quinta-feira, 1 de maio de 2014

Dupla Perseguição - Capítulo 41




            Exatamente como Nicolle previu, não foi difícil convencer o Dr. Richard a vir lhes fazer uma visita em New York.

            - Muito prazer em conhecê-lo. – Neal lhe disse estendendo a mão ao homem que ele nunca tinha visto, mas jamais esqueceria da voz dizendo que ‘era um menino’ que Rachel esperava. – Precisamos da sua ajuda.

            O médico sorriu e ouviu atentamente quando o jovem casal a sua frente contou que estavam grávidos novamente e, mais uma vez, a situação era muito peculiar e não podiam ir a um hospital comum. Neal e Rachel começaram explicando pacientemente seu instável acordo de permanência no FBI, que precisavam que ele a atendesse em segredo e trouxesse em segredo um bebê ao mundo. E, depois garantiram que se fizessem de forma responsável, nada de ruim ocorreria.

            Ficaram calados aguardando o médico já idoso se manifestar.

            - Então minha querida amiga Nicolle, sabendo que a situação era delicada, falou para vocês me ligarem. Disse que provavelmente eu não iria me importar de arriscar minha carreira por enganar ao FBI e a justiça americana ao participar de uma fraude. É isso?

            Neal e Rachel se entreolharam.

            - Sim, basicamente é isso. – Neal respondeu.
            - O que posso dizer? Nicolle realmente me conhece bem. – O médico sorriu. – É claro que eu ajudo vocês. Rachel, eu estou aposentado há quase uma década! É só você quem traz agitação à minha vida! De quanto tempo você acha que está?

            Uma consulta quase tradicional ocorreu. O médico a examinou da melhor forma que pode sem estar em um consultório médico. Conforme lhe disse, dessa vez ela não havia caído de nenhum porto ou levado um tiro. Então já estava em uma situação melhor.

            - Rachel, pelos sintomas e pelo que me falou, eu diria que você tem mais de 3 meses de gravidez. Isso é muita coisa. O aconselhável é fazer uma ultrassonografia. Só que aqui em NY  eu não tenho acesso a nenhuma clínica. Levantaria suspeitas.
            - Não, não. Nada que levante suspeitas. – Ela respondeu.
            - Mas você precisa. Além disso, quero um exame de sangue completo! Eu aposto que desde que deu a luz ao menino, você passou longe de médicos! – Neal ria ao observar como Rachel respeitava aquele homem que, aparentemente, a conhecia bem. – Alguma chance de você ir novamente a Guttenberg?
            - Nenhuma. – Ela mostrou a tornozeleira. – Eles monitoram onde eu vou.
            - Nós encontraremos uma forma. – Neal garantiu ao médico antes de se despedirem.

            Na casa dos Burke, a chegada de Sophia era muito aguardada. A obra no quarto não estava 100% pronta, mas já tinham comprado muitos brinquedos. Só faltava a criança para brincar. Elizabeth arrastou Peter até o abrigo onde a menina ficou e o fez participar de tudo. Peter teria que vivenciar a experiência! Ela gostava de pensar nisso como um tratamento de choque para a aversão de Peter Burke contra crianças.
            - Sorria, querido! Você é um ‘pai temporário’. – Ela lhe disse na entrada.

            Alguém como Ell, que não conhecia Sophia, podia julgar que ela estava muito bem para uma criança que foi retirada de casa e dos pais. Ela não chorou, não fez perguntas. Comportou-se como uma pequena dama de 5 anos. Só que Peter conheceu Sophia. E sabia que aquela menina calada e triste não era nem sombra da garotinha que convidava a todos para participar de suas brincadeiras. Vendo-a, uma angústia tomou conta de Peter. Queria fazer algo de bom por aquela criança.

            - Oi, Sophia. Você lembra de mim? – Ele se abaixou a frente da garotinha.
            - Sim, é o Peter...você esteve na minha casa.
            - Sim, isso mesmo. E eu vim te buscar para conhecer a minha casa. O que acha? – Ell observava a cena com lágrimas nos olhos.
            - Por que? – Ela estava desconfiada
            Peter pensou antes de responder. Aquela menininha só precisava de um pouco de incentivo para sorrir.
            - Está vendo essa moça aqui do meu lado? – Ellizabeth também se abaixou para ficar de frente para Sophia. – Você pode chamá-la de Ell. Ela é minha esposa. E nós temos um quarto cheio de bonecas esperando pelo chá das 5hs. O que acha?
            - Eu quero conhecer elas. – Viram um sorriso no rosto da menina. E Peter não se surpreendeu no quanto aquele sorriso lhe fez bem.
           
            A semana no FBI foi pesada, cheia de trabalho. Mas foi mais leve graças ao espírito de todos. Havia um ar de esperança na equipe. Neal e Rachel continuavam tentando enganar a todos e esconder a gravidez que estava cada vez mais visível. Mas a cada dia que passava, era um dia a mais que conseguiam. Peter voltava para casa feliz por saber que encontraria Ell sorrindo e nem mesmo a certeza de que ela estava se apegando demais naquela criança que não era deles conseguia lhe tirar a alegria.

            - Você está sorrindo Peter! – Neal observou. – É raro isso! O que foi?
            - Nada...só lembrando que eu tenho que passar numa padaria antes de ir pra casa porque prometi para a Sophia lhe levar um doce hoje. Dá pra acreditar?
            - Sim! Acredito! Pelo jeito ela está se adaptando bem.
            - Muito! Bem demais talvez! E nós também. Até o meu cachorro parece que aceitou Sophia como parte da família. Satchmo dorme na porta do quarto dela, como um cão de guarda! Fica cuidando dela. Será doloroso ter de entregar Sophia no final de tudo. A Ell vai sentir a falta.

