domingo, 8 de fevereiro de 2015

Vidas Ocultas - Capítulo 16



            Sob o olhar de 150 convidados sentados à sombra de toldos instalados no jardim da mansão dos Benitez, Miguel e Liz casaram-se numa tarde ensolarada. A cerimônia civil que os uniu como marido e mulher pela lei dos homens foi realizada discretamente no escritório da família horas antes. Agora era hora do rito religioso. A igreja foi descartada porque Miguel já fora casado anteriormente, mas o padre veio lhes dar uma benção. Eles também não dispensaram a troca de alianças e o juramento.

            A noiva chegou no horário, surpreendendo alguns dos presentes. Apenas os mais distantes. Seus amigos próximos sabiam que não deixaria os convidados esperando. Vestia um lindo e brilhante vestido. O modelo estava longe das preferências e orientações de Rúbia, mas era do gosto da noiva.



            Todo bordado em pedrarias, a peça foi considerada pela sogra um exagero para a cerimônia diurna e por esse ser o segundo casamento de Miguel. Liza não levou em consideração a orientação e exibiu seu brilhante tomara que caia, complementado por um elegante coque e maquiagem suave, destacada apenas no batom carmim.
            O noivo observou-a ser trazida lentamente por Matheus e emocionou-se. Não estava apenas linda. Estava feliz. Apesar de todas as dificuldades e de ter de superar as diferenças com Rúbia, Liza conseguiu organizar o casamento ao seu gosto. E ele via a satisfação em seus olhos. Ela estava feliz em se tornar uma Benitez, e isso lhe era o bastante.



- Eu Miguel De La Vega Benitez recebo por minha esposa, a ti Elizabeth Santos, e prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te. Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias da minha vida.
- Eu Elizabeth Santos recebo por meu marido, a ti Miguel De La Vega Benitez, e prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te. Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias da minha vida.

Com aplausos e sorrisos ao fundo, Miguel e Liz colocaram no cônjuge a aliança.

- Que Deus abençoe esse casal e lhes permita encontrar a felicidade. – Disse o Padre. – Pode beijar a noiva.

Aquele foi tocar de lábios mais discreto e puro já trocado por eles. Era um sinal de respeito à cerimônia e, também, um aviso de que a noite e o casamento estavam só começando. Teriam muitos dias para beijos calientes. Seguiram para a valsa e os cumprimentos dos convidados.

- Obrigada por aceitar ser minha mulher, Liz. Eu te amo.
- Também te amo. Nunca pensei que seria possível amar tanto.



Os sentimentos de duas convidadas ali presentes destoavam. Alejandra e Gabriella estavam ali, mas nenhuma das duas era sincera ao desejar felicidade ao casal. Alejandra estava presente por desejo de Rúbia. Alguns jornalistas já a tinham contatado desejando uma declaração sua sobre o casamento. O que poderia dizer? Nenhum de seus verdadeiros pensamentos podia ser externado.



- Disfarce esse olhar, Alejandra. Há fotógrafos presentes. – Rúbia alertou-a.
- Desculpe. Eu não devia...mas estava lembrando do meu casamento, dos votos, da aliança...é triste reconhecer que não me recordo desse olhar devotado em Miguel nem mesmo no dia da nossa cerimônia. Ele realmente nunca me amou. Não assim, dessa forma.
- Bobagem! Isso é o fogo da paixão. Vocês tiveram um longo namoro, eram parceiros na vida. Miguel deixou-se levar pelo desejo e esse se esvai logo. A convivência irá lhe mostrar que o casamento vai muito além. Unir-se a uma mulher de outra classe social e sem a mesma linhagem cultural cobra seu preço.
- Não diga isso, Rúbia. Assim parece torcer para eles se divorciarem.
- E torço! Ela afirma não desejar ser mãe! Que tipo de mulher se casa sem desejar dar herdeiros ao marido?!?!? Eu quero netos! E já basta que você e Miguel adiaram tanto que eles não vieram. Eu teria tanto orgulho de uma criança vinda de vocês.

            Gabriella também observava os noivos à distância. Quando recebeu o convite teve certeza do envio ter sido iniciativa de Rúbia. Miguel não desejava vê-la. A policial, muito menos. Estavam certos. Ela veio apenas para não despertar desconfiança. Javier ter deixado o mundo dos vivos não significava o fim dos negócios. Ela lucrava com a exploração sexual dos brasileiros na Europa e, com um cargo respeitável nos EUA, estava protegida. Não precisava do pai. Ter uma policial na família era, no entanto, uma complicação. E um benefício. Enquanto lucrasse com ela, manteria tudo como estava. Depois, teria de tomar atitudes mais eficazes.

