segunda-feira, 12 de maio de 2014

Dupla Perseguição - Capítulo 42




            Na sala de espera do hospital todos se olhavam. Henrique, Shepherd, Diana, Jones, Peter, Elizabeth e Neal esperavam. E a cada segundo que passava tinham a certeza de que algo errado ocorria. Neal andava de um lado para o outro. Chegou correndo ao hospital achando que logo ela estaria liberada, mas não foi assim. Já fazia 1 hora e não tinha visto Rachel ainda.

            Peter estava nervoso. Olhar para Neal fazia a sensação piorar ainda mais. Ela levou aquela bala na tentativa de ajudá-lo. E essa demora exagerada começava a gerar preocupação. Rachel levou um tiro de raspão. No braço. Perdeu bastante sangue, mas estava longe de ser um ferimento grave. Ele a tinha visto. Sabia disso. E não entendia porque ela estava sendo mantida na área restrita por tanto tempo. Ninguém, nem mesmo Neal, foi autorizado a entrar para vê-la.

            - Eu preciso de notícias sobre uma paciente. – Ele cansou de esperar e foi até a recepcionista. Neal o seguiu de perto. – Rachel Turner. Era um caso simples! Já era para ter sido liberada.
            - A senhorita Turner está sendo atendida pela enfermeira chefe do hospital. Ela está em boas mãos. Não precisam se preocupar.
            - Eu quero vê-la. Agora! – Neal disse.
            - Infelizmente é impossível. A enfermeira Vivian Sanford não liberou entrada de ninguém porque a paciente está fazendo exames. Só haverá visitas em caso de internação.
            - Mas ela só levou um tiro! – Peter gritou como se um tiro fosse pouco. – Ora! Diga que é Peter Burke, do FBI! Eu quero falar com ela.

            Peter e Neal lembravam-se de Vivian Sanford. A enfermeira chefe que se negou a entregar o exame médico de Rachel no dia em que ela fugiu do hospital. Ela e Peter se desentenderam. Praticamente discutiram e, para ter acesso ao resultado que mudou a vida de Neal, tiveram que conseguir um mandado judicial. Vivian Sanford os tinha atrapalhada bastante para ser leal a uma paciente, detenta à época. Segundo ela, a fim de respeitar o direito da paciente.
           
            A demora estava realmente longa demais para quem tem apenas de fazer um curativo no braço. A enfermeira Vivian tinha feito muito mais que isso. Rachel chegou ali muito assustada. Lembrava claramente do que aconteceu quando levou um tiro estando grávida de George. Passou muito perto de perder seu menino. Tinha medo de tudo se repetir. Quando reconheceu a chefe da enfermagem, sentiu-se melhor. Aquela mulher a tratou com muito respeito quando esteve ali vestindo um uniforme laranja. E desde a primeira vez que a viu percebeu que tinham algo em comum: ambas não gostavam do FBI. Vivian Sanford podia não saber ainda, mas seria muito útil.

            Quando Vivian se aproximou trazendo uma jovem enfermeira junto, Rachel começou a chorar. Fazia parte de seu plano. Se já havia levado um tiro e estava dentro do hospital, porque não aproveitar para fazer todos os exames que precisava. Se alguém poderia ajudá-la a enganar Peter, esse alguém era Vivian Sanford.

            - Está sentindo alguma dor? – Disse a mulher. Ela não havia reconhecido Rachel. – Vamos lhe dar um calmante.
            - Não! Não são de calmantes que preciso. Lembra-se de mim? Eu sou a detenta que fugiu grávida do hospital há quase 2 anos. Rachel Turner. Apenas não sou mais ruiva. – A mulher a observava tentando se lembrar. – Eu fugia do FBI...tentando esconder meu bebê deles.

            Rachel sabia que ela tinha a tendência a desgostar de agentes. Usaria isso para convencer a enfermeira a ajudá-la. Teria que contar algumas mentiras e usar a antipatia de Vivian por Peter Burke. Seria fácil.
            - Sim. Eu me lembro. – Ela sorriu. – E como está seu bebê?
            - Eles o tomaram de mim. – Rachel fez sua melhor expressão de sofredora. – Tomaram o meu filho e me obrigam a trabalhar para eles no FBI.
            - Como fizeram isso? – A enfermeira já tinha escolhido seu lado.
            - Com isso. – Ela mostrou a tornozeleira. – Eu cometi alguns erros na vida e me obrigam a ajudá-los em casos do FBI me mantendo nessa tornozeleira. E me tiraram meu pobre bebê.
            - Eles não podem fazer isso! – Vivian disse.
            - Você não sabe o quanto o FBI é cruel.
            - Que coisa mais triste Rachel. Eu lembro bem daquele agente que a caçava. O Burke...ele veio aqui e tentou mandar em tudo com o seu distintivo. Mas nessa enfermaria quem manda sou eu. – O plano funcionou perfeitamente. – Como posso te ajudar, querida?

            Rachel brindou-a com um doce sorriso.

            - Eu estou grávida novamente. Veja. – Ela mostrou a barriga. – Mas é um segredo. O Burke não pode descobrir. Vão me tirar esse bebê também. E eu preciso ter certeza de que ele está bem. – Mais uma lágrima escorreu pela face antes dela fazer o pedido. – Eu sei que é pedir muito, mas...será que você não me ajudaria a fazer alguns exames? Um segredo nosso.

            Quando Rachel finalmente saiu pela porta da emergência amparada pela enfermeira chefe e com braço enfaixado, todos a olharam. Depois de toda aquela demora já não esperavam vê-la saindo assim, tão saudável, e andando calmamente. Ela sorria e o rosto de Neal refletia o gesto. Ele foi até ela e a abraçou.

- Tudo bem? – Perguntou olhando-a.
- Sim. Só estou um pouco sonolenta pela medicação para dor que me deram. – Ela sorriu para enfermeira. – Muito obrigada por tudo. Você foi muito atenciosa. Não tenho como agradecer.
- Não foi nada. – A mulher respondeu entregando um envelope a Rachel, e logo encarou Peter. – Você está levando a receita de medicamento para a dor. E o atestado para que fique dois dias de repouso. Espero que o FBI respeite isso!

Quando saíram do hospital Peter ainda estava confuso. Porque a enfermeira chefe o encarou daquela forma? E porque ele não respeitaria a indicação para Rachel repousar? Aquela mulher era estranha mesmo.