            Neal se despediu e saiu da sala guardando para si o pensamento de que Satchmo e Elizabeth não eram os únicos a estarem apegados a Sophia. Mas achou que ele deveria perceber isso sozinho.

            Naquela noite, em casa, Neal viu Rachel se observando no espelho. Estava linda. A pele mais brilhante, o corpo mais arredondado. Ela, no entanto não estava tão satisfeita. Todas as manhãs, Rachel trocava várias vezes a roupa antes de escolher uma que disfarçar-se a barriga. Bobagem! Por enquanto, a menos que olhassem com muita atenção para seu ventre, não perceberiam.

            - Vem jantar, Rachel. – Ele a chamou antes que a comida esfriasse e ela ficasse ali se analisando.
            - Não. O jantar está cancelado! – Ela disse colocando uma camisola curta sobre o corpo.
            - Por que? – Ele tinha preparado um prato leve já para ela não reclamar.
            - Porque eu não posso, não devo e não quero engordar! – Estava decidida a não dar atenção ao cheiro delicioso que vinha da cozinha. Além de tudo, Neal ainda cozinha bem.
            - Rachel...
            - Nem começa, Neal! Não dá! Eu vou deitar. – Ela respondeu e ele soube que não adiantaria criar uma briga.

            Com Rachel, o calor do momento era sempre o pior instante. Ela precisava de um segundo, um respiro, para ver pelos próprios olhos o que estava à sua frente. Usando de toda a paciência e pensando que lhe devia a dedicação que não deu quando George estava sendo gerado, deixou o jantar de lado e preparou dois copos de vitamina de fruta. Levou até a cama sabendo que ela estava acordada. Ninguém conseguia dormir com fome e Rachel não era o tipo de mulher movida a folhas de alface. Ela gostava de comer e mantinha a forma com muitos exercícios físicos. A queima das calorias ele podia providenciar, inclusive de formas bem criativas e satisfatórias.

            - Amor...mudei o cardápio. – Segurou o copo na sua frente até ela pegar. – Minha filha não pode ficar com fome.
            - Filha? – Ela bebeu um gole e lhe sorriu. – Tá gostoso. Você já decidiu isso?

            Neal lhe tocou a barriga.

            - Não sei. Mas acho que é uma menininha sim. Minha filha. – Ele lhe beijou a barriga levemente. – Que precisa estar bem alimentada!
            - Obrigada! Eu estava com fome sim. – A expressão dela ficou doce e triste ao mesmo tempo. – Já está aparecendo, Neal. Minha barriga já está aparecendo! Eu vou entrar em uma dieta rigorosa. Rigorosíssima! Vou pedir para o Richard algumas cápsulas de suplementos, vitaminas, ferro e essas coisas. Tem baixa caloria. Aí eu posso substituir algumas refeições por uns sheiks. Não vou engordar!
            - Pensei que você contasse orgasmos, não calorias. – Provocou-a com a declaração que ela deu à Sara.
            - Eu menti. Foi só pra irritar a Barbie magérrima! Que raiva dela! Os ossos chegam a espetar a gente! – Ela ficou chateada novamente. Falar na Sara não foi boa ideia. – Eu vou controlar minha alimentação.
            - Eu acho desnecessário. – Disse simplesmente.
            - Sim, sim...totalmente desnecessário! Porque ninguém no FBI notaria se eu ganhasse uns 15 quilos! – A resposta irritada.
            - Ok, ok. – Ele tirou o copo de vitamina vazio das mãos dela. – Quem sabe a gente não gasta as calorias agora. De um jeito bem gostoso!
           
            Duas semanas se passaram e poucas coisas deram certo. No FBI, o caso de tráfico infantil ficou estagnado desde a morte dos pais adotivos de Sophia. Eles eram a ligação que tinham com a quadrilha. Agora, sem o elo, precisariam recomeçar a busca por pistas. E quem matou o fez justamente para atrasá-los. Esse atraso, no entanto, complicou a vida de toda a equipe que nesse caso precisava trabalhar em conjunto com a MI5 e, principalmente, revolucionou a vida de Peter. Quanto mais tempo ele demorasse para solucionar o caso, mais tempo Sophia ficaria em sua casa e pior seria o sentimento de perda na hora de entregar menina.
            Não era apenas Ell. Ele também. Em apenas algumas semanas de convivência, Sophia tinha se transformado em parte integrante da família. Seria difícil tomar café da manhã sem tê-la à mesa, não ter de fazer uma parada para largá-la na escola antes de ir ao FBI e não encontrá-la na volta, sempre disposta a uma brincadeira qualquer. Sentiria falta, até mesmo, de ser acordado no meio da noite, por conta de um pesadelo repentino. Sophia ainda sofria a perda dos pais. Lembrava-se deles. Tinha momentos de muita tristeza. Mas estava se adaptando. Seria justo tirar dela mais uma família quando tudo terminasse?
            Estava fazendo um sábado muito bonito e ela lhe olhou com aqueles olhos, brilhantes, eufóricos e que o convenciam de tudo. Queria ir brincar em um parque. Há algumas semanas atrás ele e Elizabeth iriam passear juntos, só os dois, e namorar o quanto quisessem. Agora era Sophia quem escolhia a programação.

            - Então, vamos ao parque! – Peter disse. E percebeu que estava feliz com a ideia.
            - O Satchmo pode ir também? – Sophia perguntou já pegando a coleira do cão.
            - Mas é claro! – Ell respondeu. – Essa família tem 4 integrantes. Se nós vamos ao parque, Satchmo também irá!

