sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Diaba Ruiva: Passado Revelado - Cap 9


Quando começou a despertar, Rachel ainda sentia o corpo cansado e a mente confusa. Cadeia, fuga, hospital, parto, Neal atrasado e...Helen, finalmente Helen em seus braços. A menina havia nascido. Lembrava-se de vê-la. Linda, pequena e tão frágil. Podia ainda sentir seu cheiro no ar. Mas onde ela estava? Piscando para clarear a visão, procurou por sua filha e seu marido. Não estavam ali. Rachel tentou erguer-se na cama e alcançar o botão para chamar a enfermeira.

- Ei, ei, ei! Calma. – Ouviu a voz de Neal vir das suas costas, suave, quase num sussurro. – Mamãe acordou ansiosa, filha. É para te conhecer.

Impossível não sentir as lágrimas novamente verterem de seus olhos. Ela estava ali. Tranquila, ressonando no colo do pai. Ele estava ali. Orgulhoso de carregar a filha nos braços. Tudo pareceu tão lindo naquele momento.

- Eu quero pegá-la. Me dê. – Disse estendendo os braços para receber o pacotinho de pele macia e bochechas rosadas. – Como ela está?



- Perfeita. – Neal sorria ao olhar para mãe e filha. – Tem 3 quilos 870 gramas e 48 centímetros. Uma grande bebê.
- Sim, isso explica o tamanho da minha barriga. – Rachel tocava a filha e conferia cada detalhe. Parecia perfeita demais. – Ela é linda.
- É. Helen puxou a beleza da mãe.

Ela não se sentia nada bela naquele momento, poucas horas depois de dar a luz, sentindo a barriga inchada e os pontos da cesariana arder. Poucas vezes sentiu-se tão exausta. Nem mesmo quando seu a luz George e logo depois encarou um fuga internacional. Helen realmente lhe deu trabalho para vir ao mundo. Mas quem liga? Tudo era válido para vê-la ali, bem, sadia, forte e com uma vida inteira para aproveitar. Mesmo que...que ela fosse ver tudo de longe, de uma cela fria e sem vida.
Quase sem perceber, o choro de alegria pela chegada de Helen tornou-se de tristeza, quase desespero. A infância de George estava passando e Helen mal teria chance de se acostumar com ela antes de ser retirada de seus braços. Quando uma de suas lágrimas caiu sobre a bochecha da filha, Neal percebeu sua mudança de humor.
- Helen herdou o seu gênio também. Se você não lhe der de mamar nos próximos minutos e parar de chorar, logo estará soluçando também.
- Não. Mamãe não deixa ficar com fome – Ela ofereceu o peito e Helen primeiro cheirou e tateou por alguns minutos, reconhecendo a mãe. Quando finalmente abocanhou-o para receber o alimento, sugou forte.  – Vamos ter de nos organizar para eu tirar o leite no presídio e levarem para ela. Quantos dias me deixarão aqui com ela? Eu posso fingir algo. É, é isso! Falarei com Laura. Vamos fingir uma infecção. Assim eu fico com ela aqui mais uns dias e....



- Calma Rachel. Nada disso é necessário.
- Mas eu não quero ficar longe dela ainda. É minha! E tão novinha!
- E não vai ficar. Se tudo der certo, amanhã você ganha a sua alforria...mesmo mantendo uma tornozeleira.



Sob um olhar que misturava descrença e esperança, Neal contou os últimos acontecimentos. E não eram poucos. Nem simples. Passo a passo, o perfil de Thomas Carter e seus atentados, a investigação promovida pela Interpol, o embaixador inglês e sua estranha exigência foram apresentados para Rachel.

- Espera! – Rachel não estava engolindo aquela história. – Esse Nohan simplesmente ‘me quer’? Assim? Sem motivo?
- Obviamente ele tem algum motivo escuso, mas falou apenas no seu currículo profissional. E tinha um arquivo da sua vida, Rachel. Não sei se é completo, mas, mesmo assim, não é só pela sua longa história com MI5 e FBI, com agente ou foragida, que eles desejam você. Nohan esconde alguma coisa. Mas na verdade, essa é a nossa melhor, talvez a única, chance de te colocar de volta na rua.
- É, Neal, tem mais nessa história. – Mas o peso de Helen em seus braços lhe dava força para ir em frente. – Nós nunca fomos do tipo de temer o desconhecido, Neal. Seja qual for a desse Nohan, não vamos desperdiçar essa chance. Comigo na rua, fica mais fácil fugirmos, se for preciso. Vamos esperar a sentença do juiz e depois vou investigar esse Nohan. Ele tem um arquivo meu...vamos montar um sobre ele, em detalhes.

Neal sorriu observando-a planejar. A Diaba Ruiva estava de volta.

