Quando a quarta-feira chegou Jéssica entendeu enfim o quanto Lorenzo era
importante. Ele passou em sua casa logo cedo, antes de embarcar para o Rio
Grande do Sul e, quando abraçou-o, Jéssica sentiu o frescor da sua loção pós
barba. Ela deu-se conta do quanto gostava de sentir aquele cheiro todas as
manhãs.
- Se eu fosse um pouquinho egoísta, pedia para você não
ir. Queria tê-lo aqui. – Ela lhe disse, ousada.
- Pede. – Lorenzo provocou. – Só diz que me deseja aqui
do seu lado e eu cancelo meus compromissos.
- Fácil assim?
- É. Bem fácil! – Mas logo após olhar para o relógio,
percebeu que era hora de falar sério. - Tenho de ir. Mas quero saber se precisa
de algo. Serão dois dias longe, me sentiria mais tranquilo se você aceitasse
ficar com algum dinheiro.
- Não! Por quê? Nada vai acontecer em dois dias.
- Mesmo assim, se acontecer, eu não estarei aqui para te
ajudar. Ok, se você não quer dinheiro vivo, mas poderia ficar com o cartão de
banco de uma das minhas contas. Eu te dou a senha e você usa só se precisar.
- Não precisa. – Ela achou a sugestão tão absurda quando apaixonante.
– O cartão ficará com o dono.
Mas fácil não foi. As horas pareciam mais longas sem ele
por perto. Apenas o trabalho a fez parar de pensar em Lorenzo. Agora
Jéssica entendia a dedicação de Emily ao restaurante. Nas
horas de dificuldade era o trabalho o esteio de Emily.
Não hoje. Nem nos dias seguintes. Emily a partir de hoje
tinham algo bem mais importante para fazer. Acompanhar os primeiros dias de
Vida em casa. A
filha estava finalmente lhe sendo entregue. Ela e Jonas foram buscá-la junto do
advogado e ambos pretendiam curtir os momentos em família.
- Venha, pequena Vida. Venha com a mamãe. – Ela disse ao
abraçá-la pela primeira vez oficialmente como mãe de Vida.
Eles não quiseram recepção com convidados e balões, como
alguns amigos sugeriram. Preferiram a intimidade e tranquilidade de ter o
apartamento só para eles. Vida precisava se acostumar com o novo lar. Jonas fez
questão de entrar em casa carregando a filha, não antes de apresentá-la aos
visinhos e ao porteiro.
- É nossa filha. Chama-se Vida. – Disse orgulhoso para
todos os que olhavam em sua direção.
Quando entraram no apartamento Emily levou Vida para
conhecer seu quarto. Era simples, todo branco com detalhes em tons de rosa. No
ar um perfume muito leve de bebê, resultado dos muitos sabonetes, loções e
cremes infantis que Emily comprou enquanto esperava pela filha. Agora ela
poderia aproveitar tudo aquilo. Nas paredes alguns brinquedos. Em uma
prateleira especial, uma sequência de ursos de pelúcia e pequenas bonecas. Uma
tinha espaço especial. No quarto e no coração de Emily.
Era Milla, a boneca que antes representava sua solidão,
servindo muitas vezes de única companhia em dias solitários, agora ganhava uma
nova dona. Vida ainda não poderia brincar com ela, mas, Emily esperava, no
futuro elas seriam grandes companheiras.
- Você deu Milla para Vida? – Jonas perguntou quando viu
a antiga boneca de pano na prateleira repleta de brinquedos.
- Sim. Ela já fez muito por mim. Agora é de minha filha.
Eles passaram muito tempo junto do berço olhando Vida.
Tinham medo que ela estranhasse o novo quarto e chorasse. Não aconteceu. Chorou
apenas quando quis colo ou sentiu fome. Uma mamadeira caprichada, alguns afagos
e canções de ninar e Vida adormeceu docemente. A babá eletrônica foi ligada e,
ainda assim, Emily só se sentiu tranquila em ir para a sala deixando a porta
aberta.
- Calma, nada vai acontecer. – Jonas disse, achando graça
da quantidade de vezes que viu a esposa espiar o sono de Vida da porta.
- Eu sei. Mas é que...ainda nem acredito. Tenho medo de
olhar uma hora, não vê-la ali e descobrir que é só um sonho.
- É um sonho. Mas não vai acabar, só vai crescer junto
com Vida. Mas nós temos de decidir algumas coisas.
- Quais? – Emily estava preparando o jantar enquanto eles
beliscavam e bebiam. Não achava que teriam assuntos para discutir.