            Neal e Rachel também resolveram ir passear no parque. Mas por um motivo um pouco diferente. A necessidade de estar o tempo todo se policiando para não tocar a barriga, não se mostrar emotiva, nem dar nenhuma pista de que estava grávida, deixava Rachel muito tensa. E, ansiosa, ela sentia mais fome e o desejo por doces era irresistível. Depois de comer, vinha a certeza de que a dieta não estava dando resultado. E, no geral, isso antecedia a uma crise de choro. Foi isso que aconteceu na tarde daquele domingo.
            Não tinha mais argumento. Não adiantava dizer que ela não estava gorda e sim grávida. Seu peso havia aumentado apenas 2 quilos. Pouco para quem estava com quase quatro meses de gravidez. Doutor Richard lembrou que por mais rigorosa que fosse a dieta, ela iria ganhar peso e tinha de ser assim. Afinal, estava gerando uma vida.

            - Eu pesquisei! Têm mulheres que engordaram apenas 1 quilo! E os bebês nasceram saudáveis. – Ela argumentou.
            - São biótipos diferentes. – O médico respondeu. – Você engordará o que o seu organismo pedir. Não adianta lutar contra a natureza, Rachel! Você está de parabéns! Engordou o mínimo que precisava para ter um bebê saudável. É isso o que você deseja, não?
            - Claro! – Mas a angústia era grande. Não podia permitir que descobrissem ainda que carregava outro bebê.

            Para aliviar a tensão, foram passear no parque e fazer algum exercício. George, como sempre, aproveitou para exibir seus olhos azuis para todos que passavam. O bebê tinha herdado a tendência exibicionista do pai. Adorava atrair olhares. E agora tinha aprendido a atirar beijos.

            - Mas que filho oferecido eu tenho! – Rachel brincou.
            - O charme é de família!
            - E você também sai atirando beijos por aí?
            - Não. Mas apenas porque eu já encontrei a minha Afrodite, só por isso. – Ele a beijou enquanto George os olhava bem curioso e começara a querer sair do carrinho.

            Depois de andar, sentaram-se na grama e deixaram George engatinhar por perto deles. Ficaram ali, tomando sol e se acariciando por algum tempo. As vezes era preciso um dos dois levantar e ir buscar George que engatinhava para longe. Nunca tiravam os olhos dele.
            Até que ouviram Sophia gritando e perceberam que Peter e Ell se aproximavam. Por força do hábito, Rachel rapidamente alisou a blusa deixando-a o mais folgada possível na barriga. 

            - Peter! Ell! Passeio em família! – Neal disse. – Olá, Sophia.
            - Oi, Príncipe. – A garotinha respondeu brincando.
            - Príncipe? – Ele estranhou.
            - É. Você parece com o príncipe da Pequena Sereia. – Ela olhou pra Rachel. – E ela é a sua princesa. Oi, tia Rachel!Oi George!

            Sophia estava animadíssima e no instante seguinte já estava puxando Peter para brincar com Satchmo. De longe, Rachel, Neal e Ell observavam. Peter atirava a bola e Sophia corria pra pegar. Satchmo ia atrás dela e os dois acabavam caindo. Ela estava se divertindo.

            - Como ela está? – Rachel perguntou para Elizabeth.
            - Bem. Tem um ou outro pesadelo, mas está melhor e mais sorridente a cada dia. – Ell sorria olhando-os. – Ela sabia que era adotada. Contou para nós que Patrick e Mariah foram seus 2ºs pais.
            - Isso não é maturidade demais para uma criança tão jovem? – Neal questionou.
            - É sim. Mas ela já passou por coisas demais também, Neal. Ela é maravilhosa. Estou encantada. – Emocionada, achou melhor mudar de assunto. – George parece estar adorando o passeio.

            Neal se afastou para atender o celular que tocava enquanto Rachel e Ell continuaram conversando. 

            - Ele adora. – Rachel respondeu. – Ele gosta de chamar a atenção dos estranhos e receber carinho. Quando vivia só comigo, tinha medo do colo de estranhos e agora ergue os braços para quem passa por ele na rua. Está crescendo e ficando esperto.
            - Ele é fantástico. – A rotina familiar aproximou as duas. – Como você está se sentindo com a gravidez?

Neal voltou e tornou a se sentar ao lado de Rachel e George. Ela não disse nada, mas notou que a expressão de Neal não estava a mesma.

             - Bem. Não enjoo mais. O problema é que sinto muita fome. A barriga já está bem redondinha. – Sua expressão era triste e feliz ao mesmo tempo. – Não sei como vou esconder do seu marido por muito mais tempo, Ell.
            - Dê mais um tempo a Peter, Rachel. Veja-o com Sophia. Ela está ensinando muito pra nós. Logo Peter estará pronto para receber a notícia melhor. Se você estiver no final da gestação ele não terá coragem de te devolver ao presídio. Muito menos deportá-la à Europa.
            - Eu também acredito nisso. – Neal concordou.
            - Rachel, eu preciso comprar uma fantasia de halloween para Sophia usar na festinha da escola. Voc pode ir comigo? Pode ser na H&m.
            - Posso, claro. Preciso de roupas novas mesmo. As minhas estão apertadas na barriga.
            - Vão amanhã mesmo? – Neal voltou a participar da conversa.
            - É, pode ser manhã. – Rachel respondeu estranhando o comportamento de Neal. – Você fica com o George?
            - Claro! Eu e o Mozz vamos beber vinho e jogar algumas partidas de xadrez.

            Assim ficou combinado e no dia seguinte, nem bem eram 10hs da manhã e as duas já desfilavam pela Times Square. 


