terça-feira, 31 de março de 2015

Diaba Ruiva - Passado Revelado: Capítulo 13 parte II


            Neal e Rachel seguiram para a casa num abraço natural. Ele havia passado por momentos difíceis nas mãos de Thomas Carter, mas, no fundo, e talvez nem tão fundo assim, sempre teve a certeza de como e pelas mãos de quem aquele sequestro terminaria. Rachel não era mulher de desistir. E jamais o abandonaria. Essa segurança era uma sensação boa. Ter alguém com quer contar independente da situação. Neal sorria sem perceber e apertava a mão da esposa mais firmemente.

            - Porque tem esse sorriso bobo no seu rosto, Neal Caffrey?
          - Enquanto você falava com Diana, Peter me deu um resumo dos últimos dois dias. Eu preciso reconhecer que gostoso saber do que a minha mulher é capaz para me defender. – Neal voltou a beijá-la e acariciar os cabelos avermelhados com uma das mãos. A outra estava presa fortemente em sua cintura. – Foi bom brincar de ‘tiro ao alvo’?
            - Foi...relaxante poder extravasar minha raiva em James. Ele me chamou demônia. Pode acreditar?!
            - Não. Ele está errado. Você é uma mulher fantástica e da qual eu nunca vou me separar. Nunca outra mulher poderá me dar o que você oferece.
            - É bom saber. Porque se você deixar outra tocar no que é meu...eu posso brincar de tiro ao alvo nesse seu lindo corpinho e eu não ia gostar de vê-lo ferido, querido! – Era brincadeira, mas tinha um fundo de verdade. – Fiquei com medo de atirarem em você. Thomas é louco.
            - Ele tentou. Fui salvo pela minha escultura. – Ele desejava esquecer aquilo tudo. – Além disso, você já me deu um tiro uma vez, Senhora Caffrey.
            - Sim. Mas você estava querendo me prender. Então foi merecido. Além do que, sou sua esposa. Eu posso!

            Quando chegaram em casa, tudo o que desejavam era ter alguns poucos momentos em família. Neal foi abraçado por June e recebeu os cumprimentos de Mozz. As crianças, graças aos amigos, estavam bem e já na cama, adormecidas.

            - Eu li para George enquanto June deu mamadeira para Helen. Eles devem dormir até amanhã cedo. Então boa noite. – Mozzie saiu em retirada.
            - É, Senhor Caffrey, acho que agora você é todo meu! – Rachel disse fechando a porta atrás de si.
            - E se eu estiver cansado demais amor? – Neal a provocou. – Você se importaria se deixássemos para amanhã de manhã?
            - Deixar o que para amanhã? Sexo? Você me jogar nesse tapete e me amar por horas? Sim, Neal, eu me importo. É agora. E você não vai se arrepender.



            Depois de meses presa e hospitalizada, finalmente tinha Neal e o resguardo havia acabado. Pretendei esbaldar-se naquele corpo que era só seu. Eles arrancaram as roupas um do outro. Não era apenas desejo, tratava-se de um encontro carnal, mas cheio de sentimento. Ela chegou perto de perdê-lo. Isso acrescentava mais fome à sua imensa vontade de comer. De devorá-lo.

            - Essa sua bunda firme é deliciosa, Neal. Gostosa mesmo. – Rachel disse apertando o marido. – É por ela que a mulheres se viram para olhar por onde você passa.



            - Pensei que fossem os meus olhos. – Ele já arrancava seu sutiã e deliciava-se com os seios, fartos pela amamentação.
            - Não. É a bunda. Mulher gosta de homem com bunda bonita. E a sua é demais!

            Alguns diriam que ela estava ‘subindo pelas paredes’. E estariam certos. Foram meses demais sem seu homem para deliciar-se nele como quem saboreia um vinho fino e delicado. Estava voraz e dispensando a finesse e elegância habitual de Neal Caffrey.

            - Quero rápido e forte. Contra essa porta mesmo. – Avisou-o.
            - Não era para eu deitá-la no tapete da sala?
            - Estou fazendo adaptações. Não consigo esperar tanto. Vai Neal...preciso de você dentro de mim, vem, agora.

            Com um único puxão Neal rasgou a calcinha preta e rendada usada por ela. Era sexy. E tinha transformado-se em um retalho instantes depois. Foi ali mesmo, contra a parede e forte como ela pediu. Impossível não analisar e apreciar seu belo corpo. Poucas semanas após dar a luz ela já ostentava um corpo firme e bem torneado, fruto dos exercícios físicos que praticou a vida toda. Rachel nunca seria magra como as modelos que desfilavam em passarelas, nem delicada como elas. Era uma mulher com carnes e músculos nos lugares certos. E ele gostava do fato de conhecer cada centímetro dela.

            - Gostosa, você é uma Diaba Ruiva e gostosa pra caramba, Rachel. Eu quero passar minha vida toda em você.
            - Que bom, Caffrey. Porque eu não ia te dar alternativa.


            O restante da semana dividiu-se em duas grandes atividades para Peter Burke. Uma era liderar e reorganizar nova caçada a Thomas Carter. Ele não deveria estar longe e, possivelmente, estava assustado com a impossibilidade de seguir no mesmo golpe. Carter gostava de se repetir. Armou um plano e o repetiu até ser descoberto. Provavelmente não sabia o que fazer agora. Eles coloram barreiras nas estradas, espalharam cartazes e ofereceram recompensa. Mas até o momento nada.

            - Fique tranquilo, Stone. Vamos conseguir encontrá-lo. E Carter não tentará explodir nada já que o golpe foi descoberto. Ele não conseguirá roubar e fingir que destruiu.

            A explicação era lógica e pareceu acalmar o chefe do FBI. Mas não fez Peter diminuir a intensiva. Encontrar Carter era questão de honra. Ele havia invadido o FBI, os desafiado e sequestrado um membro da equipe. Iria pegá-lo.
            Mas quando o sábado chegou, Peter teve outro compromisso. Bem mais pessoal, porém, tão importante quanto. E com seus colegas de FBI todo presentes lá. Sophia completava 7 anos e exigiu uma grande festa. Mesmo envolvidos com a chegada de Valentina, Elizabeth e Peter faziam de tudo para Sophia não se sentir rejeitada. Ela era filha deles. E muito amada pelo casal. Agora lá estava ela animada em seu vestido de princesa. Tudo inspirado no filme Frozen, seu preferido. Apesar de ela e George discutirem bastante esse assunto.