- Porque demorou tanto tempo lá dentro, Rachel? – Ele perguntou no carro quando foi deixá-los em casa. – Que exames são esses que você fez?
- Nada demais. Coisas de rotina. Eles falaram que eu perdi sangue então resolveram me deixar em observação. Só isso.

A medicação e o cansaço estavam realmente fazendo efeito e Rachel chegou adormecida ao apartamento. Neal a levou no colo enquanto Peter carregava o envelope do hospital. Depois que ela já estava na cama eles se despediram. Mozz os cumprimentou discretamente, com um aceno para não atrapalhar o sono de Rachel.

- Precisa de alguma ajuda? – Peter estava constrangido.
- Não, Peter. Vão tranquilos. Mozz está aqui. A June também se ofereceu para o que precisar. Mas eu acho que ela está bem. Pra falar a verdade...já é tão tarde que só vou me deitar e dormir.
- Eu sinto muito pelo que houve, Neal? Eu realmente não queria que ela se ferisse. – Se fosse Ell, estaria nervoso e reclamando por não ter estado lá para socorrê-la.
- Eu sei. Ela é uma agente treinada, Peter. Eu entendo. Boa noite.

Neal a ajeitou na cama, despindo-a e colocou uma camisola leve. Depois ainda a observou durante alguns minutos antes de voltar a sala. Ela parecia tranquila e sem dor.

- Como ela está? – Mozz perguntou.
- Ela perdeu um pouco de sangue e terá que ficar de repouso dois dias. Eu só fiquei preocupado pelo bebê...porque ela ficou tempo demais na enfermaria. Não pudemos conversar com o Peter por perto. Mas sei que ela está bem.

            Ouviram George se chorar baixinho no berço.

            - Deixa ele comigo, Mozz. Vai pra casa descansar. Obrigado por tudo.– Disse Neal já indo pegar o filho e só ouvindo a porta bater quando Mozz saiu. – Esse resmungo é saudade, filho? Papai e mamãe estão aqui.

            Não demorou muito para George acabar na cama, entre os pais, aconchegado no peito de Rachel. A pequena mãozinha descasava na barriga da mãe. A cena não poderia ser mais bela aos olhos de Neal. Ele também se deitou e ficou ali, tocando, sentindo o bebê. Rachel dormia pesadamente, mas, se alguma forma, Neal sabia que ela sentia aquele carinho. Ela deveria ter passado por momentos difíceis, de muito nervoso ao ser baleada. Era um alívio ver sua família bem.

- Você terá que ser um bom irmão mais velho, George, para sua irmã ou seu irmãozinho. – Brincou com George. – Ajudá-lo a se acostumar com essa vida louca que a gente leva.

Os três dormiram bem juntinhos.

            Neal acordou na manhã seguinte viu que George dormia tranquilamente ao seu lado e ao perceber que Rachel não estava na cama, a lembrança de tudo o que aconteceu lhe veio na mente e não entendeu porque Rachel não estava ao seu lado. Um instante depois a viu se aproximar equilibrando uma bandeja de café da manhã com o braço que não estava machucado.

            - Qual a parte do ‘dois dias de repouso’ você não entendeu? Rachel! Não precisava café na cama e ainda é cedo. Tem que se preservar! Pobre desse bebê aí dentro. Vive apertado na sua barriga, a mãe leva um tiro e nem mesmo uma manhã de descanso na cama consegue ter! – Ele parecia uma matraca reclamando sem parar. – Poxa! Olha o susto que nos deu ontem! Eu tive que chamar o Mozz às pressas e...
            - Chega Neal, e não grita pra não acordar George. Eu estou bem. Nada de ruim nos aconteceu. – Ela o beijou quando a bandeja de café já estava sobre a cama. – E você devia conferir o café da manhã. Aqui tem coisas bem mais interessantes que comida.

            Quando Neal destapou o prato, lá estavam as imagens da ultrassonografia. Ele sorriu observando-as. Seu bebê estava ali, perfeitamente visível nas pequenas imagens. E pelo sorriso de Rachel, estava saudável. Neal puxou Rachel pra cama e a beijou intensamente. Quase não conseguia falar de tanta emoção que estava sentindo naquele momento. Olhou para George e viu um filme passar em sua mente lembrando de quando descobriu que seria pai de um menino e quando recebeu a carta enviada por Rachel, no passado, com o ultrassom do George. Não sabia o que falar, não tinha palavras. Rachel interrompeu o silencio e falou:

            - Tenho 17 semanas fechadas. E você acertou: é uma menina.

            Ele não cansava de olhar a imagem. A família aumentaria logo. Teriam mais um bebê em casa. Muito mais alegria. Mais fraldas. Mais mamadeiras. Mais noites em claro. Mais beijos molhados e sorrisos encantadores. Teriam uma filha.

            Após alguns segundos, Neal falou e agradeceu a Rachel por aquele momento especial que estavam vivendo.

- Obrigada! Eu não sei como você consegue, mas eu sou mais feliz a cada dia ao seu lado. Eu te amo. E eu amo os nossos filhos mais que tudo na vida. – Disse olhando-a. Depois voltou a ficar sério. – Mas isso não muda o fato que você não está repousando. Fica aqui na cama. Foi por isso que demorou tanto ontem? Eu achei que você estava muito machucada.

             - Foi só um arranhão. Eu apenas usei para fazer os exames. Você terá que ir ao hospital pegar os de sangue e nós enviaremos tudo ao Dr. Richard. – Ela tornou a beijá-lo. – Nossa filha está bem. Está perfeita!
            - Ótimo! – Entre outros beijos eles comiam. – Cama! Repouso hoje!
            - Eu não vou ficar na cama por um aranhão no braço!

            Logo George acordou e começou a fazer companhia para os pais, Neal pegou o filho no colo, acariciou a barriga da Rachel e disse:

- E ai meu meninão...agora você irá ganha uma irmãzinha e terá que ajudar o papai viu? Principalmente com os meninos viu! Não vamos deixar nenhum menino chegar perto da sua irmã!
- Filha se prepara que você terá um papai e um irmão muito ciumentos! – Respondeu Rachel no mesmo tom de brincadeira. 