- Vida é um presente para nós dois, nos preparamos para
tê-la e a esperamos, mas ela precisa de muita atenção e muito do nosso tempo.
Você tem seu restaurante, eu a construtora e a vinícola e, juntos, nós temos o
tratamento de fertilidade. É humanamente impossível cuidar de tudo sem ajuda. –
Jonas externou algo que estava em seu pensamento há algum tempo. – Minha
sugestão é quer adiemos novas inseminações e vamos curtir nossa filha. E talvez
contratemos uma babá para nos ajudar.
- Não preciso de babá. Não gosto da ideia de ter outra
mulher aqui na nossa casa, cuidando da nossa filha. Acho que por enquanto ela
deve ser cuidada por nós, vamos nos revezar e contar com a ajuda de nossos
amigos. Depois procurar por uma escolinha de qualidade.
- Eu concordo. Vou tentar ajustar meus horários para
estar em casa no meio da tarde, antes de você ir para o restaurante, no turno
da noite.
- Perfeito. Depois que ela completar quatro meses nós
procuramos uma escolinha. Não falta muito. – Mas ainda havia a outra sugestão
de Jonas para responder. Essa era mais complicada. – Eu não tenho tempo para
esperar, você sabe que quanto mais demorar menos chances tenho de engravidar.
- Temos Vida, Emily. Ela é nossa filha. – Jonas disse
tranquilo.
- E eu quero lhe dar um irmão. Sei que posso conseguir.
- Não quero que isso arrisque a sua saúde, Emily. Já
disse isso para Leonor e vou reforçar na próxima consulta. Quando é?
- A...e...eu ainda não sei. – Ela respondeu evasiva,
deixando Jonas ainda mais desconfiado.
Com Emily mais distante, todos no restaurante tiveram que
se esforçar para manter o serviço funcionando a pleno. A quarta-feira foi de
muito trabalho e mesas cheias no horário de almoço. Apenas no intervalo ela
conseguiu trocar algumas palavras com Lorenzo. Eram 16hs quando a cozinha ficou
tranquila, limpa e organizada para o turno da noite e Jéssica foi se trocar
para ir embora. Passaria na escolinha para pegar Clara e as duas iriam para
casa, sem Lorenzo, o que já garantia menos sorrisos da menina.
- Até amanhã, Jéssica. Não vi seu príncipe aí na frente
ainda. – Márcio disse.
- Ele não vem hoje. Viajou. Vou pegar o ônibus. Até
amanhã, Márcio.
Jéssica caminhou duas quadras até o ponto de ônibus. Seu
plano era ir até o centro da cidade, fazer algumas compras, pegar outro ônibus
até seu bairro e passar na creche de Clara no caminho de casa. Mas foram apenas
planos que desabaram ao perceber quem estava logo atrás.
- Bruno!
- Faz tempo hem Jéssica. Senti sua falta, gata.
- Como...como me encontrou?
- Estava se escondendo? Por quê?
Bruno vestia um casaco preto, pesado demais para o calor
que fazia em São Paulo
naqueles dias. O cigarro não saía de sua mão e seus olhos estavam avermelhados.
Até mesmo sua pele era diferente, mais desgastada. O tempo pareceu castigar
Bruno nesses últimos quatro anos. Nas suas lembranças ele era um rapaz jovem,
bonito e agradável. O homem a sua frente não tinha nenhum atrativo, desejava
apenas manter-se distante dele.
- Me deixa em paz Bruno.
Não quero te ver. – Disse, segura, evitando que a voz
tremesse. – Eu não faço mais parte da sua vida. E você não vai voltar para a
minha.
- Calma Jéssica, que estresse desnecessário. Já fazia um
tempinho que eu queria te ver, mas só quando vi a sua foto no jornal
pude...realizar esse objetivo. Você me roubou, querida.
- Não sei do que você está falando.
A aparente calma de Bruno foi se desfazendo. Jéssica se
sentiu encurralada, mesmo ainda estando próximo do emprego, à luz do dia e no
meio da rua. Quando ele apertou um de seus braços para segurá-la ela tentou
empurrá-lo. Foi inútil. Bruno era muito mais alto e forte, se quisesse sair
dali, não poderia medir forças com ele.
- Sabe sim! Você fugiu levando meu dinheiro. Agora eu
quero o pagamento. R$ 50 mil na minha mão.
- Está louco! Eu não peguei isso tudo! E não tenho R$ 50
mil reais para te dar. Suma!
- A inflação está alta, Jéssica. O pagamento será esse.
Você pode não ter...mas o cara com quem está saindo tem. Pega dele!