            O lugar estava exatamente como sempre. Uma loucura! A avenida conhecida mundialmente por ter uma imensa concentração de lojas fantásticas e muito grandes não parava, nunca ficava vazia. Elas já estava há mais de duas horas dentro da loja H&m quando resolveram desistir e buscar a fantasia de Sophia em outro lugar. Haviam encontrado pilhas de coisas legais e já carregavam algumas sacolas, mas ainda não acharam o personagem que a menina queria. Elas seguiam conversando enquanto estavam no provador. Rachel procurava por peças que disfarçassem a barriga. Comprou também uma cinta de compressão.

            - O Neal está me escondendo algo, Ell. Eu sei. – Ela falou em certo momento.
            - Já ouvi isso tantas vezes! – Elizabeth ria. – O Peter vive achando que o Neal está escondendo algo.
            - E normalmente o Peter está certo ou errado?
            - Normalmente...certo. – Ell se arrependeu de colocar mais desconfiança na cabeça de Rachel. – Mas ele raramente consegue provar! Dê uma chance ao Neal. Você pode estar enganada.

            Com essa Rachel teve de rir. Isso não significava muita coisa. Neal era bom em mentiras. Não importava se ela ia algum dia ‘provar’. Olhava em seus olhos e via que ele escondia algo. E isso doía. Queria Neal sincero. Queria ele inteiro. Tinha ciúme até dos pensamentos que ele não dividia com ela. E pensar que enquanto ela estava a cada dia mais redonda, ele estava se interessando por outra a magoava. Não faltavam mulheres lindas e magras se oferecendo pra ele todos os dias. Sentia que era isso.

            - Ele mentiu e ficou bem satisfeito de eu sair com você hoje. - Era uma constatação. – E pode apostar que a razão dessas mentiras usa saia curta e salto alto. O Neal está interessado em outra mulher...uma que não tenha de esconder a barriga com cintas.
            - Porque não vamos a Macys? Adoro aquela loja! – Ell disse tentando animar sua parceira de compras.
            - Pode ser. Você não acha longe? – Na verdade Rachel não se importava para onde elas iriam. Todas as lojas de departamentos de NY pareciam maravilhosas.
            - Um pouco. Mas eu gosto do restaurante que tem lá. Podemos almoçar. Já são quase 13 horas mesmo. – Ell estava animadíssima.

            Elas foram lentamente. Olharam vitrines pelo caminho. Compraram mais algumas coisinhas. E seguiram para a Macys. Como já era tarde, resolveram ir primeiro no restaurante panorâmico de que Elizabeth falou. Se fosse tão delicioso quanto a amiga comentou, valeria ganhar mais algumas gramas. Estava com muita fome.
            Um segundo depois, no entanto, Rachel não apenas perdeu a fome como um enjoo lhe subiu pela garganta. Contrariando a todas as probabilidades, dessa vez ela tinha a sua frente a prova da mentira de Neal. E realmente desejou poder permanecer com a dúvida. De longe, separados por um vidro, ela o via. Lá estava Neal. Almoçando com Sara Ellis.


            Quando Ell seguiu o olhar de Rachel e também viu ficou na dúvida do que fazer. Resolveu esperar por ela. Por mais que gostasse se Sara, teria de dar razão a Rachel caso ela invadisse o lugar e fizesse um escândalo. Sara estava deliberadamente tentando reconquistar o ex namorado.
Rachel não era mulher de engolir humilhações e apenas uma lágrima solitária desceu pela sua face. Elizabeth viu quando ela ergueu o rosto, limpou-o com cuidado para não estragar a maquiagem e disse apenas:
            - Eu vou pra casa, Ell. Não tenho nada pra fazer aqui. Se Neal a quer, que fique com ela.
            Ell não deixou que ela voltasse sozinha. Rachel não era uma mulher conhecida pela sensatez. Se fizesse alguma loucura, perdesse o controle, poderia fazer algo pelo qual se arrependeria.

            Neal encarava Sara com mais constrangimento do que já sentiu a vida toda. Ela fora importante em sua vida, sem dúvida. Ele tinha algumas dívidas com ela. E algumas mágoas também. Mesmo que essas já estivessem enterradas no passado. Sara era uma mulher cheia de qualidades. A principal? Obstinação. Só que essa característica que ele sempre achou fantástica agora o estava constrangendo. Ela estava obstinada em tê-lo de volta. E isso, naquele momento, era um absurdo completo e sem sentido.

            - Você pode não perceber agora Neal...mas eu sou a mulher que pode completar a sua vida. Nós somos bons juntos. – Ela disse se aproximando. Fazendo charme. Era boa nisso. Ele poderia ter caído a seus pés não fosse o pequeno detalhe de sua vida já estar completa.
            - Para Sara! Acabou! Eu não estou te reconhecendo! – Onde estava aquela mulher justa e correta que ele conheceu?
            - Ela não é mulher pra você! Eu sou! Droga Neal! Antes eu não te queria porque você era um criminoso! Mas você mudou. Olhe para você agora. É um homem correto, um homem da lei! Você não é o namorado de uma assassina. Você não suporta assassinos. Ela engravidou só pra te ferrar! Um golpezinho de última categoria! Te amarrar com uma criança que você nem pode ter 100% de certeza de que é sua já que sinceridade nunca foi o forte da relação de vocês!
Ela despejou tudo que trazia preso na garganta. E ele podia ter reagido tranquilamente, tê-la ouvido. O fato de sua mulher ser uma assassina era sim algo que o incomodava. Sempre seria desagradável lembrar disso. Mas Sara foi longe demais. Ela errou quando falou de George. Neal não admitia que questionassem a paternidade de seu menino. Ele a segurou por ambos os braços e falou agressivamente, num tom que jamais usou com Sara.

