segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Dupla Perseguição - Capítulo 3



Peter me puxava pelo braço para fora do hospital. Sabia que aquela notícia tinha mexido comigo. Como poderia ser diferente? Dei-me conta que ainda precisava de mais informações.

            - Peter...vai indo...eu te encontro depois. Preciso...

            - Precisa ir embora. Eu vou te tirar desse caso. Você não pode mais se envolver.

            - Eu já estou envolvido até o pescoço, Peter. Ela ta grávida do meu filho...e a gente não faz ideia de onde ela está.

            - Como assim SEU filho? Quem te garante?

            - E quem me garante que não é meu...nós estávamos juntos e... – De repente eu vi a mesma enfermeira saindo por uma porta e a chamei.

            - Preciso lhe perguntar...tem como estimar o tempo da gravidez?

            Ela estranhou a pergunta, mas respondeu:

            - Exatamente só com uma ultrasonografia. Mas pelo nível de HCG, dá para estimar de 4 a 8 semanas.



            Nós estávamos juntos e bem nesse período. Ela passou várias noites no meu apartamento. Claro...ela pode ter estado com mais alguém, mas acho que não. Ela estava muito envolvida com seu golpe para cuidar de um relacionamento. Ainda tinha que ligar com Hagen...não ela não tinha ninguém.

            Não quis conversa com Peter. Já era tarde, fui para casa descansar e pensar. Refiz mentalmente as conversas com ela, nenhuma insinuação de gravidez. E parece que ela já sabia. Rachel podia ter me dito que estava grávida...naquele dia, no galpão, para me impedir de entregá-la aos policiais. Eu não...bom o que eu poderia fazer? Nada. Seria tudo igual. Ou então durante nossa conversa na prisão. Ela podia simplesmente ter me dito que esperava um bebê.

            Na manhã seguinte a primeira coisa que fiz foi voltar o presídio para falar com Susan. Se Peter descobrisse, problema dele. Ela riu da minha cara quando falei que Rachel esperava um filho.

            - Me diga uma novidade...

            - Como sabia com tanta certeza?

            - Mulher quando enjoa do nada, tem muita chance de ser isso. E eu pari três filhos. Sei como é... mas isso não me parece pergunta de FBI.

            - Não...eu vim porque..eu acho que o bebê é meu. Sei que é meu...e queria saber se tem mais alguma informação.

            - Uauuuu a ruiva tem bom gosto! – Ela observou longamente antes de voltar a falar. – Não tenho mais nada pra dizer...só que torço pra vocês não a encontrarem. Pai ou não do bebê, você é do FBI.

            - Eu quero o bem dela.

            - O bem dela não está em ser jogada aqui...vocês policiais acham que a gente não tem valor. Mas a gente é tão mulher quanto qualquer outra aí da rua. Não é porque cometeu um crime que ela não merece ser cuidada enquanto espera um filho. Como acha que ela estava se sentindo aqui dentro? Eu não tenho nada pra te falar. -  Desabafou a mulher que pensava que eu era policial. – Seu parceiro tem ódio nos olhos quando fala dela. Se quer o bem de Rachel mesmo, tenha cuidado com ele.

            Não atendi as ligações de Peter e fui pra casa.

            Precisando desabafar, liguei para Mozzi e pedi que viesse aqui. Ele provavelmente não ia entender o que eu estava sentindo, mas ia poder desabafar. Depois que lhe falei tudo, ele respondeu calmamente:

            - Se você pensar com a cabeça, Neal, você ajudará o FBI a encontrar a Rachel. A obrigará a fazer um exame de DNA e, se for seu, cuidará do seu filho enquanto ela cumpre a pena...e tentará manter uma relação amigável com ela. Nada mais que amigável...porque essa mulher tem o poder de te virar a cabeça. Agora se você pensar com o coração...bom aí você vai procurá-la por conta e fazer com que Peter não a encontre. E vai ficar com ela porque, assassina ou não, é isso que você deseja. E convenhamos...parir num presídio não deve ser a melhor experiência. Criança nenhuma merece ser gerada assim.

            - Eu sei, droga! E se não fosse pela minha ajuda ela não teria ido presa! Não teria que ter fugido! E eu saberia exatamente onde ela e o meu filho estão.

            - Você não sabia, Neal.

            - E porque ela não me disse quando eu fui vê-la?

            - Antes ou depois de você ter dito que sente nojo dela?....Ora Neal não dá para acusá-la por não ter feito isso. Você não andava muito amigável.

            - Eu sei. – Esmurrei a mesa. – Inferno. A saga se repete...eu cresci sem pai e meu filho será assim. Isso se Rachel resolver levar essa gravidez até o fim porque eu não a conheço, não sei o que fará. Certamente será mais difícil fugir com uma barriga.

            - A preocupação dela nesse momento, Neal, será se esconder e não um aborto. Temos tempo e, talvez, tenhamos uma alternativa...

            - Qual? – Hoje eu estava disposto a concordar com as maluquices de Mozzi.

            - Primeiro me diga: vai seguir a cabeça ou o coração? Vai ajudar Rachel a fugir do FBI ou caça-la junto com o FBI?

            - Eu vou ter que manter o FBI nisso...se a investigação ficar na polícia comum será pior. A Rachel conseguiu um inimigo por lá. No FBI eu tenho como acompanhar...mas é claro que não vou deixar que ela volte para prisão. Eu só quero descobrir pra onde ela levou o meu filho...só de pensar no quanto ela se arriscou nessa fuga eu fico apavorado.

