domingo, 25 de outubro de 2015

Alguém Para Amar - Capítulo 29


            Naquela tarde de domingo, enquanto Emily se recuperava sob o olhar atento de Jonas, o único a ter autorizada a presença junto da esposa, os demais familiares e amigos voltaram para casa. Jéssica e Lorenzo tinham uma missão muito importante. Precisam contar para Clara que ela realmente não mentia quando, há algumas semanas, anunciou que ganharia um irmão. Antes dela, no entanto, precisavam se acostumar com a ideia de que os três em alguns meses seriam quatro.



            Jéssica ficou um tempo sozinha em casa enquanto Lorenzo foi buscar a filha mais velha no hotel onde Milena cuidava dos avós e das crianças. Pensou muito no quanto sua vida havia mudado nos últimos meses. E iria mudar ainda mais agora. Seus planos de estudar, tornar-se uma profissional, tudo agora ficava novamente em segundo plano para receber o bebê que crescia em seu ventre.
            Estava feliz. Já percebia o amor nascendo e criando raízes. Seria mãe mais uma vez. Gerava o filho de um grande homem, o homem que amava e que lhe dava todo o amor possível. Muitas decisões ainda precisavam ser tomadas, mas, uma coisa era certa, aquele bebê era bem vindo. Não poderia ser diferente.
            Jéssica ergueu-se da cama onde descansava e foi até o espelho. Olhou o corpo que, por enquanto, não apresentava nenhuma mudança. A barriga que já havia abrigado Clara agora estava plana. Logo, porém, sabia que estaria arredondada. E lá no fundo já ansiava por ver seu bebê crescer. Sorria muito imaginando-se caminhando pela cidade no final da gravidez, com uma grande barriga. No sonho, Clara corria à sua frente e ela sentia um braço protetor de Lorenzo às costas. Foi nesse momento que Lorenzo interrompeu deus devaneios.

            - Espero que seja eu o causador desse sorriso doce. – Disse ele parado junto do patente da porta.



            - É você sim. – Jéssica respondeu. – É sempre você. Estava aqui pensando que esse bebê será muito amado e terá o melhor pai que eu poderia lhe dar.
            - Não sei se conseguirei ser o melhor. Mas eu vou tentar, Jéssica. Eu sei que essa gravidez te pegou de surpresa e assustou um pouco, mas eu não consigo sentir nada além de felicidade. Eu não imaginava que a essa altura da minha vida eu fosse ter a chance de esperar a chegada de um filho. Eu já tinha desistido dessa ideia. Até você aparecer.
            - Bom saber que a gente mudou a sua vida também. – Jéssica disfarçou a timidez.
            - Muito. Completamente, amor. Antes eu pensava que era feliz só com o trabalho. Hoje vejo que não era assim, havia um grande vazio na minha vida, que você e Clara preencheram. E o nosso filho vai tornar perfeito.

            Jéssica ficou sem palavras para responder àquela declaração. Sim, ela também pensava ser feliz, apesar das dificuldades, ao lado de Clara. E só agora que o tinha ao seu lado, passando força e confiança, entendia o significava de se sentir completa. Mesmo que as palavras lhe surgissem, não poderia falar porque Clara invadiu o quarto cheia de animação. Mas parou ao ver os pais tão sérios e encarando um ao outro. Achou que estivessem brigando.



            - Eu não fiz nada de errado dessa vez, mamãe. – Ela já avisou. Não queria levar bronca.
            - Eu sei, filha. – Jéssica respondeu.
            - Então porque estão aqui e não brincando comigo? E porque você tá na cama essa hora?
            - Porque a mamãe dormiu pouco essa noite, Clara. E ela precisa descansar muito agora. – Lorenzo explicou enquanto pegava Clara no colo e a colocava na cama, entre ele e Jéssica. – Nós temos uma coisa para te contar.
            - O que é, papai?
            - Lembra quando você disse que teria um irmão que cresceria na barriga da mamãe? Esse bebê já está crescendo ali dentro.
            - Já papai? Eu sabia! É a minha irmãzinha Ceci. – Ela não havia esquecido.

            Jéssica e Lorenzo riram na inocência e felicidade genuína de Clara. Não lhe ocorreu nem por um instante sentir um pouco de ciúme ou pensar que poderia receber menos atenção ou menos presentes dos pais por ter um irmão. Clara adorou a ideia e tinha certeza se tratar de uma menina.

