quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Dupla perseguisão - Capítulo 19








            Vendo seu bebê acordar com um lindo sorriso no rosto Rachel pensou que finalmente tinha encontrado a felicidade. Mesmo incompleto, esse era o único ‘final feliz’ possível na vida dela. Criar o filho escondida, mas em paz e lhe dar uma vida tranquila onde ele pudesse crescer e escolher seu futuro.

            Ser uma boa mãe tornou-se uma obsessão. Uma deliciosa obsessão. George estava com dois meses e se desenvolvia rapidamente. Cada pequena descoberta dele lhe enchia o coração de amor. Todas as manhãs ela acordava com seus choramingos. Na verdade, nunca o tinha ouvido realmente chorar a plenos pulmões depois do nascimento. Quando ele começava a choramingar, ela já o pegava e acalmava. Entendia imediatamente o que seu filho desejava, o que necessitava. Podia ser fome, a fralda incomodando ou apenas vontade de ganhar um carinho.

            - Você quer seu café da manhã? É? Vem...vamos mamar pra começar bem o dia.



            Depois de também se alimentar, ela pegou seu bebê e, aproveitando-se de que era cedo e o sol ainda estava fraco foi com George para a praia. O lugar era totalmente seguro e o menininho já estava habituado a ficar em seu bebê-conforto enquanto a mãe de exercita na areia.



            Depois voltavam para casa, ele mamava mais, Rachel lhe dava banho e ele tirava mais uma soneca. Era o momento que ela tinha para ajeitar a casa e cuidar de si mesma. Preparava algo para almoçar e ficava babando em seu bebê mais um pouco. A tarde passeavam pela cidade. George atraía muitos olhares. As pessoas da ilha diziam que ele era lindo e tinha os seus olhos azuis.

            - O pai também tinha olhos claros. – Ela respondia lembrando-se de manter a farsa de ser uma viúva.

            Ele sorria recebendo a atenção de todos, mas chorava se era segurado por estranhos. Gostava da segurança dos braços da mãe. As noites passavam em casa. Só os dois. Criaram uma rotina feliz. Rachel até gostava quando filho estava mais agitado e exigindo atenção. Quando tudo ficava calmo e ela tinha tempo para pensar começava a sentir saudade. Saudade de uma vida que não poderia reviver.

            Quando George estava com três meses de vida a saudade tornou-se ainda mais insuportável. Vinha se policiando e dizendo para viver o agora. Deixar os EUA para trás. Mas necessitava ver um rosto conhecido. Com o filho dormindo, foi até o guarda roupa e pegou de dentro da mochila o notebook. Já tinha comprado um modem de internet 4G e vinha se segurando para usar. Não conseguiu mais.

            Entrou no skype. Usava uma conta de perfil falso que não a identificava. No passado já a tinha utilizado para falar com Henry e sua mãe. Ninguém descobriu. Era seguro. Sem falar que quando Henry esteve em seu esconderijo, ele havia mexido no computador e instalado um sistema que impossibilitava que alguém rastreasse seu IP. Estava segura. Deixou a skype aberto e foi cuidar do jantar enquanto esperava que a mãe percebesse que ela estava conectada.

            As semanas de espera que seguiram a visita a casa de Nicolle só não foram piores para Neal porque agora ele tinha várias fotos do filho para ver. Também se sentiu mais feliz por saber que Rachel não tinha mais raiva por ele. Mas o tempo passando lhe incomodava. Parecia que Nicolle realmente não tinha nenhum contato com a filha além daquelas cartas que recebia, mas que não tinha como responder. Seu filho já estava com 3 meses e Rachel não contatou a mãe usando o computador.

            O celular de Neal tocou. Era Peter.

