terça-feira, 4 de março de 2014

Dupla Perseguição - Capítulo 32






            A noite foi deliciosa e o domingo...quente. Tinham que aproveitar o final de semana a dois, no caso três, mas George estava bem comportado. Afinal, agora, aniversário só daqui um ano e Peter não ia deixá-la passar outro final de semana ali.


Na manhã de domingo, acordaram juntos e enquanto Neal vai comprar o café da manhã, Rachel aproveita pra tomar um banho. Quando retorna, Neal começa a procurar pelo quarto, mas não a encontra, vai ate o banheiro e vê que ela já está sem roupa e a ducha já está ligada.


- Neal... você se juntaria a mim para um banho? - Pergunta e o vê se aproximar lento e sedutor, como um felino, só para provocar.


Neal para na sua frente, muito perto, mas sem tocar.


 – Sim, eu aceito o banho. - E ela sorri vitoriosa.


Ele desce sua boca e a beija, no começo com delicadeza e movimentos lentos, mas depois o beijo vai se intensificando, uma das mãos de Rachel vai para o seu cabelo,  trazendo-o mais para ainda mais perto, engolindo-o com a boca faminta, e a outra vai para as suas costas, para abraça-lo.


 Neal desce por sua cintura, quadril. Rachel lhe arranca a camisa ferozmente, e então aperta a bunda com força. Sempre achou que ele era o homem com a bunda mais perfeita no mundo. Ele gostou do aperto, gemeu.


– Rachel! Você é a minha perdição.

– E você a minha, Caffrey. Estamos empatados. – Ela suspira, mas quando volta a falar está perdida nos braços dele. - Eu te amo tanto. - Ao perceber o que falou Rachel cora rapidamente e continua a beijá-lo.


Ele percebe quando Rachel muda, fica nervosa. Mas prefere não discutir nada naquele momento. Estava tão bom. A beija com mais intensidade e deixa o momento passar.


- Enrole suas pernas em volta de minha cintura Rachel. Você quer aqui, não é?

- Sim, aqui mesmo. 


Quando ela está com as pernas em volta da cintura dele, Neal a beija novamente. As sensações se misturavam, senti-a totalmente dentro dela, quente, enquanto a parede, às costas, gerava arrepios. Neal começa a se mover lentamente, ela jogo a cabeça para trás, entregando-se as sensações, amor e luxúria, não importava o que prevalecia.


- Goze pra mim, Rachel! – Onde essa mulher ia levá-lo? Era uma perdição.

- Eu tenho alguma escolha, Caffrey? – Ela se inclina pra frente enquanto faz exatamente o que pediu. E o beija, muito, o homem que ama, o único por quem perdeu totalmente a cabeça.


Continuou-o sentindo penetrá-la mais algumas vezes e encontrar a  própria libertação. – Você é gostoso demais Neal Caffey. Isso sim devia ser crime.



Mas a vida não era feita apenas de sexo e a semana de trabalho no FBI prometia ser intensa. A terça-feira foi agitada. Neal e Peter sabiam que nessa noite seria a operação para prender Lucy. Eles se encontrariam em um endereço fornecido por ela e de lá partiriam para o banco. Seria arriscado usar escutas, Lucy parecia mais profissional do que pensaram inicialmente. 


Rachel observava a reunião na sala de Peter. Reunião para a qual não foi convidada. Isso a estava enchendo o saco. Tudo bem que não confiassem nela para colocá-la na operação. Mas será que já não tinha dado provas que não ia trair o FBI se a permitissem conviver com o filho? Precisavam deixá-la assim, totalmente excluída?


- Não vai me dizer mesmo? – Perguntou para Neal.




- Eu não posso. Não é nada que precise se preocupar. Você tem um caso para cuidar. Eu tenho outro. É assim que Peter quer. - Foi a resposta que recebeu.

- Ok...vou trabalhar no meu caso então! – Ela estava furiosa.


Quando Neal afastou-se, a primeira coisa que Rachel fez foi dar uma olhadinha na mesa dele. O que Neal estava aprontando? Um nome rabiscado na agenda...Lucy Moore. Mulher...tinha que ter mulher.


- Claro! É Neal Caffrey, Rachel...como você poder esquecer. – Disse baixinho para si mesma. – Não vai me fazer de boba, Neal. Não vai!


Continuou procurando...mas não viu nenhuma referência a um caso que envolvesse Lucy Moore. Claro. Não era nada profissional. Era alguma piranha com quem Neal estava saindo!


