segunda-feira, 13 de abril de 2015

Diaba Ruiva - Passado Revelado: Capítulo 14 parte I


            Mozz deixou a casa dos Burke cabisbaixo, mas decidido. Amava Sophia desde que a conheceu. Era uma menininha esperta, inteligente e carente de amor. Exatamente como ele fora naquela idade. Jamais disse para Elizabeth, mas, caso ela não tivesse convencido Peter a adotar Sophia, ele mesmo teria se oferecido. Não que o governo dos EUA fosse dar a guarda de uma criança para alguém como ele. Teria de dar o seu jeito...e conseguiria. Assim como, agora, Sophia não seria retirada de Elizabeth. Esse era o terceiro lar daquela criança. Ela merecia pais bons e amorosos como Ell e Peter. Toda a criança merece. Até mesmo ele. Só que no seu caso não foi assim.
            Não sabia exatamente onde nasceu ou quem eram seus pais. Sua história, segundo lhe contaram, começou ao ser deixado na porta de um orfanato. Ficou ali até os sete anos de idade. Bons tempos. Fazia o que desejava, tinha tudo o que precisava garantido e não precisava de nada fora daqueles muros. Até um homem levá-lo. Já tinha visto-o. Ele vinha, brincava com as crianças, lia histórias, trazia presentes. Parecia um cara legal. E resolveu adotá-lo. Era alguém em quem os juízes pareciam confiar. Um engano.
            Seu nome era Victor. Era o que os policiais chamavam de ‘pior tipo de criminoso’ porque não parecia enganar ninguém enquanto passava a perna em todos. Mas não era um homem cruel. Apenas tinha prazer em trapacear e enganar. E não amava ou se apegava a nada nem ninguém. Victor percebeu naquele menino de sete anos algo de diferente. Já era muito mais esperto do que as outras crianças, até as mais velhas. Victor viu inúmeras possibilidades com Mozz. Aquele menino poderia lhe render dinheiro em muitos golpes.



            - Venha comigo, Mozz. Vou te ensinar uma coisa! – Ele dizia todas as manhãs. E logo eles estavam ficando com o dinheiro de alguém.

            Começou com coisas pequenas. Pegou muitas carteiras de velhinhos nas praças. Afinal eles nunca desconfiavam de um menino tão pequeno. Também limpava o caixa das lojas enquanto Victor distraía o vendedor. E foi com Victor que aprendeu a trapacear nos jogos. Era fácil para Victor ganhar nas cartas quando uma criança espiava o jogo do concorrente e lhe dizia por sinais qual jogada fazer.
            Aos 15 anos já estava envolvido em coisas maiores. Falsificações de dinheiro passaram a lhe render muito. E eram também mais arriscadas. Ele aprendeu a escapar da polícia e manter-se à sombra.

            - A melhor fama no nosso meio é não ter fama. – Era uma das lições preferidas de Victor.

            Depois disso envolveu-se em grandes golpes. Falsificou dólares quase perfeitos. Esteve em famosos assaltos a grandes redes de joias. E também roubos a bancos. Sempre sendo a inteligência do grupo. Não costumava se arriscar no operacional, ficava na espreita. Victor não. Ele era mais afoito e gostava da linha de frente. Morreu num assalto quando Mozz tinha 19 anos. Foi estanho. Passaram mais de uma década juntos. E não firmaram um laço de afeto, de família. Victor ensinou muito a Mozz e lucrou com isso. Foram parceiros. Nada mais do que isso. Depois Mozz passou 15 anos trabalhando sozinho ou com comparsas temporários. Até encontrar Neal Caffrey. E ver naquele jovem inteligente, e um tanto confuso, um pouco dele mesmo. Ensinou muito a Neal, mas, ao contrário da sua relação com Victor, eles firmaram uma relação de afeto. Hoje sentia que tinha uma família.
            Deixando as recordações de lado, Mozz foi pesquisar sobre Patrícia e Talles Harris. Poderia ter feito isso sozinho, mas optou por chamar uma antiga amiga. Anne, uma hacker experiente, apesar da juventude, capaz de vasculhar arquivos secretos do governo sem deixar rastro. Ela era no meio virtual o que ele representava no real. Não haviam barreiras. Sem falar na longa amizade deles. Anne não lhe negava ajuda.



