segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Alguém Para Amar: Capítulo 21


            Emily estava envolta em uma nuvem de felicidade. Nada poderia apagar aquela sensação de realização plena. Por enquanto, combinaram de manter a novidade em segredo. Iriam reunir a família para dar a notícia. Alguns mais atentos, porém, se olhassem bem em seus olhos ou para o sorriso que não mais deixava seus lábios saberiam que ela não mais caminhava sozinha. Naquele corpo agora batiam dois corações.
            Ela e Jonas já tinham inclusive ouvido o coração do filho. E aquele TUM – TUM – TUM ritmado e forte lhes soou como a canção mais bela e emocionante que o mundo já teve. A gravidez estava confirmada com um tempo gestacional de seis semanas. Era só o começou daquela aventura.
            Leonor bem que tentou lhes oferecer informações técnicas e indicações de cuidado. Como médica, precisava deixar claro que aquele período era ainda muito incerto, muito perigoso, ainda mais numa gestação tão intranquila como aquela se iniciava. Emily e Jonas não estavam muito dispostos a ouvir, queriam curtir as alegrias primeiro.

            - Vão para casa! Os dois! Cuidar de Vida e desse pequeno que Emily carrega no ventre. E marquem uma consulta de pré-natal quando conseguirem prestar a atenção no que eu falo! – Rendeu-se a médica.

            Agora estavam em casa, após buscar Vida no hotel em que os pais de Jonas estavam hospedados. A menina estava sorridente, parecia absorver a felicidade dos pais. Em seu berço tentando tocar o móbile que fazia minúsculos anjos sobrevoarem seu corpo, Vida recebia o olhar atento e a atenção dos pais. E recebia a importante notícia. Ela, afinal, era a irmã mais velha e tinha o direito de saber antes dos outros.

            - Mamãe está esperando um nenê. – Coube a Jonas dar a notícia. – Isso mesmo Vida! Você terá um irmão ou uma irmã!
            - Só que vai demorar um pouquinho ainda. Só um pouquinho. – Emily disse. – Em alguns meses mamãe vai poder dar colo para vocês dois. Não se preocupe. Você será sempre a nossa primogênita, nossa princesinha Vida.



            Quando fecharam a porta do quarto de Vida e puderam enfim curtir aquela notícia em privacidade, o beijo trocado teve outro sabor. Era a deliciosa sensação de vitória após a árdua luta. Emily avisou que iria tomar um banho e surpreendeu Jonas ao avisar que ele podia pedir algo para jantar porque não iria cozinhar. Ela estava tão feliz, tão animada que finalmente permitia-se um momento de descanso.
            Jonas estava também muito eufórico. Seria pai, algo que até bem recentemente não estava em seus planos. E horas antes ele implorava à Emily desistisse sem engravidar, sem saber que seu filho já crescia dentro dela. Agora parecia essencial para sua felicidade. Era um agradável peso lhe pesando nos ombros. Mesmo assim, algo ainda lhe aterrorizava. Mesmo quando se preocupava com a saúde de Emily, transou com ela sabendo que poderia engravidar. Esse era o objetivo deles. Agora, se essa gestação levasse a esposa à morte, a culpa seria dele.      Ao menos a nova e surpreende disposição de Emily em se cuidar lhe deu alguma tranquilidade. Na cama, já prontos para dormir, ele tentou convencê-la a reduzir ainda mais seus turnos de trabalho no restaurante. Perda de tempo. Organizada como sempre, a esposa já tinha reorganizado a agenda.

            - É claro que vou reduzir. Precisarei incluir as consultas, além de todas as outras atividades.
            - Outras atividades? – Ele não entendeu essa parte. – Quais seriam?
            - Jonas, meu amor, eu sou uma gestante agora. – Incrível como seus olhos brilhavam ao dizer essa frase. – Minhas amigas que têm bebês disseram que pilates e drenagem linfática são ótimos. Além disso, temos que ver se reformaremos esse apartamento ou se vamos para um maior. Precisamos preparar o enxoval! São muitas coisas.
            - E será que no meio dessas coisas todas vai sobrar um tempinho para o seu marido?
            - É claro! Você estará junto comigo na escolha de tudo. E vamos precisas nos desdobrar para cuidar de Vida também. Ela é muito pequenininha, não pode ser sentir desprezada agora que temos um bebê a caminho.
            - Não deixaremos que isso aconteça.
            - Avisarei Márcio para contratar os funcionários que julgar necessários. Aquele restaurante não me verá muito nos próximos meses! Eu já trabalhei muito nessa vida, posso tirar uma licença sem dores de consciência.
            - Pode mesmo.