Voltou a procurar e encontrou um endereço: 405 7th Ave, New York, NY 10001. Na mesma página a data de hoje rabiscada. Neal ia se encontrar com Lucy Moore. Ia traí-la.


Sem saber o que Rachel imaginava, Neal seguiu cuidando dos casos nos quais estava envolvido. Não ia falar nada. Por mais que Rachel questionasse, ia manter a palavra dada a Peter. Na verdade, Neal não entendia muito bem porque Peter fazia tanta questão de manter Lucy fora do alcance de Rachel. Mas não ia criar caso com o amigo e chefe por isso. Não quando estava deixando-o bem tranquilo para poder pedir que Rachel se mudasse definitivamente para o seu apartamento. Melhor deixá-lo bem tranquilo até o momento de fazer o pedido.


No fim da tarde, todos saíram para suas casas. Alguns estavam escalados para a ação noturna contra Lucy. Entre eles, Diana, Jones e Neal. Era Mozzie quem ficaria com George no apartamento de Neal. Mas Rachel achava que se tratava de um fim de tarde normal.


- Sim, sim...eu vou ficar com ele em casa. Não pretendo sair. – Mentiu Neal ao sair.


Ele nunca mentiu bem o suficiente para enganar Rachel. Neal não ficaria em casa naquela noite. Ela soube na hora. E o observou entrar no elevador pensando no que faria. Se Neal Caffrey pensava que ia fazê-la de idiota, teria uma surpresa.
 

A noite caiu e, apenas para confirmar, ligou para a casa de Neal. Mozzie atendeu.


- Oi Mozzie...como está meu filho?

- Muito bem. Banho tomado, alimentado e pronto para o sono. – Mozzie só torcia para ela não perguntar por Neal. A ordem era não contar do caso.

- Passe para o Neal. Quero falar com ele...AGORA. – Claro que ela diria isso.

- Eee Neal... -  Droga! Não tinham uma desculpa preparada. – Ele saiu...foi...foi...passear com o cachorrinho de Juny. Você o conheceu não...a dona do apartamento de Neal gosta que ele passeie com o cachorro.

- Claro...eu imagino...um passeio noturno. – Era verdade. Neal a estava enganando. – Obrigada Mozzie...e boa noite.


Tinha algo no ar. Mozzie não demorou para captar a mensagem: Neal estava enrascado! Ligou para o amigo e avisou o que tinha acontecido. Só que nesse momento, Neal estava na van com a equipe do FBI, monitorando a casa onde iria se encontrar com Lucy e finalmente encerrar aquele caso. Mas achou estranha a ligação de Mozzie. Principalmente porque Rachel não telefonou para ele.


A sensação ruim só ficou pior quando Rachel ligou...para Peter.


- Como...o George...sim…não Rachel. Você não pode. – Ele ouviu algo. – Não, eu já disse! Não, Rachel..eu estou na minha casa e você me liga. – Mais um silêncio. – Não importa se o Neal não está em casa...você não precisa ir pegar o George. – Ela insistiu. – Ok, ok, você pode sair do FBI. Eu vou avisar o guarda. Mas lembre que você está de tornozeleira. 


Neal observava sem entender muito. Depois Peter explicou o que ela disse.



- Rachel descobriu que você saiu e quer buscar George para passar a noite com ela. Eu não ia deixar, mas...agora não tinha tempo para me preocupar com isso. Ela vai na sua casa, pegará o menino e o levará ao FBI.


Enquanto observava Peter autorizar a saída dela, Neal ficou desconfiado. Mozzie não disse nada quanto a Rachel querer ir lá. Ela aprontando alguma. Deixou a preocupação de lado foi trabalhar. Depois conversaria com ela. Viram Lucy chegar e entrar na casa. Era hora da ação. Quando ela estivesse com as plantas do banco, seria presa em flagrante.


Ele entrou e Lucy o recepcionou como se fosse uma visita de cortesia. Falaram amenidades, beberam uma taça de vinho e terminaram de combinar o plano. Não seria bem como Neal imaginou. Lucy era esperta.






            Ela telefonou para alguém, um cúmplice. E Neal percebeu que Lucy não estava com as plantas ali. A entrada no banco seria feita pela lateral. Onde havia uma passagem subterrânea ligando o banco com outro comércio, ao lado. Ela já tinha esquematizado tudo.


            - Você podia ter roubado a joia sem mim. – Neal disse, percebendo que ela era uma ladra eficiente.