Aquilo confirmou à Jéssica que ela e Lorenzo vinham sendo
observados. Talvez ele tenha visto Clara. Mas não falou nela então Jéssica
preferiu ficar calada. Era melhor que Bruno não lembrasse que eles tinham um
vínculo.
- Não tenho acesso ao dinheiro dele. E não vou pedir um
centavo para você! Suma!
- Você está muito corajosa para o meu gosto.
Jéssica não imaginou que Bruno fosse fazer alguma coisa
ali, no meio da rua, com pessoas passando. Ele nunca fora um homem agressivo,
não com ela, pelo menos. Mas ele estava realmente muito mudado. E bastou
irritá-lo um pouco negando o pedido de dinheiro para que Bruno erguesse a mão
direita e atingisse seu rosto. O golpe atingiu seu maxilar e fez a dor irradiar
por toda a face. O golpe e também a surpresa pela a agressão inesperada a
fizeram perder o equilíbrio e chocar-se na mureta da parada de ônibus. Um jovem que passava viu o que aconteceu e
veio socorrê-la.
- Ei cara! Vai agredir ela assim não! Eu chamo a polícia!
Enquanto Bruno e o desconhecido trocavam ameaças, Jéssica
viu o ônibus se aproximar e ignorando as dores da queda ergueu-se do chão e
entrou no ônibus. Nem mesmo conseguiu agradecer ao jovem que a ajudou, mas
tinha certeza que Bruno não faria nada com ele. Seu ex não desejava atrair a
polícia e seu assunto era com ela. Bruno voltaria. Ela tinha conseguido apenas
um intervalo na briga.
Todos os seus planos foram desfeitos. Mais cedo do que o
normal Jéssica pegou Clara na escola e rumou para casa. Esperta, Clara logo
percebeu que a mamãe estava triste e machucada.
- A mamãe está bem, filha. Não se preocupe. Mamãe caiu e
se machucou.
As duas foram para cama muito cedo. Jéssica colocou um
DVD infantil para entreter a filha, lhe deu um copo de achocolatado e engoliu
dois analgésicos. Certa de que logo
Clara adormeceria vendo os desenhos, Jéssica perdeu-se em pensamentos. Tentava
descobrir uma saída para resolver o problema com Bruno sem envolver Lorenzo.
Pedir-lhe o dinheiro estava fora de cogitação, até porque nada garantia que ele
não voltaria exigindo mais. E não devia nada a ele. Criava Clara sem ajuda
nenhuma, Bruno nada tinha para reclamar. Quando percebeu, chorava muito.
Parecia que o sonho estava desabando.
Atenta, Clara viu lágrimas descerem pelo rosto da mãe.
Ficou ali, abraçando-a. E pensou que ela chorava pelo machucado. E também por
saudade do papai. Sem sono, ao contrário de Jéssica que, devido aos analgésicos
estava zonza, a menina ficou acordada enquanto a mãe dormiu. Foi Clara a ver o
celular vibrar sobre o criado mudo e a foto de Lorenzo aparecer no visor.
- Oi papai! – Com a estranha facilidade que as crianças
têm com a tecnologia, Clara destravou o aparelho e atendeu a chamada.
- Oi Chiara! Como foi seu dia na escolinha?
- Foi legal. Eu desenhei a mamãe, você e eu.
- Eu quero ver esse desenho. A mamãe está aí com você?
- Sim, mas tá dormindo. Ela tá machucada papai!
- O que? Como assim machucada, Clara? – Por essa Lorenzo
não esperava. Como Jéssica se machucou justamente no dia em que ele viajou?
- Ela tá machucada, papai! E chorou muito, muito, muito.
- Mas como ela se machucou?
- Não sei. Você podia vim dá um beijinho pra sarar. Vem,
papai. Volta logo.
- O papai vai voltar sim, Chiara. Fica com a mamãe na
cama e não mexa em nada perigoso. Está bem? Se comporte. Amanhã o papai estará
aí.
Lorenzo olhou as opções de voo que tinha e conseguiu uma
passagem para as 4h50min da manhã. Isso significava descer a serra em direção a
Porto Alegre no início da madrugada, coisa que não o agradava. Mas não houve
jeito. Mandou uma mensagem para seu pai avisando que cancelava os compromissos
do dia devido a uma emergência, refez sua mochila, conferiu as trancas e
alarmes da casa e rumou à capital gaúcha.
Quando o sol nasceu Lorenzo já estava em São Paulo , cansado, mas
ainda decidido a ver Jéssica antes dela sair para levar Clara à escolinha.