- Mas calma, não esqueça de que você acaba de dar a luz. Tem de se cuidar e dar atenção à Helen e George.
- Prevejo dias agitados, Neal. Muito agitados.
- Então durma, Rachel. É hora de Helen voltar para o berçário. Eu vou em casa rapidinho trocar de roupa e pegar George. Quando você acordar novamente, terá seus dois filhos aqui e um monte de visitas.

Nada era tão simples assim na vida deles. Neal foi para sua casa, mas com a cabeça nas inúmeras coisas que tinha para resolver. Era impossível conseguir fazer tudo e estar na manhã seguinte no hospital. Então Mozz entrou em ação. Logo depois conseguirem acalmar a ansiedade de George em conhecer a irmã e fazê-lo dormir, eles foram conversar. Começaram com uma velha tradição.




- Charutos? – Neal surpreendeu-se. – Eu nem fumo, Mozz.
- É a tradição. O pai comemora a chegada do herdeiro com legítimos charutos.
- Obrigada Mozz. Vamos ver se eles nos inspiram então. Preciso da sua ajuda. Mais uma vez.
- Minha vida seria muito mais sem graça sem os seus problemas, Neal. Pode falar. Do que você precisa?
- Para começar?Que você feche a compra daquela casa. De preferência amanhã mesmo. Eu liquidei alguns...bens. Tem grana suficiente naquela conta. Acho que não precisará usar dinheiro da Rachel.
- É uma casa bem localizada...deve ter vendido um bem dos valiosos.
- Somente algumas reservas dos nossos bons tempos. Mas o Peter não faz ideia. Então você colocará essa casa no seu nome. Ele não faz ideia.
- Está bem. Mas não é essa a grande missão pela qual há essa ruga na sua testa no dia em que Helen nos brindou com sua chegada ao mundo.

Neal colocou a par de Nohan e sua misteriosa aparição. Deu ao amigo todos os detalhes. Mais do que contou à Rachel. Não pretendia estressá-la naquele momento. Ela tinha de curtir Helen, dedicar-se a ela. E não com um maluco que iria estragar isso.

- Missão entendida, Neal! Dos males o menor! Diaba e diabinha vão sair do hospital direto para casa. E vamos descobrir os segredos desse Nohan.
- Será mesmo? E se o parecer da juíza for negativo?
- Não será! Eles não vão arriscar um atentado. Sua mulher amanhã será livre.



Foi crente nessa possibilidade que Rachel adormeceu após entregar Helen aos enfermeiros. Isso depois da pediatra vir lhe garantir a saúde de sua filha e afirmar que ela seria bem cuidada. Depois dormiu tranquila. E acordou num quarto silencioso e perfumado por uma imensa cesta de flores colocada numa mesa à direita do cômodo.

- Neal já esteve aqui! – Ela derreteu-se. – Deve estar com Helen.

Mas foi a enfermeira a entrar alguns minutos depois, carregando a menina em prantos. Helen tinha fome e não estava interessada em esperar. Geniosa, Helen já mostrava sua personalidade. E todo seu amor e ligação com a mãe. Nos braços de Rachel, ela se acalmou.

- Ora, ora meu amor. Tudo isso é fome ou é saudade da mamãe? Depois de tantos meses juntas é difícil mesmo ficar longe, não é? Vem....vamos mamar.



- Ela tem personalidade. – A enfermeira lhe disse. – Parabéns. A senhora ganhou uma linda filha.
- Obrigada. Linda e geniosa. Exatamente como eu desejava. Forte para enfrentar o mundo...e deixá-lo com a sua marca. Minha Helen.
- Assim que ela mamar e a senhora se ajeitar, têm visitas aguardando para entrar.
- É meu marido! Ele já esteve aqui e deixou as flores. Mande-o entrar!
- Não. Amigos seus estão aí fora. O seu marido eu não vi hoje, ainda.

Rachel estranhou, mas não questionou. Logo ele deveria aparecer. Com George. E seus filhos iriam se conhecer. Quando terminou de amamentar, Helen foi colocada em um pequeno berço ao lado de seu leito e após rápidos cuidados com o visual, ela recebeu as visitas. Primeiro Peter e Ell.

- Parabéns, Rachel. Onde está o Neal? – Peter estranhou  a ausência do amigo. – Jurei que ele não arredaria o pé daqui.
- Ele esteve, deixou essas flores. E sumiu!
- Eu vou ligar para ele. Temos uma decisão importante hoje. Ele te falou?
- Sim, Peter. Estou nervosa com isso.
- Chega, Peter! Não é hora de falar nisso. Veja como Helen é linda. – Elizabeth estava encantada e já com saudade do nascimento de Valentina. – Será ruiva como você.
- Sim, será. Minha Helen.