            - Mozzie está com você?
            - Sim. O que houve? – Eles não eram tão amigos para uma ligação de cortesia. – Ela acessou? Foi isso?
            - Parece que sim. – Peter respondeu. – O equipamento está na minha casa...mas preciso de Mozzie para tentar invadir e rastrear ela. Venham para cá. Acho que o assunto delas será longo.
            - Estamos indo. – Eles já estavam na rua, na verdade.
            - E Neal...eu estou gravando a conversa toda para você ver.
            - Obrigado.

            Mozzie foi direto tentar hackear o computador de Rachel enquanto Neal, Peter e Elizabeth, que não conseguiu ficar longe, assistiam a conversa de mãe e filha.

            Nicolle e Rachel estavam emocionadas de, mesmo distantes, olharem uma para a outra novamente. Era um reencontro digital.

            - Eu nem vou perguntar onde você está, porque sei que não dirá. – Nicolle chorava. – Que saudade Rachel!
            - Também sinto sua falta, mãe. Só que é melhor assim.
            - Onde está George?! Quero vê-lo!
            - Está dormindo no berço...eu já busco ele pra você ver. Mãe! Ele é...tudo, ele é minha vida! Agora eu entendo o que você disse que sentiu quando me encontrou. É como se ele tivesse mudado tudo. Mudado o mundo.
            - Você está uma mãe muito boba.
            - Sim. Totalmente. – Agora era a filha a chorar. – E eu estava morrendo de vontade dividir isso com você.
            - Levanta! Deixe eu ver você, sua roupa. Quero ver como você está agora.



            - Você está linda, Rachel! E que roupa é essa? Diferente.
            - É moda aqui. Blusinhas e saias longas, além de biquínis e cangas. Essas são minhas peças de roupa. – Sem perceber ela entregava que estava em uma praia.
            - Você já recuperou seu peso!
            - Não me pesei, mas acho que sim. Culpa do seu neto. Não sei como consegue mamar tanto. Antes era toda hora. Agora até é mais espaçado, mas mama muito.
            - Você amamenta só no peito ou dá mamadeira? – A avó queria saber tudo.
            - Só peito. – Rachel respondeu orgulhosa. – Tenho muito leite e dizem que é melhor então enquanto ele quiser vou dar.
            - Faça isso. Mas se alimente bem. Seu leite tem de ser forte.
            - Eu como bem. Aqui se como muitos frutos do mar, frutas e verduras. É fácil ter uma alimentação legal. – Ela emendou com uma pergunta. – Como o Henry está?
            - Preocupado com você. Ele me levou até a casa onde você deu a luz. Quase enfartei quando a dona me disse que você bateu o carro lá. Você se arriscou tanto, filha.
            - Eu estava nervosa, mãe.
            - Mas foi bom ter fugido. O FBI estava na sua cola. Eles quase te pegaram.
          - Sério...como será que descobriram? Enfim...sobrevivi mais uma vez. E não vou deixar que ninguém me afaste do George.

            Um chorinho ecoou pela casa e ambas sorriram.

            - Vou buscar seu neto pra participar da conversa. Espere um minuto.




            - Acordei animadíssimo vovó! – Brincou Rachel carregando o bebê só de fraldas.
            - Rachel...como ele está grande e lindo. Parabéns filha!
            - Viu! Ele é a melhor prova de que estou saudável. Meu filho só mama no peito e está assim!

            Por algum tempo Nicolle apenas observou o neto. Vê-lo se mexer era diferente de receber uma foto. Seu neto era esperto, agitado, alegre e feliz.

            Neal observava exatamente as mesmas coisas. Seu filho dava gritinhos, passava as mãos pelos cabelos da mãe e olhava para o monitor do computador. Seu filho era uma criança feliz...

            - Ela é uma ótima mãe. Cuida bem dele. – Falou para Peter. Mozzie estava trabalhando ferozmente em outra máquina.
            - Ela é uma assassina. Lembre sempre disso. – Foi a resposta que recebeu.
            - Uma coisa não anula a outra.

            Não continuaram a falar e seguiram ouvindo a conversa.