            - Frozen é legal. – A menina sempre dizia.
            - Mas Valente é mais! – George sempre respondia.
            - Só porque a Merida tem o cabelo da sua mãe. – No fim das contas a discussão nunca passava disso e os dois se divertiam com todos os seus filmes.

            Mas hoje a tarde era de Frozen e Elizabeth esmerou-se em fazer tudo do mais lindo para sua filha mais velha. O salão foi decorado em tons claros e tudo lembrava o filme. Principalmente a mesa de doces.



            - Você está feliz, minha princesa? Gostou da sua festa? – Peter perguntou ansioso por fazer sua filha feliz.
            - Sim, papai!

            Sophia brincou, pulou, correu e no parabéns já estava com o cabelo desfeito e o vestido amassado. Ninguém se incomodou com isso. Principalmente as crianças. George, Teddy e os outros aproveitaram cada instante da festa.
            Exausta, mas feliz, Elizabeth batia palmas e cantava ao lado da filha quando avistou um casal desconhecido. Quem eram aqueles dois, afastados, vestindo roupas de cor escura e sem interagir com as crianças? Já vira muitos penetras em festas. Mas não nas infantis. Logo depois das fotos, caminhou até o casal misterioso.

            - Boa tarde. Meu nome é Elizabeth Burke, sou mãe da aniversariante. Posso saber quem são vocês? – Ela foi direta. Seu instinto de mãe lhe dizia para ficar atenta.
            - Olá, Elizabeth. É bom conhecê-la. Somos Patrícia e Talles Harris.
           
            Os nomes não significaram nada para Ell.

            - Desculpem-me, mas não os conheço.
            - Sim, você não conhece. Mas sua filha sim. Somos tios de Sophia. E viemos lhe trazer um presente. Você não se importará, não é?

            Ell ficou em choque. Quando Sophia entrou em suas vidas, ela não tinha ninguém. Havia perdido os pais biológicos e adotivos. Ficou em um abrigo. Ninguém solicitou sua guarda. Estava abandonada à própria sorte aos quatro anos. Então ela e Peter abriram sua casa e seu coração para Sophia. Isso foi há quase três anos. Como seria possível agora o aparecimento de tios simpáticos e carinhosos? Não. Havia algo de muito errado nessa história.

            - Isso é mentira! Minha filha não tem parentes vivos. Eles foram procurados no falecimento de seus ‘antigos’ pais. Não havia ninguém. Vocês estão mentindo.
            - Não nos ofenda. – Talles disse. – Não nos encontraram porque buscaram por parentes dos pais adotivos, Mariah e Patrick, que tinham a guarda de Sophia. Eu sou irmão de Ricardo Harris, pai biológico de Sophia. Não se preocupe. Queremos apenas abraçar nossa sobrinha.

            A festa acabou ali para Elizabeth. Não era apenas isso. Ela sabia. Seu coração de mãe gritava para ela manter-se atenta. Sua ideia confirmou-se quando Patrícia aproximou-se de Sophia e a filha a afastou a mulher. Aquela tia estava longe de ser querida. Elizabeth chamou Peter e contou o que se passava.

            - Calma, Ell. Nós somos pais dela, legalmente. Não há como tirarem nossa menina. Acalme-se. Falarei com nosso advogado. – Ele tentou acalmá-la.
            - Ótimo! E eu falarei com Mozzie.
            - O que? Por quê?
            - Porque ele pode investigar essas pessoas e nos ajudar. Ele tem seu jeito.
            - Jeito que normalmente é ilegal. – Peter lembrou-a.
            - Não me importa! Nada importa! Só manter minha filha! – Ela começou a chorar e Peter se assustou. Ele abraçou a esposa, acalmando-a.



            No domingo Peter chamou não apenas Mozz como também Neal e Rachel até sua casa. Os olhares foram da surpresa a preocupação enquanto contavam o que se passou na festa. Enquanto Valentina e Helen repousavam em seus respectivos carrinhos e George brincava com Sophia no segundo andar da casa, os adultos conversariam.

            - Ok, eu entendi a preocupação quase paranóica de vocês. – Mozz disse. Ele sempre desconfiava de tudo, porém, não via razão para tamanho medo. – O que eles podem querer de Sophia? Não é como se ela escondesse um tesouro.
            - Na verdade é. Mesmo que ela não saiba. – Peter contou. Estava disposto a abrir o jogo.
            - O que? – Rachel sentiu-se perdida na história. – Vai ter de esclarecer melhor isso, Peter.
            - Como sabem, eu e Ell somos o terceiro casal a cuidar de Sophia. Ela nasceu de Ricardo e Victoria Harris. Eles venderam a própria filha a Mariah e Patrick Walker, que estavam envolvidos com uma quadrilha de venda de crianças para adoção. Ricardo arrependeu-se e denunciou o golpe. Mas foi morto antes de poder recuperar a menina. Quando nós chegamos a essa quadrilha, Mariah e Patrick, que haviam se transformado em pais amorosos para Sophia, apesar de criminosos, também tiveram suas vidas encerradas por alguém mais interessado em salvar o próprio pescoço.
            - Você e Elizabeth são o melhor para Sophia. Até o juiz concordou! – Neal disse. - Qual o problema?
            - Ninguém manifestou interesse nela. Sophia era uma criança sozinha num abrigo. Ela não tinha nada. Então fomos aceitos como pais adotivos. – Ell falou entre lágrimas.
            - Isso é perfeito, Ell. Adoções legais são praticamente impossíveis de serem desfeitas. Fique tranquila. E se esse casal nunca criou laços com Sophia, não a conheciam, porque iriam desejá-la agora?
            - Porque hoje Sophia não é mais uma criança sem nada. Hoje Sophia tem uma fortuna. – Peter disse e olhou em volta absorvendo a surpresa de todos. - Mariah e Patrick acumularam muito dinheiro, ilegal, mas mesmo com o governo retendo altas quantias, uma parte, substancial ficou em nome deles. Com a morte, Sophia tornou-se a única herdeira.
            - Quando saiu essa sentença? – A natural paranóia de Mozz agora via lógica em tudo.
            - Há duas semanas. O juiz colocou o dinheiro sob nossa tutela até que Sophia atinja maior idade. Eu o apliquei. Não pretendo mexer em nenhum centavo. Será dela na hora certa. É algo que não nos pertence.
            - O juiz não colocou sob sua tutela, Peter. Colocou sob a tutela dos responsáveis pela herdeira. Se os tios conseguirem a guarda de Sophia, terão o dinheiro também. – Mozz ligou os pontos. – Não a querem. Querem sua herança.
            - Sim. Foi o que pensamos. É muita coincidência aparecerem justo agora. – Peter respondeu.