Depois Rachel recebeu Diana, numa passada rápida antes de seguir para outro compromisso. Nicolle chegou exigindo dar colo à neta. E as duas se acertaram muito bem. Helen adorou os braços de sua avó.

- Vovó vai brincar com você, dar papinha, te levar no parque. Tudo, tudo, tudo o que você desejar, meu amor.

Mozzie também apareceu logo cedo. E exigiu tomar a ‘Diabinha’ da avó. Disse que tinha seus direitos.

- Acostume-se ‘pequena-Rachel’. Titio Mozz passará muito tempo ao seu lado e vai te ensinar coisas muito legais.

Quando Rachel já estava chateada pela demora de Neal e George, a chegada de mais amigos distraiu-a. Henry encantou-se pela menina. Mãe e filha estavam ótimas.

- Fiquei sabendo que logo estará na rua. Fico feliz por você, Rachel.
- Eu estou ansiosa por isso, Henry. Muito. Quero ver a rua, passear com meus filhos, trabalhar.
- Logo.

Rachel já tinha se despedido dos amigos quando Neal chegou. Era tarde para quem disse vir pela manhã. Mas ele chegou com um sorriso tão lindo e trazendo George. Impossível reclamar.

- Oi Helen! Eu sou o seu irmão. – George tratou de se apresentar. – Ela não faz nada? Não fala? Helen! Fala comigo!
- Calma, filho. – Neal disse bagunçando os cabelos do filho. – Logo, logo ela vai estar falando com você. Não vai beijar a mamãe?
- Oi mãe! Agora você vai vir pra casa né?
- Sim, meu amor. Logo, logo mamãe estará com você, Helen e papai em casa.

Neal beijou-a nos lábios. Sentia falta daquele carinho sem grades nem guardas do presídio. Sua vida estava voltando ao normal. Mas estranhou ver seu marido com flores.

- Mais? A cesta já era tão linda, amor. Não precisa trazer mais. Eu amei seu presente.

Mas aquela cesta não era de Neal e ficou claro em seus olhos que aquele não era apenas o presente de um amigo. Neal aproximou-se da cesta e viu ter, além das flores, dois pequenos embrulhos e um cartão.

Leu o texto breve em voz alta:
‘Mãe e filha merecem ser agraciadas feito rainha e princesa no dia de hoje, momento tão importante em suas vidas. Parabéns pela chegada de Helen, Rachel. Estou ansioso por conhecê-la.’
Ass: Nohan.

Trêmula, Rachel ouviu as palavras e assistiu Neal abrir os presentes. Nohan era mais estranho do que imaginava. Mandar apenas flores já seria demais. Mas presentes e com aquele bilhete era como um recado. Quando viu o conteúdo dos pacotes, seu incômodo aumentou. Tratava-se de uma linda e minúscula pulseira de pérolas para Helen. E um colar trazendo mãe e filho, cercados por pedrarias e ouro envelhecido. Rachel viu no olhar de Neal a raiva do marido por aquele presente.

  


 
- Diamantes e rubis. Legítimos! – Seu olhar de especialista reconheceu a autenticidade das pedras instantaneamente. – Quem ele pensa que é para lhe enviar uma joia assim? O que esse cara quer!?!?!?


Essa dúvida também persistia na cabeça de Neal.


Nota das autoras: desculpem o cap pequeno, mas vou viajar no feriado e não quis deixá-los sem capítulo. Bjss

domingo, 25 de janeiro de 2015

Vidas Ocultas - Capítulo 15


            Elizabeth colava-se a Miguel como se precisassem do contato pele com pele para sobreviver. Ela não mais tentou descobrir com quem ele discutia ao telefone, apenas terminou de arrancar as próprias roupas e passou a abrir as dele enquanto mordia-lhe o corpo com violência.



            - Vem Miguel, atire-me nessa cama de uma vez. Fecha os olhos e finge que não sou eu. É uma vadia de rua. Me trata como na nossa primeira vez.  – Ela gritou completamente nua e tentando arrancar-lhe o cinto e descer-lhe as calças. Estava enlouquecida.   

Aquilo estava muito longe de ser o desejo de Miguel. Mas não era homem de negar-se a receber uma bela e quente mulher que se oferecia. E, tratando-se de sua noiva, ele, o único a poder vê-la assim, despida das roupas e de qualquer pudor, tinha o dever de lhe dar todo o esperado. No caso de Elizabeth, isso representava explosões violentas e sexo sem limites. Isso vinha em ótima hora para lhe permitir extravasar a raiva que sentia.

            - Noiva minha não é vadia. Você está proibida de falar isso!
           
            Elizabeth apenas sorriu frente a provocação de Miguel. Aquele fogo de desejo brilhando em seus olhos lhe agradava bem mais do que o ódio vazio de alguns minutos atrás.

