sábado, 2 de maio de 2015

Diaba Ruiva - Passado Revelado: Cap 14 parte 2

            Yuri ficou detido no FBI. Era um ladrão, disposto a ajudá-los, mas, mesmo assim, um ladrão. E não merecia confiança. A maior parte da equipe foi para casa descansar naquela noite. Estavam satisfeitos. Ao meio dia de amanhã Carter seria pego, e preso. Era isso o que todos desejavam. Menos Rachel. Ela ficaria mais satisfeita caso Thomas não saísse vivo desse confronto.
            Mas resolveu não externar sua opinião. Nos últimos dias já tinha saído da linha o suficiente e sabia que o radar de Peter estava sobre ela a cada minuto. Então dedicou-se junto com Diana, Neal e Peter na organização da missão. Nohan e Melissa resolveram se juntar a eles. Estranho como a presença de Melissa sempre a deixava nervosa. Ao menos, nesse encontro, não era apenas ela com os nervos agitados.

            - Tudo bem Melissa? Você não desgrudou do telefone a noite toda. – Rachel não resistiu em comentar.
            - Claro! É só que todos temos problemas de família. Apenas isso.

            Rachel não insistiu. Apenas ficou imaginando qual poderia ser o problema familiar da filha do primeiro ministro inglês. Aquela garota a perturbava...e desafiava, na mesma medida. Forçando-se a prestar a atenção no planejamento, deixou Melissa de lado o concentrou-se em Thomas Carter.

            - Rachel, eu não a quero envolvida nessa missão. – Peter começou a falar.
            - Nem pensar!
        - Não é possível Rachel. Você está muito nervosa! Fora do caso! Está decidido! – Ele concluiu o raciocínio.
            - Não! Nem pensar! – Ela respondeu.
            - Isso não foi um conselho, Rachel. Foi uma ordem.

            Rachel sabia que devia obediência ao chefe e não poderia ignorar a ordem. Também não podia contar com Neal naquele momento. Então recorreu a sua única alternativa. Nohan. Numa rápida troca de olhares ela pediu ajuda para seu único aliado naquela batalha. E foi atendida.

            - Peter, eu peço que você reconsidere. Afinal Rachel saiu da cadeia para atuar nesse caso. E todas as pequenas ocorrências recentes já foram minimizadas. – Nohan argumentou sabendo que Peter não tinha alternativa

            O chefe da divisão do FBI não tinha o que fazer. Nohan havia exigido Rachel naquele caso e o FBI concordou. Portanto ela podia participar. Estava sem saída. Neal também olhou feio para o embaixador.

            - Tem de se intrometer em tudo? – Perguntou.
            - Eu apenas faço o meu trabalho Neal. – Ele encarou Rachel. – Cuide-se Rachel. Não me faça ter arrependimento dessa decisão.
            - Ótimo então. Que seja assim. - Peter, sem poder resolver de outra forma, seguiu com o plano. - Seu papel nessa ação consiste em prender Carter, sem tiros. Isso é muito importante porque estaremos numa área aberta e movimentada naquele horário. Se entrarmos em conflito, inocentes vão morrer. E isso será um desafio e tanto. Carter não irá entregar-se fácil.
            - Não temos escolha a não ser atacar. – Rachel tinha um planejamento bem efetivo. – Colocamos atiradores em algum telhado próximo. Um tiro certeiro e derrubamos Carter antes dele pensar em disparar em alguém.
            A ideia parecia sensata aos ouvidos de Peter e dos outros. Ele e Stone já tinham falado a respeito, mas havia o temor de causar um conflito, podendo ferir inocentes. E isso era a última coisa que precisavam.

            - Stone propôs uma alternativa. Ele acha que devemos atrair Thomas Carter até um ponto mais seguro antes de qualquer tiro.
            - Mas, chefe! Não temos com que atrair ele. Não sem entregar o golpe! – Diana não conseguia pensar numa alternativa menos arriscada do que abrir fogo.
            - Temos sim. – Rachel respondeu. – Eu. Carter quer me pegar. Ele quer esse confronto tanto quanto eu. Com o estímulo certo, vai me seguir.