            Sem muito pensar, Mozz largou sua taça de vinho, pegou seu casaco e se dirigiu para a porta. Parecia realmente abalado com o que se passava. Nem mesmo subiu as escadas para despedir-se das crianças. Ell chamo-o.

            - Onde você vai? Preciso de você, meu amigo. – Ela choramingou.

            - Fique tranquila. Ninguém tomará sua filha. Vou tomar minhas providências.

domingo, 29 de março de 2015

Vidas Ocultas - Capítulo 20

            Miguel abriu os olhos lentamente, sentindo a cabeça explodir em confirmação a sua bebedeira da noite anterior. E se fosse apenas beber não haveria problema. Poderia lidar com uma ressaca. Difícil é lidar com a loura adormecida ao seu lado da cama.

            - Acorda, Alejandra! A gente não podia ter feito isso.

            Ela pouco se mexeu na cama. Alejandra sempre teve o sono pesado e odiava acordar cedo. Então ele foi ao banheiro para jogar água no próprio rosto e procurar algum comprimido que aliviasse a dor de sua cabeça. Não conhecia aquele lugar. E não havia quase nada sobre o balcão da pia. Era um hotel. Tinha passado a noite com sua ex mulher. Logo ela, tantas vezes traída. Aquilo tinha o amargo gosto de ‘déjà vu’. Olhou para o relógio e constatou não ser nem 7h30min ainda. Melhor. Precisava chegar em casa e procurar Elizabeth. Não iria perdê-la. Aquele casamento é importante como o com Alejandra jamais foi.

            - Acorda, Alejandra!
            - Para...fica quieto Miguel. Eu quero dormir.
            - Alejandra! Vista-se Temos de ir embora. Seja lá onde estamos.
            - Eu estou no meu quarto de hotel. Você vai embora. Não estou impedindo-o. Mas deixe-me dormir.
            - Infierno! ¿Cómo supiste dónde encontrarme ayer por la noche, Alejandra? – Estava tão nervoso que não percebeu o idioma.
            - Qué piensas? Su madre me dijo, por supuesto. – Ale respondeu também em espanhol.

            A mãe. É claro. Rúbia ouviu a briga com Elizabeth e aproveitou-se do fato de Alejandra estar na cidade para sugerir que fosse encontrá-lo. O bar era fácil descobrir. Não eram muitos os que ofereciam a descrição necessária a um homem de sua classe social. Depois cobraria explicações de sua mãe. A verdade, porém, era que o maior responsável por todo aquele emaranhado de coisas ruins era ele. Fora ele a esconder fatos importantes de Liz, fora ele a sugerir a Louis um crime e, por fim, fora ele a embebedar-se e fazer sexo com sua ex mulher num quarto de hotel.



            Miguel não fazia ideia de onde estava seu caro. Então pegou um táxi e após dar a indicação do destino ao motorista, ligou para sua secretária mandar alguém resgatar o veículo das proximidades do bar. No restante do trajeto apenas pensou em como faria para contar a verdade sem perder Liz para sempre. Não sentia nada por Alejandra. Nunca a amou. Tinha apenas usado seu corpo para esquecer-se dos problemas. E já estava arrependido. Estava bêbado. E Ale estava ali, linda e se oferecendo sem pedir nada em troca. Ele caiu na armadilha.
            Quando chegou ao destino, a sede da BTez, estava com os cabelos bagunçados e os botões da camisa em casas desencontradas. Era o legítimo bêbado de ressaca. Pegou o elevador privativo e entrou em sua sala agradecendo ter em seu banheiro um traje completo. Quando saiu de lá, era novamente Miguel De La Vega Benitez, um empresário sério, casado e honrado. Por dentro, estava em desespero. Numa atitude impensada, encomendou um buquê de flores para ser entregue para Liz no polícia. Ela estava nervosa, muito nervosa, mas iria perdoá-lo. Elizabeth o amava. E mulheres que amam os maridos os perdoam quando fazem bobagens. Além disso, homens sempre faziam bobagens. Iriam superar isso.

            - Será assim. É claro. – Repetiu olhando seu celular. Ela não telefonou nenhuma vez desde a noite anterior.


            Quando Elizabeth recebeu as flores viu-as como um atestado de culpa. Ele estava se desculpando. Mas pelo que? Por lhe mentir? Ou pedir ao advogado para sumir com um criminoso? Ou, ainda, por passar a noite fora? Não que pudesse condená-lo por isso. Ela, na hora da raiva, também tinha deixado o lar. Foi dormir na casa de Rebecca. Conversaram, ela desabafou e quando o dia clareou, foi encontrá-lo e descobriu que não estava lá.       

            - Às 15hs você poderá interrogar nosso homem. Ele foi identificado como Caleb Estevam.
            - Ótimo. – Eram 13hs e ela havia acabado de comer um sanduíche. – Vou analisar outros casos enquanto isso.
            - E não vai se concentrar em nada enquanto não falar com Miguel. Vá vê-lo, Liz. Irá trabalhar melhor depois. Além disso, você não fez horário de almoço.

            Ela odiava interferir no trabalho de Miguel. Tantas vezes pediu que ele não atrapalhasse sua vida profissional. Como ela iria invadir seu escritório a todo momento? Mas era por um bom motivo. Aquela noite tinha sido tão triste sem ele. Não desejava que ficassem brigados mais tempo. Afinal, tudo o que ele fez foi para lhe proteger.

            - Sra. Benitez. – A secretária recepcionou-a, surpresa. – O Sr. Benitez não avisou que viria.
            - Ele não sabe. Mas posso voltar depois se ele estiver ocupado.
            - Não, não. Ele está sozinho. E não me desculparia caso eu impedisse sua entrada. Por favor, venha.