            - Não, querido. Não podia. Eu sei como entrar no banco. Tenho acesso a esse e a muitos outros. Mas você terá que entrar no cofre. Te coloco lá dentro...mas o resto é com você.

            - Ótimo...deixe comigo. – Ela era boa mesmo. Pena que não havia joia alguma para pegar lá, só havia papel no pequeno cofre de aluguel que ele lhe indicou. – E as plantas já estão lá? Não sei exatamente onde fica o cofre onde está a joia que queremos.

            - Eu sei, querido. Estarei com você, dentro do banco. Não deixaria você lá sozinho...pode me trair. – Claro que ela estaria lá. E seria presa.



            Confiante, Lucy levou Neal para a rua. Para entrarem num carro que os esperava e seguirem ao banco.


            - Sabe, querido...acho roubar tão excitante. – Ela passou a mão pelo peito de Neal e foi se aproximando. - Podíamos terminar a noite transando.

            - Podíamos? – Neal repetiu a pergunta provocadora.

            - É claro. – Lucy o beijou. – E eu estaria usando apenas as joias.









                - Um pensamento tentador, Lucy. Tentador. – Respondeu colocando-a no carro. Queria terminar logo com aquele caso e resolver a situação.



            Na van todos achavam que estava tudo bem, nada anormal ocorria. Somente Jones percebeu outra pessoa na cena. De longe, quase escondida, Rachel obsevava Neal e Lucy com uma expressão nada amigável no rosto. Não sabiam se ela havia percebido a van localizada há três quadras de distância, mas Jones a viu por uma das câmeras que tinham instalado. Quando mostrou a imagem a Peter, viu-o ficar vermelho.

            - Se ela estragar a operação eu juro que a devolvo para a prisão. Juro! – Esbravejou. – Não avisem o Caffrey. Ele tem que ficar concentrado no caso. Assim que ele sair com a Lucy, você vai lá e a escolta de volta ao FBI. 


            Não foi necessário. Ambos viram quando Rachel apenas observou tudo, de braços cruzados e uma expressão triste. Raivosa, mas triste. Ela os viu se beijar e sair de carro, deu as costas e foi embora calmamente. Não tentou interferir.




            - É...você acha, chefe, que tem alguma chance dela ter entendido que era um caso e ido embora para nos ajudar? – Jones perguntou.

            - Não. Nenhuma. – Foi a resposta de Peter. – Com a fama do Neal...provavelmente ela pensou que ele estava pegando a loira.


            Peter pensou por um momento.


            - Por enquanto isso fica entre nós. Entendeu?

            - Claro. – Jones não ia se intrometer nisso.



            A operação continuou normalmente e ao chegar próximo do banco, Lucy e Neal desembarcaram. Entraram no comércio ao lado do banco, não foi difícil, Lucy já tinha cuidado para terem acesso rápido. Lá dentro ela lhe entregou a planta novamente. A mesma que tinha da outra vez. No chão havia um fundo falso com um túnel. Era só seguir que levava ao banco e irem até a sala onde ficavam os cofres de aluguel. Ela lhe guiou o tempo todo. Deixando provas contra si mesma. Precisavam chegar no cofre 527.








Quando chegaram, o FBI estava lá, a espera. As luzes se acenderam, e Lucy viu que estava perdida. Não ganharia aquela jogada. Só por grala, Neal pegou a chave do cofre falso, emprestado pelo banco para colaborar com a operação, e abriu mostrando para Lucy que não havia joia alguma. Ela fora enganada o tempo todo.



            Rachel passou na casa de Neal para pegar George. Claro que Mozzie percebeu algo de errado, mas ela não puxou assunto. Ele abriu uma garrafa de vinho e esperou Neal chegar. Seu amigo estava com...problemas conjugais mesmo sem ser casado. Quando entrou em casa, Neal estava animado com a prisão de Lucy e intrigado com Rachel. Ligou para ela.


            - Você saiu e eu busquei meu filho. Algum problema? – Ela estava fria. Quase agressiva.

            - Não, nenhum...mas é que aí não tem berço e vocês podem...

            - Ele dormirá comigo. Aliás, é tarde Neal então... – Ela queria cortá-lo.

            - Espera...você está assim porque eu saí, mas não precisa, eu só fui dar uma volta e...

            - O que você faz não é da minha conta, Neal. Até amanhã. Durma bem!



            Mozzie só falou uma frase antes de ir embora.


            - Uma mulher com raiva vale mais que mil soldados. Boa sorte!







