quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Dupla Perseguição - Capítulo 13




            Peter entrou na sala de interrogatório seguido por Neal. O homem que os aguardava,  Henry Roussel, os analisava com expressão tranquila. Não tinha nada a temer. Chegava a ter uma expressão desafiadora no rosto.

            - Bom dia, Sr. Roussel. – Cumprimentou Peter.
            - Bom dia. - Ele respondeu seco.
            - Eu sou Peter Burke e esse é Neal Caffrey. O senhor sabe por que pedimos que viesse aqui?
            - Não. – Tinha até um sorriso delicado em seus lábios. Sabia exatamente o motivo. – Divisão de colarinho branco...estou sendo investigado por alguma coisa. Posso lhe adiantar que minha empresa caminha sempre legalmente.
            - Não, não é nada com sua empresa...como o senhor bem sabe. É mais pessoal. – Peter também percebeu o tom jocoso do jovem empresário e estava ficando irritado. – Fale-me sobre Rachel Turner.
Henry olhou pra cima e riu charmosamente.
            - Rachel...bonita, esperta, uma grande amiga...
            - Senhor Roussel, eu não estou interessado no perfil do Facebook dela, caso tivesse um. Quero informações concretas.
            - O que exatamente? – Henry não se afetou com o tom de Peter.
            - Onde ela está?
            - Sério? É essa a pergunta? – Henry riu. – Sinto não poder ajudar. Não sei, Agente Burke.
            - Nós sabemos que ela é sua amiga, Henry.
            - Nunca neguei nem vou negar isso. Eu e Rachel passamos boa parte da infância e da adolescência juntos. Fomos namorados, somos amigos até hoje. Mas ela não vive comigo.
            - Eu sei que ela entra em contato com você. Se não o fez ainda, vai fazer. Quero que nos informe onde ela está.
            - Você realmente nunca vai encontrar a Rachel se acredita que ela viria a um amigo que a polícia conhece e simplesmente diria o endereço. A Rachel é mesmo muito mais inteligente do que vocês...olha ela sabe que vocês vão grampear meu telefone, vão me seguir. Eu sou a última pessoa que ela virá ver.
            - O senhor afirma que Rachel Turner não entrou em contato? – Peter estava se convencendo.
            - Não, Agente Burke. Eu o informo que ela já entrou em contato. E não disse onde está. Rachel é tão bem treinada quanto qualquer agente do FBI, talvez seja melhor que muitos...nem em sonho ela vai falar onde está, para ninguém. O amigo que seja. Simples assim. Será que acabamos?
            - Tem alguma pergunta, Neal? – Peter estranhando a passividade de Neal.
            - Só queria saber de onde vem essa confiança e lealdade tão impenetrável. Por que não nos conta, Henry?
            - Eu a conheço muito bem. Apenas isso. Sei que sabe ser fiel e leal com quem ela julga merecedor. Sei como a verdadeira Rachel é.
            - E sabe que ela é uma assassina? – Peter pressionou.
            - É o que a polícia diz. Eu nunca a questionei sobre isso. Posso ir agora?
            - Pode.

            Neal e Peter ficaram impressionados com a firmeza de Henry. Ele não tremeu. Não titubeou. Não confirmou nenhum crime dela. Também não negou que tivessem se falado, provavelmente por medo de ter sido grampeado. E, caso passasse por uma máquina da verdade, não seria pego porque ele não mentiu. Na verdade ele só deu informações que o FBI já tinha.

            - Parece que você não foi o único homem que ela ludibriou. – Peter disse.
            - Eiii ela também enganou você!
            - Intimamente, eu quis dizer. Ele é caidinho por ela. – Ele disse querendo ver a reação de Neal. – Ele é pior que você! Ele não liga para o fato dela matar! Que magia ela usa pra cima dos homens?
            - Eles se conhecem desde crianças. Ele gosta dela desde antes dela matar. É só isso.
            - Mesmo assim...é muita cegueira!
            - Vai colocar gente na cola dele? Grampear o telefone?
            - Vou pedir autorização judicial para grampear o telefone...seguir ele talvez...é perda de tempo. Ele está certo. Ela não é uma amadora. Sabe o que a gente faria...ela tá sempre um passo a frente.

           
            Três semanas depois do sangramento, Rachel se sentia perfeitamente bem. Tanto que resolveu cozinhar. Lasanha! Fez o molho, preparou o recheio, montou no refratário com muito queijo e colocou no forno.