            Miguel estava ao telefone e a não ser pela barba serrada, não feita pela manhã, era o típico homem de negócios, elegante num terno feito sob medida. Ele olhou-a surpreso e sorriu antes de dar uma desculpa qualquer e encerrar a ligação.

            - Liz. Eu...é bom ver você. – Ele estava emocionado. Tentada decidir se contava à esposa o que ocorreu com Ale. Temia demais perdê-la para isso. – Não vejo as flores. Ao menos dessa vez você não veio devolvê-las.
            - Não. Porque eu devolveria as flores que ganhei do meu marido? Eu vim aqui, Miguel, só pra te dizer que apesar de tudo, eu te amo.

            E com isso Miguel definitivamente desistiu de contar a verdade. Sua noite com Alejandra teria de ficar em segredo. Elizabeth veio beijá-lo. Estava disposta a deixar os erros no passado e esquecer tudo. Então para que criar mais discussões. Mandaria Alejandra ficar calada e nunca mais aquilo se repetiria. Seria fiel à sua mulher.

            - Obrigada por me perdoar. – Disse sinceramente. – Eu posso cancelar toda a minha agenda e ficar com você a tarde toda. Só nós. Vamos para casa ou caminhar no parque. Você escolhe. Eu só preciso de você, Liz. Só de você.
            - Eu sou sua. Mas não posso cancelar a minha agenda. – Elizabeth beijou o marido e por um instante desconfiou que havia mais desespero do que deveria naquela voz. Deixou passar. – Vou interrogar o chantagista em 20 minutos.
            - Eu terei de depor também?
            - Não. O seu nome não apareceu na história, ainda. Ou eu não poderia cuidar desse caso. Mas, fique atento. Se Caleb falar...vai receber uma intimação.
            - E a BTez volta as manchetes. Droga! Logo agora que os acionistas se acalmaram. Mas se ocorrer, paciência. Vou lidar com o problema. E se ele não falar, o que ocorre?
            - Seu advogado, obviamente, não vai denunciá-lo para não ferrar com você e Caleb sairá em menos de uma semana.
            - Droga!
            - É. Mas seja como for, estamos juntos Miguel. E vamos vencer isso. Agora me beija porque, infelizmente, preciso ir.




            Elizabeth entrou na sala de interrogatório ladeada por Rebeca e Fred. Tinha naquele instante uma sensação de desafio. Aquele homem a tinha perseguido, fotografado e, muito provavelmente, fora ele a tentar matá-la em pelo menos duas oportunidades. Mas estava impedida de acusá-lo para não prejudicar seu marido.

            - Caleb Estevam, engraçado como eu pareço já conhecer você. Já estivemos frente a frente antes?
            - Não, investigadora. Eu certamente não a conheço.
            - Tem certeza?
            - Absoluta. – Ele também a desafiava. – Porque eu estou aqui?
            - Talvez porque foi pego junto a uma mala de dinheiro, à noite, num parque abandonado e sob a mira de algumas armas. É motivo o bastante?
            - Sim, certamente. Para você prender o homem que tentava me matar. Diga-me, cara investigadora, já sabe quem armou para me matar?
            - Ainda não. – Elizabeth afirmou. Sentia nojo daquele homem. – Porque estava recebendo dinheiro escondido, Sr. Estevam?
            - O pagamento de um trabalho, apenas.
            - Que tipo de trabalho?
            - Por acaso o Sr. Louis me acusou de algo, investigadora?
            - Não. Nada. Mas eu resolvi ouvir a sua versão. Que tipo de trabalho?
            - A menos que eu seja acusado de algo, me reservarei o direito de ficar calado.
            - Se prefere assim.
            - Prefiro. E quando eu saio daqui?
            - A menos que eu consiga acusá-lo de algo, em no máximo três dias. – Elizabeth fez um sinal à Rebeca. – Levem de volta para a carceragem.

            Elizabeth havia feito de tudo para manter aquela história longe dos holofotes da mídia. E conseguiu. A prisão de Caleb não gerou notícias. O que ela desconhecia era o fato da reportagem de Beatriz, que estamparia os jornais em menos de uma semana, trazer Caleb como personagem principal. Sem saber o que se passava com a irmã, Bia naquele momento preparava-se para voltar ao ponto de prostituição onde encontrou-o. Iria tentar aproximar-se mais uma vez de Caleb e, quem sabe, fazê-lo lhe propor para deixar o país.

            - Eu preciso apenas de uma proposta para ter a prova do tráfico. – Ela vestia-se de forma ousada, como sua tarefa exigia, enquanto Willian brincava com Eva e a observava assustado.

            Na visão de Willian, Beatriz estava indo além do limite do seguro. Estava envolvendo-se com pessoas perigosas, capazes de matar. Ela iria entrar mais uma vez no território deles, sem proteção ou apoio policial. E estava animada com isso. Ele se viu na obrigação de abrir-lhe os olhos. Só não imagina a briga que estava começando.

            - Como pode estar feliz em vestir-se assim e indo desfilar numa área de prostituição enquanto sua filha ficará aqui?
            - Ela não estará abandonada. Estará com você, Will.
            - É, estará. E você Bia, estará fazendo o quê, exatamente?

            Bia observou o namorado. Tentava descobrir o que realmente incomodava Willian. Certamente não era o fato de ficar com Eva. Ele adorava sua menina. Eles davam-se muito bem. Seria então a sua segurança? Ou ciúme? Seja qual fosse a razão, não mudaria um milímetro de suas ações.

            - Estarei fazendo minha matéria. Como você bem sabe. Qual seu problema, Will?
            - Sua matéria? E uma matéria jornalística vale ISSO? – Ele apontava para o seu curtíssimo vestido.
            - Vale. – Bia respondeu de forma seca.
            - E valerá também caso o cafetão pedir um...teste? O que fará? Vai se deitar com ele em uma pocilga qualquer em prol da ‘veracidade das informações’? Será prova o bastante para sua reportagem?
            - Você está me ofendendo, Willian!
            - E você está me decepcionando, Beatriz. Sempre acreditei que a família estava acima da sua profissão.

