terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Diaba Ruiva - Dupla perseguição: Cap 7




A exposição atraiu bom número de convidados. Ao que parecia, Lorenzo podia não entender nada de arte, mas tinha dinheiro o bastante para investir e muitos amigos dispostos a apreciar. Neal não duvidava do falsificador estar circulando por lá.

- Para quantas outras falsificações podemos estar olhando? – Diana comentou ao observar uma bela estatueta.
- Algumas, eu diria. Crente de que seu golpe deu certo, duvido que ele não tentou repetir. A tentação é grande demais.
- Você tentaria repetir o golpe?
- Pode apostar que sim. É o desafio que nos mantém, Diana. Mas se fosse eu, vocês jamais teriam percebido ser uma falsificação.



Enquanto Neal e Diana disfarçavam como convidados, Henrique fazia seu papel de investigador e despistava mantendo Lorenzo ocupado com uma série de perguntas. Da van o agente Clark Even, chamado às pressas para ajudar após a saída de Peter, analisava tudo através das câmeras de segurança do prédio e escondidas nas lapelas de falsos convidados.

- Todos tenham cuidado. Ele está desconfiado, atento. Não tente nada ainda, Neal. Ele o veria ir à área restrita da cobertura. – Even alertou.

Neal percebia isso à distância. Lorenzo parecia estar atento a Henrique, mas seguia em alerta. Estava claro que ele tinha algo para esconder e ele, também, registrava ser impossível tentar algo enquanto o novo rico não se distraísse.

- Sara! – Ele chamou a maior interessada na resolução do caso. – É sua vez de agir. Faça-o se lembrar dos bons tempos de vocês.
- E porque acha que houve bons tempos?
- Sei que houve, Sara! Vai lá e jogue todo o seu charme. – Linda e elegante num vestido branco, Sara sabia muito bem o que fazer.



Bastou ela se aproximar para Lorenzo esquecer da presença de Henrique. Cercou-a, oferecendo-lhe uma taça de champanhe, a qual ela negou sob a desculpa de estar tomando uma medicação.

- Isso, Sara. Muito bom. – Neal elogiou sabendo que ela usava um fone. – Agora tire-o da sala. Vão tomar um ar na sacada.

Acostumada com a forma de agir de Neal e já imaginando seus próximos passos, Sara fez exatamente o pedido por ele e não teve dúvidas de que Lorenzo caía na armadilha. Os homens eram criaturas fáceis de enganar.
Sara não viu, mas com o auxílio de Diana, Neal saiu do salão e percorreu rapidamente até o escritório. Levava no bolso interno do paletó o equipamento necessário para descobrir a senha e poder verificar o conteúdo lá guardado. Do corredor Diana viu pouco. Infelizmente. Observar Caffrey agir era uma aula sobre crime. Número por número, a senha foi desvendada. E quando, finalmente, a porta do cofre foi aberta, lá estava não apenas a tela procurada por Sara como os originais de várias das peças expostas na sala. Lorenzo foi muito ambicioso. Ele repetiu o golpe vezes demais sem saber que seria descoberto. Rapidamente Neal fez fotos e tornou a fechar o cobre para, logo em seguida, limpar suas impressões digitais.

- Confirmado. – Avisou Diana no corredor. – Agora é só obrigá-lo a tirar as peças daqui e prendê-lo. Vamos embora.
- Sim, vamos. – Diana lembrou-se de Sara e pegou o comunicador. – Pode despachá-lo. Fim da missão, por enquanto.
- Peter deu notícias?
- Não, Neal. Sinal que Valentina deve estar dando trabalho. Vamos para o hospital.
           
Peter havia ensaiado aquele momento muitas vezes. Imaginado diversas possibilidades, programado estratégias e, o principal, ensaiado o que fazer. Perguntou para amigos com filhos como foi a experiência do parto. Todos lhe disseram se tratar da situação mais apavorante de suas vidas.  E agora, apesar de todo treino e estratégia, estava ele desesperado. Era ainda pior. Era ver sua Ell sofrer e não poder gritar com o médico e ameaçar prendê-lo se não fizesse nada. Estava nas mãos de sua filha. Valentina parecia querer nascer, porém sem pressa alguma. E, o mais desesperador, os médicos diziam estar tudo em perfeita normalidade.