            - Pronto! Agora é só esperar assar. – Disse satisfeita com o próprio trabalho.
            - Você ficou de pé nessa cozinha a manhã toda, Rachel. Não está na hora de ir descansar? – Nicolle reclamou.
            - Eu vou tomar um banho antes do almoço. Depois que eu matar minha vontade de comer lasanha, aí sim, vou dormir. Se eu não comesse lasanha eu não ia sossegar.
            - Desejos de grávida...é aceitável. – A mãe brincou. – Como está essa barriga de quatro meses de gestação?



            - Começando a ficar pesada.
            - Vai descansar, vai. Coloca um pouco as pernas pra cima.

            Ela descansou um pouco e quando desceu pra comer já estava animadíssima novamente. Ultimamente desejava saber de tudo sobre bebês e gravidez.

            - Você tinha desejos quando estava grávida de mim? – Perguntou.
            - Nossaaa Rachel, isso faz tanto tempo. Nem lembro! Que pergunta! Tinha, claro. Toda mulher tem.
            - Desejo de que?
            - Não lembro. Come a sua lasanha...satisfaz seu desejo que é melhor.
            - Mas é que eu li que algumas mulheres que tem vontades muito estranhas. Eu até agora não quis comer terra, nem pedra, nem sabão...nem nada que não fosse comestível. Você quis?
            - Não que eu me lembre. – Ela ergueu o prato. – Agora coma. Meu neto precisa estar forte e alimentado.


            Para o FBI o caso de Rachel tinha deixado de ser prioridade. O fato de ela ter matado um agente pesava, mas a verdade é que não tinham nenhuma pista concreta e com tantos os assuntos para resolver, manter a equipe ficada nessa busca era impossível. Somente Peter continuava com esse foco. 

- Porque justamente Rachel se tornou uma obsessão pra ele? – Disse Neal conversando com Mozzie.
- Porque ele é obsessivo em enjaular os melhores. Foi assim com você e é assim com Rachel.
- Mozzie...você gosta dela, né?
- Ela tem um talento natural para enganar engravatados...merece meu respeito. 


            Peter encarou o aparecimento súbito de Rachel como uma prova de que ela não conseguiu deixar o país sem documentação. Como ele não acreditava que ela ainda pôde pegar alguma coisa no antigo esconderijo, tinha certeza de que ela estava por perto. Não houve como ludibriá-lo com nenhuma outra hipótese. Ele também estava questionando a liberdade financeira dela.

            - Já verificamos contas vinculadas as identidades que encontramos...pouca coisa apareceu. Rachel tem dinheiro com ela. Mas um dia isso vai acabar. A não ser que tenha outras reservas...ou cometa algum outro crime. Temos que ir deixando-a cada dia mais acuada. Pra ela ter de se arriscar.

            O roubo ao banco caminhava para ser arquivado sem solução. Isso irritava Peter. Para ele não havia crime perfeito. Mas havia sim. Era só fazer direito e com os parceiros certos.

            Mesmo sem solução, ele resolveu insistir naquele almoço entre casais. Elizabeth e Peter, Neal e Lucy jantariam na casa dos Burke essa noite. Foi quase uma intimação.

            - Sim, Neal. Já convidei Lucy e disse que você iria. Qual é...ela é linda e bacana. Qual seu problema com ela?
            - Nenhum...mas qual a razão de você querer tanto nos aproximar? Conhece ela há quanto tempo? É sua amiga?
            - Não...conheci com esse caso. Só a tinha visto uma vez antes de apresentá-los. Mas ela tem o mesmo estilo da Sara...combina com você. Dê uma chance para ela.
            - Ok...eu vou no jantar. Mas chega de bancar o cupido.

            O jantar foi uma tragédia em todos os sentidos. Neal com a cabeça longe, nem notava Lucy. Ela o irritava com o papo fútil e sem sentido. Até Elizabeth achou a garota chatinha e metida. Para arejar a mente, ela foi na cozinha cuidar dos últimos preparativos da sobremesa e Neal se ofereceu para ajudar.

            - Não posso deixar que fique com todo o trabalho. – Ele insistiu.
            - Não, Neal. Converse com Lucy...eu ajudo a Ell. – Peter interferiu usando o apelido carinhoso que usava para Elizabeth.
            - Não precisa. Fique com Lucy...eu ajudo sua esposa. Ela verá que tenho jeito com os pratos.