            - Mas e se não for Cecília o nome que nós escolhermos? E se for um menino? Um irmãozinho, que nome daremos a ele? – Jéssica questionou.

            Primeiro Clara pensou, colocou o dedo na boca, mexeu nos fios loiros de seu cabelo, olhou para a mãe e o pai e decidiu que não sabia.

            - Não sei mamãe. Mas eu acho que é a Ceci que tá aí dentro da sua barriga. – Respondeu.

            Lorenzo e Jéssica ficaram satisfeitos. Ao menos, se fosse menino, eles poderiam escolher o nome já que Clara havia definido o nome da irmã antes mesmo dela existir. Curiosamente, não passou despercebido de Jéssica que sempre que se referia ao bebê, Lorenzo falava como se fosse um menino. Isso não a preocupava em nada. Sabia que menina ou menino, ele amaria igual. Prova disso era a atenção que dava à Clara.
            Apesar de Jéssica insistir que estava bem o bastante para acompanhá-los, Lorenzo avisou que levaria Clara para brincar na pracinha do condomínio enquanto ela repousava. Não houve forma de convencê-lo do contrário.

            - Você está grávida, precisa de descanso para meu filho nascer bem. E se alimentar! Acho que vou assar uma carne agora a noite. – Lhe explicou e Jéssica notou que ele faria de tudo para vê-la ganhar peso.
            - Isso seria uma desculpa para fazer churrasco?
            - Também. Eu gosto de assar. Mas é uma boa maneira de fazer você consumir proteína animal. O que acha Chiara? Quer que papai asse churrasco?
            - OBA! Com coraçãozinho! – Clara adorou a oferta.
            - Com coração, para a minha filhinha. – Lorenzo ria, satisfeito em conquistar seu apoio. – Vá colocar um casaco, Clara. Você vem com o papai no mercado enquanto a mamãe descansa.
            - OK, sou voto vencido. – Jéssica riu, vendo a filha correr pelo apartamento. – Tenho que ir no hotel ver minha mãe antes que ela embarque para casa.
            - Eu te levo depois. Agora volte para cama e tire um cochilo. Te fará bem. – Disse Lorenzo antes de pegar as chaves e sair com Clara.



            Lorenzo chegou com Clara trazendo as compras e desceu com a filha para brincar. Retornou, salgou e espetou a carne com Jéssica ainda adormecida. Antes de colocar fogo na churrasqueira ele a despertou e disse que era hora dela se trocar para ir visitar Laura.
            Durante a rápida viagem de carro, Jéssica estava nervosa. Iria, enfim, conversar com sua mãe. Para acalmá-la, Lorenzo lhe lembrou que não precisava encarar como um encontro definitivo. Se elas não tinham mais uma relação de mãe e filha, que construíssem uma nova. O importante era deixarem para trás toda aquela mágoa e dar a Clara a chance de conviver com os avós. E permitir que Laura recebesse o amor dos netos.
            Quando chegou ao quarto onde a mãe estava hospedada, Jéssica não soube como cumprimentá-la. Laura cumprimentou a filha e lhe serviu chá. Já estava nervosa, achando que ela não viria. Não houve um silêncio inicial para superar. Tinham um assunto, o mais doce de todos. Clara e seus cinco anos. Laura estava encantada com a beleza e inteligência de sua neta.



            - Clara é uma menina especial, Jéssica. Você teve muita sorte em tê-la. E muita dedicação para criá-la. Eu...queria ter estado do seu lado nessa hora.
            - Eu nunca me arrependi de tê-la, mãe. Clara é minha vida.
            - Nunca se arrependa, nunca! Ela não merece um sentimento assim. E... aquele rapaz? Ele a visita?
            - Não. Bruno nunca pôs os olhos em Clara e espero que continue assim. Ele foi preso recentemente.
            - Por quê? – Laura sempre soube que a prisão era o destino de Bruno, mas, estranhamente, a conclusão correta desse fato não a deixava feliz. Se tivesse se enganado no passado e Bruno fosse um bom homem, sua filha teria sofrido menos.
            - Por me agredir e tentar chantagear Lorenzo, entre outras coisas. A lista de crimes de Bruno não é pequena. Você e papai estavam certos o tempo todo.
            - Eu não me orgulho disso, filha. Preferia ter me enganado e saber que vocês estavam juntos e felizes numa família honrada.
            - Não foi assim. Nós terminamos quando eu tinha uns quatro meses de gravidez. Talvez nem isso. – Jéssica assim assumia que tinha feito uma escolha errada ao não confiar nos pais. – Eu não devia ter saído de casa, mãe. Me arrependi muito disso.
            - E porque não voltou? – Elas estavam frente a frente. As xícaras de chá preparadas foram esquecidas.
            - Com Clara na barriga?
            - Sim, com Clara na barriga! Eu e seu pai não somos monstros. Não íamos te deixar na rua!