            Ela teve de explicar para a equipe o plano que acabara de lhe ocorrer. Estava claro como água em sua cabeça. E ela já sentia a animação em cada um dos ruivos fios de cabelo. Os olhos de Diana brilharam em resposta. Peter, Nohan, Melissa demonstraram apreensão. Mas nada foi pior do que o olhar de Neal. Ele ficou furioso com a ideia. Rachel entendia suas razões, mas tinha segurança no que tentava fazer. Então quando Peter, percebendo o clima ruim, chamou Neal para debater outro assunto, ela não esperou por ele. Iriam brigar. Subiu até o andar superior do prédio, onde ficava a academia de treinamento e foi se exercitar. Era tarde demais para isso, mas cansar o corpo era relaxante.
            Enquanto, descalça, dava chutes e socos num saco de areia que pendia do teto, ela se imaginava golpeando Carter. Seria bom. Seria ótimo derrubá-lo com dois ou três chutes. E ela ainda tinha essa esperança. Seu plano consistia em deixar-se ver. Yuri seria ‘preso’ pelo FBI na frente do hotel minutos antes do combinado com Thomas. Obviamente, o inglês já estaria na área, observando. E se sentiria aliviado por ver-se livre quanto o outro é preso. No comando da falsa prisão estaria ela. E ao sair sozinha, ele a perseguiria. O desejo de pegá-la e vingar-se do fato de ter estragado seus planos para lucrar com peças feitas por Neal seria maior que a busca da preservação. Ele poderia simplesmente sumir, mas viria atrás dela. Seria guiado à uma área discreta e sem possíveis vítimas. E então seria preso. Após ambos acertarem suas contas. Neal viu-a esmurrando o saco estrondosamente e sua raiva só aumentou.

            - Eu, George e Helen não representamos nada? – Disse e viu-a parar de bater.
           
            Rachel já esperava por aquilo. E, ainda assim, surpreendeu-se com a reação de Neal. Não era típico dele. Neal era o tipo de homem que não perdia a compostura. Raras vezes lhe ergueu a voz, jamais no ambiente de trabalho. Mas naquele momento estava raivoso.
           
            - Representam tudo. Tanto que ninguém capaz de ameaçar vocês sai impune.
            - Será eu não sofri o bastante quando Harabo quase tirou você de nós? Tem de se colocar na linha de tiro cada vez que um maluco aparecer?
            - Não misture as coisas, Neal. Harabo não tem nada a ver com Carter. E eu não estou me colocando em risco. Sei o que estou fazendo.

            Ela sabia. E Neal tinha isso na mente tão claro quanto a preocupação no coração. Ele confiava nela, conhecia sua capacidade num confronto. E nem mesmo isso era capaz de lhe tranquilizar. Mesmo assim, encerrou a discussão sabendo que nada a faria retroceder.
            Ao deixarem o prédio do FBI, tiveram uma surpresa. Na recepção, Melissa andava de um lado ao outro, nervosa, enquanto falava ao telefone. De costas para eles, não viu sua aproximação e seguiu na intensa conversa.

            - Eu sei que é complicado. Mas não posso voltar agora. Precisa acalmá-la! – Ela dizia sem parar. – Deixe-me falar com ela.

            De repente ela percebeu Neal e Rachel olhando-a e pareceu desconcertada. Sabia que precisaria se explicar. E para pessoas que preferia se manter calada. Impossível. Rachel a olhava como se tentasse ler seus pensamentos.

            - Desculpem...eu me exaltei. – Disse tentando ganhar tempo.
            - Não tem problema. – Neal respondeu.
            - Qual o problema, Melissa? Podemos ajudar?
            - Não, Rachel. É minha mãe. Ela está precisando de mim. Só isso.

