos opostos na vida.
            Neal precisou enfrentar horas explicando tudo o que fez, e porque fez, a uma polícia que não tinha planos de prendê-lo, mas adorava mostrar seu poder. Neal tinha certeza que aquilo era obra de David. O pai de Rachel lucraria caso eles realmente se divorciassem e o Primeiro Ministro sabia disso. Mantê-los separados era de grande ajuda quando a vontade de David era ter a filha na Inglaterra, ao seu lado.
            Por isso, ele agiu para segurar Neal dando depoimentos. Não deveria ser tão difícil para um homem com o poder de David. E sendo ele um ladrão com ficha corrida extensa, dera a David a desculpa perfeita. Quando finalmente chegou em casa, Neal estava deprimido e acompanhado de Mozz. O amigo, tão cansado e triste quanto ele, não lhe ofereceu ideias, apenas abriu uma garrafa de vinho e lhe estendeu uma taça.



            - Obrigado, Mozz. – Neal disse antes de beber o conteúdo da taça e já se servir de mais. – Ela vai embora. Com as crianças. Ela vai embora, Mozz.

            Mozzie também estava triste. Sua vida de criminoso é divertida. O namoro com Olívia, apesar de a assistente social não saber da metade das coisas que fazia, ia muito bem. Mas nada estaria completo sem as crianças. Precisava de George e Helen. Porém, seguir para Londres não era uma alternativa. Também sentiria falta de Elizabeth, Sofia e Valentina. Talvez até mesmo do engravatado. E agora havia Olívia. Não, teria de encontrar um meio de impedir Rachel de viajar.



            - Ela vai. Apenas se você permitir, é claro. – Ele disse ao amigo. Em sua cabeça alguns planos começavam a se formar.
            Neal conhecia aquele olhar. Era astuto, quase como uma criança arteira. Mozz nunca deseja o mal de ninguém, mas também dificilmente media os riscos de suas atitudes. Se tentassem fazer qualquer coisa para evitar a viagem de Rachel, David poderia encarar como provocação. E David Williams já tinha dado sinais que, se não era um monstro como John Turner, também era capaz de loucuras pelas filhas.

            - Está tendo ideias, Mozz?
            - Ainda não. Mas com mais algumas taças de vinho, posso tê-las. É só você ouvi-las.
            - Tenho bastante tempo. – Ouvir não custava nada. E se fosse realmente perder sua mulher, perderia tentando reconquistá-la.


            Rachel desconfiava que Neal tentaria algo. Talvez, lá no fundo até esperasse que ele fizesse alguma coisa. Porque se fosse completamente sincera com o próprio coração, assumiria que não desejava ir para a Inglaterra. Nem mesmo por pouco tempo. Disse o que disse para Neal porque precisava afastá-lo. Ele mentiu, enganou, a fez pensar que já não era amada. E quando casou-se com ele, era para serem parceiros, em todos os sentidos, os dentro e fora da lei. Neal podia contar com ela para tudo que sempre estaria disposta a ajudar, ser sua cúmplice. Tudo o que Neal não podia era lhe enganar. E fora justamente isso que ele escolheu fazer. Agora simplesmente já não confiava nele. Ela passou a vida desconfiando de todos, menos de John, e confiou em Neal como em nenhum outro parceiro. De repente viu o pai renascer e, de forma contraditória, morrer dentro dela. Depois perdeu Neal para as próprias mentiras.
            Apesar dos apelos de seu pai, não quis que ele lhe levasse até um hotel logo que o hospital a liberou. O tiro que acertou sua perna não deixaria grandes problemas. Ficara com mais uma cicatriz. E mancaria nos próximos dias. Ainda assim, estava bem se comparado ao que poderia ter ocorrido. Se comparado com o destino de John.



            - Você está calada demais, Rachel. – Henry, o amigo para todas as horas, foi a única companhia que ela aceitou. Henry a conhecia e não tentava protegê-la das palavras duras. – Prefiro quando a minha amiga extravasa os sentimentos.
            - Estou acabada, Henry. É como se tudo tivesse desmoronado. Nada sobrou. Nada mesmo.
            - Não diz isso. – Logo ele estava colocando-a no carro. O destino ainda era indefinido. Um passeio pela cidade era o que ela mais precisava.
            - É a verdade. Nicolle está morta, de John não restaram nem as boas recordações e o sonho do casamento perfeito com Neal desabou. Só me restaram as crianças.
            - Quer que te leve à casa de June, para pegá-los?
            - Sim. Não aguento mais ficar longe de meus filhos.