            Era triste. Mas com essas palavras Willian mostrava à Beatriz que talvez eles não fossem tão perfeitos juntos quanto ela desejava pensar. Aquele homem capaz de mudar de país por sua causa mostrava desrespeitar sua profissão. E, ainda pior, parecia não confiar nela. Engolindo o choro, mas fazendo sua escolha, Bia abriu a porta do apartamento.

            - Minha família é importante sim. E minha profissão também. Se não pode lidar com isso, aproveite a oportunidade para sair das nossas vidas.
            - Está me dispensando, Bia?
            - Estou te dizendo que eu e Eva precisamos de um parceiro, não alguém para nos recriminar.
            - E eu devo apoiá-la mesmo vendo-a colocar-se em risco? É isso?
            - Sim. Porque esse é um risco aceito por quem escolhe a minha profissão.

            Para sua completa decepção, Bia viu William beijar a testa de Eva e caminhar para a porta.

            - Desculpe-me. Eu não posso vê-la fazer isso e me manter calado. É melhor nos darmos um tempo no nosso relacionamento, Bia. Mesmo que eu continue te amando. Não posso.
            - Se você prefere assim. – Ela manteve-se firme.

            Dizendo a si mesma que precisava se concentrar no trabalho, Bia levou Eva para a casa de Matt e deixou-a no colo de Patrícia antes de sair ainda tendo o coração pesado. Paty e Matt perceberam o tremor em suas mãos.

            - Está tudo bem, Bia? – Matheus lhe perguntou.
            - Sim. Amanhã bem cedo eu a pego.

            Matt e Paty brincaram com a garotinha, que pulou alegremente no colchão. Eva já estava muito acostumada com os tios e não se intimidava com o apartamento. Tudo era razão para festa. Ela jantou, ganhou um chocolate como sobremesa e dormiu entre os dois adultos.

            - Isso colaborou com o seu plano. – Paty sussurrou.
            - Plano? Que plano?
            - De fugir do meu toque, Matt. De me afastar nessa cama.
            - Isso não é verdade. Não te afasto, Paty. Nós dormimos abraçados na noite passada. Isso é afastamento?
            - É. Porque quando eu tentei te acariciar intimamente você segurou a minha mão e me mandou dormir como se eu não passasse de uma criança insolente.

            Num gesto afoito ela tinha começado a acariciá-lo. Sentiu o namorado tentar se afastar, mas logo ser dominado pelo desejo. Salpicou beijos sobre seu peito e deixou os dedos serpentearem por dentro de sua cueca. Ela encontrou-o duro e começou a acariciá-lo, ouvindo seus suspiros cada vez mais fortes. Mas quando levou a outra mão ao cós da cueca com a intenção de despi-lo, Matt a freou, virou-a de costas para ele, a apoiou em seu peito e lhe disse para fechar os olhos e dormir.

            - Tudo ao seu tempo, Paty. Nem antes nem depois.
            - Eu te quero, Matheus. Eu sou uma mulher e quero você como homem. Fui clara? Não vou confundir as coisas. Não o verei como cliente, se é esse o seu medo.
            - Tudo ao seu tempo, Paty. – Foi unicamente o que ele respondeu.

            Eles dormiram novamente sem fazer amor. E Patrícia começava a entrar em combustão. Precisava daquele homem. Desejava-o completamente. E entendia seus temores em amá-la. Mas teria de mostrar a ele que estava pronta para ter uma relação sexual saudável e que ele era seu escolhido para parceiro.

            Naquele momento, Bia caminhava entre prostitutas e clientes e estranhava não ver Caleb. Ele não estava no ponto. Circulou, livrou-se de alguns possíveis clientes e observou outro homem, nervoso, ao celular, falar com as garotas. Aproximou-se dele sentindo um arrepio na nuca. Talvez estivesse mesmo passando do limite. Mas já estava ali, não sairia sem nada.

            - Oi, você...sabe de Caleb?

            O homem a ignorou inicialmente. Depois encarou-a. Olhava para os lados. Estava desconfiado. Havia algo de errado.

            - Quem é você, vadia?
            - Sandra...me chamo Sandra. – Ela mentiu, improvisando. – Preciso ver Caleb. Onde o encontro?
            - O que você deseja com ele?

            Sem muito saber o que fazer, ela arriscou.

            - Ele me fez uma proposta...um esquema de me levar pra fora do país. Ganhar melhor. Sabe como é.
            - AAAA sim...Caleb te ofereceu entrar no ‘esquema’.
            - Sim. Onde ele está?
            - Ele não vem hoje. Aparece outro dia, Sandra. Ele vai te explicar como funciona.

            Beatriz deixou a rua caminhando lentamente. Teria de voltar ali caso fosse essencial falar com Caleb. Ou publicaria a matéria com as informações que já tinha. Não deixaria de publicar por nada. Seria capa do jornal. O homem, porém, estranhou muito sua passagem por lá. E vendo-a se afastar pela rua fez uma ligação.

            - Segue a vagabunda que está caminhando pela rua, de vestido vermelho curto. Descobre quem é e onde mora.  É muito estranho ela aparecer aqui justo hoje falando de ir trabalhar no exterior. Logo agora que Caleb foi preso? Não! Melhor investigar isso.  Pode ser coisa daquela investigadora.

            Elizabeth não fazia ideia de onde sua irmã estava e o perigo que corria. Ela estava à mesa, jantando, com Miguel e Rúbia. Tudo corria muito bem. Miguel estava atencioso, doce e perfeito. Ela chegava até a desconfiar, mas preferiu lhe dar o benefício da dúvida. Desejava fugir de novas brigas com o marido. O plano, infelizmente, foi por água abaixo, quando Rúbia estragou a noite com um único comentário.

            - Alejandra me ligou, filho. Para me tranquilizar. Disse que encontrou-o ontem a noite e você esteve perfeitamente bem...apesar de ter bebido demais.

            O olhar de Liz deixou a sogra para encontrar os olhos de Miguel. E ele soube que não teria como escapar de mais aquela discussão.




            - Esteve com sua ex mulher ontem a noite, Miguel? Acho que esqueceu de me contar. – Ela estava apenas começando.

domingo, 22 de março de 2015

Diaba Ruiva - Cap 13 parte I



            Antes mesmo de deixar o cais, no entanto, Rachel teve de se explicar não apenas a Peter, mas também Stone. Numa rara saída dos escritórios do FBI, o chefão deixou claro que a conduta dela estava longe da esperava e sugeria uma instabilidade emocional grave, talvez séria o bastante para devolvê-la à prisão. Rachel foi rápida em responder para ele.