            - Calma...você lembra daquele colar que eu sugeri que você desse para ‘Rebecca’? 


            - Sim...

            - Então...eu te dei ele naquela época que estava com vontade de investigar sua nova namorada...eu devia ter me esforçado mais nisso...mas o colar acabou esquecido e...

            - Eu a vi usando algumas vezes... – Se fosse o que eu estava pensando...

            - Ela estava com o colar quando foi presa?

            - Não, isso eu tenho certeza.

            - Ótimo! – Mozzi comemorou. – Porque se não, teria ficado no presídio.

            - Mozzi...aquilo era um rastreador? – Isso salvaria a pátria.

            - É claro que não, Neal. Se fosse e o teria usado para saber onde Rebecca estava no dia do sequestro.

            - Então como o colar poderá nos ajudar?

            - Há uma escuta nele...a questão é se Rachel está com ele ou não.

            - Uma escuta? Você tinha uma escuta esse tempo todo e não usou??!?! -  Como assim?

            - Primeiro nós não tínhamos motivo pra isso...depois quando ela fugiu da polícia eu achei que...eu queria que ela fugisse mesmo. Ela é das nossas Neal! – Eu bem que desconfiava! Mozzi gostava de Rachel!

            - Bom...ela tava usando o colar quando se encontrou comigo na praça, na primeira tentativa de prendê-la. Não sabemos pra onde ela foi.

            - Ela tinha um segunda esconderijo então...talvez ainda esteja lá...vamos Neal! Ligue a escuta pra ver se conseguimos algo!

            - E você trouxe o receptor?

            - Eu te dei naquele dia...junto com a joia. – Ele fez uma cara apavorada. – Não me diga que deu o receptor para ela também?

            - Não...eu guardei o que você me deu lá no armário, acho. Vamos...me ajude a procurar.



            Enquanto Peter dormia e Neal e Mozzi procuravam o receptor, Rachel fazia uma primeira parada para descansar. Estava exausta. 



Tinha embarcado no Metrô ainda em New York e atravessado a cidade. Depois aguardou num beco escondido até anoitecer e entrou discretamente num prédio antigo. Lá guardava algumas coisas. Neal e Peter tinham encontrado sua ‘reserva de fuga’ com as identidades falsas, por isso um avião estava fora de cogitação. Não iria arriscar voltar ao presídio.

            Mas tinha outras reservas de dinheiro e acesso a uma conta bancária num nome que não havia sido descoberto. Tinha como escapar. A primeira coisa que fez foi pegar dinheiro e se livrar das roupas da prisão, vestir peças comuns, que se misturariam a população. Toca e casaco de capuz escondiam os cabelos ruivos. Depois comprou um celular e mandou uma mensagem cifrada para sua mãe. Ela deveria sair de casa e ir para a cidade de Guttenberg, a 950 km de Manhattan, para uma casa que ambas conheciam. Tinha que levar apenas o básico e ser discreta, além de não usar o próprio carro.

            Depois precisava ir para esse mesmo lugar o mais discretamente possível. Normalmente, essa viagem levaria apenas 12 hs de carro. Mas como teve receio de viajar de dia, levaria o dobro do tempo. Uma pequena parte foi feita de trem. Com medo de ser identificada, saltou do meio de transporte na primeira estação e roubou um carro. Dirigiu por uma área rural durante a noite e abandonou o veículo pelas cinco da manhã. Precisava comer e descansar, além de se esconder. O jejum estava lhe deixando ainda mais enjoada. Passou numa lanchonete de beira de estrada e tomou café, acompanhando pela janela o movimento da rua. Quando viu policiais se aproximarem, deixou dinheiro sobre a mesa e saiu pelos fundos.

            Podia ter tentado alugar um carro, mas teve medo de ser reconhecida. Então procurou por uma área mais distante da cidade e passou o dia escondida. Quando anoiteceu, roubou uma moto e seguiu viagem sem se preocupar com a chuva que caía. Quando estava numa cidade próxima ao seu destino final, já estava quase amanhecendo, abandonou a moto sentindo fortes dores nas costas e pegou um ônibus. Para não dar na vista, entrou pelos fundos da casa e escalou até alcançar a janela do segundo andar, que não tinha tranca. Estava a salvo. Foi procurar a mãe.

            - Rachel...por Deus o que fizeram com você...olha o seu estado. – A bela e jovem senhora loira disse olhando a filha largar a pesada mochila no chão e, com as roupas pingando da chuva lhe dar um abraço.

            O alívio e o conforto de estar nos braços da mãe a faziam chorar.

            - Mãe...se você soubesse...eu passei as últimas sete horas dirigindo uma moto debaixo de chuva. Estou cansada, com uma dor desgraçada no corpo e gelada até os ossos. Eu preciso dormir...quando eu acordar, eu prometo que conto tudo. Mas acho...minhas pernas não estão aguentando o peso do meu corpo.

            - Tá filha...descansa.

            - Alguém sabe onde nós estamos?

            - Não. 
          -Que fique assim. Se for sair...dê outro nome qualquer na vizinhança, compras só a dinheiro vivo. E, para qualquer um que perguntar, você mora sozinha. Ninguém pode saber que eu estou aqui.


Rachel e a mãe, Nicolle, só não sabiam que Neal e Mozzi escutavam atentamente.

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