Tiveram um dia preguiçoso com direito a filme e pipoca. Não fizeram absolutamente nada. Apenas namoraram e aproveitaram o dia em família. Era quinta-feira, mas Peter também liberou Neal de ir ao FBI. Nem Mozzie apareceu para não atrapalhar o dia em família.

            E também porque ele tinha outros planos. Foi visitar Ell e Sophia! Conforme a menina disse, Mozz era um amigo seu...só que crescido. No início Ell brincou junto. Mas eles estavam tão bem juntos que ela resolveu adiantar outras coisas que, tendo uma filha, ficavam em segundo plano. Ela lembrou que precisava ir ao supermercado. Mozzie e Sophia passaram aquela tarde de uma forma muito divertida. 

            - Você já jogou cartas, Sophia? – Ele perguntou tirando o baralho do bolso.
            - Não...é uma brincadeira legal?
            - Muito legal! – Ele adorou a ideia de ter uma aluna.
            - É difícil?
            - Não se preocupe! O tio Mozzie vai te ensinar. Você será a melhor.

            Três horas se passaram e Sophia adorou a brincadeira com cartas. Eles ouviram o barulho na porta, mas não ligaram. Devia ser Ell voltando do mercado. Estava tão divertido que eles seguiram no jogo. E Mozzie dava dicas a Sophia.

            - O segredo e saber enganar o outro jogador. – Disse. – Você encara ele como se tivesse a melhor carta. Mesmo que não tenha.
            - Isso não é mentir? – Sophia sempre ouviu que mentir era feio.
            Mozzie pensou no que responder.
            - Sim, é mentir. Mas na brincadeira das cartas pode mentir.
            - Pode?
            - Sim, sim. E sabe qual o melhor jeito de mentir com as cartas? – Os olhos de Mozz brilhavam como os de uma criança que faz uma travessura. – Você ter uma carta escondida na manga. Aí você troca!

            Quando ele lhe mostrava como esconder a carta, ouviram o grito de Peter. Não era Ell quem havia chegado. E Peter não gostou nada de ver Mozz ensinando Sophia a jogar...muito menos a roubar no jogo. Se conhecendo Neal aos 18 anos Mozzie o transformou num dos maiores criminosos do século XXI, do que ele não seria capaz ‘treinando’ alguém desde criança?! Melhor nem pensar.

            - O que isso? Mozzie! Dentro da minha casa! Ensinando crimes para Sophia! Ela é uma criança! Eu devia prender você! – Bradou.
            - Você tem apenas provas circunstanciais, Engravatado. Conheço meus direitos! – Mesmo assim iria se livrar daquelas cartas para não deixar pistas. – E não estávamos apostando nada. Não é crime.
            - Estava ensinando-a a trapacear! Suma da minha frente, Mozz!
            - A palavra trapacear é muito forte para.... – Ele bem que tentou se defender.
            - Saia da minha casa! Agora! Você é péssima influência para Sophia!

            Mozzie não se ofendeu com Peter. Sabia que ele era um tanto rígido com as regras, mas já o tinha ajudado em algumas coisas. Logo fariam as pazes. Ele só não imaginou que seria tão breve assim. Ambos os adultos se assustaram quando ouviram o choro vindo da escada. Sophia tinha o rosto banhado em lágrimas.

            - O que houve, pequenina? – Peter se assustou. – Fale. Porque esse choro?
            - Você tá brigando com o tio Mozz! – Entre alguns soluções ela explicou. – Ele é meu amigo.

            Peter olhou para Mozzie. Ele estava sorridente por ver a menina defendê-lo com tamanho sentimento. Peter não sabia o que fazer. Não ia deixá-la triste por algo tão pequeno. E se eles estavam se divertindo...bom podia deixar passar para não fazer Sophia sofrer.

            - Não chore! – Pediu. – Eu não vou brigar com o Mozz.
            - Nem gritar com ele?
            - Nem gritar com ele. Eu prometo. – Ele a viu sorrir novamente e, sem querer, sorriu também. – Ele pode vir brincar com você sempre que quiser. Feliz agora?
            - Sim. – Era fácil fazer Sophia feliz. – Me pega no colo?
            - Pego. – Como dizer não para ela?


            - Que  ótimo! – Foi Mozz a comemorar. – Semana que vem vou lhe ensinar o jogo dos copos, Sophia! Temos tantas possibilidades! – Mozzie se despediu antes que Peter perdesse a paciência novamente. – Boa noite, engravatado!

            Peter e Sophia continuaram brincando na sala e, quando Ell chegou, ele já estava tão relaxado que nem lembrava do pequeno desentendimento com Mozz. Elizabeth achou linda a cena deles juntos e deixou-os sozinhos. Adorava ver aquele laço de afeto crescer a cada dia.

            - Já está na hora da senhorita dormir, Sophia. – Peter viu que ela estava bocejando.
            - Você me conta uma história? – Ela ergueu os braços pedindo por mais colo. Peter não demorou para pegá-la.
            - Conto...mas eu não sou bom em histórias. Acho que eu nunca contei uma. – Isso seria um problema. – Eu acho que eu lembro da Branca de Neve. Serve essa?

            Sophia sorriu.

            - Pode ser essa sim. Eu gosto do Zangado. – Na verdade ela queria apenas ficar perto de seus pais temporários.

            Apesar de muito nova, Sophia sabia o que acontecia, ao menos em parte. Ninguém lhe dizia que aquela era a sua casa. Então, provavelmente, não era. E logo os Burke também iam abandoná-la. Isso a deixava triste. Peter contou a história, como ele se lembrava, com algumas adaptações. Mas Sophia gostou e isso era o que importava. Quando terminou, a agasalhou bem embaixo do cobertor e ia saindo do quarto a menina lhe chamou.

            - O que foi, Sophia? É hora de dormir.
            - É que eu quero perguntar uma coisa. – Ela estava tímida. – Eu já tive dois papais e duas mamães...mas agora eu não tenho nenhum.
            - Mas você tem a mim, o seu tio Peter, e a Tia Ell. – Ele respondeu.
            - É, tenho vocês...mas eu não posso te chamar de pai também? E a tia Ell de mãe? – Ela o olhou com aqueles olhos que o faziam se derreter. – Deixa? É só de faz de conta. Não precisa ser de verdade. Deixa eu brincar que vocês são meus pais?
            - Deixo, claro que eu deixo...então boa noite, minha filha Sophia. – Peter disfarçou os olhos cheios de lágrimas. – Vamos dormir agora?
            - Vamos! Boa noite, papai.