            - Dane-se!
            - O que disse?!?!
            - Isso que você ouviu, Stone! Eu respeito quando Peter me repreende porque ele conhece o trabalho de campo. Sabe como é! Para você é muito fácil, do alto da sua torre, dar ordens e esperar o resultado sem nunca sujar as mãos. Vou encontrar meu marido! E, se meus métodos lhe incomodam, sinto muito. Eles são eficientes. Não é o que sempre lhe interessou?



            - É, talvez seus bons resultados valham os métodos questionáveis. Mas eu espero que você tenha uma boa explicação a dar quando esse homem acordar no hospital e acusá-la de abuso de autoridade. – Ele lhe deu as costas e saiu. Antes de passar pela porta, porém, lhe deu mais um recado. – Ocupar meu cargo é resultado de promoções. Eu vim do campo, Rachel. Como você e Peter.

            Nohan deixou-os. Rachel esperava ter de enxotá-lo para não seguir ao bar, mas ele avisou de que voltaria à embaixada e depois iria ao hospital. Queria ele mesmo ter uma conversa com Zack, impedindo-o de fazer uma reclamação contra Rachel, ligou para Melissa para que ela o encontrasse no hospital, queria ajuda para argumentar com Zack a não prestar queixa contra a agente. Stone estava certo. Aquele grão de arreia no imenso deserto de problemas na ficha dela poderia prejudicá-la no FBI. E Nohan não permitiria.

            - Cuidado com o que faz e o que fala, Rachel. Entendo seu nervosismo. Mas tente se manter na lei. – Aconselhou-a.


            Enquanto isso, Neal trabalhava calado e ferozmente em suas esculturas. O trabalho manual ao menos conseguia relaxá-la enquanto a mente pensava sem parar um instante. Gostava de esculpir. Mas nem essa atividade conseguia distraí-lo do fato de estar numa cela, sob a mira do revólver de um bandido perigoso e sem nenhum medo de matar. Thomas Carter havia lhe dito estar se aposentando. As peças por ele construídas seriam vendidas como originais e lhe garantiriam muito dinheiro.



            O homem podia não ter dito com todas as palavras, mas obviamente, o plano não incluía uma testemunha viva de tudo aquilo. Ele não sairia vivo dali. Quando terminasse de esculpir, aquela arma seria disparada. Quase sem perceber, Neal diminuiu o ritmo de trabalho. Precisa dar mais tempo à Rachel. Ela viria,estava à caminho, certamente.

            - Está fazendo corpo mole, Neal? – Thomas gritou.
            - Pensei que desejasse algo bem feito não uma modelagem de pré-escola feita em massinha de modelar! Sou um profissional, tenho meu tempo.
            - Aprece-se, Neal. – Repetia ele de tempos em tempo apontando a arma para sua cabeça. Mas Neal sabia que sua vida estava garantida enquanto ele precisasse de seu trabalho.

            Enquanto esculpia, Neal mantinha a atenção em Thomas e algo o surpreendeu. Carter combinava outro negócio. Aquele papo de aposentadoria não passava de uma mentira.


            - Yuri, não seja covarde, meu amigo. Um diamante é sempre um diamante. – Ele ria falsamente. Estava ludibriando o homem do outro lado da linha. - Se vier rodeado de rubis e esmeraldas, ainda melhor.

            Neal percebeu que Carter tentava convencer o outro a cometer um crime. Dizia ser fácil, impossível da polícia descobrir. Nesse momento Neal realmente entendeu aquele homem. Carter era um criminoso psicológico. Ele convencia os outros a agirem ao seu comando. Tinha James nas mãos e agora envolvia Yuri, seja quem fosse ou estivesse. Thomas Carter não gostava de sujar as mãos.

            - Aprece-se, Neal. – Disse Carter mais uma vez ao desligar o telefone.


            Quando a noite caiu, Rachel estava no bar. Tinham a ficha completa de James. Por isso foi fácil reconhecê-lo assim que entrou. Era um homem alto, típico inglês de barba arruivada e olhos azuis acinzentados. Tratava-se de um belo homem. E, considerando a forma atenta com que entrou e logo ocupou uma mesa estratégica com vista para todo o salão, não seria fácil como com Zack. Ali estava um soltado leal e eficiente de Thomas Carter. Ele trazia uma mochila nas costas. Provavelmente, dinheiro para pagar Zacker pela participação no sequestro. Nada mais o faria encontrar-se com o comparsa.

            - James chegou sozinho, de moto, Rachel. – Henrique disse pelo rádio.
            - Rastreie a placa. – Ela respondeu enquanto trocava um olhar com Peter, sentado em outra mesa, mais próximo de James. – Espero sua permissão para me aproximar, Peter.

            Peter chegou a surpreender-se com isso. Rachel esperando sua permissão? É, ao que parece, ela ainda mantinha algum pensamento lógico, mesmo completamente descontrolada.

            - Mas se não der sinal verde logo, chefe, irei mesmo assim. – Ela complementou. Não perderei o alvo.
            - O alvo está na minha linda de visão, Rachel. Sossegue. Não quero tiros aqui. Esse lugar está lotado e teríamos vítimas. Aguarde o meu comando.

            Não era uma atitude fácil para Rachel. Em especial quando seu marido estava desaparecido. Mas ela a cumpriu as ordens de Pitter e observou James fazer várias ligações no celular. Ele deveria está tentando falar com comparsa e não conseguia porque o aparelho foi apreendido por Peter. Quando ele se levantou, Rachel imitou o gesto. Iria segui-lo.

            - Parada! – Peter ordenou. – Henrique está lá fora e vai segui-lo. James nos levará até Neal e nós prenderemos Thomas também.

            Rachel estava de acordo com aquele plano. Mas não com a parte de ficar sentada. Seguiu para a porta e pulou na garupa de Henrique. Quando James arrancou com sua moto e acessou a rua cheia de carros, eles estavam com apenas três carros separando-os. Peter e Diana vinham logo atrás.