- Como assim? Estamos aqui há 3 horas!
- Sua esposa está muito bem, Sr. Burke. Alguns trabalhos de parto são lentos mesmo. A Srª Burke precisa de mais um pouco de dilatação. Tenha paciência.
Poucas vezes na vida o FBI foi esquecido por Peter. Hoje iria para aquela estatística. Não sabia como a festa na casa de Lorenzo havia terminado, nem estava pensando sobre o assunto. Neal? Rachel? Estavam longe de seus pensamentos. Só Ell e Valentina importavam. Além, é claro, da garotinha ansiosa na sala de espera esperando por eles na companhia dos pais de Ell. Sofia seria uma grande irmã para Valentina.

- Peter, querido, está vindo outra contração.
- Eu estou aqui. Segura a minha mão. Não sairei daqui enquanto você e Valentina não estiverem bem. Enquanto precisarem de mim.
- Nós sempre vamos precisar, amor. Sempre.


Quando Peter chegou a sala de espera da maternidade, sentia as pernas bambas. Definitivamente, nada preparava um homem para ver sua mulher dar a Luz. Logo viu, Sofia, seu sogros, Mozzie, Neal, Diana, Henrique e Sara esperando por ele.

- E a Valentina, papai? – Sofia não foi nada compreensiva com seu estado de choque. – Eu quero brincar com ela.
- Logo você irá vê-la, querida. Logo.
- Sofia, sua irmã precisa descansar. Nascer é muito cansativo. – Henrique brincou. – Veja a cara de exaustão do Peter!
- Ocorreu tudo bem, Peter? – Neal perguntou.
- Fale logo! – Mozz estava no mesmo nível de ansiedade que Sofia. – A baby-Elizabeth chegou bem ao mundo?
- Perfeita, linda e com uma garganta potente. – Ele respondeu sem conseguir tirar o sorriso do rosto.

Ainda demorou algum tempo para todo poderem ver Ell e sua mais jovem filha. Valentina nasceu quase três quilos e parecia bem interessada em mamar no peito da mãe para se fortalecer.

- Ela é perfeita, Ell. Parabéns. – Sara cumprimentou Elizabeth reconhecendo que aquele deveria ser muito especial na vida de qualquer mulher.
- Ela é mesmo. – Ell não conseguiu tirar os olhos do rosto da filha. – Obrigada, Sara. Obrigada a todos por virem.
- Nós não vamos ficar muito para dar privacidade para vocês. Se precisar de alguma coisa, é só chamar.
- Obrigada, Neal.
- Eu posso ficar com Sofia hoje, se quiserem. – Mozz ofereceu. Ficar com as crianças era sempre legal. Elas topavam todas as suas loucuras mais divertidas.
- Meus pais ficarão com ela, Mozz. Muito obrigada. Você quer pegar, Valentina? Eu sei que ela terá em você um grande amigo.

Mozzie não se fez de desentendido e esticou os braços para pegar a recém nascida. Valentina, ainda molinha, tão pequena e delicada, já tinha conquistado seu coração.

- Ela parece com você, Elizabeth. Ainda bem, pequenina. Herdou os traços da parte mais bela da família. – Peter não gostou muito do comentário. – É verdade.

Por mais que o momento fosse de amor e carinho, precisavam conversar de trabalho e foi Henrique a trazer o assunto. Elizabeth não se importou em emprestar seu marido por alguns minutos enquanto ainda curtia a pequena filha. Seus pais, Mozz e Sofia ficaram com ela enquanto todos os outros saíram ao corredor para atualizar Peter quanto ao caso.