            Ainda no carro, Rachel voltou a se calar. Henry respeitou sua vontade. E quanto mais o silêncio se impunha, mais longe iam seus pensamentos. Enquanto via NY passar pela janela do quarto, Rachel pensava em tudo que viveu nas horas. Ela recusou a conversa com um psicólogo oferecida no hospital. Qualquer profissional lhe diria que estava traumatizada ou em choque. Sim, estava. E considerava esse um direito de qualquer um quando seu pai ressuscita, sequestra e atira em sua direção. E, principalmente, quando lhe faz acusações muito sérias e verdadeiras.
            John lhe acusou de ser como ele. Havia certo orgulho naquela afirmação. Apesar dele já não mais afirmar isso, ela mantinha a certeza que em meio a toda aquela loucura, John tinha por ela algum sentimento. Verdade ou imaginação sua, somente ele poderia dizer. E agora John estava morto. Com a ajuda de um tiro disparado por ela. Jamais se esqueceria de uma afirmação de John. “Apesar de bancar a mãe zelosa agora, nós dois sabemos quantos assassinatos você já cometeu”. Foi duro ouvir. Mais duro ainda é reconhecer a verdade. Passassem anos ou décadas, não importava. Nada apagaria o que ela fez. Ainda assim, hoje sentia-se uma pessoa melhor. Não podia apagar o que de ruim fez no mundo, nem ter certeza que no futuro não iria pagar pelos erros. Mas podia, e pretendia, trilhar um futuro melhor. Ao lado dos filhos. Mas não de Neal.

            - Vai viajar mesmo? – Henry ainda estava incrédulo.
            - David quer...muito.
            - Eu sei. Melissa me disse. Mas isso não responde a minha pergunta. Você vai viajar mesmo?
            - Sim. Não sei, na verdade. Não quero magoar David...ele quer muito construir uma relação comigo.
            - É. Só cuidado para não magoar Neal. George e Helen são filhos dele também. E ele os ama, vai sofrer nesse afastamento. – Henry é pai. E não deixaria de pensar nisso.
            - Ele deveria ter pensado nos filhos quando me traiu. Podia esperar que Neal se interessasse por outra mulher, mas não que me faltasse com a lealdade. Isso jamais.
            - Só acho que você deveria pensar bem. Não acho que esteja segura do que quer, nem que Neal mereça ser trado assim. Ele errou, mas você também em outras oportunidades. E ele a perdoou.
            - Vou encarar isso como lealdade masculina, Henry. – Ela achou melhor mudar de assunto. – E você e Melissa? Agora ela não tem mais nada a fazer aqui, acho que entregará o cargo na embaixada.
            - Sim, ela fará isso. E eu irei alugar um apartamento em Londres. Tenho negócios lá também. Posso muito bem me dividir ente as duas cidades.
            - Legal. Fico feliz por vocês.

            Alguns casais mereciam dar certo. Henry e Melissa era um deles. Conheceram-se de uma forma ímpar, mas combinavam. Rachel conseguia imaginá-los por anos juntos sem que nenhuma briga ocorresse. Eles eram perfeitos juntos. Bem diferente de outro casal formado sob o seu nariz. Henrique e Sara, tão improváveis quanto apaixonados. Depois de algumas idas e vindas eles pareciam estar encontrando o caminho do bom senso e, cada um cedendo um pouco, estavam mais uma vez juntos. Até mesmo Mozz havia encontrado uma amada. E estava feliz. Rachel não duvidada que ele jamais ficaria sem roubar. E Olívia nunca poderia saber disso. Mas, ainda assim, eles se amavam. Era um tempo de amor no FBI. Para todos, menos ela e Neal.



            Henry esperou enquanto Rachel pegava os filhos com June. Pretendia levá-la até em casa, para o descanso merecido. A senhora deixou-a matar a saudade crianças e tentou nada falar, não tomar partido, nem se intrometer na vida alheia. June, com toda sua experiência de vida, acreditava que Rachel não precisava de conselhos, devia apenas ouvir o próprio coração. A resposta estava lá, era só ela ouvir o próprio coração. Mas, por enquanto, ela estava surda para esses sentimentos. E não queria saber de se encontrar com ele.

            - Ele está aí?
            - Sim. Vive aqui desde que vocês brigaram. – June queria muito vê-los juntos.
            - Eu já vou então. Não quero vê-lo.
            - Você é quem sabe. Se é isso o que seu coração pede. Qualquer coisa é só chamar. – A senhora lhe disse.

            O tempo passou e já em sua casa Rachel descansou o corpo, mas não a mente. Chegou a pegar o telefone para avisar ao pai de que não queria viajar ainda. Mas devolveu-o ao gancho e convenceu-se que o plano inicial era o melhor.