Queria vê-las e ter certeza que estavam bem. Por um momento chegou a torcer
para tudo não passar de uma brincadeira de criança com o objetivo de fazê-lo
voltar. Mas quando Jéssica abriu a porta e ele viu o hematoma e seu rosto a
esperança se extinguiu.
- O que...como...você não chegava tarde da noite? –
Jéssica não o esperava tão cedo.
- Eu liguei ontem a noite e Chiara me disse que você não
estava bem.
- Eu vou ter uma conversa séria com ela! Clara não pode
fazer isso! Clara, venha aqui! – Jéssica gritou.
- Papai! Você veio! – A menina não se assustou nem um
pouco com a cara brava da mãe. – O papai veio nos ver mamãe!
- É claro que vim, pequenina. Eu não aguentava a saudade.
Vá se arrumar para escola enquanto converso com mamãe.
Jéssica não sabia o que dizer. Contar a verdade,
conhecendo Lorenzo, representaria que ele se envolveria no problema e pagaria
Bruno. Não queria isso. E também tinha medo de um confronto entre eles. E
mentir para alguém que a amava e a tinha ajudado tanto parecia muito feio.
Porém, não teve alternativa.
- Eu sofri uma queda na cozinha. Foi só isso. Não se
preocupe. – Mas quando Lorenzo a abraçou, não teve como evitar um gemido de
dor. – Só não me aperta muito.
- Foi no médico?
- Não precisa. Foi só a pancada mesmo. Não precisava ter
interrompido sua viagem.
- Precisava sim. Aliás, se você estivesse comigo, isso
não teria acontecido. Droga! Tudo bem, se arruma que eu te levo. Imagino que não
vai pedir para ficar em casa de repouso.
- Não mesmo. Eu vou me trocar.
Jéssica via na expressão de Lorenzo o quanto ele estava
cansado. Era impressionante o que ele fez, não dormiu nada por ela. Agora,
provavelmente iria para o apartamento, recuperar as forças. Se não estivesse
tão exausto certamente teria se oferecido para ficar com Clara. Mesmo sem
querer abusar do carinho dele, Jéssica precisou lhe fazer um pedido.
- Você vem me buscar, não vem? – Nunca pedia isso.
Lorenzo vinha quando podia. Mas agora sentia medo de Bruno.
- Posso vir, claro. Vou para casa dormir e depois venho.
– Mas ele estranhou a pergunta. Jéssica estava estranha. – Está tudo bem? Você
parece nervosa.
Ela estava. Viu Bruno na esquina, agora ela prestava a
atenção e não deixou de notá-lo ali, observando-a com Lorenzo. Jéssica ficou
nervosa. Bruno a observando. Lorenzo pressionando-a. Simplesmente não sabia o
que fazer. Sentiu as mãos tremerem e suarem frio. Ela ficou gelada.
- Jéssica! O que há? Fale! – Lorenzo gritou ao vê-la
ficar pálida.
Nervosa, Jéssica sentiu sua mente se desligar o corpo
amolecer. Perdeu os sentidos nos braços de Lorenzo, torcendo para que nada de
ruim ocorresse com ele e para Bruno desaparecer.
Se Lorenzo já estava cansado e preocupado, depois do
desmaio ficou em
desespero. Ele carregou Jéssica para dentro do restaurante e
chamou por Márcio. Alguns outros funcionários também vieram tentar reanimar Jéssica.
No meio da confusão, Jonas e Emily entraram no restaurante
carregando Vida. Vieram apresentar a filha para a equipe de funcionários dela
e, depois, iriam na construtora fazer o mesmo. Sorriam orgulhosos pela filha,
mas perceberam que aquele não era o melhor momento.
- O que aconteceu? – Emily perguntou.
- Parece que Jéssica sofreu um desmaio na frente do
restaurante. – Márcio esclareceu.
Lorenzo só ficou mais tranquilo quando viu a namorada ser
reanimada. Ela parecia bem, ainda que confusa. Alguém buscou um kit de
primeiros socorros e media sua pressão. Ainda assim, Emily insistiu que ela
deveria ser levada ao pronto socorro. Jonas encarou o ocorrido com menos
preocupação. Na verdade, pensou em algo que seria até útil para provocar o
irmão.
- Quem sabe esse desmaio não é sinal que as rezas de vovó
Ângela fizeram efeito. – Disse Jonas próximo do ouvido de Lorenzo enquanto
batia em seu ombro. – Parabéns papai.
- Pare de brincadeira. Isso é bobagem. – Lorenzo
respondeu sem achar graça na piada.
Seu humor pirou um pouco mais quando resolveu perguntar a
Márcio se foi em outra queda de pressão que Jéssica se machucou no dia
anterior.