            A cara de Peter não foi boa. O jantar era justamente para aproximar Neal e Lucy...e ele ia fazer companhia pra Ell.

            E tudo só fez piorar quando Lucy começou a se aproximar dele. Ela veio jogando charme, mexeu na blusa atraindo seu olhar para o decote.

            - Você é realmente um ótimo marido, Peter. Qualquer mulher gostaria de...ser sua.
            - É...bem...a Elizabeth não costuma reclamar. – O que ela estava querendo? Era pra ela seduzir Neal!
            - Bem...agora ela está lá dentro com o seu amigo...e nós estamos aqui. – Ela pegou em sua mão.
            - Não...melhor nós chamarmos eles. Eu ajudo e digo pro Neal vir aqui.
            - Por que? Não precisamos deles...deixe-os lá.

            Peter ficou nervoso e começou a gaguejar.

            - E..é...não. Realmente não é o melhor. Espere um momento. Eu já volto.

            O jantar terminou sem que Elizabeth percebesse o clima ruim. Quando estavam os quatro a mesa, Lucy voltou a se comportar bem. Só Neal percebeu que Peter estava diferente. Depois ele perguntou o que houve...e se surpreendeu com a resposta.

            - Ela jogou charme pra mim na cara da Ell...se ofereceu. Quando vocês dois estavam na cozinha.
            - Sério?
            - Sim! Descaradamente....se a Ell imagina isso...não quero nem pensar.
            Neal riu da situação.
            - Não tem graça! – Peter avisou.
            - Isso é bem feito pra aprender a não tentar jogar mulheres pra cima de mim. Agora se livra dela.
            - Não mesmo! – Ele só quis ajudar o amigo. – Você vai sair com ela novamente...ela só deve ter feito isso porque você nem a olhou durante o jantar. Neal...essa mulher não pode ficar na minha cola.

            Esse era o único problema com que Neal não contava nesse momento.
           
Algumas semanas depois...

            Rachel entrava no sexto mês de gravidez. Isso lhe trouxe um certo saudosismo. Ela queria saber do passado. Queria lembrar do pai, da infância dela, das brincadeiras, queria pensar em coisas felizes.



            - É estranho pensar que em 3 meses ele estará fora de mim...e eu vou fugir. Isso tudo vai acabar.
            - Você não precisa abandoná-lo, filha. - Nicolle ainda não aceitava esse fato.
            - Preciso. É o melhor que faço por ele.
            - Richard virá hoje a noite para você ir fazer outra ultrassonografia. Poderemos saber se é menino ou menina. Aí você escolherá o nome.
            - Não vou escolher. Pra que? Quem for criar dará outro mesmo. – Mas ela já vinha pensando sobre isso. – Como você e papai escolheram Rachel pra meu nome? De quantos meses você estava quando escolheu?
            - Aaaa...nós escolhemos com você nos braços. Olhamos para o seus lindos olhos e dissemos: será Rachel. Seu pai sempre foi louco pelos seus olhos.
            - Eu sinto falta dele. Do colo dele. Da dedicação que tinha por mim.
A mãe a analisou antes de falar.
            - Eu acho lindo em você essa capacidade de perdoar o seu pai. Você não guarda mágoa nenhuma, não é?
            - Ele nunca me magoou.
            - Ele te usou para conquistar o objetivo dele, a obsessão dele. Aquela maldita pedra.
            - A pedra é nossa por direito e também se tornou o meu objetivo. Foi da nossa família. Ele só queria recuperá-la...e eu vou fazer isso. – Ela pegou as mãos da mãe. – O que eu fiz de errado é culpa minha, não do papai.
            - Ele te transformou no que você é. Eu deveria ter me imposto mais na sua criação.
            - Isso é passado. Se eu não tenho mágoa do papai, por que você vai manter isso? Agora eu vou descansar para ver meu bebê mais tarde.

            Elas não discutiram mais o assunto naquela noite. Mas ele foi muito debatido por Neal e Mozzie. Como assim a pedra poderia ser de família? Era uma joia escondida há quase dois séculos. Mesmo que pudesse ter alguma lógica nisso, o pai de Rachel não podia realmente pensar que podia usar qualquer argumento para tê-la. Hoje, caso fosse encontrada, seria patrimônio histórico.

            Quando a noite chegou, Nicolle e Rachel olhavam atentamente o monitor utilizado para ultrassonografia, enquanto Neal e Mozzie ouviam atentamente. Demorou para o médico conseguir uma imagem 100% segura.