            - Não ouse perdê-lo, Henrique. Você sempre foi bom piloto.
            - Pode deixar.

            Eles rodaram praticamente 50 minutos em alta velocidade com um fluxo razoável de carros. Isso lhes dava alguma facilidade de disfarçar a perseguição. O problema começou quando James acessou uma rua paralela, com poucos veículos. Logo James iria reconhecê-los.

            - Diana, não temos muito mais tempo. Pesquise onde essa rua vai dar. Quais possíveis esconderijos temos daqui?

            A agente ia como carona no carro e tentava analisar mapas pelo notebook. Era difícil dizer. Tinham duas opções de destino. À esquerda ficava um pequeno bairro residencial, com casas grandes e habitadas por pessoas da alta classe social. Thomas seria louco de fazer daquele lugar um esconderijo? Ela responderia que sim. Mas se virassem à direita iriam se deparam com uma região comercial, fabril e pouco habitada naquele horário. Seria o destino mais provável.

            - Ligue para a central e mande uma equipe varrer a região residencial, nós vamos à direita. – Peter ordenou. - Rachel, você e Henrique continuam seguindo James para o caso de não encontrarmos Thomas e Neal. Não faça nada de que vá se arrepender depois, Rachel. Preciso dele vivo. Então ande na linha, entendeu? Eu falo sério, Rachel!

            - Entregarei ele vivo para você, Peter.

            Ela falava sério. Não pretendia matar James. Lutou muito por seu posto no FBI e não seria aquele bandidinho a lhe tirar a liberdade novamente. Mas ‘vivo’ não significava ‘intacto’. Ele ia se arrepender de sequestrar seu homem. Isso ia.

            - Acelere, Henrique. Quero que se aproxime de James. Quero que emparelhe a moto com a dele. Vamos tirá-lo da estrada.
            - Só pode estar de brincadeira!
            -Não mesmo. – Ela já tinha a arma na mão e com o outro braço segurava firme na cintura do amigo. Estavam em alta velocidade e seus cabelos voando atrapalhavam. – Vou atirar no pneu traseiro dele.
            - Ele vai frear e será jogado longe!
            - Uma pena, não? – Rachel sabia que o tombo não iria matá-lo. – Vamos Henrique! Aproxime-se para eu conseguir mirar nessa escuridão! Não desejo acertar nele...ainda.

            Henrique viu o ponteiro do velocímetro alcançar 120km/h e Rachel segurar-se a ele mais firmemente. A mão dela tremia. Aquela calma era só aparência. Ela estava nervosa por Neal e, também, por ter de acertar um tiro a noite e com o alvo em movimento. Ela demorou a efetuar o disparo. Tanto que James chegou a percebê-los. Antes, porém, dele conseguir pensar em escapar, Rachel apertou o gatilho. A bala fez o pneu estourar, a moto diminuir a velocidade rapidamente saindo da estrada e ele ser catapultado em direção as árvores que cercavam o lugar. Henrique também diminuiu a velocidade e Rachel saltou logo depois.
            James abriu os olhos sentindo o corpo moído. Tinha ouvido o tiro, percebido a moto perder a estabilidade instantes depois de olhar para trás e ver uma moto persegui-lo. Nela havia um homem vestindo preto e capacete prata. Na garupa uma mulher de cabelos avermelhados. Lembrava-se de Carter falando de uma ruiva perigosa, a quem deviam ficar atentos. Era ela. Não teve tempo de reagir e depois de rodar no ar algumas vezes, sentiu seu corpo se chocar com o chão. Ao abrir os olhos ela estava lá, à sua frente, com a arma em punho.




            - Sejamos breves, James. Você fala e vai preso. Fica calado e vai preso do mesmo jeito...mas com alguns hematomas a mais pelo corpo e alguns litros de sangue a menos. Fui clara?
            - Pode me torturar ruivinha...daqui não sai nada. Me mate e nunca saberá do homem que procura.

            Aquilo não era verdade. Peter e Diana estavam procurando o esconderijo e iriam encontrar. Não eram tantas alternativas assim. Ela tinha cortado a comunicação para Peter não ouvir sua ‘conversa’ com James. Ele não aprovaria o método. Isso, infelizmente, significava não saber como está a busca. Mesmo assim, tinha uma longa distância entre torturar e matar.

            - Pois bem, James. Foi você quem escolheu o modo mais difícil. Vamos brincar de tiro ao alvo. Eu vou contar até três e se você não falar algo bem interessante, o primeiro tiro acertará seu pé esquerdo, logo acima dos dedos.
            - Ela é boa de mira, só avisando. – Henrique já conhecia aquele jogo.
            - UM... DOIS...
            - Você não pode! Policiais não podem atirar quando o acusado não está armado.
            - Para o seu azar, eu não sou mais uma policial. TRÊS! – Ela apertou o gatilho e a bala atravessou a cartilagem do pé de James exatamente onde ela avisou. Ele urrou de dor.
            - Sua vadia! AAAAA que dor! Demônia! Dói!!! – Ele se contorcia.
            - É parece que usará muleta por algum tempo, James. Cuidado como fala comigo, mantenha a classe, por favor. A segunda rodada está prestes a começar. Agora será o pé direito, mesmo local. Você deve pensar se quer usar cadeira de rodas ou abrir o bico logo. UM...
            - Não, por favor não..
            - DOIS...
            - Eu imploro.
            - TRÊS! – Ela acertou em cheio o segundo tiro e James agora gritava e sangrava nos dois pés.

            Em completo desespero o homem pensava se valia a pena ser leal a Thomas Carter. Já tinha lucrado muito com seus golpes. Poderia abandoná-lo. A ruiva já tinha lhe provado não estar para brincadeira. Mas a quem tentava enganar? Simplesmente não podia trair Carter. Ele o encontraria no inferno e o faria pagar. Achou ter descoberto sua salvação quando o celular vibrou em seu bolso. Tinha de ser Carter.