- Nunca mais abra a boca pra insinuar isso! George é meu filho. Ele tem pai e mãe, Sara. Todas as outras bobagens que você disser, eu posso engolir, sei que te magoei quando estivemos juntos. Mas ninguém mandou você fugir para outro continente. Agora não venha insinuar que George não é meu.

Ela viu um ódio profundo nos olhos dele. Neal era muito ligado ao menino.

- Está bem. Me desculpe. Ele é obviamente seu! É só olhar pra cara dele que a gente vê você! – Havia mágoa nessa fala. – Mas não precisa viver com uma assassina pra criar ele. Você pode tomar a guarda dele.

Num momento de desespero, Sara se aproxima ainda mais dele e o beija. Um beijo como tantos que haviam trocado no passado. Só que bem mais desesperado da parte dela e frio por Neal. Sara ergueu-se da cadeira e praticamente tentou sentar em seu colo.

- Para, Sara! – Ele a afastou e abriu a carteira para pagar a conta. – Não pensei que fosse descer tão baixo. Chega! Eu mudei sim, mas foi por ela. Eu amo a minha mulher, Sara, e nada fará com que eu abra mão do que a agente tem. Agora pare de me telefonar e de mandar mensagens. Eu vim nesse almoço para te fazer entender isso. Em nome da nossa amizade, vamos parar por aqui.

Quando saiu do restaurante deixando Sara magoada e fervendo de raiva, Neal estava muito chateado. Primeiro porque ela era uma amiga querida que ele não gostava de perder. E também porque tinha consciência de que Rachel não poderia saber daquele almoço. Ela estava fragilizada com a gravidez, cheia de problemas na cabeça. Era melhor evitar um estresse desnecessário. Sara era passado em sua vida. Não tinha porque criar um problema. Só veio naquele almoço para ela parar de ligar para seu celular e, finalmente, colocarem às claras tudo o que ainda tinham para falar. Agora estava dito. Sara podia desistir, se afastar ou voltar a se esconder na Inglaterra. A decisão era dela. O certo é que não pretendia mudar suas decisões para agradá-la.
Ainda caminhou muito, sozinho pela cidade, para pensar o que fazer. Depois foi até o apartamento de Jones e perguntou se ele não queria uma companhia para ver um jogo de futebol. Passaram duas horas na frente da TV antes de Mozzie aparecer com George para acompanhá-lo até em casa. Ele dividiu com seu fiel amigo o que aconteceu.

- Eu sempre soube que a ‘semi-engravatada’ era obstinada. Neal...você as vicia! Agora aguente. Muitos homens adorariam ter um problema como o seu. – Mozzie já havia perdido as contas das mulheres para quem Neal jogou seu charme. E reconhecia que ultimamente ele não fazia isso.
- A Rachel já supre a minha cota de problemas, Mozz. Não preciso de outra mulher.
- Você fala assim, mas eu sei que a sua Diaba Ruiva lhe traz mais que problemas. Você é apaixonado por ela, Neal. Como nunca foi por outra. – A frase foi dita com tanta seriedade que Neal não contestou. 

Ao chegarem ao apartamento Neal sentiu Rachel fria. Ela cumprimentou Mozz e pegou George para lhe dar banho, mas quase não lhe deu atenção. Quando Mozz já tinha ido embora e ele foi se aproximar, tornou a afastá-lo.

- Tudo bem, Rachel? Fizeram as compras?
            - Sim, fizemos. – Mais uma resposta seca. – Depois almoçamos num restaurantezinho pequeno e maravilhoso. - Ela resolveu dar a Neal a chance de falar a verdade e se redimir. – E você, Neal? O que fez?

            Neal observou-a. Já não estava de bom humor. Se falasse que teve um encontro amigável com Sara, Rachel avançaria no seu pescoço. Era melhor deixá-la acreditar que nada de anormal ocorreu.

            - Fiquei com Mozz e com Jones o dia todo. – Mentiu ele. – Um programa de rapazes.

            Dê costas pra ele, Rachel não fez nenhum comentário. Apenas saiu correndo para o banheiro quando a ânsia de vômito foi forte demais. Naquele momento estava com ódio de Neal Caffrey e o queria longe. Quando o sentiu se aproximar e afastar seus cabelos do rosto tentou enxotá-lo do banheiro.

            - Sai! Sai! Me deixa sozinha! – Ele não fez nenhuma menção de obedecer. – Sai de perto Neal!
            - Eu vou fazer um chá. Você já tinha passado da fase dos enjoos. Comeu algo muito pesado no almoço?
            - Muito! – Ela levantou-se do chão e foi lavar o rosto. – Meu almoço foi como uma pedra que ainda me pesa no estômago. – Ela seguiu para a cozinha quando uma xícara de chá fumegante já estava sobre o balcão. – E o seu almoço como foi?
            - Pedimos pizza. Nada demais. – Foi a mentira de Neal.

            Só que dessa vez Rachel não conseguiu fingir que nada de errado acontecia. Na verdade ela não pensou. Apenas largou a xícara novamente sobre a bancada e disparou uma bofetada em seu rosto, o mais forte que conseguiu. Neal não esperava. Foi pego completamente de surpresa pelo golpe que fez seu rosto ser jogado para o lado. Só sentiu a face ardendo. Antes dele ter a chance de perguntar o porque ela fez aquilo, Rachel falou:

            - Mentiroso descarado! Mesmo que eu não tivesse visto, Neal, só esse seu olhar já entregaria a mentira. Mas eu vi! E me desculpe por não acreditar, mas acho difícil que Sara Ellis almoce pizza. Não condiz com a silhueta dela!