- Então o original esteve com ele o tempo todo! – Peter ficou revoltado pela ousadia de Lorenzo. – E o que vamos fazer?
- Ele não imaginava que a seguradora tivesse contatos no FBI. Pensou que eu, conhecendo-o, simplesmente autorizaria o pagamento. – Sara explicou.
- E como vamos pegá-lo?
- Eu tenho uma ideia, Peter. – Neal começou a falar. – Temos de fazer Lorenzo tirar as peças da própria casa e, na rua, interceptá-lo. Ele precisa acreditar que será roubado.
- E como faremos que ele acredite nisso?
- Bom...se ele achar que um conhecido ladrão esteve em seu apartamento e se aproximou do cofre...pode querer se proteger.
- Ainda bem que eu tenho um ladrão na minha equipe.
- E com essa foto que fiz de Neal tentando abrir o cofre...- Diana completou.
- Vocês formam uma boa dupla. – Peter comemorou.

No dia seguinte Peter não foi trabalhar e Neal aproveitou para cuidar de outra missão, essa bem mais particular. Enquanto no FBI Diana e Henrique planejavam os detalhes do golpe para prender Lorenzo, ele foi visitar a clinica da Dra. Laura. Precisava convencê-la a participar de um plano arriscado do qual o resultado seria Rachel fora da cadeia, eles mais uma vez fugitivos e, se algo desse errado, a médica com sérios problemas com a lei. Não seria fácil.

- Olá Neal. Eu já esperava sua visita.
- Nós precisamos conversar, Drª. E será uma longa conversa.



De alguma forma, a médica parecia antever não se tratar apenas de um pai desejando informações do estado de saúde da esposa e da filha. Havia mais. Calmamente, Laura pegou o telefone e pediu à secretária que não passasse nenhuma ligação.
Neal e Laura encararam-se calados por alguns minutos. Um tentava ler nos olhos do outro qual o resultado daquela conversa. Laura, médica vivida e experiente em atender pessoas com longa fixa policial, já havia pesquisado Neal Caffrey e Rachel Turner. Aquele casal tinha uma história, no mínimo, imprevisível e rara, talvez jamais vista. Ter Neal Caffrey ali na sua frente, com aquele par de sedutores olhos azuis, compenetrado, lhe dizia que ele desejava algo dela.

- Sua esposa é a detenta mais teimosa, brava, perseverante e obstinada que já vi, Neal. Se sua filha herdar isso dela, você terá problemas em casa. - Disse tentando aliviar o ambiente. - As duas estão, dentro do possível, bem. Mas eu tenho a sensação de que não se deve a isso a nossa conversa.
- Não mesmo, Drª. Eu tenho uma longa história para lhe contar...e uma proposta para lhe fazer.

A agente da MI5 que foi para o crime durante a procura por uma pedra rara e valiosa, o ladrão e falsificador capaz de deixar equipes inteiras do FBI sem respostas, a assassina de agentes, a tornozeleira eletrônica, a benção recebida com a chegada de George, a desgraça trazida por Joseph Harabo, França e a tentativa frustrada de um novo acordo. Toda a história deles, sob o ponto de vista de Neal Caffrey foi colocada à frente da médica. A formação daquela família impar era realmente confusa e inacreditável. E, mesmo com tudo aquilo, eles eram, inegavelmente, uma família.

- Dá para notar que você a ama muito. George e Helen têm sorte por ter vocês. Seus filhos podem não ter a vida mais calma e regrada, mas têm pais amorosos.
- George nos ensinou muito. Ele mudou as nossas vidas. E Helen foi muito esperada, planejada. Para nos ajudar a superar a perda de Lis.
- Porém... - Se a história parecia ter chegado ao fim, Laura queria a proposta.
- Porém, quando fizemos um acordo com o FBI não esperávamos que demorasse tanto. Minha mulher não aceita ter Helen no presídio e eu também não quero isso. Como a senhora mesmo disse, Rachel é teimosa e obstinada e, eu acrescentaria, nervosa e imprevisível. Se ficar lá, ela pode prejudicar a si  e à nossa filha. Mesmo sem querer.
           
Laura não estava gostando nada do rumo daquela conversa. Não podia negar ter simpatizado com Rachel. Era difícil imaginá-la capaz de cometer assassinatos, mesmo ela jamais negando o fato. Mesmo assim, havia algo de doce e frágil em qualquer gestante, até nas mais duronas, como Rachel.