            Aquilo tocou Neal e Rachel. Não conheciam muito bem a sensação problemas familiares. Sempre tiveram vidas um tanto afastadas. Só agora, juntos e com Helen e George é que entendiam o que era temer por alguém.

            - Boa noite, Melissa. –Ambos se despediram e viram a advogada seguir caminhando pela saída do FBI.



            No dia seguinte, com 10 minutos de antecedência da hora marcada, Yuri estava na frente no hotel indicado por Carter. E Rachel também. Ela sabia disso. Os colegas na van próxima também. E os atiradores de elite nos prédios igualmente tinham os dedos posicionados nos gatilhos. Se Thomas Carter tentasse algo, seria alvejado. E poderiam ferir inocentes.

            - Estou aqui, na frente do hotel. – Yuri, tremendo, seguiu o combinado e ligou para Carter. – Você está chegando?
            - Sim, Yuri. Estou. Você está sozinho. – Ele perguntou e todos na equipe souberam que Carter estava por perto. Já via Yuri e Rachel.

            Da van, Peter tentava coordenar a operação mantendo os olhos em Neal. Ele estava nervoso. Era compreensível. Carter estava vendo Rachel e eles ainda não tinham localizado o bandido.

            - Vamos gente! Temos olhos em cada prédio dessa região. Alguém tem de vê-lo!

            As câmeras mostravam Yuri e Rachel no local combinando e disfarçando perfeitamente. Havia agentes disfarçados em todos os lugares. Ninguém via Carter. Havia uma rua que separava o Hotel de uma bela praça. Esperavam que Carter estivesse lá. Nada.
            Peter surpreendeu-se quando viu Rachel caminhar afastando-se de Yuri. Ela seguiu na direção da praça. Passos lentos, quase distraídos. O olhar perdido na direção das crianças brincando próximo das mães.



            - Rachel o que você está fazendo? – Peter perguntou sabendo que ela usava fones.
            - Estou dando a chance de Thomas me seguir e vocês conseguirem identificá-lo. – Ela explicou.

            Fazia sentido. Então voltaram a analisar as câmeras. Passavam uma e outra rapidamente, buscando alguém que agisse fora do normal. E não viam nada. Quando retornaram a câmera que focava em Rachel, porém, perceberam que ela já não olhava o vazio. Estava focada em um carro. Nele, Carter ao volante, sorrindo, como se observasse tudo.

            - Abortar missão! Ele não irá segui-la. Rachel, entre no hotel e fique em segurança. – Peter ordenou.
            - Nem pensar! – Foi a resposta de Rachel.

            Ela correu em direção ao carro estacionado do outro lado da praça. Um policial disfarçado, seguindo ordem de Peter, tentou segurá-la, mas foi derrubado facilmente.



            Peter não acreditava no que assistia. Rachel podia uma única vez respeitar sua ordem. Mas não. Ela corria em direção a um fugitivo, possivelmente armado. E fazia com que todos temessem por ela.

            - Neal! Fale com ela pelo microfone. Tente dissuadi-la! – Só então ele notou a van um pouco mais vazia. Neal e Melissa haviam saído. – Droga!

            Neal não viu Melissa. Nem sabia em qual direção ela correu. Só tinha olhos para Rachel e tentava desesperadamente alcançá-la. Ela não tinha freio, não sabia quando parar. Sim, estava fazendo isso em retaliação ao seu sequestro. Porém, é mais do que isso. A verdade é que Rachel tinha atração pelo perigo, pelo risco. Ganhar dos fracos não lhe bastava.

            - Rachel!!!! Pare!!! – Ele gritou sabendo que só a pararia se ela assim desejasse.



            Rachel não parou. Viu quando Thomas Carter arrancou com o carro e soube que ele estava virando seu plano ao contrário. Ela iria segui-lo, não o oposto. Estava bem satisfeita em fazer sua vontade. Iria pegá-lo. Aproximou-se de um táxi encostado no meio fio da rua, jogou o motorista para fora e antes de Neal conseguir alcançá-la, estava no trânsito. Seguindo Carter. Ambos queriam aquela batalha. E teriam.