            - Posso falar o sexo do bebê? Quer saber? – Richard perguntou.
            - Fale logo. – Neal respondeu mesmo sabendo que sua opinião não contava.
            - Quero sim. Fale. – Rachel disse.
            - É um menino. Um garotão. Parabéns!

            Eles nunca saberiam, mas ambos choravam ao mesmo tempo.

            - Dr., pode me dar uma cópia extra das imagens? - Rachel perguntou e ninguém entendeu.
            - Claro. – Ele colocou para imprimir as ‘fotografias’ e enquanto isso resolveu tocar num assunto delicado. – Acho que está na hora de falarmos sobre o seu parto, querida.
            - Parto?
            - Sim. Imagino q você saiba que esse bebê terá de sair daí.
            - É claro.
            - Então...no seu caso o mais indicado seria um cesariana porque conseguiríamos fazer a noite, discretamente. No parto normal dependeríamos do bebê e se ocorrer no meio do dia, não poderemos esperar.
            - Ok...
            - Mas, a cesariana tem a complicação de que você terá que ficar ao menos 1 dia hospitalizada. Não posso tirar o bebê e te devolver na mesma noite para casa. Você ficaria aqui...registramos você com outro nome.
            - Não. Muito arriscado. – Os dois eram muito arriscados. – Vai nascer em casa. Está decidido.
            - O quê? Não! Isso é loucura. – Richard disse expressando também o pensamento de Neal.
            - No passado era assim e funcionava. Até hoje muitas mulheres dão a luz em casa. – Nem ela confiava no que falava.
            - Rachel! Me ouça! – Ele realmente ficou irritado. – No passado, boa parte delas morria. E hoje os partos em casa estão sim até em moda, são chamados de humanizados, mas há toda uma equipe médica que vai a casa da paciente e pode transferi-la a um centro cirúrgico a qualquer sinal de complicações. Eu acho que não é bem disso que você está falando.
            - Não, não é. Estou falando que terei meu filho em casa. Você vai me ajudar. Só você...ou eu terei que dar a luz sozinha.
            - Você só pode estar brincando! – Nicolle se manifestou. – Teimosia tem limite, Rachel.
            - Não posso vir aqui no meio do dia. Muito menos ficar internada! Será em casa e ponto!
            - Você tem noção da dor que uma mulher sente no parto? Pode chegar a algo comparado a 20 ossos do deu corpo se partindo, Rachel. E eu não vou poder te anestesiar. Você não pode estar falando sério!
           
            Neal e Mozzie estavam completamente apavorados com o nível de loucura e coragem de Rachel.

            - A Diana conseguiu, Neal. Talvez Rachel esteja certa mesmo. Dificilmente ela não seria reconhecida num hospital. – Ele só não acreditava na história dos 20 ossos. – Se ela ainda tivesse uma parteira experiente por perto. Diana não teve do que se queixar!
            - É loucura!

            Na clínica o médico continuava tentando convencer a teimosa jovem.

            - Se está tão segura, me diga o que eu devo fazer se durante o parto você tiver uma complicação? Se você precisar se uma cesariana de emergência? Pego uma faca da cozinha e te abro? Ora Rachel! Não estamos na idade da pedra!
Ela titubeou, mas não desistiu.
            - Nada de errado vai ocorrer. É só dor. Eu aguento. Meu filho virá ao mundo saudável. Eu vou colocá-lo no mundo.

            Quando voltaram pra casa Rachel optou por não ir dormir como normalmente faria depois da madrugada na clínica. Ela foi para o quarto preparar um envelope com as imagens do ultrassom. Pediu para mãe colocar nos correios o quanto antes.

            - Sem remetente, é claro. Só com esse endereço.
            - De quem é esse endereço, Rachel?
            - Coisa minha, mãe. Só me faz esse favor.

            Neal também não entendeu o que Rachel fazia. Sua primeira opinião é que ela enviava as fotos pra Henry. Mas nem pensou muito. Ainda estava em choque com sua decisão quanto ao parto. Nesse momento queria mais do que nunca estar perto dela para colocar algum juízo na sua cabeça. Qual mulher escolhe dar a luz sem anestesia nos dias de hoje?

            O tal envelope foi até esquecido por Neal. Até que, dois dias depois, chegou do trabalho e encontrou sobre sua mesa de jantar um envelope sem remetente. Dentro, imagens de seu filho. 





E um breve recado:

            - Para que você conheça seu filho e veja o que jogou fora.

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