            Jéssica então contou a mãe tudo o que fez nos últimos anos, cada sacrifício necessário para dar à Clara uma vida digna. Não foram anos fáceis. Ela teve de aprender a trabalhar, a ser mãe e a sobreviver sem ninguém com quem contar nas horas difíceis. Era impossível dizer que as mágoas daquele período estavam mortas. Elas deixaram marcas muito profundas.

            - Papai não me aceita mesmo hoje, mãe! Ele não me olhou nos olhos! Me escorraçou de casa. E eu nem pedi para ficar. Só fui lhe fazer uma visita! Porque devo acreditar que ele me acolheria no passado?
            - Porque então você estaria sem um teto. Isso ele não permitiria. – Laura respondeu.
            - Ótimo então! Amor eu não mereço, mas piedade sim. Quer dizer que se ele soubesse que eu passava fome teria me dado um prato de comida, mas um abraço ele não consegue?
            - Seu pai nunca foi muito bom em revelar os sentimentos, mas ele te ama Jéssica! Disso você não deveria duvidar.
            - É a forma como ele me trata que faz com que eu duvide. Eu não preciso da caridade dele, mãe.
            - Dê-lhe tempo, Jéssica. Só isso o permitirá se acostumar com a ideia de que você tem uma vida honesta e digna, diferente da qual ele havia imaginado na sua infância. Seu pai só quer a sua felicidade.
            - Pois é ele quem me impede de ser completamente feliz. Minha vida ao lado de Lorenzo é mais feliz do que um dia eu pude imaginar. Por nada eu abriria mão dele ou de Clara.
            - Sim, você parece mesmo muito feliz. E isso acalma meu coração, Jéssica. – A mãe, enfim, abraçou a filha. – Eu te amo. E vou amar para sempre. Não importa o que aconteça. Quero que seja sempre feliz ao lado de sua filha. E, se esse homem, seu noivo, é a fonte dessa felicidade, que seja um longo relacionamento, com a benção de Deus.

            Jéssica havia pensado muito se contava ou não para Laura sobre a gravidez. Era estranho, não tinham ainda a relação aberta e maternal na qual as filhas ligam para a mãe e contam esse tipo de coisa, assim, sem nenhuma preparação. Mesmo assim achou que deveria falar e ver nos olhos da mãe se a reação seria de recriminação ou felicidade.

            - Estou grávida. De uns dois meses, eu acho. – Falou rápido. – Lorenzo quer adiantar o casamento por isso. Mas eu não me importo. Já tenho uma filha mesmo. Não é como se eu precisasse me esconder.

            Laura olhou para a filha. Ela era tão jovem. Preocupação e felicidade travaram um luta dentro do coração da avó. Quando a segunda se sobrepôs, Laura tornou a abraçar a filha e lhe dar parabéns pela gestação. Aquele abraço e aquele cumprimento que faltaram quando ela esperava Clara.

            - Obrigada! – Disse ela para a filha.
            - Pelo quê?
            - Por me dar a chance de ser sua mãe nesse momento especial. Eu sei que não foi comigo que você aprendeu a trocar fralda nem a dar o peito. Mas esse bebê é a minha chance de ser uma avó de verdade. Obrigada por me deixar saber que ele está a caminho. Eu quero participar da vida dele.
            - Você vai participar, mamãe. – Jéssica estava emocionada, se sentindo amava pela mãe como nunca antes. – Mas não quero que conte para o papai.
            - Não faça isso, Jéssica. Ele...
            - Ele vai se envergonhar de mim mais uma vez! Dirá que eu fui irresponsável, que deveria estar estudando e não tendo mais um filho. Ele não entende porque Lorenzo se interessou por mim, se souber que espero um filho, dirá que foi para segurá-lo. Não quero isso. Estou te pedindo para não contar, mãe. Por favor.
            - Está bem. Não contarei. Mas me mantenha informada.
            - Sim, claro. O Lorenzo resolveu assar um churrasco agora a noite. Vem jantar com a gente. – Jéssica convidou.
            - Não posso, meu voo sai em duas horas. – A senhora sorriu. – Bem coisa de gaúcho. Comemorar a chegada do filho com um churrasco. Gostei de meu genro. Me pareceu um homem íntegro, de boa família e bom pai. E ele parece te amar muito.
            - Sim. E está muito feliz. Estufa o peito para dizer ‘meu filho’ precisa que você descanse. Acho tão lindo vê-lo assim.
            - E ele está certo. Vá para casa, descanse e curta sua família. Eu vou te ligar para saber como está.
            - Vou esperar a ligação, mãe. – Estava, enfim, selada a paz entre mãe e filha.