            Depois que ela adormeceu, Peter voltou para a sala e abriu uma garrafa de vinho para beber com Elizabeth. Podia se dizer um homem feliz. 



            - Ela dormiu fácil? – Ell perguntou.
- Sim. – Peter sorria feito bobo e Ell não entendia a felicidade do marido.

Na manhã seguinte Peter acordou logo cedo antes mesmo da Ell, ajudou Sophia  a se arrumar para a escola e fez um simples café da manhã. Ao acordar, Ell percebeu que Peter não estava na cama e ao ver a hora se desesperou pois tinha que correr ou a menina perderia a hora na escola. Ell saiu correndo direto ao da Sophia e, ao notar que a menina não estava mais ali, seu coração acelerou. Entro em desespero.

Desceu correndo as escadas e não viu ninguém na sala. Correu à cozinha e os viu terminando de arrumar a mesa para o café. Sophia foi até Ell e disse:

- Bom dia, mamãe!

Nesse momento os olhares da Ell e Peter se cruzaram. Ela não sabia o que dizer. Abaixou-se e pegou a menina no colo para abraçá-la e chamá-la como desejou desde o início.

- Bom dia, filha, minha filhinha.

Peter veio e abraçou as duas, sua família agora estava formada e tinha mais um membro: Sofia Burke.
Depois do café, Sofia foi escovar os dentes e seus pais foram se preparar para o trabalho. Enquanto se arrumavam, conversavam:   

- Ela já é nossa. Eu sou a mãe dela desde o dia que decidi que ela ficaria conosco, Peter. E você é o pai de Sophia desde aquela tarde em que fomos buscá-la. Até Satchmo já decidiu que é o cachorro dela. A Sophia pertence a essa família, Peter Burke. 

- Devo entrar com os papéis solicitando a guarda definitiva, então. – Não era uma pergunta.
- E como diria o Mozz: vejamos se algum Engravatado tentará me afastar de minha filha! – Ell encerrou o assunto.

            Se a quinta-feira mais pareceu um sábado de folga, a sexta não poderia ser assim. Neal foi trabalhar. E mesmo sabendo que Rachel estava bem, passou o dia todo inquieto. Era estranho estar no FBI e não vê-la, apressada e concentrada, trabalhando em um caso. Ela jamais iria reconhecer, mas aquele lugar tinha a cara dela. Quando já passavam das 17hs, foi até a sala de Peter. Ele passou o dia pensativo, de bom humor, mas estranho. Não se abriu com ninguém.

            - Tudo bem, Peter? – Ele disse batendo à porta.
            - Sim, tudo. Está calmo, não? Já é clima de final de semana.
            - É...não vai me contar porque está tão pensativo?

            O fato de Sophia agora chamar ele e Ell de ‘papai e mamãe’ o estava preocupando. Era bom, era bonito, mas nomeava o que eles eram um para o outro e tornava oficial o que viviam. Ele simplesmente não se via mais vivendo sem aquela criança. E isso mudava todos os planos que tinha na vida. Mas não queria discutir isso com Neal.

            - Deixa pra lá. – Tinha outro assunto de que desejava falar. – Agora que as coisas se acalmaram...porque não me conta porque a Rachel te deixou com um vergão no rosto?
            - Ciúme. – Neal riu. – Ela parece que tem um radar pra pegar qualquer coisa, qualquer olhada minha em outra mulher. E se eu mentir então?!?! É pior que o FBI! Ela sabe perceber se eu minto!
            - Eu queria que a Rachel me ensinasse isso! – Peter riu alto. – Sua mulher é esperta e possessiva. Combinação perigosa.
            - Você é o único que se refere a ela como ‘minha mulher’. Os outros falam que ela é a namorada de Neal Caffrey!
            - Ora Neal...não sou tão conservador quanto posso parecer. Você não colocou um anel no dedo dela, mas a trata como sua mulher. Vocês vivem juntos, decidem a vida como um casal, têm o George. Ela é a sua mulher! Por mais que eu ache que é a pior escolha que você poderia fazer, afinal ela o leva de volta ao crime. Mas foi a sua escolha.
            - Eles são a família que eu sempre quis. – Era uma resposta sincera. Sempre sonhou com aquilo.
            - Então avise sua mulher que ‘a família’ está intimada para um jantar amanhã a noite, lá em casa. Todos os do outro jantar, no seu apartamento, vão. Diana e Mozz também. Levem o George.
            - Legal. A Rachel vai...espera...você falou TODOS que foram no outro jantar? Sara? Diz que não! – Era só o que lhe faltava.
            - Sara também, claro. Mas Henrique irá. Eu mesmo liguei pra ele. Ela não ficará no seu pé. Acho que a Rachel foi bem convincente no último. – Ele observou a expressão de Neal. – O que há?
            - O que há? Há que a causa do vergão no meu rosto se chama Sara Ellis! A Ell não te contou? Aquele dia das compras, Rachel viu eu almoçando com Sara e me esbofeteou! Nós não iremos, Peter. Melhor assim. Rachel precisa de repouso mesmo.
            - Dois dias é mais que suficiente para um tiro de raspão no braço! Vocês vão sim...Sara é um mulher de classe. Não fará uma cena.

            Neal pensou um pouco.

            - Assim espero. A Rachel arranca meu couro em tiras, da forma mais doloroso possível, se desconfiar que eu cheguei perto da Sara. Que droga! Não quero outra briga por ciúme!
            - Esse crédito eu tenho de dar à Rachel, Neal. Ela colocou em você uma coleira muito mais eficaz que a do FBI! – Neal jamais assumiria, mas era verdade. – Relaxa Neal. A Ell também é ciumenta. Eu sei como é. E nós morremos de medo de ficar sem elas. Eu lembro de quando começamos a trabalhar juntos. Você adorava me dar ‘dicas’ de como manter o casamento. Agora está vendo como é difícil?
            - Muito, realmente difícil. Você estava certo.
            - Conquistar uma mulher a cada dia é fácil, Neal. Para alguém com o seu rosto, ainda mais. Manter um casamento com a mesma mulher, isso sim é difícil. Eu vou pra casa. Encontro vocês amanhã, às 8 horas.