            - Os olhos dele, Rachel! Tão lindos quanto os seus.
            - Você acha? Eu olho pra ele e vejo os olhos do Neal. Ele me lembra muito o Neal.

            Isso fez Neal se emocionar. Era legal saber que, mesmo sem estar sem seus braços, George levava coisas suas. Claro que o menino iria lembrá-la do pai. Ele foi concebido com muito amor. Devia trazer lembranças boas. Ele tinha lindas lembranças dela em seus braços.

            - Eu...mostrei pra ele as fotos. Ficou emocionado. Eu acho que ele tem sentimentos por você, filha.
        - Eu vi bem os sentimentos que ele tem por mim...nem pense em dizer pra ele que conversou comigo!
            - Mas você disse que não sentia mais raiva! – As duas se exaltaram.
            - E não sinto. Mas o Neal é inteligente...pode me encontrar. E se ele colocar as mãos em mim, mãe, sabe o que ele fará? Vai me devolver pra cadeia e ficar com meu filho. E isso eu não vou permitir que aconteça. Nunca! Ninguém vai me separar do George.
            - E se ele só quiser se acertar com você?
            - Não é para me dar um abraço de boa sorte que o Burke me procura, mãe. Tudo o que ele quer é me trancafiar e jogar a chave fora. E eu não vou dar esse gostinho pra ele.
            - O Agente Burke ficou irritado quando viu que chegam coisas suas de várias partes do mundo. 

            Rachel riu. Era ótimo saber que Peter Burke estava irritado. 

            - Não tenho medo dele. Podia tê-lo matado. Só não fiz porque o Neal ia sofrer...e também pela esposa dele. Por algum motivo ela parece amá-lo. – Ela olhou para o filho em seu colo. – Não quero ficar falando disso. É passado. Mãe...eu vou desligar. Tenho que dar o peito pra ele mamar e fazê-lo dormir novamente. É hora da soneca dele.
            - Ok filha. Eu vou dormir. Aqui já é muito tarde. Mas volte a entrar em contato. Está bem?
            - Sim, claro.

            Era muita informação para conseguir assimilar rapidamente. O mais importante, claro, era que o bebê estava bem. Mas havia mais. Ela sequer pensava em voltar. Seguia muito desconfiada quanto aos sentimentos de Neal.  E continuava esperta o suficiente para nunca dizer onde estava.

            Tiveram ainda uma surpresa. Quando Mozzie desligou seu computador, tinha duas notícias para dar. Uma boa, a outra ruim. Tinham conseguido entrar na máquina dela. Desde que ela estivesse com o computador ligado, poderiam ver o que se passava pela web can. Além disso, verificar o que ela tinha na caixa de e-mails e no HD. Porém, não foi possível ver a localização do computador. Algo travava essa informação.

            - Então não serviu para nada? – Peter estava irritado.
            - Agora temos olhos dentro da casa dela! Já é alguma coisa. – Mozzie defendeu-se. – Sem falar que Neal viu o filho.

            E Neal se encontrava fora do ar, lembrando do menininho agitado no colo da mãe. Ele balbuciava sons estranhos, tentava pegar os pezinhos, colocava a mão na boca. Tudo coisas comuns para bebês. E ele queria ficar ali vendo isso o dia todo.

            - Vocês passaram meses ouvindo-a e ela não disse onde estava. Para encontrá-la esse plano todo não serviu para nada! – Peter simplesmente não entendia que só vê-los já foi uma coisa muito importante para Neal.

            As duas semanas seguintes foram tranquilas. A única grande preocupação da divisão de Colarinho Branco era o fato de Lucy ainda não ter sido encontrada. Mas ela não era perigosa, então Peter estava focando suas forças em Rachel. Por ordem sua a equipe estava tentando bater as informações que tinham e ver possibilidades de lugares. Mas não tinham nada ainda.