            Seguiram por algumas ruas arborizadas. Era uma região linda da cidade. Cinco, 10, 20 quadras de perseguição. Até que Rachel resolveu que era hora de surpreender Carter. Ele não gostava de sair de seus planos. Iria desestabilizá-lo. Certificando-se que seu cinto de segurança estava firme, colocou o carro de lado com o dele e forçou uma colisão lateral. Jogou-o pra fora da rua.
            Não foi uma atitude impensada. Ela sempre soube como terminaria aquela perseguição. Deixou-o seguir na frente apenas para saírem da área mais populosa. Não o deixaria fugir para depois temer seu retorno. Não. Ela e Carter acertariam as contas.  Com repetidos choques, forçou o carro contra árvores até ele frear. Depois correu para evitar que fugisse a pé ou tivesse tempo de pegar uma arma.

            - Não queria me enfrentar, agora vem! – Gritou ela ao puxá-lo para fora do carro. Ele havia batido a cabeça contra o vidro e tinha um corte na testa. Ela não teve pena e aproveitou sua confusão pra lhe dar uma rasteira e fazê-lo cair. – Vou acabar com você!

            Rachel chutou-o enquanto estava caído do chão. Sem a frieza habitual, Rachel perdeu-se golpeando-o enquanto ele tentava proteger-se da fúria daquela mulher instável. Não estava habituado a isso. Conhecia muitos criminosos, gente da pesada, mas todos costumavam seguir planos bem costurados. Aquela mulher era como uma explosão de emoções sem controle. Vinham golpes de todas as direções. Como se não se trata-se de apenas uma mulher.

            - Desgraçado! – Ela gritava lembrando-se que aquele homem sequestrou seu e atirou contra o pai de seus filhos.

            Carter trazia uma arma presa à cintura. Rachel tratou de arrancá-la assim que a viu. Ele tinha outra, presa ao tornozelo. Sem conseguir levantar-se do chão devido aos golpes dela, esticou a mão e ergueu a pistola.

            - Fique longe. Afaste-se! – Ele gritou ainda tentando recuperar o fôlego.
            - Acha que temo você? – Rachel já esperava por aquela segunda arma. Ele era muito fraco para garantir-se sem elas. – Você não é nada, Thomas. Já enfrentei gente muito pior. Sem seus explosivos, você não derruba nada nem ninguém.
            - Será mesmo? Posso explodir a sua cabeça num só tiro. Pode ser muito boa com chutes e socos, mas se esqueceu de trazer uma arma. Isso é coisa de amador, Rachel. Eu esperava mais de uma criminosa conhecida feito você.
            - Encontrei um fã. É isso, Carter? Não se engane, Carter. Com ou sem arma, sou muito mais perigosa que você. - Eles estavam a três passos de distância. – Dispare uma vez contra mim e eu terei a desculpa perfeita para te matar sem ter de dar grandes explicações aos FBI. Será legítima defesa.

            Rachel também tinha uma arma. Estava presa em um suporte. Com apenas um movimento rápido, estariam em igualdade. E a tentação de fazê-lo era grande. Mas não deveria. Por mais vontade que tivesse, matar Thomas Carter seria seu fim. E Neal e seus filhos valiam mais. Precisava tirá-lo do prumo e desarmá-lo.

            - Acho que eu vou lhe dar essa chance Rachel! – Ele ergueu a arma segurando-a com ambas as mãos. – Adeus Rachel!

            Ela pensou rápido em suas alternativas. A primeira era puxar sua pistola e disparar. A outra desarmá-lo com um chute. Nas duas poderia assustá-lo e fazê-lo apertar o gatilho por puro descontrole.
            Antes que Rachel pudesse decidir, um único disparo foi ouvido. Vinha de longe. Ela e Carter viram quem atirava. Rachel demorou a entender o que se passava. Carter ainda mais. Ele não conhecia aquela mulher.