            - Diga, Mozz. Qual travessura faremos hoje?
            - Para você, coisa fácil. Preciso de um dossiê de Patrícia e Talles Harris. O mais completo que puder. Desde suas carteiras de vacinação, passaportes, sigilo telefônico e bancário, além de seus registros de imposto de renda.
            - É simples. Para quando precisa?
           
            Essa era uma pequena dificuldade. Ele tinha pressa e Anne não gostava de trabalhar sob pressão.

            - Ainda hoje. – O olhar de Anne o fez se explicar. – É para salvar uma menininha que acaba de completar sete anos.
            - Está bem. Eu consigo. Mas você terá de me contar isso tudo, em detalhes. Agora pegue o seu computador e venha me ajuda.

           

            Peter pretendia passar o dia todo com Elizabeth, acalmando-a. Era domingo e não precisava ir até o FBI. A menos que algo de muito fantástico ocorresse. E foi exatamente o que aconteceu. A mais famosa joalheria da cidade foi roubada da forma mais espalhafatosa possível. O ladrão usou explosivos para destruir a porta traseira, aproveitando-se de que o local estava fechado. Levou milhões em joias e, em especial, um Diamante Vermelho, o mais caro no mundo. É uma peça rara, de valor quase incalculável e que o dono da joalheria não estava disposto a perder.



            Peter e a equipe foram chamados para ajudar na investigação. Num domingo a tarde, ninguém ficou muito satisfeito. Ao menos parecia haver chance de recuperar a pedra. O ladrão tinha deixado pistas. O estranho naquela história era o excesso de indícios. O ladrão aparecia nas filmagens de segurança.

            - Isso está simples demais. – Peter tinha medo de estar deixando algo passar. – Ele podia ter arrombado a porta silenciosamente. Mas não. Usou explosivos. Por quê?
            - Para nos provocar. – Diana respondeu.
            - O ego dos criminosos anda exaltado. – Peter concordou. – Explosivos? É, bem chamativo.
            - É o Carter! Eu o ouvi falar nesse diamante. – Neal recriminou-se por não pensar nisso antes. – Diamante. Ele falou no diamante e num nome também. Mas qual?
            - Por favor, Neal. Lembre-se. – Rachel apertou sua mão.
            - Yuri. É, isso. Ele tentava convencer um tal de Yuri a roubar um diamante.
            - Henrique, busque nos arquivos alguém nesse perfil, por favor. E Diana, chame a psicóloga novamente. Acho que agora ela tem mais elementos para nos dar um perfil completo de Thomas Carter.
            - Está bem, chefe.

           
            Anoitecia e todos estavam reunidos na sala de conferência, junto a médica que tentava lhes dar uma visão mais clara de quem é Thomas Carter. Agora ele mostrava ser vaidoso e ter uma tendência a provocar, exibindo-se. Mas para isso ele estava aproximando-se do fogo cada vez mais.

            - É um homem muito inteligente e frio. Eu diria que ele vê a vida como um jogo de xadrez. Não importa quantas peças tenha de derrubar para alcançar o resultado final, ele derruba uma a uma. – Disse a médica, especialista em psicologia forense.
            - Dispensando a análise novelesca, Doutora, temos como antever suas ações? – Rachel cortou-a.
            - Difícil. – Ela ouviu suspiros decepcionados de todos. – Ele está acuado. E me parece claro que já não toma atitudes tão planejadas. Mas isso não o torna menos perigoso. Agora posso afirmar com certeza de que se trata de um psicopata. Pela forma como usa as pessoas a sua volta e evita sujar as próprias mãos. Mas isso não significa que não pegue em armas, se necessário.
            - Isso eu já descobri sozinho, Doutora. – Neal disse. Ele tentou me acertar.
            - Não, meu jovem. Se homem gosta de perfeição. Eu aposto em alguém que atira com precisão. Se quisesse lhe acertar uma bala, seria fatal.