- Eu não tenho nenhuma influência no seu acordo com o FBI ou autorização para tirar Rachel do presídio, a não ser em caso de internação hospitalar por risco iminente de morte, dela ou do bebê. E nós dois sabemos que Rachel está bem clinicamente.
- Assim como nós dois sabemos como laudos desse tipo podem variar conforme a opinião do médico. O estado de uma grávida oscila muito, ainda mais uma mulher cujo histórico tem complicações no parto.
- Sua esposa teve um parto de emergência devido a traumas externos, resultando no nascimento prematuro do bebê e seu falecimento. Mas ela não ficou com sequelas no sistema reprodutor e o médico que a operou fez um grande trabalho. Ela dará a luz tranquilamente.
- Eu fico imensamente feliz com isso, Drª. Porém...a senhora poderia nos facilitar algumas coisas se...nos ajudasse...digamos que não será mentir...é...é apenas colocar no relatório uma verdade um pouco mais ao nosso favor.
- Esse relatório diria que Rachel precisa de internação imediata?
- Exatamente. - Neal tentava antecipar a resposta da médica e não conseguia. Sua expressão era neutra. - É quaro que senhora seria recompensada por isso.
- Eu não aceito suborno, Sr. Caffrey. - Ela disse duramente e Neal sentiu medo. Caso o denuncia-se, Laura lhe traria problemas. - Deixe-me entender uma coisa.
- Eu tenho certeza de que podemos nos entender, Drª. Chegar a um acordo.
- Rachel quer deixar o presídio antes de dar à luz. Ok. Mas em uma internação hospitalar, ela ficará com guarda na porta, talvez algemada ao leito. É uma restrição ainda maior que no presídio. Porque vocês prefeririam isso? - Aquilo era apenas parte do plano. E a médica sabia. - É bom me contar toda a verdade.
- Sim...o hospital pode ser ainda mais desconfortável, porém...porém...ele nos dará melhores alternativa de fuga.
- Era o que eu temia ouvir! Srº Caffrey! Como espera que eu o ajude numa fuga?!?!?
- Não seria incriminada! Nós faremos parecer que a Srª não participou. Eu garanto! Eu e Rachel já fugimos da polícia e do FBI várias vezes. Vão acreditar que nós enganamos a equipe médica. Não terá problemas.
- Mesmo assim...é errado e...
- Errado é manter presa uma mulher que está disposta a mudar para poder ficar com seus filhos. Está disposta a trabalhar para uma instituição que ela odeia.
- Se fugirem acabarão com qualquer chance de acordo.
- Não importa. Minha filha não nascerá assim. - Era agora ou nunca. - Ou nos ajuda e ela sai calmamente por esse hospital em um plano seguro, ou fugiremos por outro meio. Mas dessa semana não passa Drª. Ela está de oito meses. Não vou esperar mais por esse acordo que não vem.
- Não faça loucuras...pense em sua filha.
- Não farei. Sei exatamente como farei. - Para quem já tinha saído pela porta da frente do presídio, não era tão difícil.

Laura queria ajudar. Eles mereciam ter a filha em paz. Apesar de todos os crimes, via naquele casal coisas boas. E Helen e George não tinham culpa dos erros dos pais. Além disso, se o estado pode cometer erros como os responsáveis pela morte da sua filha e sair impune, ela também podia se equivocar num laudo.
- Está bem, Neal. Eu vou ajudar vocês.


Nos dias que se seguiram Neal dedicou-se a organizar dois planos. Um ao lado do FBI, no qual Lorenzo acabaria desmascarado, o outro com Mozz para o resgate de Rachel e fuga.

- Qual será nosso destino? - Neal sabia que Mozzie já tinha isso tudo planejado. Mozz sempre tinha uma rota de fuga pronta.
- Eu adoraria ir para a Itália, porém, até a pequena Rachel nascer, acho que devemos ficar nas Américas para fazermos um voo mais curto. México, pelos primeiros dias. Depois vocês podem escolher: Brasil ou Venezuela.
- George adoraria as praias do Brasil. Eu vou conversar com Rachel.
- O que fará com a casa que escolheu aqui em New York?
- Eu não cheguei a fechar a compra. Preferia que Rachel escolhesse comigo. Agora, se comprar, será apenas para disfarce. Nunca moraremos lá. É uma casa linda.