            Na manhã seguinte, Neal fez o que sempre fazia. Levou o café para Rachel e esperava que ela estivesse mais doce. Ok, ele não lhe disse nada sobre o caso, ok, ela soube que ele saiu a noite. Mas não era nada para tanto.


            Rachel não pensava assim. E tratou-o pessoalmente com a mesma frieza que ao telefone. Ela estava dando atenção a George e ignorando-o friamente.


            - O Mozzie está vindo? – Perguntou enquanto brincava com o filho. – Oooouuuu amor da mamãe. Está lindo!

            - Sim, ele já vem...deu uns minutos lá embaixo pra gente ter privacidade.

            - Privacidade? Aqui? No FBI? Acho que você teve muita privacidade ontem, seja lá onde esteve. – Ela provocou. Estava com raiva mesmo.

            - Rachel! Que bobagem é essa! Eu...


            As portas do elevador se abriram e Mozzie saiu interrompendo-os. Mais três funcionários do FBI também entraram.


            O dia de trabalho seguiu e os dois não voltaram a conversar. Em todas as vezes que ele tentou algo, Rachel cortou-o da forma mais fria possível. Neal teve que sair para procurar um suspeito de falsificação. Diana, Jones e Rachel estava cuidando de um roubo de arte.


O relógio marcava 14hs quando Peter e Neal retornaram no FBI e encontraram Diana.


            - Tudo certo? – Peter perguntou percebendo Neal procurando Rachel com o olhar. – As coisas se acalmaram, estamos esperando uma análise de laboratório. Jones e Rachel estão na academia.

            - O que? Que academia? – Nem Peter nem Neal entenderam.

           - A nossa mesmo, a de treinamento, no 3º andar. Rachel estava um tanto nervosa e inquieta...chamou Jones pra tentar um golpes. Ele foi bem animado...acho que a Rachel esqueceu de dizer pra ele que é fera em muay thai. – Ela ria.

            - Vai apanhar feio! – Peter riu também. E abriu os braços para a equipe. Precisava ver aquela cena. – AAA vamos lá! A gente tem que ver isso!



            E do fundo da sala, Neal, Diana e Peter observaram Jones e Rachel treinarem. Ela era boa sim. Não só em bater, mas também em se esquivar. Era ágil e não se tratava de uma mulher esguia. Tinha os músculos do corpo bem delineados, não era musculosa, mas também passava longe de ser frágil. Mas Jones não ficava atrás. Lutava bem, poderia derrubá-la...tentar pelo menos, mas não fez nada de muito agressivo. 


            Eles estavam girando no tatame, se estudando...arquitetando golpes. Até que Rachel lhe deu uma rasteira e rapidamente o imobilizou. Não machucou, mas o fez sentir o doloroso golpe no ego de saber que foi derrubado por uma mulher. O que Jones fez? Tomou a atitude mais inteligente que poderia. Tentou aprender com Rachel Turner.


            - Como você consegue ser boa em tantas coisas...sério o treinamento da MI5 deve ser muito melhor que o do FBI! – Ele riu e a cumprimentou pela vitória.

            - Não, não...quando eu cheguei na MI5 eu já estava treinada, já estava pronta. Eu só fiz as provas e entrei, como a primeira da turma. Exatamente como meu pai queria. Ele me treinou para isso, a vida toda.

            - Uauuu. – Foi a reação de Jones. – Desde que idade você treina?


            Ela iria contar uma história que Peter, Neal e Diana também queriam ouvir. Ficaram acompanhando atentamente.


            - Desde que me lembro, acho....hoje eu lembro de brincar com ele e não me dar conta que não era apenas uma brincadeira. Ele já estava me preparando para o meu futuro. Mas era da forma mais lúdica e bonita que um pai podia fazer. – Ela contava algo que beirava a ação de um psicopata, porém havia amor em sua voz. Rachel idolatrava o pai. – Ele cuidou para que eu fosse uma criança saudável e ativa e quando eu tinha 12 ou 13 anos intensificou os treinamentos.


            - E você gostava? – Parecia impossível, mas o tom dela passava isso.

            - Sim...nem sempre, na verdade...eu gostava de vencer para vê-lo orgulhoso da minha vitória.

            - É difícil entender algo assim, Rachel. Ainda mais com você parecendo gostar tanto dele. – Jones externava o que todos pensavam.

            - Eu sei...só que não era tão ruim quanto parece. Eu...fui uma criança feliz. Muito feliz. Mas foi, sem dúvida, uma infância impar!

            - Eu não diria o contrário! – Ninguém diria.