            Rachel sentiu o coração disparar apenas em ouvir aquilo. Carter não teria nenhuma chance de acertar Neal. Bem arrumada e delicadamente maquiada como estava, ninguém desconfiaria dos seus pensamentos. Mas ela não tinha problemas em externá-los.



            - Quando eu encontrar Carter ele saberá o que é um tiro em precisão. – Ela disse em voz alta e todos se voltaram a ela, inclusive Neal.


            Logo depois, porém, seu celular tocou e ela deixou o assunto de lado. Era June avisando que a pequena Helen estava choramingando e não queria dormir sem mamar no peito da mãe. Um sorriso adocicado tomou o rosto de Rachel. Em segundos ela era outra mulher. E mais uma vez Peter perguntou-se quem ela era na realidade. Como era possível aparentar naturalidade ao ameaçar alguém de morte e logo depois sorrir de forma angelical ao telefone.
            Sem nada poderem fazer naquele momento, Neal e Rachel foram para casa. Peter também logo iria, deixando Diana e Henrique adiantando as coisas para, na manhã seguinte, irem novamente caçar Thomas Carter. Agora com um novo parceiro. Antes de sair, porém, Peter tinha algo a perguntar para a psicóloga.

            - Qual análise pode fazer dela? Frieza e Inteligência também me parecem características da minha consultora. – Mas estranhamente ela não se parecia em nada com Carter, Peter reconhecia.
            - Não. Sr. Burke. A sua consultora está longe da frieza, talvez seja o oposto. É uma mulher extremamente emocional. Sua natureza é quente, apesar dela tentar segurar essa característica e não demonstrar.
            - Mas isso pode ser ainda mais perigoso, não?
            - Sim, pode. Mas ela tem outra grande diferença de Carter. Ambos diferenciam o certo do errado. Mas Rachel deseja ficar do seu lado, Agente Burke. Seja pela família ou pelo seu instinto, ela encontrou a felicidade aqui e não fará nada para desperdiçar isso.
            Peter foi para casa mais tranquilo. Ele reconhecia a necessidade de parar de esperar sempre o pior de Rachel. Ela realmente tinha mudado. Além disso, ela e Neal usavam tornozeleiras. Ele podia ficar tranquilo.



            Na manhã seguinte, Rachel e Neal chegaram juntos ao FBI. Felizes, de mãos dadas, após uma noite calma junto dos filhos. Apesar do furacão Thomas Carter, estavam felizes por tudo estar bem entre eles. Deixavam os problemas para fora de casa. Logo cedo deixaram George na escolinha e pediram para June olhar Helen. Mozzie estava sumido desde a reunião na casa de Peter.

            - Não se preocupe. Questões de adoção são especialmente doloridas para Mozz. Ele está em algum lugar tentando ajudar Elizabeth.

            Seguiram pelo dia todo trabalhando no caso da joalheria. Já tinham os dados e perfil de Yuri. Era um bandido qualquer, sem grandes pretensões. Do tipo que Carter parecia gostar. O alerta para encontrar Yuri foi dado. Seu rosto foi facilmente revelado pelo software de reconhecimento facial do FBI. Ele não tinha sequer tomado cuidado com todas as câmeras. O problema seria ligar Thomas ao crime.  Além disso, Yuri parecia ter desaparecido com o Diamante Vermelho e muitas outras peças da joalheria. Estavam com grandes problemas.

            - Peter, força total nisso. Esse homem já nos trouxe problemas demais. Quero prendê-lo, entregá-lo as autoridades inglesas e me livrar daquele embaixador.
            - Nohan continua incomodando? – Esse homem era uma incógnita para Peter.
            - Às vezes liga e pergunta da Rachel. Quando Carter for preso, livro-me dele.

            Era fim da tarde e eles não conseguiam pistas de Yuri, muito menos de Carter. O desespero começava a chegar à equipe. Então uma surpreendente visita a sede do FBI mudou tudo. Yuri apresentou-se por livre vontade e colocou joias à frente de Peter, sobre sua mesa de trabalho. Muito ouro, esmeraldas, até alguns diamantes. Mas nenhuma pedra vermelha.