            Neal ainda esfregava o rosto para aliviar a dor quando tentou se explicar.

            - Não é o que você pensou...
            - Não quero saber! – Ela respondeu. – Saiu com ela! Se é o ‘saco de ossos pontiagudos’ que você quer na sua cama, faça bom proveito! Mas não venha mentir pra mim como se eu não conhecesse os seus golpes! – Ela não queria chorar e secou as teimosas lágrimas que insistiam em cair. – Se eu estou gorda e feia se separe! Você não está amarrado a mim, Neal! Eu não vou implorar para você ficar ao meu lado só porque estou grávida. Eu não preciso de você pra colocar meu filho no mundo.
            - Acredite, você já provou isso com o George! – Neal respondeu. – E eu já te falei que dessa vez será diferente. Eu quero você, quero a nossa família, nossos filhos, não quero a Sara. E se que quisesse a Sara, eu estaria com ela nesse momento e olha onde eu estou? Aqui com você minha perigosa Afrodite.
            - Mentiroso desgraçado! – Ela o viu se aproximar. – Não chega perto de mim!
            - Rachel, por favor, me escuta. Eu te amo.
            - Mentira! Foi só eu engordar um pouquinho e ficar feia e você foi correndo se encontrar com a Barbie anoréxica! – Agora as lágrimas corriam livremente. – Eu só não vou embora agora porque essa maldita tornozeleira colocaria o FBI em alerta, mas amanhã eu falarei com Peter! Eu vou pra outro lugar ou volto pro FBI.
            - Não, você não vai! – Neal respondeu. Não podia deixá-la jogar fora tudo o que planejaram por ciúme.
            - Vou sim! E se não quer que eu marque o outro lado do seu rosto, mantenha distância de mim essa noite! – Dessa vez nem mesmo ‘Diaba Ruiva’ era um bom apelido. – Devia ir passar a noite com a Sara! Podiam jantar um belíssimo prato de salada de alface!
            - Você está me expulsando da minha cama?
            - Sim, ou, se preferir, eu durmo no sofá. Pelo menos amenizara minha dor. Não quero nem te olhar, Neal Caffrey. – Ela gritou atirando um travesseiro sobre o sofá da sala. A mensagem era clara.
           
            Neal achou melhor não prosseguir com aquela briga. Ela estava nervosa demais. Não era bom ficar exaltada assim. E a implicância dela com a magreza de Sara era exagerada. Nem Sara era tão magra assim, nem ela estava gorda. Qual o problema das mulheres com o peso? Será que ela realmente acreditava que dois ou três quilos a mais ou uma barriguinha de grávida o fariam desejar trocá-la por outra mulher?
            Os dois ficaram calados e por muito tempo acordados. Ela na cama, ele no sofá. Em plena madrugada, quando ela tornou a vomitar, Neal achou que já era hora de parar com isso e fazer Rachel ver a realidade. Fez outra xícara de chá e rezando para não ser arremessada com ele, levou-a até a cama. Rachel olhou-o e pegou sem dizer nada. Encarando isso como uma porta aberta para a aproximação, Neal sentou-se na cama. Procurou as palavras certas para falar.

            - Mentiroso e descarado eu acho que são palavras verdadeiras. Eu mereci. Mas gorda e feia estão longe de descrever você.
            - Você prefere a Sara. – Não interessava se estava gorda ou não. Importava que ele mentiu para ir ficar com a outra.
            - Não, não prefiro. É você quem eu amo e é na sua cama que eu quero estar. É tão difícil assim de acreditar?
            - Eu vi vocês, Neal. E você mentiu que estava com Jones.
            - É, eu menti. E peço desculpas por isso. Foi pra te preservar. Ela queria conversar comigo e estava me ligando. Então eu resolvi terminar isso logo. Você estava certa. Sara realmente achava que podia ter alguma chance comigo. Mas acabou, eu disse a ela que te amo. Ela não vai mais ligar.
            - Piranha! – Sua vontade era dar uma surra em Sara Ellis e quebrar alguns daqueles ossinhos pontiagudos.
            - Por favor, Rachel. Vamos dormir e esquecer isso. E pare de ficar dizendo que está feia e gorda. Não está. Não existe mulher mais bonita. – Ele a beijou. Lentamente. Ela ainda estava arredia. – E minha filha pode se sentir ofendida.
            - Se for um menino ele vai ficar ofendido. – Ela brincou e sorriu pela primeira vez naquela noite.
            - Eu sinto que é uma menina. Linda, ruiva e geniosa feito a mãe. – Ele estava definitivamente perdido!

            Fazer as pazes não significava esquecer o que se passou. Nem Rachel nem Neal deixariam o assunto de lado. Ele logo que acordou reparou no vergão que tinha ficado em seu rosto. Não seria um segredo para ninguém que Neal Caffrey tinha sido esbofeteado. Rachel achou isso ótimo. Assim ele não esqueceria da briga. Ela não esqueceria a razão da discussão.

            - Você não tem nada para me dizer quanto a isso? – Ele apontou para a face marcada. Achava que merecia um pedido de desculpas pela agressão.
            - Dizer? – Ela se aproximou e deixou um beijinho no local. – Doeu muito?
            - Bastante. – Neal respondeu.
            - Ótimo! Assim você lembra que na próxima vez que sair com alguma amiguinha eu posso bater dos dois lados, Caffrey!