           
            - Mamãe! Mamãe! Quando o papai vem? – George perguntou aconchegando-se junto dela.
            - Não sei filho. Não sei.
            - Eu quero ver ele. Quero mostrar meus carrinhos novos pra ele.
            - Logo ele vai vir. Não se preocupe.

            Um dia se passou e Rachel ignorou ligações de todos. Não queria ouvir ninguém. Até que Neal bateu em sua porta com o objetivo de ver as crianças. Então eles ficaram cara a cara mais uma vez. Cada um travando a própria batalha. Cada um com as suas armas e seus argumentos. Rachel deixou-o sozinho com as crianças após algumas breves palavras e só no final, quando foi se despedir, é que conseguiram conversar.
           
            - Quando vocês vão embarcar? – Neal perguntou, bem mais frio do que esperava.
            - Amanhã pela manhã. Sem data para voltar.

            Lá no fundo Rachel esperava uma reação explosiva de Neal. Que ele lutasse para convencê-la a ficar, nem que fosse pelas crianças. Aquilo a faria se sentir melhor. Não faria com que mudasse de ideia, mas lhe daria alguma esperança. A resposta de Neal não poderia ter sido pior.

            - Acho que vou indo então. Você precisa dormir para estar bem amanhã. Tenha uma boa noite, Rachel. – Disse e deu às costas.

            Ansiosa, Rachel ficou esperando que Neal se revoltasse. Talvez subisse as escadas em poucos passos e gritasse que ela não iria viajar, que ele não permitiria. Mas Neal não fez isso. E ela ficou um tanto decepcionada. Neal foi frio e não olhou-a nos olhos. Ele mentia e não a encarava na tentativa de esconder.
            Naquele fim de tarde sozinha Rachel ainda estava longe de ir dormir. Precisava se despedir das amigas antes de embarcar a Londres. A visita de Elizabeth e Diana a fez relaxar um pouco. Primeiro Rachel as fez prometer que Neal estava fora dos assuntos, depois acabou ela mesma trazendo-o para a conversa. Queria ter certeza que ele ficaria bem quando ela viajasse.

            - Ele vai poder ver as crianças. Não vou afastá-los. Talvez eu venha logo, fique só um mês, dois no máximo, em Londres com o papai. Aí eu volto...bom...até lá o Neal já ter pegado uma dezena de mulheres. Mas...
            - Perdoa ele de uma vez, avisa seu pai que você não serve pra bonequinha que ele mantém em Londres e fica aqui, no FBI, que é o seu lugar. – Diana foi direta.
            - Não é tão simples. Eu não posso decepcionar David assim. E não devo perdoar Neal.

            Elizabeth muito já tinha pensado a respeito. E falado com Peter. Seu marido estava convencido de que o afastamento seria doloroso, mas que, mais cedo ou mais tarde, eles voltariam a ser um casal. Por isso, achava que esse tempo longe talvez fosse positivo. Peter pediu que ela não tentasse intervir.

            - Temos os nossos problemas, a nossa casa e os nossos filhos para cuidar. Neal e Rachel têm de encontrar a própria felicidade. – Ele lhe afirmou na noite anterior.



            Elizabeth não concordava. Rachel e Neal eram seus amigos. Helen e George os amigos de seus filhos. Ela tinha o dever moral de intervir porque, se fosse o contrário, adoraria ter alguém para lhe abrir os olhos.

            - Você está sendo injusta. – Disse à amiga de forma franca e direta.
            - Ell...por favor...
            - Não! Agora você irá me ouvir. E calada! – Sem nenhuma interrupção, ela pode se expressar livremente. – Aquele homem é um criminoso. Eu sei! Ele já tirou meu marido do sério várias vezes. Nem quando Neal estava preso eu tinha paz na minha casa, porque ele mandava cartões postais para Peter. Mas a você ele é leal...
            - Ell...
            - Calada! Não venha dizer que ele não lhe é leal. Ele é sim. Neal mandaria tudo ao inferno por você. Ele se tornou um bom pai e te ama. Ele mentiu sim, mas foi pra te proteger. Eu o com muitas mulheres, muitas mesmo. Eu o vi apaixonado por Kate, sofrendo por ela. Mas amor, aquele verdadeiro, que chega pra ficar, isso nunca vi Neal ter por outra. Por você ele mudou de vida.
           