            Do outro lado do jardim, vestindo um longo azul, Patrícia tentava convencer Matt a lhe conceder uma dança. Ele tentava se manter afastado de sua colega de apartamento, funcionária e amiga antes dela ganhar ainda mais importância em sua vida. Mas estava difícil.



            Na ânsia de descobrir o que Paty lhe escondia, fez algo de que depois se arrependeu. Foi até o médico dela. Soube que fez exames. E, por um momento, desconfiou de que o segredo de Patrícia era algum problema em sua saúde. Dr. Giancarlo ofendeu-se com a sugestão de revelar detalhes da intimidade de sua paciente, mas afirmou que ele não tinha com o que se preocupar.

            - Sua namorada é uma moça saudável. – Disse o médico e Matt não viu razão para corrigir.

            Eles dançaram abraçados e beberam champagne. Ela aproveitou para senti-lo bem pertinho. Cada músculo estava ali, bem cuidado, apesar de Matt ser um homem esguio. Percebeu, também, como dançava bem. Não entendia porque ele não gostava de dançar.

            - O álcool te deixou muito animadinha, Paty.
            - Não foi a bebida, foi você.

            Enquanto isso, Willian tentava fazer Bia relaxar. Aquele era o primeiro final de semana de Eva com o pai. Deveria ser bom poder aproveitar a noite com o namorado enquanto a menina estava sob a responsabilidade do ex. Porém, ela estava angustiada, sem tirar os olhos do celular e Eva de seus pensamentos.

            - Além de Rafael, há os pais dele. Eva está bem. E será bom conviver com a família paterna!
            - Eu sei. Mas....é difícil ficar longe dela.
            - Eu vou distraí-la.




            Quando a festa chegou ao fim, os noivos já estavam longe. A bordo de um avião fretado voaram para o Caribe, seu destino nos próximos cinco dias. Em poucas horas chegariam numa das mais belas praias do mundo. De águas cristalinas, quentes e repletas de vida marinha. Era o mais próximo do paraíso que poderiam chegar.

            - Você esperava que eu a despisse e comesse bem aqui no avião? – Miguel perguntou beijando-a. – Não farei isso. Você é a minha mulher e eu desejo amá-la com calma. Usufruir do que é meu segundo a lei dos homens e de Deus por toda a madrugada.
            - Por isso quis o casamento à tarde?
            - Sim. Para desembarcarmos ainda na madrugada na praia. Quero você nas areias do Caribe. Àquelas águas vão finalmente conhecer uma sereia de verdade.

            No avião e com a ajuda do noivo, Elizabeth tirou o vestido de noiva e soltou os cabelos. Quando chegaram ao Caribe ela já ostentava um visual muito mais praiano. De vestido azul com finas alças e sandálias rasteiras nos pés, Elizabeth recebeu seu presente de casamento das mãos de Miguel.
           
            - O noivo não dá o seu coração para a esposa? – Ela respondeu recebendo a caixa aveludada. Era uma joia. Um colar com pingente em formato de coração. – É lindo.



            - O verdadeiro, que bate dentro do meu peito, é seu desde o dia em que te vi. Esse é apenas um símbolo do nosso amor. Eu quero que ele esteja sempre no seu pescoço. Lembrando-a do dia do nosso casamento.
            - Nunca irei tirá-lo. Jamais.


            O local escolhido para a primeira noite era na beira da praia, mas não ao relento. Uma área coberta, iluminada e com bela mesa de frutas e bebidas esperava por eles. Algumas taças de vinho depois, uvas, morangos e chocolates foram esquecidos. A pele do outro parecia bem mais saborosa.

            - Eu quero ser sua bem devagarinho, bem gostoso. Pra não esquecer nunca mais. Mas não sei se consigo, Miguel. Eu estou queimando, ardendo feito brasa. E é por você.
            - Vai ter de conseguir, minha Liz. Porque eu não pretendo deixá-la dormir antes de te dar todo o prazer que seu corpo puder suportar.