            Foram trabalhar e não era apenas ela que estava endiabrada naquele dia. O FBI estava rugindo feito leão faminto. Nada de muito novo. Tinham descoberto uma pista importante sobre a quadrilha de tráfico. Havia a informação de que eles iriam entregar outra criança a uma família naquela noite. Iriam armar para pegá-los no local onde o bebê seria entregue. A criança voltaria para os pais verdadeiros e a quadrilha seria presa. Ao menos os ‘peixes pequenos’ que estariam ali. Mas após apertá-los num interrogatório, poderiam descobrir outras coisas.
            Isso significava que parte da equipe iria para uma emboscada, ficariam na van até que tivessem a certeza que trocariam dinheiro por uma criança e que agir não significaria risco ao bebê. Percebendo que o clima estava estranho entre Neal e Rachel e tendo o vergão no rosto de Neal como prova, Peter achou melhor não colocar os dois na missão ao mesmo tempo.
            Analisando o perfil dos dois friamente, percebia que Neal era um especialista em falsificações. Tráfico não era algo de que Neal entendia. Seu consultor não tinha nada para acrescentar nesse caso. Rachel sim. Na MI5 havia cuidado de casos nesse sentido e podia colaborar. E, segundo Shepherd, a MI5 queria a ‘Agente Turner’ cuidando do caso. A ordem de Neal ficar em casa enquanto a esposa participava da tocaia parecia óbvia do ponto de vista técnico, mas desagradou a Neal.

            - Porque me excluiu disso? – Neal foi a sala do chefe para perguntar.
            - Você nunca gostou de ficar na van, Neal. É só isso que faremos. Qual o seu problema? Rachel sabe trabalhar muito bem. Não precisa de você a todo o momento cuidando dela.
            - Não estamos falando de um criminoso que rouba ou falsifica papéis. Eles não tiveram pena de matar aquele casal. Podem atacar!
            - Mais uma prova de que esse caso está mais para a Rachel do que para você, Neal.
            - E quer que eu fique em casa? Tranquilo?
            - Quem disse que estará em casa? Estará no FBI! Com a divisão de informática, tentando nos dar apoio. Preciso que você descubra de onde vêm essas falsificações. Essa é a sua especialidade. Você e a Rachel estão muito nervosos e estressados hoje. Juntos seriam um problema! Preciso de cada um de vocês focado na sua função.

            Rachel não tinha medo da ação nem achava que Neal tinha razão para ficar reclamando. Mas não era irresponsável de expor seu bebê a nenhum risco. Tinha consciência de que, caso Peter soubesse que estava grávida, não estaria se preparando para aquela emboscada. Iria se preservar.
            Só o que a incomodava era que ao contrário dos demais, ela não podia usar uma arma. Peter dizia que não podia colocar uma pistola nas mãos de uma assassina condenada.

            - Estou fazendo um bem por você. Se matar em serviço, terá trilhões de explicações a dar. Siga as regras Rachel e não peguem em uma arma.

            Por insistência de Diana, todos iriam usar coletes a prova de bala. As duas estavam indo vestir o acessório de segurança por debaixo da roupa quando Rachel se deu conta que a colega veria a cinta elástica que usava para disfarçar a barriga.

            - Relaxa, Rachel. – Disse Diana. – Sei bem o que você e Neal escondem. E não é de hoje.
            - Como descobriu?
            - Você está falando com uma especialista em esconder barriga de gravidez do FBI! – Diana respondeu deixando claro que seu segredo estava seguro.

            A equipe se dividiu e foi cumprir suas tarefas. Na van, do FBI estavam Peter, Rachel, Diana e Jones. Da MI5 Shepherd e Henrique. Todos observavam a antiga casa, afastada da cidade onde deveria ocorrer a ‘venda’ do bebê. Mais uma criança roubada dos pais e que ganharia uma identidade falsa. Aquele bebê precisava ganhar uma oportunidade diferente.
            Um carro se aproximou e estacionou alguns metros à frente. Dele saiu um casal de mãos dadas. Outro homem os acompanhava. Ele carregava uma maleta. Provavelmente cheia de dinheiro.

            - A pista estava certa. – Rachel disse. – Deveríamos entrar e surpreendê-los quando entrarem na casa.
            - Não! Não quero conflito. Pela criança. Vamos deixá-los fazer a troca e pegá-los depois. – Peter determinou.

            Esperaram mais 40 minutos até que a quadrilha chegou. Em um carro estavam quatro homens. Um saiu carregando um cesto. Era a criança que iriam vender. Shepherd deu a ordem de se separarem. Peter não gostou nada de alguém se intrometendo na sua missão.

            - Henrique, eu e Turner daremos a volta na casa e os cercaremos. Peter, você e sua equipe vão pela frente. No momento que os pais saírem com a criança, renderemos a quadrilha e pegamos a criança. Certamente eles também entregam a documentação falsa. Precisamos dessas provas. - Disse Shepherd.
            - A Turner faz parte da minha equipe. – Peter lembrou.
            - Eu quero ficar de olho nela. – Foi a resposta do Agente Shepherd.
           
            Peter seguiu as orientações do chefe da MI5 apenas porque aquela também era a sua forma de ação. Não colava em risco a equipe e prezava a segurança da criança. Pelo rádio, trocavam informações e só começaram a agir quando viram o casal se afastando com a criança. Shepherd, Rachel e Henrique entraram pelos fundos do casarão. Peter ordenou que Jones e Diana fossem seguir o casal e aprender as provas em segurança. Ele daria apoio aos outros.

            - Tem certeza, chefe? – Diana não gostou daquilo.
            - Sim. Vão!