            Analisando o HD do computador, o FBI descobriu alguns dados bancários. Iriam fechar algumas contas. Mas pelos valores, aquele não era todo o dinheiro dela. Já era alguma coisa. Estava, aos poucos, se aproximando. A localização, no entanto, ainda era um mistério.

            Ela até deixava o computador ligado durante muitas horas no dia, mas tudo o que viam pela câmera era ela passar pela casa carregando o bebê ou, as vezes, varrendo a sala. Nada que ajudasse. Como o notebook estava sempre dentro de casa, não conseguiam sequer uma imagem do lugar para usar na busca. As conversas com a mãe também não agregavam muita coisa. Eram mais papos de mãe e filha que até irritavam Peter pela futilidade.

            - Desculpe demorar a entrar hoje mãe. Nós fomos na praia. George até molhou o pezinho no mar.
            - Estou vendo...que roupa linda, filha. Você está linda.


            - Gostou? Quero te mostrar outra coisa. Fecha os olhos. Só abre quando eu mandar. – Quando a mãe o fez ela tirou a saída de praia e ficou só de biquíni na frente da câmera. – Pode abrir. Olha! 






            - Linda! Eu sabia que você ia voltar a forma rapidamente. Sempre fez exercícios e comeu bem. Nem parece que teve um bebê!

            Peter achava aquele tipo de conversa sem sentido. Que diferença fazia voltar a forma mais rápido ou mais devagar? Diana não concordava com o chefe.

            - Como ela conseguiu?! Eu levei 6 meses pra entrar na minha calça jeans! E ela pariu há nem 4 meses e está assim!
            - Diana...você acha isso importante?!?! – Logo sua confiável agente.
          - Chefe! Toda mulher quer recuperar o corpo depois que tem filho. A gente nunca sabe se vai mesmo voltar tudo para o lugar.

            Neal notou Jones, outro agente que estava atuando no caso, babando na imagem que via. Ficou bravo. Não era para tantas pessoas ficarem vendo isso. Muito menos quando eram imagens tão íntimas.

            - Não tem nenhum processo pra arquivar não, Jones? – Disse bravo.
            - Iiiiiii bateu ciuminho?
            - Não. Mas é questão de...respeito.
            - Desculpa aí, Neal. – Diana brincou. – Mas se você não pegar ela quando for presa... olha que se ela quiser eu topo. – Ela disse séria, mas depois caiu na gargalhada. – Só brincadeira! Relaxa!

            Neal não gostou nada da brincadeira. Ele que até já tinha tentado algo com Diana quando não sabia que era lésbica, agora tinha de ouvir isso.

            - Não esqueça de que ela é uma assassina, Neal. – Sempre que ele manifestava algum sentimento por Rachel, Peter dizia isso.
            - Como se você me deixasse esquecer. – Foi a resposta. – Mas ela continua sendo a mãe do meu filho.
            - Você ainda não sabe se esse filho é seu. Quando encontrá-los terá que solicitar um exame de DNA para comprovar a paternidade. Aí sim poderá afirmar isso.

            Isso fez Neal sentir raiva.

            - Eu não vou pedir DNA algum. É meu! Claro que é meu filho. Olha pra ele! É meu! E eu já sabia que era meu filho antes mesmo de nascer. Não gosto que duvidem disso! Eu sei que George é meu filho. – Gritou.

            Continuaram ouvindo.

            - A mãe...igual não está. – Rachel disse ainda falando do corpo. – Ficaram uma ou duas marcas na barriga e certamente o meu quadril está mais largo do que era. E eu não tenho esperanças do meu peito voltar a ser exatamente o que era depois que George desmamar. Mas quer saber? Eu não sou a mesma de antes de engravidar. Minha cabeça mudou. Me parece natural que o corpo também mude.
            - Está linda...imagino se não apareceu ninguém pra ocupar o lugar do Neal na sua vida.