            - Você não me proíbe de nada, Miguel. – Elizabeth largou-o e deu um passo atrás apenas para exibir suas curvas. – Não vai querer? Eu posso sair na rua e procurar outro.



            Isso bastou para despertar o lado mais violento de Miguel. Mas não levou-a para a cama. Seria no chão duro mesmo que pretendia tomar posse do que era seu. Abocanhou-lhe o seio e mordiscou-lhe até ouvi-la gritar.
            Elizabeth alternava gemidos e gritos. Os dentes dele arranhavam, as mãos pareciam garras, seu peso a pressionava contra o chão frio. Não eram carícias de amor. Era uma demonstração de posse. E ela aproveitou casa instante, Na parte interna de suas coxas Miguel deixou um rastro feito à base de mordidas.

            - Minha...toda minha. – Ele dizia e Elizabeth sentia-se no paraíso.

            Ela implorou para ser penetrada. Estava mais do que pronta e sentia-o duro contra sua virilha. Miguel demorou para atender-lhe o pedido. Era como uma tortura. Ela quis seduzir, agora tinha de lidar com tudo. Quando finalmente ele resolveu atendê-la, a fez ficar de pé e prensou-a contra a parede.

            - Ah!!! – Ela gritou esfregando-se contra ele e sentindo-o entrar completamente.
            - Toma! Nenhum outro vai te dar nada disso! Nenhum. Toma!

            A força utilizada por ele era desproporcional e chegou muito próximo de machucá-la de verdade. Por um momento, Elizabeth sentiu medo do ódio ardente nos olhos de seu noivo. Mas depois percebeu que Miguel fazia exatamente o pedido por ela, descarregava em seu corpo toda a raiva sentida antes dela entrar no quarto. Deixou-se então levar pela estocadas violentas que a faziam arranhar as costas contra a parede e continuou acariciando-o e esperando aquela tempestade passar.
            Quando sentiu os músculos de Miguel relaxarem após gozar, segurou-o e o fez deitar no chão mesmo. Abraçou-o e deixou-o descansar. Parecia tão doce, tão calmo. Tudo menos o leão violento e feroz de poucos minutos antes.



            Eles ficaram ali, no chão, por mais de uma hora. E podiam ter ficado mais se seus corpos não começassem a doer e reclamar de todo o abuso.

            - Não sei você, mas eu quero uma cama macia, Miguel. – Ela o acariciou calmamente enquanto ainda estava no chão. – Vem, levanta.
            - Eu machuquei você, não foi? Me desculpa, Elizabeth...eu...eu...eu não sei o que me deu e...
            - Calma. Você fez exatamente o que eu desejava. Relaxa! Agora me leva até aquela banheira maravilhosa e mima esse meu corpinho tão desgastado.

            Na banheira, Miguel sentou-se e colocou-a à sua frente, com as costas encostadas no seu peito. Prendeu-lhe os cabelos para não encostar na espuma e começou a massagear-lhe as costas. A cada dia tornava-se mais dependente daquela mulher. Não vivia mais sem ela.

            - Porque você gosta disso, Liz?
            - Disso o que? De sexo? De ser tratada como mulher e não como uma boneca frágil?
            - Porque gosta de ser tratada como se fosse uma vadia de rua? É muito estranho para uma mulher educada e maravilhosa feito você.

            Liza virou-se e encaixou-o pelas pernas, fazendo-o sentir a maciez dos seios contra os músculos fortes do peito. Ela não tinha uma resposta pronta para aquela pergunta.

            - Eu não sei. Parece mais completo assim. Os homens têm o estranho hábito de acharem que nós mulheres somos frágeis. E não somos. Eu gosto de homem, não de cavalheiro em cavalo branco.

            Ele apenas riu, observando-a desprezar tudo o que sua mãe e seu pai lhe ensinaram. Um homem deveria tratar com carinho uma mulher, jamais erguer o tom de voz ao falar com uma dama e ter com ela a mesma delicadeza necessária para tocar uma rosa. Foi assim que sempre tratou Alejandra enquanto sua esposa e era esse seu objetivo com Liz. Mas parecia necessário mudar os planos.

            - E você, Miguel? Porque traía Alejandra com putas? Sua ex é perfeita! Do que sentia falta?
            - Da liberdade...de fazer qualquer coisa, sem pudores. E de não ter de mentir. Depois era só pagar, dizer tchau e acabou. Não tinham explicações enganosas, não tinha mentira. Eu...menti muito pra Alejandra.

            - Comigo você não precisa de pudor nenhum. Eu topo todas ao seu lado, Miguel. Tudo. Sem titubear. Mas nunca minta pra mim. Seja o que for, fale. Nós resolveremos juntos. Entendeu? Se me enganar, não terá perdão.