            Neal também foi embora e no caminho, lembrando das palavras de Peter, pensou que já fazia algum tempo que não tinha nenhum gesto romântico. Se estivesse conquistando Rachel, já teria lhe enviado flores essa semana. No caminho pra casa, escolheu um boque. Quando ia pegando as tradicionais rosas vermelhas, avistou um arranjo mais exótico. Flor de lis, vermelha, simbólica e perfeita para a mulher diferente de todas as que conheceu.


            - Uau!!! – Rachel se surpreendeu quando viu o presente. – O que eu fiz para merecer as flores?
            - Entrou na minha vida. – Ele realmente estava no modo conquistador naquela noite.- A Flor de Lis representa luz e perfeição.

            Eles se beijaram e decidiram que pular o jantar era algo plenamente possível. Até George colaborou e eles puderam desfrutar da noite de amor e paixão e, por fim, descanso. Uma noite de sono, tranquila, encaixado nela, abraçadinhos, era tudo o que Neal queria. E eles aproveitaram bem.
            Aproveitaram...até as 2h25min da madrugada. Quando Rachel o sacudiu pelo braço até fazê-lo acordar.

            - Nossa, amor...você já quer mais. Eu ainda nem me recuperei para uma segunda rodada. – Dizem que eram os hormônios, mas ela andava ainda mais insaciável.
            - Não é isso! Acorda, Neal.
            - O que é?
            - Eu estou com desejo! E não é sexual! – Já explicou logo para ele não ter mais ideias. – Eu quero sorvete, Neal! Nós queremos. Eu e a bebê precisamos de sorvete. Necessitamos.  Muito sorvete! De pistache! E não tem na geladeira!

            Ela o deixou zonzo de tão rápido que falava.

            - Rachel...não dá pra esperar? É madrugada.
            - Neal! É desejo de grávida! Vai nos negar isso? – Isso era chantagem emocional, ela sabia, mas o desejo era tão grande que valia o esforço. – Por favor! Pela nossa filha.
            - Ok, ok...eu só não sei onde eu irei encontrar sorvete de pistache as 2h30 da manhã! Mas eu vou procurar. Se acalme.

            E ele realmente procurou, com afinco, em todos os estabelecimentos que encontrou. Mas sorvete de pistache não era o favorito dos moradores de NY. Na verdade, eram raras as pessoas que gostavam. Como ele iria encontrar algo assim? Ninguém tinha à venda! Claro, afinal, ninguém comprava! Provavelmente Peter era o único que comia esse sabor de sorvete. E, para agradá-lo, Ell fazia e...e mantinha no freezer de casa! É isso! Elizabeth certamente tem sorvete de pistache em casa.

            Sem se importar com o horário, ligou para o celular de Ell e deixou tocar até que ela atendeu. Não ligou para a voz mal humorada e de sono. Ela iria entender.

            - Você precisa me ajudar Ell. É caso de vida ou morte!
            - O que é, Neal? São 3h30 da manhã! – Ela sussurrava. Sinal que Peter não tinha acordado.
            - Você tem sorvete de pistache em casa? A Rachel quer. É desejo! Por favor, diz que tem! – Ele implorou.
            - Ouuuu. Sim, tenho. Sempre tenho. É só vir pegar. – Ela tinha entendido a gravidade do caso. – Vou te esperar na sala. Não aperte a campanhinha.

            Deixando Peter dormindo, Ell foi até a cozinha e tirou do freezer um grande pote de sorvete de pistache. Desejo de grávida era realmente algo especial. Esperou na sala até que Neal chegou e pegou a encomenda.

            - Obrigada, muito obrigada. A ‘família Caffrey’ agradece’. – Ele disse e logo saiu com a encomenda.
            - Ok. Vá logo, antes que derreta!

            Rindo da situação, Ell voltou para o quarto. Ela só não esperava encontrar Peter acordado e caminhando em direção a porta.

            - O que aconteceu? Eu ouvi a voz do Neal!
            Ela teve de pensar rápido. Em hipótese alguma poderia dizer a Peter que Neal veio em busca de sorvete, muito menos que era desejo de grávida. Na verdade, precisava ser uma mentira muito bem contada para enganar Peter.

            - Sim...Neal esteve aqui. – Não poderia negar.
            - E porque? É madrugada, Ell! O que o Neal queria na nossa casa? – Seria possível que Neal passaria a vida lhe guardando segredos?

            - Nada de im...
            - Ell! Eu não sou idiota! O que o Neal queria?
            - Conselhos! – Foi a primeira coisa que lhe ocorreu.
            - Conselhos?! Neal Caffrey queria conselhos seus? Às 4hs da madrugada?
            - Sim...ele...ele quer pedir Rachel em casamento e queria minha opinião sobre o momento mais adequado.
            - E esse ‘conselho matrimonial’ não podia esperar até amanhã?
            - Não. Ele não estava conseguindo dormir e...
            - E aí veio estragar o nosso sono...ok. – Só Neal mesmo. – Vem, vamos dormir! Neal e Rachel noivos! Era só o que faltava! Podiam trocar algemas ao invés de alianças!

            Rachel lambeu até a última colherada de sorvete. Parecia que daquele doce dependia sua vida. O relógio marcava 5h11 minutos quando ela largou o pote na pia da cozinha e foi deitar. Feliz e satisfeita, agradeceu com muitos beijos adocicados. - Obrigada! Nossa filha não nascerá com cara de pistache!

- Foi Ell quem nos salvou. Eu não achava em lugar algum. - Eu telefonarei pra ela para agradecer. - Não precisa. Poderá fazer isso pessoalmente. Eles organizaram um jantar amanhã. – Ele olhou o relógio. – Hoje, tecnicamente. 

Ele lhe contou o que sabia do jantar, inclusive os possíveis convidados. Mesmo não gostando nada da ideia, Rachel concordou em encontrar Sara mais uma vez e prometeu evitar brigas na casa de seus amigos.
 - Nossa filha já passou por muito nervoso. Quero que você fique calma e ignore a Sara.
 - Se você não ficar dando atenção à ela, ok, eu ignoro.
- Eu não dou atenção para a Sara desde o dia que te conheci. Ela não toma mais nem um minuto dos meus pensamentos. – Com mais um beijo, ambos dormiram sabendo que logo o sol brilharia e George não ficaria no berço por muito tempo.  