            Melissa perseguiu Rachel e preferiu ficar à distância. Rachel e Neal estavam descobrindo coisas demais. Não podia se expor. Ela e Neal tinham saído da van sem esperar por Peter. Correram por caminhos diferentes. Mas ela sabia que o marido de Rachel estava por ali e também interferiria.
            Quando Carter ergueu a arma e ameaçou atirar à queima roupa, Melissa decidiu arriscar. Apenas quando mirou e apertou o gatilho, Carter e Rachel perceberam sua presença. A bala atravessou o punho esquerdo dele, respingando sangue e forçando-o a soltar sua pistola. Melissa jamais esqueceria a expressão de surpresa de Rachel. Nem a de alívio quando viu Neal correr por trás de Carter.
            Neal também viu a cena. Chegou a sentir raiva de Rachel quando ela provocou Carter, instigando-o a atirar para dar-lhe a desculpa matá-lo. Ele se aproximava por trás das árvores e pretendia pegá-lo de surpresa quando ouviu o tiro. Depois do susto inicial, viu Rachel chutar a arma de Carter para longe e dar-lhe voz de prisão.
            Quando tudo se acalmou, puderam ver Melissa se aproximando à passos lentos, dando-lhes um minuto de privacidade. Somente Carter presenciou o alívio e o carinho do casal.

            - Não brigue comigo. – Rachel disse. – Eu te amo tanto.
            - Talvez eu brigue...depois. Agora eu só quero te beijar. – Disse Neal antes de começar a por o plano em prática.



            Foi um beijo sôfrego, quase desesperado. Beijo de quem chegou muito perto de perder quem ama. Só quando o FBI chegou ao local, Melissa se aproximou e o clima de romance se desfez.

            - Você atirou, Melissa? – Peter estava muito confuso.
            - Sim, ela salvou a minha vida, Peter. – Rachel afirmou. – Você atira bem, Melissa. Bem demais para uma advogada. Depois terá de me explicar isso.
            - Depois, Rachel. Eu acho que todos nós estamos cansados e precisando de nossos lares. Peter, eu atirei porque ele ameaçava Rachel e não o matei. Por tanto, não teremos maiores problemas. Posso ir?
            - É claro. – O tiro não incomodava Peter. Carter merecia muito mais. Porém a sensação de que Melissa não era quem aparentava, essa sim, lhe dava um arrepio. – Diana, você e eu vamos levá-lo ao FBI para interrogatório antes de ser encaminhado para prisão. Nohan vai nos acompanhar para os trâmites da deportação. Os demais estão liberados. Neal, pode usar meu carro. Vão descansar.
            - Melissa! –Rachel chamou. – Venha conosco. Vou deixá-la em casa.
            - Não precisa.
            - É o mínimo que posso fazer depois de salvar minha vida.

            Juntos no carro, os ânimos ainda estavam exaltados. Neal ia na direção, trocando olhares com Rachel pelo espelho. Ela e Melissa no banco traseiro, evitando se encarar. A melhor estratégia talvez fosse evitar o confronto. Mas essa nunca foi das preferidas de Rachel.

            - Para uma simples advogada, você atira muito bem, Melissa. Bem demais.
            - Sou filha de um político, Rachel. Ele sempre se preocupou com minha segurança. Ele mesmo me ensinou a atirar durante uma de suas caçadas.
            - Eu não acredito em nada do que você diz, Melissa. Esta nos enganando. A todos nós. Uma mentira atrás da outra.

            Pela primeira vez elas estavam olho no olho e Melissa já conhecia Rachel o bastante para saber que ela não seria convencida de sua inocência. Não valia a pena sequer tentar.

            - Eu não te devo satisfação.

            As duas não mais se falaram durante todo o trajeto. E Rachel sentia o nervosismo de Melissa. Ela não estava normal. Não agiu normalmente durante todo aquele dia. Ela resolveu dar algum tempo para a advogada se acalmar. Afinal, ela lhe tinha protegido de Carter naquele dia. Merecia seu respeito. Mesmo sem a confiança.
            Ao chegarem na frente do prédio de Melissa, Neal estacionou e se despediu. Rachel não. Ela também desceu e foi acompanhando a outra.