            Nesse momento Neal perguntou-se se aquele era o dia do seu inferno astral. Agora até a mãe dela vinha com esses papinhos.

            - Eu não coloquei uma placa de ‘procurasse namorado’, se é o que quer saber. – Foi a resposta de Rachel.
            - Ora...você é jovem e linda. Logo os homens desse lugar vão te olhar. Se é que ainda não olharam.
            - A história da ‘viúva sofredora e com filho para criar’ assusta os homens. E isso é bom. Menos encrenca. E fim de papo, mãe. Nos falamos outra hora.

            Na semana seguinte Rachel estava animadíssima. Pensava na possibilidade de voltar a estudar. Conversou com a mãe, que lhe deu toda a força, mas comentou que o diploma nunca poderia vir no seu nome verdadeiro.

            - Não é o diploma que quero, é só a possibilidade de fazer alguma coisa, estudar, aprender. Recomeçar.

            Ela estava a cada dia mais feliz. Vinha até mesmo sonhando. Na madrugada anterior sonhou que George crescia ali naquela praia. Lindo e cheio de vida, no sonho o viu dar os primeiros passinhos na areia. Correr atrás de uma bola com ela desesperada indo atrás. No sonho ela o via crescer naquele lugar.


            George acabara de completar 4 meses quando ela começou a sentir um pressentimento ruim. Essa era outra coisa que parecia ter mudado. A chegada de George a deixou com o instinto apurado. Sentia o perigo de longe.

            Ao checar suas contas, percebeu que algumas foram fechadas. O FBI tinha conseguido rastrear parte do seu dinheiro. Nada que a deixasse pobre, mas não gostou disso. Não ia perder para eles. Precisaria transferir o que ainda tinha para um lugar seguro.

            Naquela tarde foi até o centro da cidade empurrando George no carrinho. Ele ia bem feliz, sentadinho, observando tudo. Adorava passear na cidade. Ela parou numa sorveteria. Depois de tanto esforço para voltar a forma, merecia um sorvete. Só torcia para George não querer mamar logo. Achava desconfortável amamentar na rua.

            - A moça está aproveitando as coisas boas do verão. – Disse um homem jovem que se aproximou sem avisar. – Lindo menino. Posso pegar?



            Antes que Rachel tivesse chance de responder ele começou a tentar soltar o cinto do carrinho e só não pegou George porque ele se assustou e começou a chorar.

            - Melhor não! Ele não lida bem com estranhos. – Ela acalmou o filho. – Desculpe por isso. Quem é você?
            - Meu nome é Nicollas. Não pude deixar de notar uma mulher tão bela...seus cabelos brilhavam ao sol enquanto caminhava pela alameda.
            - Isso significa que estava me observando? Por toda a rua?

            Ele riu.

            - Sim. Me pegou. Eu te observei e fiquei esperando seu marido se aproximar. Já que ele não veio...eu me aproximei.

            Rachel resolveu testar o rapaz. Aquela história estava estranha.

            - E o que acontece se meu marido chegar agora? – Provocou.
           - Eu não estou vendo aliança no seu dedo. – Foi a resposta também provocadora. – Qual seu nome?
            - Rebecca.
            - Muito prazer, Rebecca. Muito mesmo.

            Rachel não podia negar que o rapaz até era bonito, mas sentia um arrepio na nuca que lhe dizia que era melhor ficar longe dele. A reação de George a qualquer aproximação dele também lhe parecia um sinal. Despediu-se e saiu andando tendo o cuidado de se certificar de que não era seguida. Conversou com a mãe a respeito. Romântica, Nicolle já teve ideias. Neal não gostou nada da conversa.