Enganar Peter não foi difícil. Ocupado com a bebê recém nascida e dando atenção ao caso de Lorenzo e tantos outros, ele não imaginava a fuga planejada. E isso preocupava Neal. Peter encararia como traição a sua fuga justo quando ele estava distraído pelo nascimento de Valentina. Mas o que fazer? Ele também queria poder estar com Helen assim que ela viesse ao mundo e, nem em pesadelo permitiria que ela viesse ao mundo com a mãe algemada. Quando estivessem longe e seguros iria se comunicar com Peter e fazê-lo entender que aquele acordo era um sonho impossível. O FBI não os queria mais.
Neal foi visitar a esposa e novamente percebeu-a desanimada e com aparência cansada. Até mesmo pálida. Via claramente que seu sorriso foi sincero apenas quando falaram de George. No restante no tempo havia nela uma profunda tristeza.

- Não fica assim, por favor. Você acaba comigo assim. – Ele abraçou-a. – Dará tudo certo.
- Será mesmo? Até agora deu tudo errado. Eu queria ficar aqui, Neal. Queria ter Helen em NY. Queria ir atrás do nosso passado, das nossas histórias. E tudo desmoronou.
- Nada desmoronou. Logo você estará na rua e a gente vai encontrar outro caminho para o nosso passado.
- É, tem razão...se o plano der certo. É arriscado. Com essa barriga, não será simples escapar. – Ela pensou antes de voltar a falar. - Tem certeza de que não se arrependerá? Pode ficar aqui.
- Nunca. Você e Helen ficarão bem. Isso me basta.
- Nós amamos você, muito. Não queremos ficar longe.
- Nem vão, amor. Eu, George e Mozz vamos com vocês para um lugar lindo. E todo esse pesadelo acaba.

A Drª Laura foi perfeita. Após a consulta de rotina, colocou no relatório que a paciente apresentou severa alteração no quadro, com preocupante elevação de pressão arterial. Orientou para que fosse observada e, caso sofresse de mal estar, levada com urgência ao hospital.
O plano estava armado. Passados dois dias, ela gritaria informando sentir fortes dores. Ao chegar ao hospital, Laura garantiria que não fosse algemada e facilitaria a fuga. Para garantir que Peter não pudesse interferir, Mozz programou tudo para a mesma tarde da operação de prisão de Lorenzo.
Na véspera de colocar o plano de fuga em ação, quase em uma despedida, Neal e Mozz apareceram na casa dos Burke para jantar. George e Sofia brincaram juntos sem saber que não se veriam mais muito em breve.

- George vem ver filme comigo! Vem! Sofia, decidida, já o puxava pelo braço.
- Quero ver o do Batman! - George respondeu.
- Vai lá filhão. Papai te chama na hora de ir pra casa.
- Eu já me junto a vocês, crianças! - Mozzie avisou. - Adoro Batman.
- Querem sorvete, crianças? Peter, pegue Valentina. Vou servir as crianças.
- Não. Fique aí com Neal e Mozz que eu faço isso.  - Elizabeth parecia esquecer que após dar a luz há apenas quatro dias precisava manter algum repouso.



Enquanto Peter cuidava das crianças e ainda colocava no forno o jantar, Ell segurava Valentina nos braços totalmente alheia ao convidado. Neal entendia completamente.  Ainda lembrava-se de quando pegou George pela primeira vez. Ele já não era um recém nascido, mas a sensação devia ser a mesma.

- Como Rachel está?
- Nervosa, Ell. E ansiosa pelo parto.
- Eu imagino. E ainda naquele lugar horrível. Peter me disse que insistiu com Stone que ela seria útil em um caso, mas ele disse que lhe foi negado mais uma vez. O juiz não está facilitando.
- Não está fácil, Ell. Mas eu tenho certeza que Helen nascerá com a mãe em liberdade.

Quando Neal e Mozz já tinham levado George pra casa, Peter ficou um tempo olhando pela janela, com a cabeça distante. Elizabeth embalava a calma Valentina após uma rápida mamada. Provavelmente ela ia dormir por umas três horas antes de reclamar o peso novamente. Infelizmente Ell não via no marido a mesma calma.