            - É cedo. Tenho certeza que se sentirá feliz em nos oferecer um café. Assim terminamos nossa conversa.

            Melissa estava pressionada. Por educação e também para não despertar mais desconfianças permitiu que Neal e Rachel subissem até seu apartamento. No elevador ela pensava no que poderia fazer para responder de forma convincente as outras perguntas que Rachel certamente faria. Nada foi preciso. As surpresas daquela noite estavam apenas começando.
            Quando abriu a portar, Melissa, Neal e Rachel viram uma senhora e uma menina. A surpresa foi total.

            - Mamãe! Mamãe! Você veio! Mamãe! – A garotinha correu até a porta e atirou-se nos braços de Melissa.



            Chiara, em sua inocência de apenas dois anos de idade, jogou-se nos braços da mãe sem se preocupar com os olhares estranhos que a observavam. Melissa ficou preocupada. Não desejava aquele encontro. Mas tudo o que conseguiu fazer foi beijar e abraçar sua menina. Seu perfumados cabelos ruivos estavam presos em duas maria-chiquinhas. E ela segurava sua boneca de estimação. Os grandes olhos azuis eram esferas brilhantes e ansiosas pela mãe.

            - Pequenina! Você veio visitar a mamãe! – Era impossível repreendê-la.
            - A vovó me trouxe. – Ela disse num inglês claro para uma menina tão jovem.
            - Sim, a vovó trouxe. – Melissa e sua mãe, Brígida, trocaram um olhar duro.



            A senhora perfeitamente vestida e maquiada não pareceu irritar-se com a filha nem se arrepender da visita. Elegante e ostentando joias chamativas, Brígida apenas olhou para Neal e Rachel. Ela em especial. As duas se encararam.

            - Chiara estava doente, precisando da mãe. Se você não podia ir, eu a trouxe. Fiz meu papel de avó zelosa. – Disse à filha, mas ainda encarando Rachel.
            - Sim, obrigada mamãe. Eu não vi o carro dos seguranças.
            - Pedi que se afastassem para lhe fazer uma surpresa. – A bela senhora respondeu. Vocês devem ser Neal e Rachel. Ouvi muito falar de vocês.
            - É um prazer conhecê-la. – Rachel respondeu.

            Neal podia sentir o clima pesado entre aquelas mulheres. Elas eram fortes. Todas elas. E um detalhe não lhe passou despercebido.
            - Três ruivas nessa sala. Aqui os cabelos avermelhados não são raros! – Ele brincou para aliviar o ambiente.
            - Quatro, na verdade. Melissa também é ruiva, mas prefere tingir os cabelos. – Havia emoção na voz de Brígida. – Rachel...Melissa me disse que sua filhinha também é ruiva. Helen, não é?
            - Sim, Helen. Acho que terá os cabelos tão alaranjados quanto Chiara. - Era uma menininha linda Chiara.
            - Dê oi pra tia Rachel e o tio Neal, Chiara. – Brígida incentivou.
            - OI! OI tia Rachel! – A menina obedeceu um tanto tímida.
            - Você é linda, Chiara. – Neal brincou com ela.
            - Eu vou ficar uns dias aqui com Melissa. – A senhora avisou. – Ainda podemos nos ver.
            - Mamãe! – Melissa reclamou.


            - Claro. Vamos marcar. – Algo fez Rachel desejar sair dali. Precisa respirar. Pensar. – Chiara e George, meu filho mais velho, podem se divertir juntos. Vamos Neal? Eu preciso descansar. Boa noite para vocês.

2 comentários:

  1. Eicha será que é a família d Rachel hem quem sabe kkkkk

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    1. Já pensou? Uma família de ruivas diabólicas! kkkkkk

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