            Um licença total não foi tirada. E isso já era esperado por Jonas. Emily tinha prazer em cozinhar e não abandonaria totalmente suas panelas. Mas passar a tarde e noite inteiras na cozinha já não combinava com sua rotina. Ninguém sabia o real motivo da redução de carga horária de Emily, mas muitos já desconfiavam. Alguns dias depois Márcio entregou para Emily seu primeiro presente. Um sapatinho branco.

            - Não sei se é menino ou menina, mas sei que será muito amado. Parabéns querida!
            - Como você adivinhou? Ainda é segredo!
            - Segredo para os outros, my dear. Eu conheço você. Está mais bela, mais feliz. Essa pele está mais viçosa. Você está com o brilho da maternidade, Emily.
            - Sim, eu estou grávida, meu amigo. Mas não conte para ninguém sabe. Fique calado por enquanto. Vamos fazer um jantar aqui amanhã a noite com toda a família. Jonas trará até seus avós do Rio Grande do Sul para São Paulo para receberem a notícia. Marta virá também.
            - Que ótimo! Prepararei um cardápio especial.



            Foram dias de muito amor e cumplicidade entre eles. Concluíram que mais importante que pensar em reformas, apartamentos e enxovais, por enquanto deveriam curtir a chegada daquele bebê e zelar para que nada de ruim acontecesse. Jonas preferia que Emily repousasse ao invés de fazer compras. Nos fins de tarde encontravam-se num parque. Eles junto de Vida curtindo a chegada do segundo filho.
            Quando o tão esperado jantar chegou muitos já desconfiavam a razão daquele tão inesperado convite. A mesa de jantar, reservada por Márcio, estava cheia de pessoas ansiosas. Muitos ali já desconfiavam do motivo. Não era só o brilho especial de Emily. Era também a postura de Jonas. Ele carregava Vida em seu bebê-conforto cor de rosa dependurado em um braço e mantinha o outro na cintura da esposa. Não de qualquer forma. A palma da mão acariciava e amparava o ventre de Emily, era como se ele protegesse um filho com cada mão.
            Vovó e Vovô comportaram-se perfeitamente após a viajem de avião, cansativa para eles, e descansarem durante toda a tarde. Além de Leonel, Giovanna e Milena, Marta também compareceu. E, por fim, chegaram Lorenzo e Jéssica. Para ir ao jantar, o irmão de Jonas exigiu que Jéssica também fosse convidada, algo que Emily já esperava. Ela, obviamente, estava convidada. E foi isso que Jonas respondeu ao irmão. Para a família ir completa ao evento, Emily fez questão da presença de Chiara.

            - Bom, agora que estamos todos aqui, acho que o jantar pode começar. – Jonas pediu um brinde e ergueu sua taça. – Eu e Emily temos uma ótima notícia para dar. Além de Vida, a partir de agora, nossa família conta com outro bebê. Por isso eu peço um brinde, em homenagem a essa linda mulher e mãe dos meus filhos. Brinde esse que ela fará com suco.
            - Viva! Bisnetinhos! Viva! – Vovó Ângela não mais conseguiu manter a compostura.
            - Parabéns minha nora. – Giovanna abraçou ao casal. – Vocês e Vida darão um lar abençoado para esse bebê.

            O jantar seguiu até altas horas. Emily manteve-se firme e sorridente, bebendo apenas suco. Até que Jonas a convocou para ir para casa, repousar.

            - Isso mesmo. Precisa descansar. Ouça seu marido. – Leonel concordou. – As gestantes precisam de muitos cuidados. E meu Jonas vai cuidar de você.
            - Ele já cuida muito bem sim. – Emily concordou beijando o marido.


            Aos poucos a mesa foi esvaziando. No fim, Jonas e Emily saíram após colocar os avós e pais em táxis rumo ao hotel. Marta também foi encaminhada em segurança para seu lar. Depois de se despedirem de Jonas e Emily, Lorenzo e Jéssica foram com Clara até o estacionamento. A menina estava longe de sentir sono, ao contrário, apesar da hora avançada, saltitava à frente dos adultos e mostrava estar cheia de ideias. Só Lorenzo e Jéssica ouviram a colocação da pequena Chiara. Ainda bem, pois os avós iriam fazer coro ao pedido da pequena.