            Na mala de viagem Laura levava muitas fotos e lembranças de Clara. Duvidava que o marido não fosse se render por seu sorriso infantil e olhos curiosos. Clara conquistaria o avô rabugento, Laura tinha certeza.
            Jéssica voltou para casa de táxi e ao entrar encontrou Clara vendo desenhos na sala enquanto o pai virava os espetos na churrasqueira. Pela quantidade de carne, Jéssica esperava que os pais, avós e irmãos de Lorenzo viessem jantar. Enquanto mexia na carne, ele falava ao celular. Pelo que pôde entender, era com Jonas e o assunto o orgulho de ambos por seus filhos.

            - Tudo bem com Emily? – Jéssica perguntou assim que o noivo desligou.
            - Sim, ela saiu da sala de observação e foi para o quarto. A partir de amanhã pode receber visitas. E, segundo Jonas, Bernardo está ótimo. E muito esfomeado, o que prova que como todo Vicentin, preza pelos prazeres da gula! – Ele era só sorrisos. – Tudo bem com a sua mãe?
            - Tudo, nós conversamos. Acho que no futuro será mais fácil. Quem mais vem jantar?
            - A família toda vem. Menos Jonas, que não quer deixar Emily em momento algum. Ele trocou com mamãe por uma hora apenas para tomar banho e ver Vida. Vai passar a noite lá.
            - Ele não se sentiria bem aqui com ela hospitalizada.
            - Sim, eu compreendo. Faremos outro churrasco, lá no sul, quando Emily estiver bem. E nesse Bernardo já participará! – Lorenzo disse bebendo de uma taça. Pela alegria dele, Jéssica desconfiou que havia bebido um pouquinho demais. – Agora não posso mais te oferecer cerveja nem vinho. Mas tem suco.
            - Essas crianças já nascem gostando de carne? É isso?
            - Quase isso. Mamãe conta que eu e Jonas não tínhamos os dentes ainda e papai nos dava carne para chupar. – Ele se abaixou e beijou a barriga ainda plana da noiva. – Com você também será assim. Papai vai te ensinar a gostar de churrasco desde pequeno.



            - Vou tomar um banho e me arrumar para esperar seus pais. Precisa que prepare algo? Salada? Arroz?
            - Não! Milena fará um arroz quando chegar. Salada está pronta. Vá tomar seu banho.

            Após os momentos de tensão no hospital, a família relaxou na casa do filho mais velho. Vida participou passando de colo em colo enquanto seus pais não podiam estar ali. Alguns bochichos começaram quando Lorenzo tirou das mãos da noiva uma taça de bebida alcoólica e aumentaram quando lhe pediu que sentasse para descansar pela terceira vez. O auge da desconfiança foi quando ele lhe disse para pegar carne mal passada, pois lhe faria bem.

            - É o que eu estou pensando, não é? – Vovó Ângela perguntou. – Você está esperando um bisnetinho? Eu sei que está! Não minta para essa velha aqui.
           
            Lorenzo e Jéssica trocaram um olhar comprometedor. Estava respondido, faltava apenas dizer oficialmente.

            - Sim, vovó. Estou grávida. – Jéssica disse para todos ouvirem. – Como a senhora descobriu?
            - Meu neto está agindo como se você fosse feita de um cristal precioso.
            - Ela é muito preciosa, vovó. Por isso a trato com cuidado. – Lorenzo respondeu. – Só que agora ela abriga meu filho. E devo cuidá-la ainda mais.
            - Vamos fazer um brinde! – Leonel ergueu sua taça. Dessa vez cheia com cerveja. – À Clara, Vida, Bernardo e ao meu mais novo neto! À nova geração Vicentin que chega ao mundo para alegrar nossa família.
            - Viva! – Todos gritaram. Festa de italianos jamais era silenciosa.