            O aviso preocupou Miguel. Em especial por saber que Elizabeth não era mulher de ameaças vazias. Esconder algo era o mesmo que mentir? Se fosse, era bom Elizabeth jamais saber que estava prestes a pagar a um chantagista para manter-lhe a segurança e a carreira intactas. Apresar da preocupação, logo adormeceu com ela em seus braços.

            Decidida a enfrentar a realidade de ser uma Benitez, Elizabeth não fugiu no meio da madrugada ou escondeu-se de Rúbia. Ela e Miguel foram para a cama e dormiram abraçados. Pela manhã, desceram as escadas de mãos dadas. Tranquilamente, avisou à matriarca que Rebeca estava chegando para juntas trabalharem no escritório.

            - Já que não tenho alternativa. – Ter uma equipe policial dentro de sua casa era muito desagradável. – Juliana está à disposição para o que precisarem.
            - A senhora é muito gentil.

            Elizabeth ainda tinha mais de duas semanas afastada da Polícia Federal. Voltaria ao trabalho apenas após seu casamento. E a cerimônia ainda tinha vários detalhes para organizar. Só que a noiva era uma policial. E suas investigações não seriam abandonadas.

            - Liz...será que a sua empregada pode trazer um daqueles capuccinos maravilhosos?
            - Ela não é minha empregada, mas acho que pode trazer sim. Agora eu agradeceria se você se concentrasse nos nossos casos, Rebeca.

            Tom havia autorizado Rebecca a trabalhar na casa de Elizabeth durante todo aquele dia. Para todos os efeitos, a policial estava de folga, visitando a amiga e colega de trabalho. Tinham vários casos para dar andamento, alguns antigos companheiros de Liza, outros recentes aos quais sua equipe passou a controlar após seu afastamento. Os mais simples estavam com Fred e Carla, mas, alguns precisavam da experiência de Elizabeth. Somente anos de vivência com criminosos eram capazes de fazer alguém desmanchar uma quadrilha de crime organizado.
            De todos os casos, no entanto, nada tirava mais o sono de Elizabeth do que dúvida quanto a morte de Javier. Não era apenas tirar aquela desconfiança de sobre si mesma. Precisa dar a Miguel e sua família a verdade. Colocar o ponto final naquela mancha na história da BTez.

            - Nada tira da minha cabeça a desconfiança de que está tudo ligado. Rússia! É lá onde todos os caminhos terminam. Foi na capital, Moscovo, onde estouramos aquele cativeiro.
            - E resgatamos Kara e Olívia. – Rebecca lembrava-se bem de cada detalhe. Liza a fez estudar aquele caso diversas vezes depois que as testemunhas morreram misteriosamente e ela ainda acreditava ser possível terem deixado algo passar. – E foi ali que o nome BTez surgiu.
            - Sim, num rabisco esquecido em um livro caixa da espelunca. Tudo na Rússia. E aquele homem que tentava aliciar novas garotas, o Pedro Ferraz, também tinham registros no passaporte de viagens para Rússia. E o ‘dono’ de Patrícia, o tal Nikolay, também é russo. Ela contou para Matt que quando Nikolay não a quis mais, resolveu usá-la como mula no tráfico de drogas.
            - Temos de interrogá-la então? Fazer um retrato falado desse Nikolay. – Rebeca respondeu.
            - Sim. Eu cheguei a conversar com Matt sobre isso...mas ele foi relutante. Não quer expô-la a esse assunto novamente.
            - Não quero ser dura, Liza, mas ou conversamos com ela agora, de forma extra oficial, ou esperamos você ter de volta o distintivo e enviamos uma intimação.
            - Não! Eu falarei com ela.
            - Está bem. Então você desconfia de que o tal Nikolay e Javier integravam a mesma quadrilha. É isso?
            - Talvez. Porque não? Isso é uma das coisas que passou pela minha cabeça na noite em que fiquei na central analisando os casos sozinha. Eu ia seguir nessa investigação, mas aí incendiaram meu carro e depois disso tudo deu errado. Javier morreu e tudo desmoronou. Eu tenho de começar do zero.
            - E os atentados pararam depois disso. Você acredita que tentaram te apagar para não continuar mexendo nesses casos?
            - É o que parece. Todos os que tentaram desafiar essa quadrilha morreram. Primeiro Kara e Olívia. Depois Natália Villa procurou Miguel em busca de socorre e morreu logo depois. E o próprio Javier foi apagado quando resolveu entregar os parceiros. Eu sofri dois atentados e passei a ser seguida. Aquela foto minha e de minha e de Miguel, nos beijando no meio da rua, que ajudou muito a ser afastada do FBI, só pode ter sido feita por alguém que me seguia.