- Vai me contar o que te incomoda? Desde o jantar você está assim.
- Nada de importante, Ell.
- Mais de uma década juntos, duas filhas e um cachorro...e você continua achando que me engana, Peter. – Ela colocou-se a sua frente. – Não tem vergonha de mentir na frente da Valentina?
- Desculpa, amor. É...é que eu não sei exatamente. Só tenho a sensação que essa visita não foi só uma visita. Tinha algo mais.
- Acha que Neal pode estar pensando em fugir?
- Se eu acho? – Ele riu com a tranquilidade de quem conhecia Neal tão bem quando às suas filhas. – Eu tenho certeza de que ele tem um plano de fuga pronto desde o dia da prisão de Rachel. Eu só não sei quando vai colocá-lo em prática.
- Mas Rachel dá a luz em menos de um mês. E ele...
- Eles são criminosos, são peritos em fugir. – Neal Ia tentar algo. Era mais que um pressentimento. Era obvio. – Vamos esperar. Eu terei de ficar de olho no Neal.
- Você desistiu do acordo? Eles querem ficar aqui.
- Eu não, mas governo parece não concordar. Eu acho que talvez eu tenha me precipitado, Ell. Talvez eu não devesse ter trazido Neal de volta.
- Você fez o melhor, querido. O melhor. – Ell precisava tocar noutro assunto e estava receosa. – No sábado eu falo com a Rachel e tenho tirar qualquer ideia assim da cabeça dela.
- No sábado? Pretende ir vê-la? – Já tinham brigado muito por isso. E agora, vendo Valentina, parecia não valer outra discussão. – Não posse te impedir. Veja se consegue por juízo na cabeça de Rachel.
- Tentarei. Vamos dormir. Logo essa mocinha aqui nos acorda. – Agora parecia um anjinho sereno e sorridente.
- Vamos. Deixe-me colocá-la no berço. – Peter pegou a filha e subiu as escadas lentamente, sob o olhar atento de Ell.


Dois dias depois,quando a ação do FBI teve início, Sara era a mais nervosa. Queria encontrar o quadro, receber sua gorda comissão e ainda livrar-se das investidas de Lorenzo. Desde a falsa exposição ele parecia se achar no direito de cortejá-la, mesmo sabendo de Henrique. Hoje a farsa chegaria ao fim. E o jogo começava com Peter.

- Trago uma boa e uma  má notícia. Por qual prefere começar, Lorenzo? - O agente do FBI tinha o texto preparado para assustar Lorenzo. - Nossa operação foi um sucesso. Descobrimos quem roubou seu quadro e deixou uma cópia no lugar.
- COMO ASSIM?
- Ora, Lorenzo, essa é a notícia boa. Não tem porque se assustar.
- Sim, sim, é claro. E qual é a notícia ruim?

Seguindo o plano, Peter jogou sobre a mesa fotos de Neal caminhando pelo apartamento no dia da festa. Ele apenas as observou, sem aparentar nenhuma reação. Não reconheceu Neal. Da van, o ladrão quase se ofendeu. Julgava que sua fama não seria esquecida tão fácil, ainda mais por colegas de crime.

- É mesmo um amador! - Como poderia não tê-lo reconhecido?
- Isso é para você deixar de ser exibido, Neal. - Diana brincou.
- Você reconhece esse homem, Lorenzo? - Peter insistiu e, frente a uma negativa respondeu. É Neal Caffrey. Ladrão perigoso. Ele esteve no seu apartamento no dia da exposição. Tenho certeza de que foi ele a roubar seu quadro e provavelmente quer lhe tomar mais. Há peças caras aqui ainda?
- Um pouco...não sei o que ele poderia querer...eu não sei.
- Ele é condenado por roubo e falsificação. É perito em arte e sabe arrombar cofres como ninguém. Se precisa de segurança para alguma peça eu aconselho cuidar disso logo.