            Cansados, eles ficaram em casa até a hora de ir à casa de Peter e Elizabeth. A casa ficou cheia. Além de Neal e Rachel, Diana, Mozz, Henrique e Sara compareceram. Para a alegria de Sophia, George engatinhava para todos os lados e Teddy dava alguns passos e caía sentado. Tudo sob  olhar atendo de Satchmo.

            - Mamãe! Mamãe! Eu quero o doce de chocolate! – Sophia gritou entrando na sala.
            - Ele é a sobremesa, Sophia. Depois do jantar. – Ell respondeu sabendo que Peter já tinha contrabandeado uma porção do doce e dado à ela durante a tarde.

            A menina voltou a brincar com os bebês e todos olharam para Ell e Peter. A família deles tinha mudado muito desde o último jantar.
            - Mamãe? – Sara externou o que todos pensavam. – Ela já te chama de mãe?
            - Sim! – Toda orgulhosa, Ell respondeu. – E Peter de pai. Nós já entramos com o pedido de guarda definitiva. Não vou entregar minha filha!
            - É isso aí, Sra. Engravatada! – O ato de Elizabeth fez com que Mozz gostasse ainda mais dela. – Se os meios legais não funcionarem, me avise. Posso ajudar nos alternativos.
            - Não será necessário falsificar nada! – Peter tratou de dizer. – Sophia será nossa filha legalmente.

            Durante todo o jantar, Neal se manteve distante de Sara. Tudo para evitar uma briga. Não que tenha sido um sacrifício. A maior parte do tempo ele passou acariciando os cabelos de Rachel e perguntando se ela estava bem. Como há dois dias ela levou um tiro e ainda tinha o braço enfaixado, ninguém desconfiava de nada. Aos olhos de Peter, Neal era apenas um homem apaixonado mimando a mulher que amava e que, recentemente, viu em perigo.

            - Tudo bem? A cinta não está te apertando muito? – Sussurrou no ouvido e Rachel.
            - Não, tudo bem. Só não quero ficar até muito tarde para tirar logo.
            - Sim, voltaremos cedo. Depois do jantar, diga que está com dor no braço. – Tinham a desculpa perfeita. – Vou adorar tirar a cinta e todo o resto.

            Já à mesa, todos comiam e tinham conversas amenas. Henrique contou que estava cuidando de outros casos da MI5 ali e existia a possibilidade de ficar no escritório deles nos EUA, não retornando a Inglaterra.

            - Quando encerrarmos o caso do tráfico, decidirei. – Ele era um homem agradável e vinha mostrando interesse em Sara. Ela era a causa de querer ficar.
            - Parece que a Inglaterra já foi mais interessante. Primeiro Sara, agora Henrique. – Ell brincou.
            - Ou Sara veio em busca de algo que desejava muito. – Rachel provocou e Neal a olhou feio.

            Sara estava apenas esperando para mostrar as garras. Essa era a oportunidade perfeita.

            - Pode ser, Rachel. Pode ser que eu tenha deixado aqui algo muito importante e queira de volta.
            - Boa sorte na busca! Vai precisar! – Rachel a fuzilou com o olhar.

            Peter ficou preocupado com o rumo que o jantar estava tomando. Pensou que, talvez, Sara precisasse ver o quanto Neal estava comprometido com Rachel. Seria indiscreto, talvez, mas era por uma boa razão.

            - Neal, já fez o pedido? Será um noivado longo? – Peter se levantou e ergueu a taça. – Vamos fazer um brinde ao nosso casal de colaboradores do FBI que logo oficializarão a união.
            - Neal! – Diana gritou. – Você não nos avisou.
            - É Neal...você não avisou. – Mozzie sabia que havia algo de errado.

            Todos olhavam para Neal. Sara estava pálida e séria. Os outros sorriam. Rachel tentava disfarçar a felicidade. Neal não entendeu nada. Só Ell tinha ideia da onde Peter tirou aquela infeliz ideia.

            - Desculpe a nossa indiscrição, Neal. É que eu contei ao Peter da nossa conversa sobre a sua vontade de pedir Rachel em casamento. – Ela via nos olhos de Neal que ele não entendia nada. Teria que lhe dar uma dica. – Você iria esconder o anel numa taça de sorvete.
            - Ouuu claro. Só que eu não tinha pedido ainda. – Ele olhou para Rachel e percebeu que não poderia regredir. Ela sorria lindamente. – Na verdade eu nem comprei o anel ainda. Era pra ser uma surpresa...mas...

            Ele se levando e decidiu fazer o que tinha de ser feito:

            - Rachel Turner, você aceita se casar comigo? – Saiu meio gaguejado. Mas ele disse.
            - Sim, claro que sim! – Ela respondeu antes de puxá-lo pela gravata e beijá-lo sob aplausos.

            Apenas uma pessoa à mesa não bateu palmas.

            Depois de jantarem, todos ficaram na sala para beber um café. As crianças já haviam adormecido no andar de cima. Diane, Henrique e Peter conversavam sobre casos do passado e Neal foi chamado para participar.

            - Vá! – Rachel disse. – Vou lá encima ver se George está bem e já venho. Aí, bebemos um café e nos despedimos.

            Ela foi até o quarto de Sophia. E viu as três crianças dormindo tranquilamente. A menina em sua cama. E os dois bebês adormecidos sobre vários cobertores colocados no chão. Estavam bem. Quando saiu do quarto, viu Sara fechando a porta do banheiro.

            - Veio conferir quantas calorias ganhou no jantar? – Rachel provocou.
            - Não, não preciso. Mantenho a forma naturalmente. Já você, Rachel...está bem gordinha. E o Neal, sempre em forma e com o abdome malhado, deve achar horrível.
            - Olha...ele não costuma reclamar. Mas hoje a noite..depois de ter um orgasmo fabuloso, eu vou perguntar pra ele. E sim, caso você esteja se perguntando, Neal continua com aquele abdômen pecaminosamente delineado. E eu o beijo, lambo e mordo todos os dias. Porque ele é meu. Eu posso!

            A raiva borbulhou nos olhos de Sara. Ela lembrava bem como era beijar aquele abdômen.