- Que queda? Não houve nenhum acidente no restaurante
ontem. – O maitre respondeu.
Havia algo de muito estranho acontecendo. E Lorenzo
começava a achar que, talvez, apenas talvez, Jonas pudesse ter razão. E se
Jéssica estivesse grávida e depois de vê-lo tantas vezes dizer que não desejava
filhos, estivesse nervosa? Isso explicaria o desmaio. E ao machucar o rosto ela
não lhe disse o real motivo. Clara disse que Jéssica chorou muito. Poderia ser
de nervoso também.
- Droga! Eu sempre usei preservativo, mas pode acontecer.
– Ele disse para si mesmo. – Isso explica esse nervosismo todo. Clara mudou a
vida de Jéssica e só agora tudo está se acertando. Ela é muito jovem para ter
um segundo filho.
Lorenzo não quis pressioná-la. Então, quando Jéssica
disse que não queria ir ao médico e que preferia voltar ao trabalho
normalmente, ele a apoiou.
- À noite nós conversamos. Não se canse demais. – Ele lhe
beijou tentando passar alguma confiança, sem estar nem perto de desconfiar da
real preocupação de Jéssica. Só não conseguia vê-la triste. – Fique tranquila,
eu venho te buscar e nós vamos resolver o que está te preocupando.
A situação de Jonas era tão ou mais complicada que a de Lorenzo.
Emily também lhe escondeu uma coisa. Eles estavam curtindo a chegada de Vida e
incluindo ela em cada atividade de seus dias. Quando os ânimos se acalmaram, a
bebê passeou pelo restaurante e conheceu alguns funcionários. Passou de colo em
colo alegremente e não se importou de tomar sua mamadeira tendo uma grande
plateia. Depois foram na construtora e ela conheceu o escritório do pai. Vários
colegas e funcionários cumprimentaram o casal. Rafael, sue sócio, lembrou que
precisavam marcar um jantar entre amigos para ele e Melissa mimarem Vida com
mais calma.
- Claro, vamos marcar sim. – Emily respondeu.
Somente Juliana manteve-se mais afastada. E isso agradou
Emily. Não queria sua Vida com aquela mulher invejosa. Mesmo assim, Jonas fez
questão que ela viesse conhecer a menina.
- Ela é linda, Jonas. Parabéns pela sua filha. – Disse a
sócia, quase que constrangida. – Parabéns, Emily. Eu...preciso voltar para
minha sala. Com licença.
Jonas também tinha seus compromissos e ficou na
construtora. Emily voltou para casa com Vida, cheia de planos para aquelas
horas junto da filha. Quando ia saindo Jonas a chamou e perguntou se estava
bem. Era sempre assim. Ele vivia preocupado com sua doença e as dores causadas
por ela. Felizmente, naquele dia ela pode ser sincera ao dizer que não sentia
nenhuma dor. Dias assim eram cada vez mais raros. E ela estava se
especializando em mentir para manter Jonas tranquilo. Ele não merecia passar
por toda aquela preocupação.
As mentiras de Emily não eram tão convincentes quanto ela
esperava. Ver quem ama sofrer pode ser muito mais doloroso do que sentir na
pele a dor. É algo desesperador, do qual dificilmente consegue-se escapar. Jonas
não conseguiu relaxar enquanto não marcou uma reunião com Leonor, mais uma vez
sem o conhecimento de Emily. Sua consciência lhe dizia que estava errado em
enganá-la assim, mas era necessário. Ao chegar no consultório, ele só não
esperava descobrir que Emily também não era 100% sincera. Ele fora excluído da
última consulta médica da esposa e, obviamente, havia uma razão para isso
quando nos últimos meses não faltou a nenhum encontro.
- Querido, eu esperava mesmo uma visita sua. – Leonor disse
ao recepcioná-lo em seu consultório particular. Nos últimos meses eles firmaram
uma relação amistosa. – Estranhei que você estivesse viajando na última
consulta.
- Qual consulta? Eu não faltei.
Ambos chegaram à mesma conclusão. Emily o tinha excluído
de um consulta e isso não deveria ser algo sem razão. As consultas eram
mensais, para exames e avaliações e mais uma quando era realizada a
inseminação.
- Emily fez mais uma tentativa de inseminação e eu não
fui informado?
Leonor não queria responder. Por mais que simpatizasse
com Jonas, Emily era uma amiga antiga e próxima demais, além de ali haver
sigilo de médico e paciente. Ficaria calada. Isso não a impedia de torcer que
Emily fosse sincera. Sua situação era preocupante, mentir só pioraria tudo.
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