A isca foi lançada e, da van, bastou algumas horas esperando. O apartamento de Lorenzo foi cercado, na portaria tinham um homem infiltrado e escutas lhes mantinham a par do que se passava no escritório de Lorenzo. Ele não só caiu no golpe como informou ao FBI que também tinha armas contrabandeadas escondidas por lá.

- Agora é esperar o rato ir na ratoeira. – Peter sorria. A justiça, nesse caso, seria feita. – Você não precisa ficar aqui, Neal. Vá pra casa. Seu papel nesse caso já foi cumprido. Parabéns. Mais um caso resolvido com a sua ajuda.



- Eu prefiro ficar até o fim, Peter. George já está dormindo a essa hora. E eu não tenho ninguém me esperando em casa. – Parecia um homem cansado e desanimado. Na verdade estava ansioso e seguindo a risca seu plano. Para não despertar desconfiança, ficaria ali para receber ligação de Mozz quando Rachel for internada pelo falso mal estar. – Vou ficar, Peter.

O aviso não tardaria a ocorrer. A lua estava alta no céu e o presidido silencioso quando os berros de Rachel cortaram a calmaria. Os guardas foram surpreendidos com fortes gritos da detenta, histérica a ponto de quase não entenderem as palavras que pronunciava. Ela gritava como se estivesse em pânico. Dizia estar sentido dores e curvava-se para frente. Teriam de lhe chamar a emergência.



- Minha filha deve estar nascendo prematura, minha filha, salvem minha filha. Chamem a Drª Laura Gross! Chamem meu marido!
- Acalme-se Rachel. Todos eles estão sendo avisados.

Menos de 30 minutos depois, Rachel estava instalada num quarto hospitalar, medicada, vestindo uma camisola verde claro e com o tornozelo preso ao leito por uma algema. Ela ainda afirmava estar sofrendo as dores nas costas. Drª Laura chegou às pressas e foi direto ver a sua mais problemática paciente.

- Eu vou examinar minha paciente. Solte-a. – Ordenou Laura.
- Não é permitido Doutora.
- Não me importa o que é ou não permitido. Você vai soltar minha paciente ou eu o responsabilizarei pessoalmente por qualquer coisa que ocorra com o bebê. – Ela só voltou a falar quando sua ordem foi atendida. – Agora saia. Eu vou examiná-la.


Como não poderia ser diferente, Peter liberou Neal assim que o amigo recebeu a ligação de Mozzie avisando do mal estar de Rachel. Ele até pensou em conferir se Rachel havia passado mal, mas resolveu confiar em Neal. Segundo ele informou, a esposa tinha sido internada no hospital e a médica já estava com Rachel.
O restante da equipe ficou para seguir com a ação de Lorenzo, afirmando ir ao hospital assim que possível. Neal não podia falar, mas torcia para ninguém aparecer. Se tudo corresse bem, naquela madrugada ainda eles deixariam os EUA. Caso a chegada do FBI no hospital impedisse, teriam de prolongar a internação com a ajuda de laudos médicos falsos e adiar a fuga.
Ao contrário do que disse à Peter, Mozz não estava no hospital. Estava num ponto de pouso e decolagem de helicópteros. Era possível pousar o equipamento no telhado do hospital. E essa seria sua rota de fuga. Tiraria Rachel do quarto, subiria até o ultimo andar e embarcaria para a liberdade. June estava com George num ponto pré combinado, eles pegariam George e era o fim daquela história frustrada de volta a New York.
Mas não foi assim. O improvável aconteceu. E o plano fictício parecia real demais. Ao chegar ao hospital e procurar por Laura, Neal recebeu a notícia que não esperava. O plano estava cancelado. Os gritos de Rachel nada tiveram de falsos. Contrariando as expectativas de todos, ela realmente tinha tido o mal estar e a internação era necessária.

- Em hipótese alguma você tirará sua mulher daqui hoje, Neal.


NOTA DA AUTORA: CAPA nova e linda né gente? Desculpem a demora. minha vida há de voltar ao normal e as postagens se regularizarão. Nos vemos em Vidas Ocultas e no próximo da Diaba Ruiva.
Enquanto não posto, participem do Grupo Delírios, Devaneios e Algo + no face. Lá podemos bater papo. https://www.facebook.com/groups/419165068230758/

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