            - Eu sabia que você não ia ficar só muito tempo. Talvez seja isso o que você precisa, Rachel. Um novo amor.
            - Não inventa mãe!
            - Por que não?
          - E qual a sua sugestão? Mais um relacionamento cercado de mentiras com o rapaz achando que está namorando uma viúva ou eu conto toda a verdade e mostro pra ele a arma que está na gaveta da cozinha?
            - Nem tanto ao céu nem ao inferno. – Ela resolveu mudar de assunto. – Você ainda tem a arma?
            - Claro. – A mãe a olhou feio. – Não pretendo usar, mas nunca posso descuidar. Tem muita gente me procurando. Se alguém me achar, preciso ter como me defender.
            - É só pra isso? Desistiu daquele diamante?

            Peter e Neal estavam ansiosos por essa resposta. Ela não falava no assunto há muito tempo.

            - Desisti. Dei adeus a essa pedra. Nunca foi pelo dinheiro. Era pelo que representava para o papai e eu. Era para eu recuperar uma coisa que é da nossa família e ele deu a vida por isso. Agora não é mais assim...eu não sou dessa família.
            - Não diz isso. – Nicolle ainda sofria com isso.
            - Eu me sinto filha de vocês. Mas eu não me sinto mais na obrigação de ir atrás dessa pedra. Isso acabou.
            - Eu fico feliz em ouvir isso. Richard estava certo. Eu devia ter te falado a verdade antes. Você teria tido outra vida. Seu pai realmente forçou em você certos desejos dele que nunca me agradaram. A MI5 nunca foi pra você.
            - Os odeio com todas as minhas forças! Papai trabalhou lá a vida toda e nem perceberam quando morreu. Agências de governo só pensam em números...não veem as pessoas.

            Pela primeira vez Peter reconheceu que Rachel tinha algo de positivo. Algum senso de justiça no corpo. Pena que ela desenvolveu isso muito tarde.
           
            Dois dias depois ela tornou a encontrar Nicollas. Dessa vez, no fim da tarde, na praia, muito perto de sua casa. Ele começava a irritá-la. Em especial porque dessa vez ele usava uniforme. Era policial.

            - Boa tarde Rebecca. Aproveitou bem o dia?
            - Muito. Mais um dia lindo de sol, policial Nicollas.
            - Posso acompanhá-la até em casa? Uma mulher sozinha com um bebê pode ser perigoso.
Como ele sabia que morava sozinha?
            - Não é necessário, policial. – Ela negou. – Pode terminar sua ronda tranquilamente.

            Isso a estava incomodando e ficou feliz por não vê-lo nos dois dias seguintes. Policial ainda por cima. Era muito azar. Comentou isso com a mãe e deixou claro que estava com o pé atrás.

            Neal e Peter também estranharam. Não era usual a policial cercar um suspeito assim. Se a polícia local tivesse descoberto uma fugitiva internacional, os teria acionado. 

            - Parece que você anda despertando sentimentos em homens da lei. – Brincou Nicolle. – Calma Rachel. Não é nada demais.

            Elas se despediram e Rachel seguiu sentada à frente do computador na sua sala. Os ombros pesados. Tinha algo estranho no ar.

            Era sábado a noite. Neal, Peter, Mozzie e Ell estavam acompanhando tudo da cozinha dos Burke. Percebiam que ela estava nervosa. Tinha acabado de encerrar a conversa com a mãe e George dormia em seu berço. Mas ela não estava feliz como nos últimos dias. Neal estava tão apreensivo quanto ela.

            De repente alguém bate na porta e Rachel leva um susto. Mas se levanta arruma a saia longa e vai até a porta. Pela câmera do computador, Neal e os amigos a veem abrir a porta e encontrar um homem carregando uma garrafa de vinho.
            - Policial Nicollas? – A voz dela não expressava seu descontentamento. Sabia mentir. – A que devo a visita?
        - Sabe Rebecca...eu me preocupo com você. Viver sozinha numa casa afastada como essa...poderiam te fazer algum mal. E ninguém iria te socorrer.

            Aquilo soou como uma ameaça na casa dos Burke. Rachel se manteve fria em seu teatro.