            Enquanto as visitas estiveram proibidas, Jonas era o único a ter acesso livre ao quarto da esposa. E apesar de ficar na cama e ser cuidada por enfermeiros estar longe de ser algo bom ou comum em sua vida, Emily estava feliz. Aquela proibição lhe dava a chance de curtir Bernardo sem ter de dividi-lo com ninguém. Ninguém além de seu pai, de quem ele havia herdado alguns dos mais belos traços físicos. Bernardo tinha o mesmo queixo marcado e lindo de Jonas, os mesmos olhos lindos. Bernardo era uma miniatura perfeito de seu marido.

            - Mamãe ainda não pode embalar você pelo quarto, Bê. Mas logo logo estarei forte o bastante. Você verá, mamãe e papai vão te levar para casa.

            Emily dividia-se entre beijar e conversar com o pequeno Bernardo. Por ainda estar convalescendo, não podia erguer-se na cama por orientações de Leonor. Não ia sequer no banheiro. Os primeiros dias seriam assim. O resultado disso era depender muito de Jonas. Sempre que Bernardo era trazido, ele estava junto. Aquele era um momento raro de intimidade entre ela e o filho. Jonas saiu para falar a sós com a médica por um instante no corredor e deixou Bernardo sobre seu peito. Ele estava bem aconchegado.



             - Acho que começarei a sentir ciúme do novo membro masculino da família, se só ele continuar ganhando beijinhos. – Jonas disse ao entrar. – É um chamego só com essa mamãe.
            - Claro papai, eu sou o bebê da minha mamãe. – Emily respondeu fingindo uma voz infantil.
            - Ótimo. Mas agora ele irá voltar ao berçário onde uma mamadeira o aguarda. E você vai dormir.
            - Mas já? Por quê? – Aquele planejamento desagradou Emily. – Tragam a mamadeira e eu dou.

            Jonas já esperava aquela reação. Só mostrava que Emily continuava sendo a Emily que ele conheceu há tantos anos e que se mostrou aos poucos, revelando-se uma mulher forte e apaixonante. Desde que Vida entrou na vida deles, a tinha observado desabrochar. Era como se só agora com quase 40 anos Emily alcançasse a plenitude de sua vida. E Bernardo chegou com sabor de vitória, veio coroar a família que finalmente se sentia completa e podia dar adeus ao temor que Emily voltasse a ter a saúde agravada pela endometriose.
            No corredor, há poucos instantes atrás, naquele início de segunda-feira, Leonor lhe trouxe boas notícias. Emily evoluía bem, melhor até do que o esperado. Leonor creditava isso à sua imensa vontade de viver, ao lado do marido e dos filhos, de voltar à rotina e ao trabalho. Emily ama a vida que construiu e agarrou-se a ela com toda a força.

            - Porque você precisa descansar, ficar forte, recuperada e ir para casa logo. – Ele já havia pego Bernardo e o embalava nos braços.
            - Mas eu...
            - Sem ‘mas’, Emily. Eu vou levar Bernardo para se alimentar enquanto a enfermeira vem lhe dar banho e trocar os curativos. Eu já volto.
            - Está bem. Não gosto de pessoas estranhas me dando banho, mas gosto menos da ideia de você aqui vendo isso. – Ela respondeu, aceitando.
            - Pois se acostume. Porque eu já volto e vou ajudar sim no seu banho. Depois você receberá visitas, Leonor liberou. Então trate de descansar para poder vê-las.

            Emily assistiu Jonas se afastar carregando Bernardo com segurança. Muito diferente de quando pegou Vida nas primeiras semanas. É, Jonas sabia o que estava fazendo. E parecia muito satisfeito em cuidar dos filhos enquanto ela se recuperava. Talvez, ainda mais satisfeito ainda em cuidar dela. Surpreendentemente, ela já não sentia pesar algum em se deixar cuidar. Era amada, sabia disso e estava muito satisfeita em curtir aquele momento feliz. Ao entrarem, as enfermeiras encontraram Emily sorrindo e sonhando com a felicidade que lhe acenava.

            

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