            Elizabeth não dividiu com Rebeca, mas ainda temia quais outros segredos seus o perseguidor poderia ter visto e até registrado. Ela demorou a dar-se conta de que era um alvo grandioso demais e nem só atentados fatais poderiam interessar.
            Elizabeth desistiu de ficar o dia tudo sob o teto de Rúbia, devolveu Rebeca para a central de polícia com a missão de ficar de olho em qualquer novidade quanto a tráfico de pessoas ou de drogas para a Rússia. Também avisou Miguel de que seria impossível almoçarem juntos e foi ao encontro de Matt e Patrícia. Por mensagem de texto marcou o encontro com seu amigo num restaurante próximo do escritório de advocacia dele.

            - Pode falar, Liz. O que era tão importante? – Quando Matheus e Patrícia se colocaram à sua frente ela pode ver que, mesmo sem assumir, eles já eram um casal. Matt se colocava junto dela, como um protetor, pronto para repelir qualquer um que a colocasse em perigo. – Porque deseja nos ver?



            - Eu preciso conversar com você, Paty. A respeito de Nikolay.
            - Liz, eu já te pedi para...
            - Para não aproximar Patrícia desse mundo. Eu sei. Mas esse mundo ainda existe. E da ajuda dela muitas garotas podem depender nesse momento para serem libertadas de homens como Nikolay. Então me permita explicar.

            Sob o silencio de seus amigos e olhares curiosos e aterrorizados, Elizabeth explicou suas desconfianças. Depois ficou aguardando Patrícia falar.

            - Eu não quero tocar nesse assunto novamente, Elizabeth. Nem tenho como te ajudar. Não sei muito de Nikolay. Ele me comprou depois de um programa e me manteve em Atenas, na Grécia, num belíssimo apartamento. Mas ele passava dois ou três dias por semana lá. Não sei se sua casa era na Grécia.
            - Eu preciso saber o que levou você a ir para Rússia. Sei que não gosta de tocar no assunto, Patrícia. Mas vai ter de falar.
            - Não vou falar coisa nenhuma! – Isso irritou Patrícia. Elizabeth parecia autoritária demais. – É pessoal. Não tem nada a ver com seus casos! Ele se desagradou de mim e não me quis mais como sua exclusiva. Me colocou na vida novamente e depois de uns dias achou que transportar drogas era a minha única serventia. Fim da história. Não sei mais nada dele. Isso basta?
            - Se for a verdade, basta. Mas vou precisar que descreva suas feições. Com um retrato falado nós buscamos nos arquivos. Esse tal Nikolay já deve ter alguma passagem pela polícia em algum lugar do mundo.

            Matheus e Patrícia não conversaram durante a tarde. Matt não assumiria, mas tinha medo daquele segredo todo. O que fez Nikolay desejar expulsá-la de sua vida e lhe dar o que na sua visão seria o pior dos castigos? Ela o traiu de alguma forma. Só podia ser algo assim. Não lhe perguntou nada também por não terem passado toda a tarde juntos. Paty tinha um compromisso.

            - Pronta para conhecer seu novo ginecologista? Dr. Giancarlo é maravilhoso! – Disse Bia na sala de espera do consultório. – Eu te espero aqui fora.
            - Não...prefiro que entre comigo, se não se importar. Eu...eu...nunca fui a um ginecologista. Bom, não um de verdade, pelo menos.
            - Como assim? Sua mãe nunca te levou?
            - Não. Quando comecei a menstruar ela estava tão ocupada com o novo namorado que não teve tempo e depois, lá em Atenas, uma me dava anticoncepcional. Mas era só isso. Nem entendia a língua dela direito.
            - Bom... o Dr. Giancarlo você vai entender. – Bia estava chocada. – e ele vai te examinar. Nessa salinha não entrarei, mas no consultório eu vou junto, se você prefere.
            - Prefiro.

            A consulta foi longa e o médico pediu uma série de exames. Patrícia foi sincera e contou o que fazia para viver até muito recentemente. O médico olhou-a com um ar um tanto paternal e pareceu não desgostar dela por isso.

            - Independente da profissão, qualquer mulher deve se cuidar intimamente. E você tem apenas 19 anos. É uma menina ainda. Volte aqui com o resultado de seus exames e depois nós conversamos. Enquanto isso, eu vou lhe receitar um anticoncepcional.
            - Não há necessidade.
            - Tem certeza, Patrícia? Uma moça jovem e bela como você pode sempre ter um parceiro.
            - Patrícia! – Bia manifestou-se. – Pegue! Você não vai ficar só por muito tempo.
            - Não quero. Não há razão para eu tomar pílulas.