            - Eu nunca levei nenhuma palmada na infância, meu pai nunca me deu um tapa. Em compensação, eu lembro até hoje da primeira aula de muay thai. Eu voltei para casa moída, tinha uns 14 anos e praticava um monte de esportes. Achava que ia ser fácil. Doía cada parte do meu corpo...quando saí da academia eu sentei na calçada, em plena rua, e chorei até não poder mais...o Henry que me levou pra casa. Coitado! Assustei tanto ele. Deve ter achado que eu estava morrendo. – Ela ria contando.

            - E aí? – Todos que ouviam queriam saber o fim da história.

            - Aí...eu cheguei em casa e minha mãe começou a chorar junto comigo. Desesperada! Imagina?!?! A princesinha dela tinha apanhado num tatame até ficar toda dolorida, minha pele clara estava cheia de marcas. Ela ligou pro papai e ele veio pra casa...largou tudo e veio cuidar de mim. Foi um doce. Eles me deixaram na banheira com água morna e eu fui relaxando. Ele massageou o meu corpo e as dores foram passando. Eu apaguei. Dormi a noite toda. – Rachel tinha voltado ao passado. Seu pensamento estava longe. – Sabe o que aconteceu no outro dia, Jones?

            - Não. O que? – Qualquer pai teria feito ela nunca mais chegar perto dessa academia. Jones, no entanto, desconfiava que não tinha sido assim.

            - Me mandou para a escola e disse que a tarde eu tinha mais uma aula de muay thai agendada. – Ela gargalhava. – John era assim! Ele dizia que quanto mais eu apanhasse naquele momento, mais rápido e mais forte eu ia aprender a bater. Ele estava certo. Meu pai me preparou pra ser forte. E nisso eu não decepcionei ele.

            - Você parece concordar com o ‘método pedagógico’. Criará George assim?


            Ela não pensou nem por um instante.


            - Claro que não. – Ela se levantou do tatame onde estava sentada e se preparou para sair da sala. Viu Peter, Diana e Neal. – Meu filho não vai trabalhar para uma agência de governo. Quero que passe longe disso. Mas eu entendo meu pai e sei que me amou, apesar de tudo.


            Jones também viu a todos.


            - Precisando de nós, chefe? – A expressão de Peter era de choque com tudo o que ouviu.

            - Não...nós achamos que vocês iam se divertir aqui e viemos olhar. Mas está tudo bem. Você e Rachel estão suados...podem ir usar os vestiários. Diana...por favor, confira se tudo está bem lá no escritório. – Ele queria ficar a sós com Neal. 


            Jones, Diana e Rachel deixaram a sala de treinos rapidamente. Rachel não trocou uma palavra com Neal. Continuava chateada com ele e Peter desconfiava do por que. Entender aquela mulher, vê-la por ângulos diferentes, estava tocando Peter. Rachel Turner não tinha vivido apenas uma infância impar, ela era assim. Essa criação forjou uma mulher forte e perigosa, com uma coragem que podia causar problemas, mesmo que devesse ser invejada por muitos policiais.


Precisava dizer a Neal o que aconteceu na operação com Lucy e deixá-los resolver o problema. Não podia interferir assim na vida de seus ‘agentes’, mesmo que tudo, absolutamente tudo, lhe dissesse que Neal Caffrey teria uma vida muito melhor longe de Rachel Turner.


            - Um pouco em choque? Por que eu estou. – O consultor disse.


            - É...sua...sei lá o que ela é sua teve uma infância bem interessante. Acho que hoje eu entendo melhor a Rachel. E que fique claro: isso não torna aceitável ela matar quem bem quiser! O passado da Rachel não a isenta de absolutamente nada...ajuda a entender. O pai dela era um desequilibrado para criar uma filha assim! Olhe a que ele a levou!

            - Ela adora dizer que é responsável pelos próprios erros! Não colocar nas costas do pai a responsabilidade...qualquer juiz teria diminuído as penas dela se ela tivesse contado isso que contou aqui. – Neal se orgulhava dela. – Eu gosto disso nela. A Rachel não foge do que fez. Desde o primeiro depoimento pra você, aqui no FBI, ela disse que matou. Lembra?

            - Lembro. Com a maior frieza possível. – Não queria lembrar que aquela era a mesma mulher que agora tinha um crachá do FBI. – Mas não é disso que quero falar com você.

            - Do que é então? – Agora neal estava curioso.

            - A vontade da Rachel não era bem soquear o Jones...mas você. Ela está furiosa. – Não era uma pergunta, mas sim afirmação.