            Um arrepio correu pela espinha de Elizabeth quando Miguel soltou as tiras do vestido e o tecido fino escorregou por sua pele até encontrar a arreia fina da praia e formar uma falsa poça azul aos seus pés. Apoiada nele, deu dois passos à frente sem timidez alguma em exibir os seios nus. Vestia apenas a calcinha e as sandálias.
            Peça por peça, Miguel despiu-se de sua camisa e calça claras e, nu, expôs todo seu desejo por ela. Vendo-o, Elizabeth achou ainda mais improvável levarem até muito mais longe aquele prelúdio de amor. Miguel deitou-a sobre a areia e beijando-lhe os pés retirou cada uma das sandálias. Restava a calcinha branca de renda delicada. Poderia facilmente rasgá-la à dentadas, mas preferiu retirá-la devagar, beijando a pele desnudada.

            - Quero sentir seu gosto. – Ele afastando-lhe mais as pernas e acomodando-se entre elas antes de saboreá-la.

            Logo todo o prazer refreado nas horas de voo veio à tona. Derretendo-se em sua boca feito o doce mais saboroso, Liz sentia que iria gozar e tentava segurar-se. Erguia os quadris na tentativa de afastar Miguel. Ele a segurava no lugar e castigava-a numa tortura ágil e deliciosa, mordiscando-a intimamente. Ela sentia sua língua tocá-la e tinha vontade de gritar.

            - Chega Miguel. Chega! Eu...eu...vou gozar...
            - Essa é a intenção, querida.
           
            Instantes depois, Miguel sorveu com prazer as provas da explosão de sensações experimentada por Elizabeth. Ela estava devastada. Era como se Miguel a tivesse virado do avesso. Quando seus pensamentos pareciam apenas voltado ao lugar, pôde sentir seu membro finalmente invadi-la enquanto a boca dividia-se entre chupar-lhe os seios, morder o pescoço ou provocar-lhe os lábios. Ele ia fundo. E logo Elizabeth estava gritando novamente.

            - Com meu corpo, minha mente e alma, eu venero você, minha Liz. Eu não existo sem você.
           



            A lua cheia foi testemunha do amor dos dois na areias caribenhas. Adormeceram sem pensar em mais nada. E acordaram quando o sol já estava alto no céu. Por mais vontade que tivessem, ficar ali não seria bom. Primeiro porque desejavam tirar a areia do corpo e proteger-se do sol. E também porque os demais turistas não precisavam assisti-los transar. Então seguiram para o hotel com o objetivo de tomar café. Lindos, relaxantes e sensuais cinco dias os aguardavam.

            - Bom dia, meu marido. – Liz disse ao marido da sacada do hotel.




            - Bom dia, minha esposa. Alguma reclamação da noite passada?
            - Nenhuma. – Ela respondeu rindo enquanto observa a praia e a rua do alto. Percebeu dois carros que os acompanhavam desde o aeroporto. – Eles não assistiram nada de ontem, certo?
            - É claro que não. Ficaram bem distantes. Mas os seguranças são necessários, Liz. Ignoremos.
            - Está bem. Mas apenas porque ainda não recebi meu distintivo. Depois, com minha arma...eu mesma defendo você.
            - Bom saber disso. – Miguel sorria, mas, na verdade, já se preocupava em como convencê-la a ter segurança privada quando retornassem. Talvez tivesse de contratar alguém para protegê-la sem seu conhecimento. – Vá tomar seu banho enquanto espero nosso café. Logo te acompanharei. Depois sairemos para passear.

            Miguel tinha motivos para se preocupar. Não apenas seguranças aguardavam o casal sair do hotel. Pagar R$ 500 mil não foi o bastante para livrá-los dos olhos atentos e criminosos de alguém que já se considerava íntimo. Não que ele desejasse estar ali. Preferia estar gastando o dinheiro dos Benitez no outro lado do mundo. Mas recebia ordens.

            - Sim, eles estão no meu campo de visão. Estão no hotel depois de fuderem pela madrugada toda na praia.
            - Tem certeza de que essa policial não está usando essa viagem como desculpa pra investigar nenhum caso por aí? Ela vive para o trabalho. – A voz no comando de tudo respondeu pressionando-o a ficar atento.
            - Não, chefe. Ela só tem olhos pro maridinho. E ele parece bem disposto a pagar pela segurança dela. Já arranquei meio milhão dele.

            - Fature o quanto quiser, não me interessa. Mas não esqueça de que um dia essa fonte seca. O Benitez pode até não saber ainda, mas nem todo o seu dinheiro será o bastante para manter a esposinha viva. Ele será viúvo logo logo. 

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