           
            Nos dias seguintes Miguel esteve agitado. Apreensivo. O chantagista pediu R$ 500 mil reais. Pouco se comparado a sua fortuna. Vergonhoso era ser obrigado a pagar e seguir nas mãos daquele bandido. Sabia ser aquele apenas o primeiro pagamento. Seguiria nas mãos do chantagista.
            Louis tentou adiar a entrega do pagamento por vários dias na tentativa de forçar o chantagista a deixar uma pista que os levasse a descobrir seu nome. Mas não conseguiam mais protelar.

            - É 500 na minha mão hoje a noite ou todo mundo vai ver sua noivinha gemendo no capô do seu carro. – A ameaça não era vazia. E Miguel sentiu medo.
            - Está bem. Como faremos a entrega?
            - Peça ao seu advogado para deixar as notas não sequenciais numa mala e largar ao lado da lixeira no portão três do aeroporto. Largue e saia sem olhar pra trás. Alguém da minha confiança pegará. Se estiver tudo certo, aquelas fotos e vídeos adormecerão. Se faltar um centavo na mala, prepare-se para o maior escândalo da sua vida.
            - Não faltará nada. A noite terá seu dinheiro. E que garantia eu tenho de que nunca mais ouvirei sua voz?
            - Eu não tenho de dar garantias, Benitez. Sinta-se feliz por manter sua noivinha feliz e segura por enquanto.

            Conforme combinado, Louis fez a entrega do dinheiro e Miguel sentiu-se aliviado por poder dormir tranqüilo, mesmo sabendo que aquela paz era temporária. Quando o dinheiro chegasse ao final, o bandido voltaria a lançar mão de chantagem.
            Duas coisas não passaram despercebidas de Miguel. O chantagista sabia que Miguel tinha um advogado como braço direito. Deveria observá-los dia e noite. E depois ele citou a segurança de Elizabeth. Isso o fez temer ainda mais. E se não fosse algo aleatório? E se a pessoa a flagrá-los transando não estivesse apenas buscando por um vídeo comprometedor, mas fosse também o responsável por atirar em Elizabeth e incendiar seu carro? Miguel começava a se arrepender de ter cedido à chantagem.

            - Louis! – Em plena madrugada, do banheiro do quarto e em voz baixa para não acordar Liza, ele ligou para o advogado. – Preciso que continue tentando encontrar esse cara.
            - Você já me pediu isso, Miguel. E, ao menos legalmente, é impossível.
            - Então saia do ‘legalmente’! – Ele estava desesperado. – Acho que pode ser o mesmo homem que tentou matar Elizabeth duas vezes. Descubra quem é e fique a postos. Na próxima vez que vir nos chantagear, teremos uma carta na manga.
            - Não acha que é hora de falar com sua noiva?
            - Não, Louis, não acho. Eu vou acabar com esse cara.
            - Está falando em entregá-lo para algum coleguinha de Elizabeth ou acabar mesmo? Seja claro, Miguel.
            - Faremos o que for necessário. Tudo o que for necessário para tirar de cena quem estiver colocando minha noiva em risco. Entendeu? – A ameaça dita em sussurros era inegável. Miguel estava disposto a cometer um crime.
            - Está bem. Vou investigar esses atentados. Talvez eles nos levem até nosso amigo misterioso. Boa noite, Miguel.
            - Boa noite, Louis.

            Após alguns instantes em silêncio, Miguel ouviu a batida na porta do banheiro.

            - Miguel? Você está bem?
            - Sim. Eu já vou voltar pra cama, Liz. Me dê apenas um minuto.


            Elizabeth via as mudanças de Miguel. Mas fingia ignorar. Não queria ser uma esposa chata. Seguiu com os preparativos do casamento sem esquecer de suas investigações. Entre provas do vestido, experimentar ‘bem-casados’ e verificar possibilidades de destinos de lua de mel, ela e Miguel seguiam com suas rotinas profissionais. Agora já contavam com um retrato falado de Nikolay. Rebeca tentou encontrá-lo nos registros, mas, até o momento nada. Mesmo assim ela seguia convicta de que a Rússia era o ponto de ligação entre todos aqueles casos e seguiria investigando assim que retornasse da lua de mel e recebesse seu distintivo de volta.



            Durante o almoço com Miguel eles definiram o destino da rápida viagem após as bodas. Cinco dias no Caribe para descansarem e iniciarem a vida de casados. Era o que a agenda de ambos permitia.

            - Eu queria te levar para Paris. Mas precisaríamos de mais tempo para conhecer a Cidade Luz devidamente. – Ele desculpou-se como se o Caribe fosse pouco.
            - Bobagem. O Caribe será maravilhoso ao seu lado. – As vezes Elizabeth percebia o quanto Miguel se dedicava a ela e, muitas vezes, sua atenção não era devidamente agradecida. - Eu te amo tanto, Miguel. Você me faz feliz.
            - É só o que desejo. A sua felicidade.
           