            - Socorro!!! É Ela! – Mas não conseguiu falar mais porque outro tiro foi disparado e esse não apenas arrancou e destruiu o celular como acerou a palma de sua mão esquerda.
            - Achava mesmo que ia deixá-lo pedir socorro, James? – Rachel provocava-o com um sorriso.
            - Você não entende. Ele fará da minha vida um inferno se eu o entregar. E irá me matar.
            - Acho que não entendeu, James. Serei ainda mais clara: Seu inferno sou eu. Sou eu quem irá matá-lo se continuar cansando minha paciência. Eu tenho essa arma, muita munição nessa mochila e nem uma gota de piedade por você. Mexeu com a mulher errada, James. Sequestrou o meu marido. E isso eu não esquecerei fácil.
            - Eu não lhe fiz nenhum mal. Não o machuquei.
            - Ótimo. Agora fale onde ele está ou eu vou continuar a brincar de tiro ao alvo. Posso acertar dezenas de tiros em você, James, sem nenhum atingir órgãos vitais. Você implorará por uma bala fatal tamanha a dor que estará sentindo e eu não apiedarei de você. Seu sangue se esvairá nesse chão e só então você morrerá. O próximo será no joelho direito. Fale! UM...
            - Piedade! Por Deus...Piedade...
            - DOIS...
            - Eu falo, está bem, eu falo. É uma fábrica de móveis. Escolhemos porque tinha muito granito. É no número 124, na primeira entrada após a avenida principal. Agora dê-me atendimento médico, por favor.
            - Que acha, Henrique? Devo ser boazinha, com ele?
            - É, ele merece um médico.
            - Ok. Dê o alerta. Para o FBI e para Nohan. Vou retomar a comunicação com Peter e encontrá-los. Sabe qual a sua sorte, James? É ser inglês. O embaixador de seu país aqui em New York irá visitá-lo no hospital e lhe oferecerá um acordo. Se o seu depoimento sobre essa noite for exatamente como nós desejamos, logo estará em seu país.

            Depois daquele susto, James estava disposta a qualquer acordo para sair dos EUA e ficar longe de Carter. E daquela mulher. Ele a considerava louca.
            Thomas Carter estava nervoso. Quando a ligação com James foi cortada, conseguiu ouvir apenas ‘é ela’. Ele só podia estar se referindo a Rachel, mulher de Caffrey. Ela tinha pego seu parceiro mais fiel e, muito provavelmente, ele já estava morto àquela hora. Isso não era grave, a menos que ele tenha aberto a boca e dito o endereço. E aquela interrogação o vinha desesperando. Verificou as câmeras de segurança da rua. Viu homens do FBI olhando por janelas e entrando sorrateiramente para revistar os lugares. Logo estariam ali e iriam pegá-lo.

            - Inferno! Sua mulher tem uma tendência a me irritar, Neal!
            - É, a mim também. – Ele sorria. – Ela está aí? Finalmente. Já estava espantado com a demora.
            - Cale a boca! – Ele pegou a arma e fez um disparo contra Neal.

            Para se salvar, Neal protegeu-se atrás de sua única alternativa, a estátua de pedra. E viu-a ser destruída pela bala. Ficou triste. Apesar de tudo, era um trabalho seu ainda inacabado sendo depredado.

            - Mas melhor ela do que eu. – Ainda alegrava-se em estar vivo.
           
            O estrondo do tiro alertaria os policiais e logo estariam li, Carter sabia. Então juntou algumas coisas em uma mochila e saiu pelos fundos. Sua aposentadoria graças as peças de Neal Caffrey teria de esperar.

            - Você ainda saberá de mim, Neal.



            Neal ficou sozinho e começou a tentar abrir as grades. Queria tentar seguir Carter. O FBI ia deixá-lo escapar! Não conseguia de modo algum. Com as ferramentas de que dispunha, abrir a fechadura seria impossível. Serrar as grades ainda mais. Tentava então soltar os parafusos que uniam as barras de ferro. Forçou terrivelmente e nada conseguiu. Até que a porta foi arrombada por policiais e logo Peter entrou com Diana.

            - Chegaram atrasados. Ele saiu pelos fundos. – Neal informou-os.
            - Equipe siga para a rua de trás. Suspeito em fuga ao norte! – Diana deu o comando e seguiu nas buscas enquanto Peter ficou para tentar soltar Neal.
            - Onde está Rachel? – Ele estranhou ela não estar ali.
            - A caminho. Estava perseguindo, James. – Tinham lhe informado que ele estava vivo, apesar de parecer um queijo suíço de tão furado. E Peter estava com raiva por ela não obedecê-lo. – Está vendo algo com que possa abrir essa fechadura?
            - Pega aquela faca de ponta e me dá.

            Neal trabalhava há alguns minutos na fechadura da cela quando Rachel chegou carregando um chaveiro. As chaves estavam com James e ela trouxe.

            - Nós dois sabemos o quando é capaz apenas com uma faca, querido. Mas se quiser...
            - Como sempre, Senhora Caffrey, você facilita e deixa meus dias muito mais agradáveis.

            Antes mesmo de abrir a fechadura Rachel aproximou-se e exigiu um beijo. Foi assim mesmo, um de cada lado das grades. E foi bom. Porque tinha gosto de alívio. De vê-lo vivo. De saber que teria aqueles lábios e aquelas mãos em seu corpo para sempre. De repente as barras de ferro a separá-los pareceram geladas demais em contraste com suas peles incandescentes.

            - É bom saber que sentiu minha falta, amor. – Neal lhe disse.
            - Não pense que foi só por amá-lo.
            - A não? E quais os outros motivos?
            - Egoísmo. – Quando ele fez uma expressão estranha ela respondeu. – Descobri que é impossível ser feliz longe de você. Então prepare-se porque querendo ou não vai passar a vida comigo. Nem que eu tenha de te manter numa dessas celas.
            - Não vai precisar. Eu não vou a lugar algum. Acho que o seu egoísmo é um bom motivo, também.
            - Além disso, nem pense que irá embora me deixando com dois filhos pra criar. Não mesmo, Sr. Caffrey. Exijo sua presença conosco.
            - OK, Sra. Caffrey.
            - Que droga, Neal! Eu te amo tanto! E eu passei as últimas horas em desespero sem saber se estava bem.

            Eles retornaram ao beijo. Dessa vez usando um pouco mais as mãos. Rachel ainda tinha a desculpa de conferir se ele estava machucado. Neal não. Então quando suas palmas encontraram o traseiro da esposa sem muita delicadeza, Peter achou que bastava da cena de reencontro. Eles que procurassem um quarto.

            - Abra logo essa cela, Rachel!