            - Ele te contou do nosso delicioso almoço? – Sara olhou para os dois.
            - Sim, ele contou. – Ela daria uma resposta que Sara jamais esqueceria. – A diferença entre eu e você, Sara, é que você o Neal fazia de idiota o quanto desejava. Você estava mais preocupada em recuperar aquele Rafael do que em cuidar do seu homem. Eu, não. Eu sei quando MEU homem mente. Então, ele não tenta me enganar. Por isso eu sei que o Neal não a quer, por mais que você se ofereça a ele.
            - Você não merece o Neal. É uma assassinazinha. Você não vale nada! – A loira gritou.

            Rachel se aproximou, prensando-a na parede.

            - Nisso você está certa. Eu não valho nada. Eu não mereço o Neal. E eu sou uma assassina. E com tudo isso, ele me quer. Ele é meu! – Ela sussurrava no ouvido de Sara. – Não se esqueça disso na hora em que tiver vontade de tirar a calcinha para o meu homem. Eu estou cansada de te avisar.

            - O que você está sugerindo?
            - Não estou sugerindo! Estou avisando! Na próxima, você vai levar a maior surra da sua vida!
            - O Neal sabe que você ameaça as pessoas?
            - Sabe! E ele sabe que eu cumpro as ameaças! É uma das coisas que ele ama em mim.

            Rachel ainda tinha algumas coisas para dizer à Sara, mas Elizabeth a interrompeu. Rachel desceu parando apenas para se desculpar com Ell pela cena feita ali. Elizabeth ficou com Sara, que tremia dos pés a cabeça, de choque, raiva e ódio, e levou-a até seu quarto. Teriam uma conversa séria.

            Quando chegou à sala, Rachel chamou Neal. Ele percebeu que algo errado tinha ocorrido e ao olhar em volta e não ver a ex, soube exatamente o que foi.

            - Pega o George e vamos? Meu braço dói.

            Rapidamente se despediram de todos que estava ali. Peter disse que chamaria Ell, mas Rachel afirmou que era desnecessário por ela estar ajudando Sara. E era verdade. Por mais que a agente de seguros não gostasse daquela ajuda.

            - Eu achei que você fosse minha amiga também! – Ela gritou para Ell.
            - Eu sou! E vou adorar quando você encontrar um homem com quem queira passar a vida. Mas não vou apoiar as suas ridículas tentativas de separar o Neal da Rachel! Pense, Sara! Eles têm um bebê!
            - Ela não serve para ele! É uma criminosa. Uma assassina.
            - Ela faz bem a ele. Basta Sara! Você está se humilhando por um homem que não te quer. Nem mesmo o Neal vale algo assim. – Ell sabia que no fundo Sara era uma boa pessoa. – E pare de dizer que Rachel está gorda e que Neal não irá desejá-la mais. Primeiro porque é idiota! Eu já estive bem acima do peso e Peter não me deixou por isso. E Rachel não está gorda.
            - Como não? Ela está bem barri... – Não?!?!?! Não podia ser?!??! Ela não podia estar grávida. – Esse menino não tem nem 1 ano! Ela não está!
            - Está, Sara! E eu não deveria estar te dizendo isso. Só disse para você entender que é ‘fim de linha’ para você e Neal. Se você tivesse visto a alegria dele pela chegada de outro bebê. Neal está realizado, Sara. Respeite isso. Eu te peço.

            Uma lágrima escorreu pelo rosto de Sara.

            - Está bem. Eu não farei nada. – Ela limpou o rosto. – Henrique me convidou para sair. Vou aceitar.
            - Ótimo. Vamos descer então? – Elas foram até a porta. – Mais uma coisa, Sara: Peter não sabe da gravidez. Poucas pessoas sabem e você guardará esse segredo em nome da nossa amizade e do sentimento que tem por Neal.
            - Está bem. – Ela decidiu que manteria a palavra.

            Enquanto o jantar continuava até bem tarde na casa dos Burke e George já repousava em seu berço, Rachel fazia questão de comemorar seu noivado surpresa. Naquele momento Neal estava amarrado a cabeceira da cama com duas gravatas e ela tirava a lingerie sensual que usava.

            - Sabe como é difícil encontrar calcinhas e sutiãs de gestante que sejam sexy? É muito, muito raro. – Rachel disse.

Ela desceu por seu corpo deixando uma trilha de beijos pelo peito, depois em cada gominho do abdômen, até encontrar o chamado ‘caminho da felicidade’ e segui-lo, com muito prazer, para livrá-lo da cueca que usava e se deliciar no pênis que pulsava.

- Sabe por que, minha Afrodite? – Ela raspou os dentes nele e Neal gritou. – É que não existe nada capaz de te deixar mais sexy. Nem renda, nem cetim. Minha filha fez você alcançar o limite da perfeição.

Ela continuava acariciando-o com a boca, língua e dentes. Neal urrava. Logo perderia o controle. Ia desmoronar nos lábios dela.

- Chega, Rachel! Chega! AAAAA! Eu vou gozar! Para! AAA!!! Puta que pariu! – Neal nunca falava palavrões. Rachel adorou ouvir a prova do seu descontrole.

Infeliz ou infelizmente, Neal não gozou na boca de Rachel. Quando ela se deliciava de olhos fechados, viu-se sendo girada do ar. Neal havia se soltado da cabeceira.

- Quando eu quero muito algo, nem mesmo um nó de Diaba Ruiva me segura. – Seu sorriso era safado e guloso. – Agora você é minha!
- E o que você quer? – Neal a deitou apoiada sobre os travesseiros. Estava confortável e sedenta por ele.
- Quero tudo. Você inteira. – Ele beijou seus seios e sentiu-a se arrepiar. – Mas vou começar com eles.
Neal lembrava-se do tempo em que saía com modelos que usavam sutiã 36 e adorava. Achava aqueles peitos empinadinhos lindos. Agora, olhando e, principalmente, tocando a fartura de Rachel, não entendia como. Seus seios estavam grandes e pesados. E ele adorando essa fase. Na verdade, aquela mulher o tinha mudado completamente. Qualquer outra parecia não bastar.
Devolveu cada carinho que ela lhe deu. Beijou a barriga, exposta e redonda como apenas na intimidade do lar podia expor. Colocou dois dedos dentro dela e a ouviu gemer. Seus músculos o apertavam. Com a boca, a provocava mordendo-a no colo e nos seios.
Neal tornou a inverter as posições e deitar de costas na cama para ela sentar-se sobre ele e, cavalgando-o, pudesse controlar a força e a profundidade com que a penetrava. A gravidez já estava um tanto avançada e queria saber até onde ela se sentia confortável. Com as mãos sobre as dele, Rachel controlou a relação com bem quis e gritou sobre o peito dele quando o sentiu explodir em gozo dentro dela.
- Você ainda me mata, Neal. – A respiração acelerada.
- Eu te acompanho ao céu ou o inferno, por apostar.