            - A tia Emily vai ter neném? – Clara perguntou.
            - Sim. Está na barriga dela, crescendo. Quando nascer, será um irmãozinho para Vida. Ou irmãzinha. – Jéssica explicou, pacientemente.
            - Aaaa sim. Legal. Mas e eu?
            - Você o que, Chiara? – Lorenzo questionou a filha.
            - Quando é que eu vou ter um irmão?!?! Eu quero.



            Lorenzo riu, e muito. Não só pela pergunta curiosa de Chiara, mas, principalmente, pela expressão assustada de Jéssica. Clara tinha pego a mãe completamente desprevenida. Restou a Lorenzo dar alguma explicação. Difícil era saber o que responder, sua mente dizia uma coisa bem diferente da língua falada pelo coração.

            - Quem sabe um dia o papai e a mamãe lhe dão um irmão. – Ele tentou ser vago.
            - Mas tem de ser logo papai. Porque nenê demora muito, muito, muito, muito pra crescer. Coloca logo um bebê na barriga da mamãe.
            - Clara! – Jéssica gritou. – Isso não é assunto de criança!
            - Mas mamãe eu quero um irmão.
            - Chiara, comporte-se. – Lorenzo pegou a filha adotiva no colo. – Um dia papai e mamãe lhe darão um irmão. Um dia.
            - Tá bem, tá bem. – Gostar ela não gostou, mas aceitou.

            A noite seria passada novamente no apartamento de Lorenzo. Era assim desde a aparição de Bruno. E Lorenzo jamais escondeu sua satisfação em ver Chiara e Jéssica seguras e junto dele. Se por acaso acordasse no meio da noite teria o calor de Jéssica junto de seu corpo e poderia espiar da porta para ver o sono de Chiara. Isso para ele era felicidade. Por isso, não tinha plano algum para permitir a volta de Jéssica para sua antiga casa. Tanto que já havia comunicado ao dono que Jéssica estava entregando a casa e acertado tudo para que ainda naquela semana o lugar fosse esvaziado. Tudo organizado. Faltava apenas informar Jéssica.

            - Jéssica...eu tomei uma atitude para facilitar as coisas para você e espero que não se importe. – Começou ele com calma.
            - O que foi?
            - Você está feliz aqui comigo? Nesse apartamento? Ele pode ser o nosso lar, não pode? Clara é feliz aqui!
            - Sim, ela é. Eu sou. Nós podemos ser felizes em qualquer lugar junto de você – Jéssica respondeu sinceramente. Ela não sabia o motivo se sentir uma tempestade se aproximando. E estava certa.
            - Ótimo! Será aqui então. Para sempre. Não voltarão para sua casa nunca mais. Esse apartamento é agora o seu lar, o nosso lar.
            - Não pode ser assim, Lorenzo. Eu não posso me esconder de Bruno a vida toda. Tenho de voltar para a minha casa. Minhas coisas estão lá, minha vida é lá, não aqui.

            Lorenzo não teve alternativa que não falar tudo de uma vez. Jéssica não tinha mais nenhuma casa. Porque ele tinha cuidado disso sem avisá-la, num impulso que na hora pareceu natural, mas que agora soaria para Jéssica como abusivo.

            - Irão buscar suas coisas amanhã e trarão para cá. Esse é o lar de vocês agora.
            - Não, não é. Eu tenho casa, Lorenzo. É simples, mas eu tenho.
            - Não tem mais. Eu avisei ao proprietário que você não moraria mais lá. Ele até já tem um novo inquilino.

            Jéssica se afastou de Lorenzo instantaneamente. Ele podia tê-la ajudado, ser o namorado mais atencioso possível, o sonho de pai para qualquer criança, mas nada disso lhe dava o direito de decidir sua vida. A independência pela qual tanto lutou estava se esvaindo por seus dedos por ela se permitir todos aqueles mimos. Ou acabava com aquilo agora ou se entregaria completamente para Lorenzo. E por mais que ele a tenha conquistado e fosse feliz em seus braços, não podia permitir.

            - Você não tinha esse direito. Não tem esse direito. – Ela disse firme e objetiva antes de sair da sala.

            Lorenzo antecipou o que ela faria e antes de Jéssica conseguir atravessar o corredor e abrir a porta do quarto onde Clara dormia postou-se em sua frente. Os dois podiam até brigar e gritar, mas não iriam terminar por algo tão sem importância quanto o aluguel de uma casa. E, ainda mais, não permitiria que Clara fosse retirada de sua cama no meio da noite.