            - Sim, está. Porque sabe que eu escondo algo! – Neal respondeu.

            - É mais do que isso. – Peter sabia que ele ia ficar furioso e resolveu contar aos poucos. – Peça para o Jones a fita da vigilância de ontem a noite.

            - Por quê? – Neal não estava entendendo.

            - Peça...depois você vai querer vir falar comigo.



            Quando Jones lhe mostrou a fita, ficava claro que o problema de Rachel é apenas um: ciúme.


            - Você está rindo, Caffrey?!?!? – Jones se surpreendeu.

            - Ora...se ela tem ciúme...é bom saber disso. – Mas também tinha o lado ruim. – Porque não soube disso na hora? Ela me observou beijando Lucy em um caso, eu usava fones. Podia ter me falado.

            - Peter não quis que você perdesse a concentração. Só isso. – Para Jones essa era a verdade.


            Neal olhou para o relógio. Marcava 16hs24min exatamente.


            - E ele só lembrou de me falar agora? – Peter estava se intrometendo demais em sua vida íntima. Isso tinha que parar.




            Neal entrou na sala de Peter sem usar de sua habitual educação. Normalmente elegante, simplesmente entrou sem bater à porta. Peter sabia bem qual o problema.


            - Eu ia te falar. Acalme-se. – Disse.

            - Passou o dia comigo e agora lembrou que Rachel me viu com outra mulher e por isso me deu foras o dia todo? E isso porque eu estava num caso que você coordenava! Claro que isso é uma coisa que se esquece fácil!

            - Agora você fala com ela, pronto! Pegue o arquivo da Lucy e mostre para ela. Resolvido.

            - Eu devia ir mostrar o arquivo da Lucy para a Elizabeth! Você contou que terá de interrogá-la ainda essa semana? – Elizabeth sabia ser ciumenta também.

            - Nem pense em falar com Elizabeth! – Lucy já tinha criado problemas o bastante.

            - É fácil criar problemas no relacionamento dos outros, não?

            - Você está comparando um casamento de 10 anos com o...o...eu nem sei o que você e a Rachel são! Ninguém sabe! Vocês confundem a todos!

            - Isso não é da conta de todos! – No fundo Neal sabia que ele e Rachel teriam que se assumir e logo. Ou colocar um fim no relacionamento.

            - Quer saber, Neal? Eu achei que seria bom se vocês se afastassem...que se a Rachel achasse que você está com outra garota ela seguiria trabalhando e se afastaria de vocês. Vocês dois são bons para a equipe, mas juntos são um perigo. – Peter sabia que tinha cometido um erro e queria se livrar da culpa. – E não seria tão estranho você flertar com outra. Quantas vezes fez isso quando estava com a Sara...a garota lá em Cabo Verde, por exemplo?


            Neal estava com raiva e pretendia encerrar definitivamente esse problema.


            - Entenda de uma vez, Peter! Ela faz parte da minha vida e vai continuar assim! E ela não é a Sara! Esquece a Sara! Eu já esqueci há muito tempo! Se for para comparar com alguém, compare com a Kate. As duas eu amei de verdade. Pelas duas eu estive disposto a mudar de vida! Só que com a Kate eu não tive tempo. Me tomaram ela muito cedo. Com a Rachel eu não vou deixar a chance escapar! – Ele encarou Peter. – Ouça bem! Chega! Nunca mais faça nada parecido, Peter. Ou a nossa parceria e a nossa amizade acabam definitivamente.



            Neal foi procurar por Rachel, mas achou que precisava esfriar a cabeça antes de conversarem. Já era fim de tarde e ia vir conversar com ela a noite, sozinhos iam se entender melhor. Uma coisa que Peter lhe falou ainda estava em sua cabeça. Ninguém entendia o que Rachel era em sua vida. Claro! Nem ele sabia. Ela vivia lhe fazendo declarações de amor, na cama e fora dela, e ele ficava calado sempre.


            Saindo do FBI e caminhando de cabeça baixa, quase atropelou Ell. Ela tinha vindo buscar Peter para algum programa de casal. Não deveria atrapalhá-los, mas depois de tudo que Peter tinha feito, achou que podia pegar emprestada a mulher dele por alguns minutos. Elizabeth era ótima para conselhos.


            - Preciso conversar com você. – Disse logo de cara.

            - Ok. Diga. – Ell logo viu que só Rachel faria Neal agir assim. Pegou o celular e mandou um SMS para Peter avisando que ia se atrasar.