            Apesar dos problemas com o ex, Beatriz manteve sua rotina agitada no jornal enquanto mimava Eva e curtia Will sempre que possível. Os dois tinham horários de trabalho muito difíceis de conciliar. Então, piqueniques no parque junto de Eva e almoços rápidos e românticos tornam-se a especialidade do casal.
            Naquela noite eles teriam um encontro raro e especial. Ambos estavam de folga e Matt comprometeu-se a pegar Eva na escolinha. Ele e Paty cuidariam da menina. Cinema, jantar e uma noite de amor. Esses eram os planos de Beatriz. Eles já namoravam firme há algumas semanas e ainda não haviam transado. Will não tinha reclamado de nada, nem a pressionado, mas Bia o queria e tinha pressa.

            - Você não devia ter me deixado escolher o filme. Foi romântico e bobinho demais. – Bia riu durante o jantar. – O mocinho era todo derretido.
            - Eu também sou romântico e bobinho demais só por estar completamente derretido por você?
            - Não. Você é perfeito justamente por isso. E eu estou completamente apaixonada por você.

            Os dois terminaram o jantar sem pedir a sobremesa. Will disse ter sabores bem mais agradáveis por vir ainda naquela madrugada. Bia não se arrependeu por esperar, nem por passar vários minutos escolhendo aquela lingerie. Willian pareceu apreciá-la como se fosse uma obra de arte.

            - Perfeita. Linda. – Lhe dizia entre beijos.
            - Você é um belo mentiroso...e eu estou adorando ser enganada assim. – Bia derretia-se com aqueles carinhos. – Nenhuma mulher tem corpo perfeito após ter um bebê.
            - Você tem. E não me distraia, Bia. Estou muito ocupado por aqui. Tenho muito da sua pele para beijar ainda.


            Enquanto o casal divertia-se sabendo que Eva estava bem cuidada, Matt e Patrícia olhavam a pequenina dormir na cama improvisada. Eles juntaram vários colchões no chão da sala do apartamento. E os três estavam prontos para dormir ali mesmo. Quase como num divertido acampamento.

            - Ela apagou. – Paty disse acariciando o cabelo da bebê. – Também, depois de correr naquele parquinho.
            - É. Eles têm uma energia sem fim. E nos cansam um monte. Eu estou acabado.
            - Mas você adora, Matt. Eu o vi no parque jogando futebol com as crianças maiores.
            - Criança é maravilhoso. E não venha me dizer que você não gosta! Eu a vi olhando para os bebês nos carrinhos. Você tem vontade ser mãe, Paty?
            - Não! Nenhuma. Isso está fora dos meus planos.

            Matheus não entendeu. Aquela resposta simplesmente não combinava com a Patrícia dedicada a Eva que via sempre nos momentos junto aos amigos. E ela só faltou se oferecer para embalar os bebês do parque. Mas então, nada daquilo era novidade. Patrícia era cheia de segredos. E cada vez mais ele sentia a necessidade de decifrá-la.
            Na manhã seguinte Bia veio buscar a filha bem cedo. Mais cedo do que o esperado. E na sua expressão Matt viu haver algo de muito errado com a amiga. Ele colocou um xícara de café fumegante em suas mãos e deixou-a falar.

            - Chegou um comunicado da justiça! Deram a Rafael o direito de passar uma noite por semana e dois finais de semana por mês com Eva! O que eu posso fazer?
            - Nada. – Ele foi direto.
            - Como nada? Matheus! É a Eva! A sua afilhada!
            - E filha de Rafael, Bia. Ele sempre teve o direito de ver a filha e nunca desejou exercê-lo. Agora, a menos que ele faça algo de ruim à filha, que justifique entrarmos com um recurso para a juíza rever a decisão, será perda de tempo.
            - Mas ele não quer Eva. É só para me atingir. – Ela estava revoltada.
            - Mesmo assim. É um direito dele.

            Beatriz tomou o café da manhã com os amigos antes de levar Eva para casa. Não lhe passou despercebido o olhar de Matt para as pernas de Paty quando ela acordou e veio na sala com uma camisola curta. É, aquele plano de seduzir o amigo estava dando certo.

            - Nos vemos ainda essa semana? Ou só no casamento? – Ela perguntou ao sair carregando a bebê.
            - Bia, será que você pode me ajudar a encontrar um vestido para eu ir ao casamento? Vou acompanhar Matt e não quero fazer feio.
            - Ótimo! Vamos sim. E você, Matt, até sábado. Liza está emocionada por você levá-la ao altar.

            - Eu não permitiria outra nessa função. Tchau, Bia.