            - Você não vai levá-la daqui. Se acalme e pense antes de agir, Jéssica. Eu amo vocês! O lugar de vocês é aqui. – Lhe disse colocando-se na frente da porta. – Clara vai dormir na cama dela, está tranquila, segura e aquecida. Não vou deixar que a leve para um lugar perigoso no meio da noite. E você também não vai pra lugar algum.
            - Você não pode me prender aqui. E eu nunca deixei nada de ruim acontecer com Clara. – Jéssica se defendeu. – A criei sozinha por três anos!
            - E ainda não entendeu que não está mais sozinha! Chega, Jéssica! Nós não estamos brincando de casinha aqui. Eu quero casar com você, quero ter uma família. Chiara me chama de pai! E como pai dela eu tenho o direito de lhe dar uma moradia descente!
            - E a que eu dava era indecente! Já entendi Lorenzo! – Ela estava com muita raiva, mesmo reconhecendo alguma razão mo que ele falava.
            - Não era o ideal. E você sabe disso. Então se ficou tão brava assim brigue comigo, grite, me esbofeteie se acha que isso vai aliviar sua raiva, mas você não sai daqui no meio da noite para aquela casa! Pode me chamar de homem das cavernas, mas, como a sua segurança e de Clara eu não vou brincar!

            Nesse ponto Jéssica já estava cansada da discussão e disposta a ceder. O problema era reconhecer que sozinha, por mais que trabalhasse, não conseguiria dar a Clara o que ela merecia e para Lorenzo era muito fácil.

            - Eu não quero brigar com você. E não quero te esbofetear! Só não quero depender de você, Lorenzo! Você entregou a casa em que eu moro! Não pode decidir essas coisas por mim!
            - Está bem. Eu peço desculpas. Não farei mais nada assim. Mas, entenda, você mora aqui agora, comigo. E se um dia você e Clara forem morar em algum outro lugar será porque resolvemos aumentar a família e comprar uma casa maior. Jéssica, você e Clara são a minha família, você é a mulher que eu amo. Como eu poderia não te proteger?
            - Está bem. Mas não me esconda mais nada. – Jéssica já o abraçava e enfim eles foram para o quarto, trocando beijos que antecipavam uma gostosa reconciliação. – Eu te amo tanto. Tanto que não cabe no meu peito.

            Aos poucos Jéssica aceitou que aquela personalidade protetora era natural para Lorenzo. Ele cuidava dos que amava. Era assim com o irmão, os pais e avós. Ela e Clara não seriam tratadas de outra forma. E Jéssica entendeu que assim como ela tinha uma natureza independente, Lorenzo precisava protegê-la.
            Sem perder a independência, mas respeitando o desejo de Lorenzo, Jéssica seguiu se cuidando. Suas coisas agora dividiam espaço com as de Lorenzo no apartamento e eles viviam como uma família. A casa foi entregue e o que era temporário tornou-se definitivo. Ambos sabiam que aquele relacionamento estava a cada dia mais sério.
            A família de Lorenzo a tinha aceito completamente. Principalmente Emily e Jonas. A chefe já era uma amiga e, agora que ela estava grávida, adorava lhe perguntar sobre aquele período da gravidez. Não que a gestação cheia de mimos e cuidados de Emily pudesse ser comparada com suas lembranças do período em que gerava Clara. Mas, ainda assim, os filhos as tornaram mais próximas.

            - Jéssica! – Emily a cumprimentou quando chegou no restaurante. Já era hora dela ir para casa. – Vi um certo carro esperando uma certa moça lá fora. O que acha de não deixá-lo esperando?
            - Eu já vou, Emily. Está se sentindo bem?
            - Ótima. Mais disposta do que nunca! Agora vá! Lorenzo está esperando-a do outro lado da rua. Vá! É uma ordem da sua chefe.

            Jéssica saiu pela porta dos fundos do restaurante. Deveria pegar um estreito corredor lateral, acessar a fachada principal e atravessar a rua. Logo estaria na segurança dos braços de Lorenzo. No meio do corredor, porém, sentiu uma mão apertar-lhe o braço. Bruno. Não precisou vê-lo para saber que era ele. E quando o olhou sentiu medo daqueles olhos avermelhados.



            - Sai daqui! Me solta! Socorro!
            - Vagabunda! Tava pensando que ia se safar de mim? Que ia ficar na sombra dele o tempo todo!?!?! – Em segundos Jéssica estava no chão. Bruno estava a cada dia mais violento. E ela sentiu o primeiro chute atingi-la no ombro. – Ele não vai te ajudar agora.
            - Socorro! Para! Para! Socorro!!!!!!!!!!!!! – Ela continuou gritando com toda a sua força

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