terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Dupla Perseguição - Capítulo 11









            Estava correndo na rua escura e continuava ouvindo tiros. Ao fundo ainda ouviu os gritos de Neal. Tinha que fugir. A transportadora tinha uma entrada lateral, mais segura. Pra isso precisava seguir caminhando para três ruas abaixo. Mas continuavam correndo atrás dela. De repente viu um carro se aproximar pelo outro lado da rua. Ficaria encurralada. Segurou a arma com mais firmeza. Estava se esforçando para não atirar em ninguém, mas, se fosse necessário, não iria ter piedade. O que aqueles policiais dos infernos estão fazendo aqui?

            - Parada! Ou eu atiro. – Ouviu alguém gritar. O policial achava realmente que ela iria obedecer.

            E ela parou, virou-se e viu quem era. O cara que quase matou com a arma de choque. O porco que adorava abusar do poder daquele uniforme. Encarou-o. Ele saía do carro. Ambos com a arma apontada para o outro.

            - Largue a arma e caminhe lentamente  até aqui. – Ele ordenou.
            - E se eu não fizer?
            - Vem caminhando, ou a ambulância vai vir te juntar. Você tá na minha mira. – Ele ameaçou.
            - Você também tá na minha. – Ela respondeu. – E eu não jogo pra perder.

            Primeiro disparou dois tiros no para-brisa do carro, que se espatifou. O objetivo era apenas distrair o guarda...conseguiu. Quando ele desviou o olhar para o carro, apertou novamente o gatilho. A bala fez exatamente o percurso que desejava, acertando de raspão a mão do homem e fazendo-o largar a arma. Ainda deu mais dois tiros rápidos nos pneus do carro e correu.

            Achou que ele não faria mais nada. Mas o homem tinha tanta raiva dela que ainda pegou a arma e, com a mão que não estava ferida, mas tremia, atirou sem muita mira. 

Naquele estado, Rachel não acreditava que ele chegasse perto de atingi-la, mas sentiu a coxa esquerda arder quando a bala perfurou sua calça e cortou-lhe a pele. Não podia parar. Mesmo com o sangue pingando, correu. Para não deixar rastro, apenas apertou a ferida. Parecia ser só de raspão, mas lhe dificultava a movimentação. Ao pular a grade do portão levou um tombo feio. Ergueu-se do chão e seguiu. Finalmente entrou na transportadora e se escondeu junto a uma das cargas. Acabou.

            Neal foi obrigado a ficar para fazer o chamado ‘rescaldo’ do crime. Mas queria na verdade era ir pra casa e ver se conseguia descobrir o que houve com Rachel. Será que tinha conseguido escapar ilesa?

            - Neal...venha comigo! – Peter gritou.
            - O que foi?
            - Venha.
            - O que houve agora, Peter? Prenderam ela? – Na verdade ele já desconfiava do que se tratava.
            - Porque eu fui informado pela polícia de NY que o meu informante foi visto em um galpão junto com a fugitiva enquanto era para ele estar na van, de tocaia, com os outros?
            - Eu...eu te avisei que ia caminhar e verificar o lugar. Daí eu a vi entrar lá. -  Nada daquilo era mentira.
            - Era para ter me ligado na hora.
            - Era...mas eu nem pensei nisso. Eu achei que eu ia convencer ela a se entregar...eu podia ter conseguido. Mas aqueles imbecis entraram e começaram a atirar nela. E ela escapou.
            - Ela está fora de controle Neal.
            - Ela está grávida! Não podiam ter atirado nela! – Ele é que se sentia fora de controle. – Eu vi a barriga dela...ela não tirou o bebê, Peter.
            - Não pode ter certeza de que é seu.
            - Eu não vou discutir isso com você, Peter. – Já chegava de ouvir esse tipo de insinuação. – É assunto particular.
            - Ok, Neal...mas eu vou ter que me explicar com a corregedoria por isso tudo. Vai pra sua... – O telefone tocou. – Espera. Alô. Onde? O policial está bem? Tem como fazer exame pra confirmar? Ok, eu estou para aí.