            Depois que Neal lhe contou tudo, Elizabeth pensou que primeiro aconselharia seu amigo e depois daria colo ao marido. Depois daquela briga, Peter deveria estar derrubado de arrependimento. Peter tinha que aprender a parar que querer resolver os problemas de Neal a sua maneira.


            - Ok...então você tem que ‘acalmar’ a Rachel. E deixar tudo como antes...só que Neal tudo como antes resolve o problema?

            - Ameniza... bastante. Ela nem me olhou hoje. Está furiosa.

            - Ela te viu beijando outra mulher. Que por acaso eu também vi beijando MEU marido. Acredite eu sei qual é a sensação e eu também não olhei na cara do Peter! E ele não tem a metade da sua fala de conquistador.

            - Mas eu não quero a Lucy! Nunca quis! Nem quando era solteiro e a Rachel estava longe!  - Falou sem pensar.

            - Quando você ERA solteiro? – Ela pegou a mão de Neal. – Deixe-me ver a aliança! Eu nem lhe dei os parabéns! Neal...você se sente comprometido com a Rachel.

            -Esse é outro problema. Eu não sei o que sou no momento. – Eles namoravam? Eram parceiros? Eram apenas os pais da mesma criança?

            - Não! Esse é o seu problema. A Rachel não teria ficado tão magoada se ela soubesse que representa algo para você. Neal se ela viu o beijo e não fez nada é porque ela achou que não podia interferir, que não tinha o direito. A Rachel que eu conheço iria até vocês e, no mínimo, te esbofetearia no meio da rua. Coisa que você merecia, aliás!


            Neal até pensou em se defender...achou melhor não. Achava que as mulheres não eram tão unidas.


            - Decida o que Rachel é para você, se é solteiro ou está comprometido com ela. Peça desculpas pelo que a fez sofrer ao vê-lo com outra e diga com todas as letras o que sente por ela. Não vai doer, Neal. Já pensou que a Rachel pode sentir falta de ser amada?

            - É...você está certa. – Ele se levantou e se despediu dela. – Eu vou fazer isso.

            - Ótimo! – Ela ia saindo, mas voltou. – E Neal...lembra quando ia pegar aquele avião com a Kate e me perguntou como eu soube que era Peter o homem da minha vida? Lembra o que te respondi?


            Neal lembrava, sempre lembraria.


            - Claro. Disse que era ‘amar alguém como a pessoa era, não o ideal de perfeição’. – Nunca isso lhe fez tanto sentido.

            - Exatamente. – Ell respondeu. – Descubra, Neal, se você ama Rachel...com os seus defeitos mesmo. – Ela resolveu dar mais uma dica. – Se chegar a decisão que eu acho que vai chegar...flores são sempre de grande ajuda.



            Neal entendeu o recado. Quando Ell lhe disse isso, tantos anos atrás, ele perguntou sobre amor porque pensava em Kate. Tinha dúvidas quanto ao amor dela. Idealizava em Kate o amor perfeito, a via como a mulher perfeita para ele. Agora era Rachel quem dominava seus pensamentos e...era o contrário. Sabia que ela não era perfeita. E tinha só uma certeza: Rachel Turner o amava da forma mais crua e sincera que poderia existir no mundo. E ele estava disposto a aceitar e retribuir esse amor.



            Naquela noite, Neal se arrumou ainda mais do que normalmente. Chegou no FBI e ligou para Peter liberar sua entrada naquele horário. O fato dele estar sentindo-se culpado e, provavelmente, uma pressão de Elizabeth, o fizeram autorizar. Só lembrou que não tinha autorização para dormir lá. Em uma hora deveria estar fora do FBI.


            Seguindo o conselho de Ell, levou um buque de flores.




 

            Porém, o olhar de Rachel não soou menos frio apenas pelas flores. 


            - Eu sei o que você viu. Agora sei. – Disse-lhe. – Mas eu quero ouvir da sua boca, Rachel. Quero que me diga que está com ciúme.

            - Quer ter certeza que me magoou? – Ela estava amarga. – Eu não sabia que você era tão cruel, Neal. Ok...eu senti ciúme de você. Feliz? Agora vá embora! Não quero te ver! E como eu estou presa aqui, é você quem vai.


            Rachel lhe deu as costas e Neal sorriu. Era bom saber que ela sentia ciúme. Já que ele sofria só de pensar em alguém cobiçá-la.