            - Não estou sozinha, policial.
            - Um bebê de 4 meses não a defenderá de nada. – Ele respondeu.
            - Eu nunca lhe disse a idade de meu filho. – Aquilo já estava passando dos limites.
            - Eu andei perguntando pela cidade. – Ele respondeu calmamente.

            A respiração de Neal estava acelerada.

            - E o que mais te contaram sobre mim? – Ela precisava saber o que esse homem descobriu.
            - A jovem viuvinha linda, com cabelos cor de fogo. Alguns realmente se comoveram com a sua história, Rebecca. Perder o marido estando grávida e vir recomeçar a vida em outro lugar. Que nome você disse que seu marido tinha?
            - Eu não disse. Nem pretendo dizer. – Basta. Mas manteve um tom ameno. – É um tema difícil. Não quero ficar lembrando.
            - É estranho, Rebecca. Porque não vejo a marca da aliança no seu dedo. Normalmente fica. E a casa de uma viúva não deveria ter fotos em família? Não vejo nada de família aqui.
            - Tenho minhas razões. – Ela estava muito nervosa agora. Ele era mais esperto do que pensava.

            Queria chegar até a cozinha. Precisava pegar a arma que estava na última gaveta do balcão. Para disfarçar, pegou a garrafa de vinho que ele trouxe. 

            - Não estou bebendo, mas te sirvo. – Disse.
            - Não bebe por quê?
            - Amamento meu filho. – Disse do meio do caminho.
            - Aaa sim seu bebê. Tão novinho. Está dormindo no quarto? É ali? – Ele apontou para a parta. – Eu poderia ir vê-lo.
            - Não entre aí! Não toque no meu filho! – Gritou. Chega de teatro.

            Rapidamente Rachel abaixou a mão para pegar a arma. Mas não a encontrou no lugar. Abaixou os olhos e viu a gaveta só com talheres. Tinha certeza de que estava aqui.

            - É isso que está procurando, Rebecca? – Nicollas falou enquanto apontava a arma para ela.

            Neal sentiu a espinha gelar ao ver aquela cena. Ela na mira do revolver e seu filho no quarto ao lado, acessível a alguém que não faziam ideia de quem era.

            - Você invadiu minha casa quando eu não estava. – Ela disse controlada.
            - Sim. Invadi e achei interessante encontrar esse brinquedinho. Acho que você esconde algumas coisas, Rebecca.

            Ela não fazia ideia do quanto ele sabia. Podia ser só um bandidinho pé de chinelo qualquer ou poderia ser alguém enviado para pegá-la. Teria que ser mais esperta que ele.

            - O que você quer? – Perguntou fingindo a voz tremer.

Enganou Elizabeth. Ela temia por mãe e bebê e sentia por Neal ter de assistir aquilo.

            - Calma, Neal. Lembre que ela é treinada. – Peter estava mais calmo, controlado.

            Nicollas demorou pra responder.

            - Quero muita coisa. Mas vamos começar com você tirando a roupa. Estou curioso pra saber se você é ruiva natural.

            Será mesmo que se tratava apenas de um depravado qualquer e não de um de seus inimigos? Tinha que tirar a arma dele. 

            Para ganhar tempo, fez o que ele mandou e tirou a roupa toda. Não tentou se esconder. Ao contrário, exibiu-se. Pensou que excitá-lo era sua melhor arma para confundi-lo. Já estava convencida de que não passava de um policialzinho de interior, que queria tirar vantagem dela. Escolheu a vítima errada.

            Aproximou-se lentamente, sensual, sem imaginar que seu show também era visto em NY. Foi fácil deixar Nicollas desconcentrado. Ele achou que tinha uma grande vantagem com a arma, mas não. Agradecendo mentalmente ao pai pelas extenuantes aulas de luta, com um giro alto de perna que aprendeu no muay thai, tirou a arma de suas mãos. O outro golpe foi na nuca dele. Caiu apagado sem tempo de reagir.
            - Nossa! – Elizabeth gritou. – Bem feito pra ele!
            - E vocês preocupados com ela. – Peter lembrou.