A cara de Peter era de mau sinal.


            - O que houve agora? – Só faltava prenderem Rachel depois de tudo.
            - Lembra do policial Mark? Aquele que a Rachel quase matou com a arma de choque?
            - É claro.
            - Parece que depois que fugiu do galpão, eles tiveram um novo embate. – A expressão de Peter estava pesada.
            - E? Quem ganhou esse? – Tinha algo de errado.
            - Parece que Rachel conseguiu escapar e ele está sendo atendido pelos paramédicos. Então ela...venceu. Só que...
            - Só que? – Neal insistiu.
            - Só que ele afirma que acertou um tiro nela. E realmente há um rastro de sangue. Mandei o sangue para análise, mas é provável que seja dela. Neal...a Rachel está ferida.

            Verificaram o tal rastro e ele não levava a lugar algum. Ela estancou o sangue de forma a não deixar pistas. Sabendo que ele estava desesperado e não podia contribuir para nada, Peter dispensou Neal.

            Sem saber o que esperar, ele foi passar mais uma noite olhando para o receptor, na companhia de Mozzie. A imagem dela, grávida, lhe apontando uma arma não lhe saía da cabeça. E o gosto de seus lábios também não.

            - Quer dizer que você tem um encontro com ela e não fala o que tem pra falar? Neal?! Não dava pra beijar ela depois?
            - Não, Mozzie...não dava. Eu precisava daquele beijo. Agora não sei como ela está. Esse receptor não transmite nada. Ela pode estar morta...pode estar mal em qualquer lugar. Eu não aguento mais isso, Mozzie.
- Não é nada disso. Nós teríamos ouvido ao menos ela gemendo de dor...ela não levou o colar. Quando ela chegar em casa, vamos ter notícias. Tenha fé.


Muito depois do que tinha planejado e com o sol já aparecendo, Rachel entrou em casa. Mancava, mas já não sangrava. Tinha apenas muitas dores pelo corpo. Dessa vez não conseguiu entrar pela janela. Mas ninguém estava na rua. Ela não parou para falar com a mãe. Praticamente se arrastando, foi direto pro quarto e começou a tirar a roupa.

- Deus!!! Você está ferida! – O desespero de Nicolle foi a primeira frase que Neal e Mozzie ouviram depois de horas de um silêncio desesperador. – O que foi isso?
- Me acertaram um tiro...mas calma. Não é nada. Eu já estanquei o sangue. Vou sobreviver....o problema é que com essa perna assim eu caí de um portão e minhas costas doem.
- Espera! Que portão?! Quem atirou? Você disse que seria tranquilo. Só ia pegar uma coisa e voltar.
- Aiii me ajuda a tirar a bota...não consigo me curvar. – Ela parou de falar por um minuto. – Eu peguei o que queria. Está aqui.

Neal e Mozzie ficaram surpresos...realmente o FBI deixou algo passar quando fez a busca.

            - Mas a polícia e o Neal apareceram...começaram a atirar e...
            - Ele atirou em você?
            - Não...ele não...mas eu o vi. A gente se falou. Ele estava com os caras, queria me prender. – Um grande estrondo foi ouvido quando ela atirou um abajur contra a parede. – Ele é um traidor desgraçado. E eu não sei o que acontece comigo quando fico perto dele, eu nem penso direito. Eu fico burra perto dele! – Mais alguma coisa se espatifou contra a parede. – Nunca! Nunca! Nunca mais eu vou confiar nele!
            - Para! Para, Rachel! Quebrar a casa não vai resolver os seus problemas. Se acalme. Pense no seu filho.

            Ela pareceu ficar mais calma e alguns minutos de silêncio se passaram. Até que Nicolle voltou a se manifestar.

            - Agora não temos escolha, Rachel. Eu vou ter de ligar par ao Richard.
            - Eu já disse não. Só me ajuda a chegar no banheiro...é só dor. Um dia na cama, no máximo, e eu to boa. Não sou fraca. Eu sei aguentar a dor.
            - O que dói? – A mãe continuava preocupada.
            - As costas...bem embaixo..aiii...vamos me ajuda.
            - Deixar eu chamar um médico. Por favor.
            - Não. O banho quente vai me fazer bem.