Rachel se deitou de lado na cama. Precisava recuperar as forçar. Neal ainda ficou parado mais algum tempo e quando se mexeu foi para lhe mordida na parte interna da coxa pouco antes de abraçá-la por trás.
- Você adora me morder nas coxas e na bunda, Caffrey.
- Correção, Turner: eu adoro as suas coxas e a sua bunda. Com ou sem mordida.
- Essas foram as primeiras coisas que você gostou em mim? – Ela adorava o fato de satisfazê-lo.
- Não. Eu notei primeiro, lá no museu, o quanto você é inteligente e apaixona por história...as coxas e a bunda foram a segunda coisa. – Abraçando-a apertado Neal notou que ela estava caindo de sono. – Boa noite.

O domingo prometia ser de paz e descanso. Neal acordou achando que o único problema que teria seria correr a uma joalheria para comprar um anel de noivado já que sua mulher e os colegas de FBI acreditavam que ele tinha resolvido se aconselhar com Elizabeth e pedir Rachel em casamento.

- Será que eu estou pronto pra isso? – Ele disse falando sozinho enquanto preparava o café da manhã às 10hs.

Mas esse seria o último dos problemas naquele domingo. Eles foram chamados às pressas no FBI. A equipe completa. E, o pior, não foi Peter quem exigiu a reunião. O comando fora dado pelo agente Edbert Shepherd, da MI5. Isso garantiu o mau humor de Rachel.

- Inferno! Estou cansando, Neal. – Ela desabafou. – Cansando do papel de cadelinha que sai correndo a cada chamado da MI5. Esse acordo era eu trabalhar para o FBI! Não a MI5 me controlar!
- Calma! Vamos ver do que se trata.

Eram treze horas quando as equipes do FBI e da MI5 se reunião na sala de Peter. Ninguém tinha uma boa expressão no rosto. Era domingo e todos queriam estar em casa. Mas Henrique e Shepherd pareciam mais preocupados.

- O caso de tráfico de crianças teve algum avanço? – Diana pressionou.
- Não! É outro caso. – Ele respondeu.
- Shepherd, não posso ficar assumindo todos os casos que você juntar interessante usar a Rachel! É impossível. – Peter também já estava cansado.
- Dessa vez, Peter, não fui eu quem resolveu envolver Rachel no caso. Foi o criminoso!
- O que? – Foi Peter a falar. Mas todos estavam e choque.

Shepherd colocou uma foto do monitor da sala e disse apenas um nome. O resto deixaria para Rachel explicar.


- Conheçam Joseph Harabo. Fugiu há 24hs do uma prisão de segurança máxima na Espanha. Apresente Harabo aos seus colegas, Rachel. Ninguém melhor do que você para isso.

            - Não sei o que isso tem a ver conosco do FBI, mas ok. Joseph Harabo tem acusações na França, Espanha e Inglaterra e Turquia. Os crimes variam desde tráfico de drogas e sequestro, até assassinato e tortura. Foi condenado a prisão perpétua há 6 anos. É isso. Encontrem-no!
            - Continue, Rachel! – Shepherd disse. – Tem mais algumas coisinhas aí. Porque eu pedi que você o apresente?
            - Provavelmente porque fui eu a prendê-lo.
            - E? – Neal já estava apavorado com o restante daquela história. Peter também pressentia coisas desagradáveis.
            - E acusei-o de envolvimento na morte de meu pai. Nunca consegui provar. Mas sei que ele tem responsabilidade nisso. Mas provei outros dois assassinatos e o prendi. Armei uma emboscada e o peguei.
            - Não antes de... conte tudo, Rachel. - Edbert Shepherd pressionou.
            - Ele não se entregou por bem e nós lutamos, só nós dois. Ele tirou minha arma, eu tirei a dele. Trocamos alguns murros. Eu lhe dei algumas rasteiras. Ele tirou uma faca do bolso e tentou me ferir. Eu lhe tomei a faca e o navalhei. Quando acordou no hospital, Harabo só teve tempo de olhar a cicatriz que ia do pescoço ao ombro antes de ir ao presídio. Eu fiz pouco perto do que ele merecia.
            - E ele foi condenado no julgamento e sempre jurou vingança a você. – Shepherd disse.

            Não era uma história agradável de se ouvir e todos na sala trocavam olhares preocupados. Bandidos obsessivos não era novidade para ninguém ali, mas reconheciam que Harabo não parecia ser do tipo que esquecia ameaças.
            - Mas isso faz seis anos! – Peter tentava entender as evidências que tinham. – Ele não esperou tempo demais, não?
            - Nesse meio tempo Rachel traiu a MI5 e ficou usando nomes falsos por anos. Depois fugiu do FBI e também ninguém sabia o seu paradeiro. Agora ele tem onde encontrá-la. Saíram algumas notícias de Rachel Turner na Espanha. O curioso caso da assassina que trabalhava para o FBI agora.
            - Isso são suposições! – Jones se manifestou. – Vocês não podem afirmar que ele viu essas notícias.
            - Infelizmente temos provas. – Henrique falou. E colocou outra imagem no monitor. Era uma foto da cela dele.  – Se você observar o jornal sobre a cama, verá que a página é estampada por uma foto de Rachel. Ele deixou exatamente assim. Como um aviso do que faria.

            Neal perdeu a paciência.

            - E, sabendo disso, do risco, vocês vieram aqui para levá-la a Europa participar de uma caçada a esse lunático? – Era inacreditável.
            - Não, Neal. Não é isso que a MI5 quer. – Rachel falava com a tranquilidade de quem sabia exatamente como jogar aquele jogo. – Eles querem que eu sirva de isca. Que deixe o meu pescoço bem amostra para o Harabo  se sentir tentado a vir devolver a facada.

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