            - Eu te entendo, Neal. Você passou tempo demais de cachorrinho do FBI, agora tá livre, quer aproveitar. Vai aproveitar a vida e todas as mulheres que puder. E eu...sou a mãe do seu filho. Não precisa ficar amarrado a mim.


            Foi um beijo que a impediu de continuar falando. Um beijo longo e menos violento que os outros, porém tão devastador quanto.


            - Nunca mais diz isso. – Ele estava com o rosto a um centímetro do dela. – Quando eu falei isso de você ser a mãe do meu filho...não era para ser negativo. Eu amo o fato de você ser a mãe dele. E você é muito mais do que isso...


            - Eu vi, Neal. – E lembrava bem da imagem.

            - Me viu beijando uma loira na rua? Sim, viu. – Ele lhe entregou uma pasta. – Agora olhe quem é a loira!

            Rachel abriu a pasta e não demorou a constatar o engano que cometeu.


      - Lucy Moore...ladra de bancos. Presa ontem em uma operação liderada pelo agente Peter Burke...ok..talvez eu tenha me precipitado...um pouco.


            Neal sorriu ao vê-la ficar vermelha de vergonha pela cena de ciúme.


            - Um pouco? É, um pouco. Foi bom para eu ter uma ideia de como você é com ciúme. Você sentiu pela Lucy quase o que eu passei te vendo com o Ruan. Só que nós trocamos um beijo na rua...e o Rodrigues te tinha nua no quarto dele.

            - Você sabia que era uma operação, eu não. Podia ter me falado!! – Não ia aceitar que Neal virasse o jogo.

            - Acredite Rachel, é ruim igual. – Nunca conseguiria vê-la com outro homem e não sentir nada. Daquela sensação vinha uma certeza. Precisava lhe dizer tudo o que sentia. – Além de ser mãe do meu filho, você é a mulher por quem perdi a cabeça totalmente. Eu assumo, não sei lidar com esses sentimentos. Sempre faço bobagens quando estou apaixonado. Eu tenho medo que tudo seja um sonho! Que vai acabar logo ali. Mas importa se você está presa ou não, importa é o que a gente sente pelo outro. Desse sentimento veio o George. Não o contrário, Rachel. Eu já te amava antes dele.


            Tudo que Rachel fez foi chorar ouvindo isso. Demorou para Caffrey se declarar. Porém, ele o fez com vontade. Ele a desmontou com as palavras tão românticas quanto sinceras.


            - Droga! Ter bebê me deixou muito molenga mesmo...vivo chorando! – Ela achou que o humor era a melhor escapatória.

            - Na verdade, eu não conheço outra mulher menos molenga que você. – ele beijou-a novamente. – E isso é bom por que eu não posso namorar uma mulher fraca. Não combina comigo.

            - Namorar??? – Ela riu e perguntou.

            - É...foi nesse ponto que a gente parou. Nós pulamos uma etapas...mas acho que namorar ainda é uma coisa boa, mesmo com o George. Topa ser minha namorada?


            Continuar o beijo e ir muito além seriam as melhores formas de responder aquela pergunta. Claro que desejava ser a namorada de Neal Caffrey! Sempre quis, desde o começo. Só queria que ele a amasse.

            - Claro que eu quero ser a sua namorada. Eu te amo. – Dessa vez ela não se importou em falar e não ficou vermelha. Uma namorada tinha o direito de se declarar.

            - Ótimo. Porque eu também amo a minha namorada. – Com uma acrobacia no chapéu, Neal deu a dica de que precisava ir. – Eu adoraria passar a noite com você, mas Peter só me deu uma hora. Então, namorada, a gente se vê amanhã.



            Neal saiu cantarolando do FBI. Tinha ido tudo bem, estava feliz. Sem tornozeleira, trabalhando no que gostava, com um filho maravilhoso e a namorada que amava. Um homem podia ser feliz assim.


            Sua expressão mudou quando percebeu que estava sendo seguido. Ficou apreensivo. Tinha inimigos...algum deles podia tentar algo. Pegou o celular para ligar para Mozzie. Iria pedir para ficar de olho...se armassem para ele, George seria sempre um alvo, um ponto fraco.


            Quando viu quem era o, ou melhor, a perseguidora, relaxou. Ela não era perigosa, ao menos não para ele.






            - Alex! Faz tempo hem... - Ela continuava a mesma dos tempos em que roubavam juntos. Era especialista em receptação e deu fim em muitos de seus roubos...além de já terem tido um caso.

            - Muito tempo, Neal. Tempo demais longe de você.



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