O relógio marcava 8h20min. Inquieto, Neal viu Mozzie ir até a cozinha pegar taças e vinho. O dia prometia ser longo. Ainda bem que não precisava aparecer no escritório. Ela não estava bem...e parecia teimosa o bastante para não procurar por ajuda médica. Depois de uns 15 minutos ouviram  passos no piso de madeira intercalados com gemidos.

- Melhorou? – Era a voz da mãe.
- Vou melhorar. Deixei correr água quente nas costas. É como uma cólica menstrual.
- Querida, olha pra mim: você não vai menstruar. Você está grávida. Pode ter algo de errado com o bebê.
- NÃO TEM NADA DE ERRADO! Já disse. Me deixa dormir um pouco

E ela adormeceu. Por longas horas só ouviram um leve ranger de porta quando Nicolle ia ver como a filha estava e um ou outro gemido. Neal e Mozzie não almoçaram. Neal não atendeu a ligação de Peter. Só ficaram ali, ouvindo e prevendo a tempestade que viria.

Passava da 1h da tarde quando Rachel acordou. Não sentia fome, não sentia sede, não sentia nada além da dor que lhe feria o ventre e as costas. Era como se uma corda de aço estivesse amarrada ao seu corpo e lhe apertando o ventre.

- HAAA AAAA Mãeeee. AI Mãeeee. MÃEEEEEEEEEEEE! Vem aqui. – Começou a se levantar da cama, mas era ainda pior. – Mãeeee.
- Rachel! Eu estou aqui.
- Aiai...tá doendo, mãe.

Nicolle não sabia mais o que fazer. Não era médica. Não podia fazer muito pela filha. E ela, por mais que sofresse, sempre achava que podia suportar mais. Não queria de forma alguma o médico, mas era obvio que não estava bem.

- Filha...um médico...é isso que nós temos que conseguir.
- Não! Não! Eu aaaiii...não posso. Mãe tá doendo. – Ela curvou o corpo pra frente quando uma pontada mais forte veio e logo tudo foi ficando escuro. – AAAAaa
Nicolle entrou em desespero quando sentiu a filha perder os sentidos em seus braços.
- Rachel acorda! Filha...você está sangrando! Abre os olhos.
Ainda pior era estar longe e não poder fazer absolutamente nada. Enquanto a mãe de Rachel colocava a filha na cama repetindo seu nome e implorando para ela abrir os olhos, Neal se desesperava.
- Porque essa mulher obedece a Rachel quando é óbvio que ela está errada? É pra levar a um hospital e pronto, oras!

Mas Nicolle também se recriminava por ter deixado Rachel agir de sua maneira. Se algo acontecesse com ela, jamais se perdoaria. Decidiu por ir contra a filha. Pelo bem dela. Ligou para Richard. Era ele o único que podia ajudar.

- Sou eu. A Nicolle. Preciso que venha aqui.
- Calma. O que houve?
- Ela tá sangrando... com dor.
- Há quanto tempo?
- Eu não sei ao certo, Richard...pouco eu acho. Vem logo.
- Eu já estou a caminho.
- Obrigada!

Meia hora se passou até que algum movimento ocorresse a não ser os lamentos de Nicolle. Com os cabelos bagunçados de tanto passar as mãos e a camisa arregaçada, Neal ouviu o médico falar com Nicolle enquanto examinava Rachel. Ela ainda estava desacordada.