            Apesar das interrupções, Rachel ouviu atentamente os conselhos de Elizabeth. Sabia da sinceridade da amiga. E pensou muito em tudo o que ela lhe disse. Assim que ficou sozinha em seu quarto após colocar os filhos na cama, Rachel foi se deitar e tentou organizar os pensamentos e os sentimentos. Em seu celular recebeu a confirmação do voo na manhã seguinte. Agora não tinha mais volta. Mesmo se decidisse perdoar Neal e reatar o casamento, seria no futuro. Teria de viajar e ao retornar aos EUA resolver sua vida. Isso se Neal ainda a quisesse. Triste, ela enfim adormeceu. Um sono tumultuado e cheio de pesadelos.



            E não viu quando sua casa foi invadida. Passo por passo o invasor entrou pela porta da frente e todo vestido em roupas negras subiu as escadas. Ele espiou o primeiro quarto e viu as crianças dormirem. Depois seguiu até o quarto da dona da casa. Forte, esperta e difícil de enganar, Rachel seria um alvo difícil.




            Depois de dormir tantas noites ao lado dela, Neal sabia bem que o sono de Rachel é pesado. Quando ela se sente segura. Se perceber alguém estranho se aproximar, acorda instantaneamente. Só seguia dormindo apesar de seu perfume já estar no ar porque, apesar da mente não aceitá-lo mais como marido, o corpo o reconhecia. Ainda assim, por via das dúvidas, ele pegou o lenço que trazia no bolso, embebido em uma substância que embalaria aquele sono para uma terra de sonhos ainda mais profundos.

            - Durma bem, querida. – Lhe disse esperando alguns segundos até o remédio fazer efeito. Depois, bastaria pegá-la no colo e tirá-la dali.

            Rachel acordou horas depois, numa cama estranha, num lugar estranho, com mãos amadas à cabeceira de uma cama. Estava confusa. Parecia reviver o momento em que John a sequestrou. Mas não...John está morto. E ela adormeceu na própria cama. Não ali.

            - Não! Socorro!!!! Socorro!!!!! – Ela gritou a plenos pulmões.

            E ninguém respondeu. Rachel não podia acreditar que estava amarrada pela segunda vez em menos de uma semana. Inacreditável. Quem seria dessa vez, agora que John não mais está vivo. Quando, enfim, seu sequestrador apareceu, ela não pode acreditar. Neal! Seu marido. Neal Cafrey a tinha sequestrado.

            - Me solta Neal. Agora!
            - Desculpe, mas não será possível. – Havia calma, quase provocação em sua voz.



            - Eu já fui sequestrada essa semana! Não estou ansiosa para repetir a experiência.
            - Ei! Não sou um sequestrador. E você sabe disso.
            - E o que pensa que está fazendo, então?!?!?!?
            - Sou um ladrão, Rachel. Eu roubo. Roubo coisas importantes, caras, únicas. Fiz essa noite o meu roubo mais espetacular de todos. Roubei você.

            Rachel sentiu-se amada com aquela declaração. Não deveria. É errado, sua consciência gritava. Ainda assim, tinha sua beleza. Estava aí um tipo de declaração de amor que só ela poderia receber e somente de Neal Caffrey conseguiria oferecer.

            - Você me roubou? Simples assim?
            - Querida...você está falando com um profissional! O melhor!
            - E ‘o melhor’ lembrou que seus filhos estavam no quarto ao lado? – Rachel estava dividida entre a raiva e o amor.
            - É claro. Estão com Mozz, dormindo tranquilamente. Amanhã cedo estarão conosco. É claro que não viajaria sem eles.
            - Viajar? Como assim?
            - Sim, viajar. Você já estava de malas prontas, lembra? Claro que teremos de atualizar algumas coisas. Casacos pesados não serão necessários para onde nós vamos. George irá adorar surfar nas águas caribenhas.
            - Surf? Caribe? Não! Neal, você está drogado?
            - Não, não, não. Na verdade é você quem está. Eu tive de dopá-la. Desculpe, querida. Prometo que não se repetirá...mas...você não me deixou alternativa. Não quis me ouvir e eu tenho tanto a falar.
            - Então fale, Neal. Fale!

            Aquela era a chance de Neal ser ouvido. E ele não a decepcionou.

            - Se eu disser que te amo, não vou estar falando nenhuma mentira. E, eu sei, que isso não resolve os nossos problemas. Mas tudo o que fiz foi para o seu bem. E eu faria novamente, se fosse necessário.
            - Mentiria pra mim novamente? Me enganaria? Mesmo sabendo que eu iria deixá-lo?
           
            Neal pensou antes de responder. No fim, preferiu a sinceridade. Mesmo que não conseguisse o resultado esperado, ao menos teria tentado de verdade.