            Neal sorriu aliviado. Mozzie também gostou do que viu. Ela a cada dia mais mostrava que era boa no que fazia.

            Rapidamente, Rachel o amarrou em uma das cadeiras. Agora o jogo tinha virado. Ele ia aprender uma lição. Quando abriu os olhos, Nicollas viu Rachel vestida e com a arma apontada para ele.

            - Com quantas você fez isso? Hem? Me conta? O que elas faziam? Confiavam no policial? Abriam as pernas pra você e depois iam embora caladas? – Ela se aproximou dele e lhe deu um murro no rosto. – Surpresa! Comigo não!
            - Vagabunda! – Ele gritou.
            - Tudo isso por uma transa? Você não acha mais fácil conquistar uma mulher, não? Até que você foi bem. Muitas teriam caído no seu papinho. – Mais um murro. – Eu não!
            - Desgraçada!
            - AAAA isso eu sou mesmo! Mas vou te contar mais uma coisa! Sabe qual foi o único risco que eu corri aqui? Foi de vomitar em você! – Ela olhou para a arma na mão. – Eu não preciso dessa arma pra te matar. Nãoooo. Eu posso simplesmente quebrar o seu pescoço ou então...te sufocar. São tantas as formas.

            Ela desejava fazê-lo sentir medo. Policiais adoravam atemorizar as pessoas. Inverter o jogo com um porco daqueles era muito divertido. Mas não ia cometer um assassinato, não com seu filho dormindo no quarto ao lado.

            - Ta suando? É medo isso?! Covarde! – Mais um murro no rosto. – Pra me mandar tirar a roupa com uma arma na mão você teve peito né?

            Com raiva, muita raiva, ela deixou-o amarrado e foi pro quarto fazer uma mala. Novamente só pegou o mais importante. Dinheiro, cartões, a certidão de nascimento de George, algumas peças de roupa suas, e as coisas do bebê. Arrumou-o no bebê-conforto e levou para a sala. Nicollas continuava lá. Guardou a arma na cintura.

            - Pronto! Já decidi o que fazer com você! – Ela parecia descontrolada. Era proposital.

            Neal, Peter, Mozzie e Elizabeth achavam que iam presenciar um assassinato. Achavam que ela ia realmente matar a sangue frio.

            - Eu deveria e poderia te dar um tiro bem no meio da testa. Mas não vou. Não é por você, acredite. Eu adoraria te ver morto. É pelo meu filho. – Ela parou de falar por um minuto. – Eu vou te deixar aí. E por mais que eu queira que ninguém venha te procurar e você morra a míngua, sei que vai conseguir se soltar e sair daqui a algumas horas. Por isso eu vou te dar um conselho. Quando conseguir sair, volte para o seu trabalho e finja que nada aconteceu aqui, que nunca esteve na minha casa. Se alguém perguntar para onde foi a ‘viúva’, finja que nem me conheceu.
            - E te deixar na boa? – Ele ainda reclamou.
            - A outra opção é você contar que a Rebecca, aquela moça delicada que vivia sozinha com o filho, te arrastou para a casa dela, amarrou, bateu em você e fugiu com o bebê. Que história mais sem pé e nem cabeça! Quem vai acreditar?

            Ela lhe deu as costas para ir pegar a ultima coisa que faltava: o computador.

            - Eu vou te caçar! – Ele ameaçou.

            Ela parou no meio do caminho e riu.

            - Se você fosse um homem inteligente, não tentaria cruzar o meu caminho novamente. Mas, se quiser, tente me encontrar. Tem gente muito mais esperta tentando há tempos. Adeus.

            Ela fechou o computador e saiu fervendo de raiva por ter de fugir do lugar onde achou que seria feliz.

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