- Vamos medicá-la para evitar mais sangramento. Ela vai acordar logo. – Disse com a frieza típica dos médicos.
- O que eu posso fazer por ela? – Perguntou Nicolle.
- Sinceramente?  O melhor que você poderia fazer pela sua filha, é contar toda a verdade pra ela, Nicolle. – Essa frase dita pelo médico fez Neal ficar desconfiado.
- Eu estou falando de presente, Richard. Não de passado. Por favor...não é hora para isso. Olhe o estado dela.
- Eu estou olhando. E repito. Conte a verdade. Essa moça está se destruindo aos poucos.
- Basta Richard. Eu te chamei aqui para me ajudar, não me recriminar. – Ela o viu preparar uma seringa. – O que está fazendo? Ela não vai gostar de saber que você injetou algo nela sem autorização.
- Ela que vá a polícia e dê queixa depois, se desejar. – Richard era duro com Nicolle para o bem das duas. – É para estancar o sangramento. Ela não perdeu muito sangue, mas não podemos deixá-la assim, sem nenhum tratamento simplesmente porque é teimosa. Temos que levá-la ao hospital. Fazer exames. Ela teve uma ameaça de aborto!
- Ela não quer!
- Nem sempre ser bons pais é fazer o que os filhos desejam. Rachel vai ter de aprender isso se quiser ser uma boa mãe para esse bebê. – Ele ficou em silêncio novamente e pareceu pensar. Depois aplicou o remédio. – Ela vai acordar logo. Conversarei com ela.

Assim como todos esperavam, a conversa não foi fácil. Rachel estava debilitada, mas temerosa de sair de casa. Achava que poderia suportar tudo sem ajuda.

- Rachel...eu te conheço desde que era bebê. Seu pai dizia que você tinha a força dele. Que era só olhar em seus olhos que se via a mulher de fibra que seria.
- Ele te disse isso? – Ela ficou com os olhos cheios de lágrimas.
- Sim, disse. E ele estava certo. Você tem fibra, você tem coragem, você tem garra. Mas você ainda é uma mulher de carne e osso. E você precisa de atendimento médico. Se não, coragem passa a ser burrice.
- Estou tendo atendimento médico. Você está aqui.
- Precisa de exames. Não sei como esse bebê está aí dentro de você. – Ele não queria assustá-la, mas era necessário. - Agora são quase 16hs, Rachel. A gente espera anoitecer e vamos a uma clínica particular onde eu já trabalhei e fui sócio, tenho acesso fácil. Ninguém precisa saber.
- Não posso.
- Confie em mim.
- Sempre que eu confiei em alguém acabei me ferrando e é por isso que estou nesse estado! – Ela queria, mas não podia.
- É necessário. – Estava sendo paciente.
- Se eu colocar os pés em um hospital, posso sair de lá presa. Sei disso.
- Se você não for, Rachel, e essa criança... pode estar morta dentro de você, pode sair daqui morta por infecção. Você não tem alternativa.

Ao ouvir isso, Rachel passa a mão pela barriga e deixa cair uma lágrima de seus olhos. A realidade era que o bebê que chegou a desprezar, pensando em abortar, já era importante pra ela. Parecia uma castigo duro demais vê-lo morrer agora.
Do outro lado Neal sente um forte aperto no peito sabendo que poderia ter dado outro rumo a essa historia se não tivesse entregado Rachel.

- Nicolle, vista uma camisola leve nela. Tire anel, colar ou qualquer coisa que chame a atenção. Assim que anoitecer nós vamos. Eu vou colocar o carro na garagem para você embarcar. Dará tudo certo, Rachel.
- Deixe meu colar. Vou com ele. – Ela não dava abertura para discutir isso. E o médico não questionou. Preferiu ir cuidar de tudo.

Antes, porém, Rachel o chamou e pediu pra mãe lhe deixar a sós com o médico. E se sentou na cama para conversar com sua teimosa paciente.

- O senhor acha que meu bebê está morto dentro de mim? – Havia emoção na sua voz.
Ele pensou ates de falar.
- Eu não posso dar certeza, Rachel. Mas o batimento cardíaco que ouvi era fraco. Precisamos de uma ultrassonografia. Aí saberemos ao certo. Se tudo estiver ok, você poderá ouvir o coração do seu filho bater. Será uma grata emoção.
- Eu não o quero...mas não desejo que morra. – Ela disse como se confessasse algo.
- Confie em mim...e reze. É sempre bom. – Foi o conselho do médico.
- Eu não tenho muito crédito com Deus, Dr.
- Reze mesmo assim. E descanse. O melhor é tentar se manter calma. Assim que anoitecer nós vamos.

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