            - Sim. Eu mentiria. Mesmo correndo o risco de te perder, se fosse pela sua segurança. Prefiro saber que está bem a tê-la comigo, Rachel. Mas, se puder ser bem egoísta, prefiro mesmo é ter você, a salvo e comigo, junto das crianças.

            Rachel observou o marido com certa tristeza. Já tinham passado por tantas coisas difíceis na vida a dois que brigar com ele parecia muito errado. Tudo na vida longe dele parecia errado, mesmo que com a nova família, com estabilidade e a certeza de que não seria presa. Perto dele até a prisão parecia um destino menos sofrido.

            - Você não precisava me roubar. Nem dizer tudo isso. Eu já estava decidida a ficar. – Enfim Rachel reconheceu em voz alta. – Não quero ir para Londres. Não quero ficar sem você. E não quero mais brigar.

            Neal ainda estava um pouco desconfiado. Temia que tudo não passasse de um artifício para soltá-la. Rachel é especialista em enganar os outros. Mas não ele. E logo o brilho em seus olhos lhe disse que a esposa falava a verdade. Rachel o tinha perdoado e tinha escolhido ficar ali, com eles, no lugar a que pertenciam no mundo. A primeira coisa que Rachel fez ao ter as mãos livres foi passá-las pelos ombros do marido, puxá-lo para si e tomar posse do que era seu.



            - Você é meu, Neal Caffrey. Nunca se esqueça disso.
            - Você é minha, Rachel Turner. Nunca se esqueça disso.


            Semanas depois...

            Não foi dessa vez que eles viajaram para o Caribe. Para a tristeza de Mozz. Foi necessário algum tempo de adaptação e de convencimento. Principalmente para Rachel acalmar e se adaptar a sua nova família. Brígida e David não entenderam porque a filha não quis ir passar uma temporada com eles em Londres. Achavam que naquelas semanas por lá iriam reencontrar os laços perdidos nos anos de afastamento. Mas não era assim. Uma relação precisava ser conquistada, com tempo de relacionamento.
           
            - Eu quero amá-los. Acho até que já amo. Mas meu lugar é aqui. Meu lugar é com Neal. – Disse aos pais.

            David não aceitava que as duas filhas estivessem enamoradas por americanos. Isso lhe soava como muito injusto. Queria que ambas decidissem ficar perto dele e de Brígida. Mas elas tinham os próprios desejos e construíram as próprias vidas. E ele se orgulhava das filhas. Eram mulheres fortes, boas mães, guerreiras e decidas.

            - Você e Melissa se parecem muito. E nós amamos vocês. Mel voltará conosco e Henry irá lhe visitar. – Brígida disse. – Gostaria que fosse assim com você e Neal.
            - Não será. – Rachel disse em seu tom de voz habitual. Não gostava de rodeios. E era hora deles saberem. – Minha vida é em NY com meu marido e meus filhos, no FBI. Mas irei visitá-los.
            - Se essa é a sua decisão, eu aceito. – David afirmou. – Com a ajuda de Nohan, já cuidei de tudo para que a sua ficha e de Neal ser limpa. Vocês são pessoas livres Rachel. Faria o mesmo por Mozzie...mas parece que ele nunca teve uma fixa.
            - Sim, ele se orgulha disso. Obrigada, papai.

            Não era apenas ter Neal por perto novamente. Era a rotina, a vida da qual gostava. Dias depois, após deixarem Helen e George nas respectivas escolas, Neal e Rachel passeavam de mãos dadas por uma larva avenida de New York quando ambos os celulares tocaram. Aquilo era mau sinal. Ou bom, de acordo com o que eles gostavam.
            Rachel desligou logo após conversar com Diana. Neal colocou o telefone no bolso após conversar com Peter. A ocorrência era a mesma e ambos estavam escalados para trabalhar.

            - Fraude de hipoteca. Falsificação de documento antigo. Minha especialidade. – Neal revelou.
            - O ladrão deixou um rastro muito peculiar. Precisa ser encontrado e abordado de uma forma que é a minha especialidade. – Ela respondeu.

            Ambos seguiram juntos para o FBI. Aquele era o melhor final feliz que conseguiriam. Lutavam contra o crime e no fim do dia buscavam os filhos na escola. Uma paz relativa que os satisfazia, os tornava felizes. A pasmaceira jamais foi seu objetivo. Quando estavam entediados cometia alguns pequenos furtos, por diversão. Nada que representasse um grande prejuízo e que muitas vezes auxiliava na prisão de criminosos. Mas que era muito importante para mantê-los sãos. Nada mudaria o que eram na essência.

FIM





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