            - Eu não sei o que você quer, Yuri. Mas não vai conseguir nada, tentando me enganar. Onde está o diamante vermelho?
            - Aqui está. – Ele tirou a pedra do bolso como se fosse uma caneta qualquer e não algo raro. – É falsa. Eu me arrisquei por algo falso. Carter me enganou. Eu vim contar tudo.



            Yuri falou por 20 minutos. Depois do quais Peter retirou-se com a equipe e deixou Yuri na sala de interrogatório, sob o olhar atento de um guarda. Neal, Rachel, Diana e Henrique estavam quase tão surpresos quanto o chefe.

            - Será mesmo possível? Ele acusa Carter de roubar a pedra antes dele. E mesmo assim convencê-lo a invadir. Porque?
            - Vaidade. – Neal esclareceu. – Eu lembro dele tentando convencer Yuri a roubar. A história é verdadeira. Nos resta entender o que deu errado. Porque certamente Yuri vir aqui e entregar tudo não estava nos planos de Thomas Carter.
            - A menos que isso também faça parte do plano. Eles podem seguir juntos nisso. – A cabeça de Peter dava voltas. Aquilo estava enrolado demais.
            - Eu acho que não. – Rachel tentava pensar como Thomas. E nisso ela e Neal eram muito bons. Sabem como o crime pensa. – Ele orientou Yuri a roubar e esconder o roubo por algum tempo. Quando ele resolvesse lucrar, Thomas já teria vendido o diamante e passado tanto tempo nada poderia ser feito. Mas Yuri foi afoito, tentou vender a pedra logo de cara e descobriu o golpe. Sentiu tanta raiva que preferiu entregar-se para ver Thomas se ferrar.
            - Faz sentido. – Neal confirmou. – Carter sairia com a pedra, limpo, e ainda conseguiria nos humilhar. Afinal, mais uma vez usou explosivos no nosso nariz.

            Decidiram acreditar em Yuri, apesar de tudo. Mas Peter não estava nem um pouco interessado em facilitar as coisas para o ladrão. Enganado ou não, Yuri aceitou participar de um grupo.

            - Minha proposta única para você: ajude-me a prender Thomas e eu negócio um abatimento de pena.
            - Não sei onde ele está. Não tenho o endereço de seu esconderijo. – Ele não se surpreendeu com a proposta.
            - Mas tem o telefone. Vai ligar para ele. Nós vamos combinar a história com a qual você o enganará.

            A ideia de enganar Carter agradou a Yuri. Essa era a vingança perfeita. Então ele ensaiou com gosto. Passou mais de uma hora treinando a voz, fingindo calma, sem titubear. Somente quando Neal acreditou que ele estava pronto, ele discou o número. Na sala trancada, como o viva voz ativado, Peter, Neal, Rachel e Diana o viram seguir exatamente o combinado.

            - Nós combinamos de você esquecer esse número. Lembra? – Carter disse ao atender. Sua irritação quase completamente escondida no tom ameno da voz.
            - Preciso da sua ajuda. – Yuri também disfarçou bem. Estava bem treinado. – Preciso de grana.
            - Você pegou anéis e colares aos montes na joalheira. Vende!
            - Não é o bastante...eu tenho uma dívida. Preciso arranjar mais cem mil. Um cara tá na minha cola.
            - Aí já é problema seu.
            - É...eu imaginei que não fosse me dar a grana...liguei pra avisar que amanhã vou levar a pedra pra ser avaliada. Vai me render mais do que eu preciso. Bem mais!
            - NÃO! Ainda é cedo. A polícia vai te pegar. – Agora sim algum sinal de nervosismos.
            - Eu não tenho escolha, Carter. Amanhã vou passar a pedra adiante.

            - Não! Eu já disse! – Ele se calou por um momento. – Encontre-se comigo ao meio dia, na frente do American Hotel.

NOTA: N fiquem tristes pelos caps menores, divididos em 2 partes. É que mudei de trabalho e ainda estou me adaptando. Para não deixá-los mais tempo sem cap, decidimos postar em partes. Bjs

2 comentários:

  1. OI! Amando seus comentários! Não me abandone! O mozzie tá escondidinho agindo para ajudar Ell. Quando ele reaparecer, saí de baixo. Bjss

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