            Ouvindo a ordem de Peter, Rachel achou que deveriam equilibrar melhor as equipes e correu para o outro lado da casa, onde o chefe do FBI estava. Shepherd não gostou, mas sabia que não podia tentar interferir. Ela não obedeceria mesmo.
            Quando estava sozinha, ela tirou da bainha da calça a pistola que tinha pego emprestada no FBI. Não viria para uma tocaia como aquela desarmada. Não importava o que seu chefe mandasse. Quando Peter a viu chegando com a arma em punho, nem disse nada. Só torceu para ela não fazer nenhuma bobagem. Os dois viram quando os homens se aproximaram da saída do casarão. Iriam rendê-lo.

            - 1,2...3...já: parados e com as mãos pro alto! Ou eu atiro! – Peter gritou. Os quatro homens olharam-se. A equipe da MI5 vinha cercando-os pelo outro lado. Não tinham escapatória. – Joguem as armas no chão.

            Dois deles fizeram isso sem pensar. O que carregava a mala de dinheiro a apertou com mais força e pensou por um momento. O quarto homem não hesitou  atirar. Não tinha nada a perder e, no máximo, morreria. Mas levaria alguns policiais com ele.
            Quando o tiroteio começou, Rachel agradeceu ao fato de estar de colete. Ela e Peter também atiraram e correram para se proteger. Do outro lado, Shepherd e Henrique fizeram o mesmo.

            - Tudo bem com você? – Peter perguntou.
            - Sim. E você?
            - Inteiro. Elizabeth não terá do que reclamar. – Nada como alguns tiros para deixar um agente feliz. Ele voltou a gritar. – Vocês estão cercados! Podem sair vivos daqui se colaborarem.

            A resposta veio em mais tiros. O jeito foi tentar se aproximar utilizando as pilastras da construção como proteção contra os disparos.

            - Me dê cobertura. – Peter gritou à Rachel.

            Ele correu em direção ao outro lado e choveram tiros. Pelo que Rachel pode ver, nenhum acertou. Quando um dos homens entrou no campo de visão ela ia atirar, mas teve que se esconder já que Shepherd e Henrique atiraram do outro lado. Quando parou, acreditou que o homem havia sido atingido. Aproximou-se o máximo que pode e viu o jovem de pele clara que carregava a mala de dinheiro já estirado no chão.
            Viu que Shepherd e Henrique iriam se aproximar do corpo. Acreditavam que os outros já tinham fugido. Mas não. Eles não iriam abandonar o dinheiro. No outro lado, Rachel viu um homem mirar a pistola. O alvo era Peter. Numa atitude arriscada, porém necessária, correu em direção ao lugar onde Peter estava. E disparou um tiro. A intenção não era matar. Sabia que isso lhe causaria problemas. Mas acertar as mãos do atirador. Infelizmente, os disparos recomeçaram e ela ficou na linha cruzada. Não soube de que lado veio a bala que a atingiu. Dos traficantes ou da MI5. Mas quando se atirou junto ao lugar onde Peter estava, seu braço sangrava.

            - Você é louca ou o quê?!?! -  Peter a repreendeu. – Acertou seu braço, mas podia ser pior! Podia ter morrido!
            - Estou de colete! E o que eu deveria fazer? Deixá-lo morrer? Você tem família também, esqueceu? A Ell e a Sophia esperam você vivo ainda hoje! – Ela respondeu.
            - Como eu vou falar para o Neal que você levou um tiro?!?! – Ele continuava reclamando. – Mas viu que precisava de ações práticas. - Agente ferida! Preciso de atendimento médico! E onde está o reforço que eu pedi?! – Peter bradou pelo rádio. – Tudo bem? Comprima o ferimento.
            - Eu sei o que fazer, Peter. Prefiro que você cuide para que não recebamos mais nenhuma bala. – Ela respondeu. Mas no fundo estava preocupada. Estavam vulneráveis demais. Ela agradeceu ao colete que usava. – Eles vão fugir! Temos que ir atrás!
            - Não levante daí! Isso é uma ordem, Turner! De Peter Burke, o seu superior. – Ele falava sério. – Eu irei impedir que eles fujam. Você fica aqui.

            Rachel não viu mais nada. Sabia que Henrique, Shepherd e Peter tinham conseguido pegar um dos traficantes, além do que estava morto. Os outros dois conseguiram fugir. Mas sem levar o dinheiro. Diana e Jones também haviam pegado o casal comprador, a criança e os documentos falsos. Eles teriam muito que explicar. Então se podia dizer que a operação foi um sucesso. Essa era a opinião de Rachel. Não a de Peter.
            - Sempre que a gente tem que levar um agente para o hospital, é uma operação frustrada. – Disse ele.
            O ferimento não era fatal, mas ela havia perdido bastante sangue e foi levada para emergência. A pior tarefa ficou para Peter: ligar para Neal e dizer que ele deveria ir a emergência buscar a esposa baleada.

            - Peter...eu te liguei a noite toda. Você costuma atender ao celular na van. – Ele sabia que havia algo errado. – Vocês não ficaram na van, é isso não?
            - É, Neal. Não ficamos. Teve uma mudança de planos. Não adianta ligar para o celular da Rachel. Ele está comigo.
            - Por quê? – Algo dizia a Neal que ele não gostaria da resposta que ouviria.
            - Porque...porque houve tiros e um acertou a Rachel. De raspão, Neal. Não é grave.
            - Merda! Eu sabia que isso não ia terminar bem! – Neal gritou. – Levaram ela para qual hospital?
            - Para o mesmo do qual ela fugiu, no passado. Ela deve estar rindo da coincidência agora. Sossegue! Ela está bem. Quando você chegar lá, provavelmente já estará sendo liberada. Eu estou indo pra lá também.

Nenhum comentário:

Postar um comentário