domingo, 22 de setembro de 2013

A Mentira - Capítulo 23: A verdade




            - Quem você pensa que é pra me deixar na rua? Você é um animal, Grey! – Descabelada, descontrolada e ainda com a roupa de ontem, Ana entrou na casa como um furação.
            Foi desesperador acordar sozinha no celeiro depois de, bêbada, transar com o marido. Sabia que tinha se rebaixado demais, não pensava em nada...era uma despedida. Agora se sentia ainda mais humilhada.
            - Nem venha bancar a santa, Anastásia. Eu peguei o que você estava oferecendo. Apenas isso. Vá tomar um banho e se acalme. – Disse saindo sem nem mesmo lhe dar atenção. Parecia estar com ainda mais raiva dela.

            Na verdade Grey estava com ódio de si mesmo. Não deveria ter tocado Ana. Jurou que não faria mais isso. Ficava longe de casa cada vez mais tempo justamente por isso.
            - Porque essa feiticeira tinha que ser tão linda e gostosa?!
            Ana o havia comovido com lágrimas e declarações forçadas e ele, burro, caiu, deixou-se levar pelo seu encanto e tornou e amá-la da forma mais baunilha de todas. Não deveria tocá-la sem que fosse no quarto de jogos...deveria estar disciplinando-a duramente. Se tivesse seguido o plano, Ana estaria rastejando. Ao invés disso, tinha passado a noite beijando seu corpo.
            - Quando está nos meus braços eu esqueço de tudo.
            Mas estava decidido a levar tudo as últimas consequências. Ao acordar, viu que ela ainda dormia sobre o feno e sem pensar muito deixou-a lá. Ela ia tentar chamar o tio e partir...poderia ir...mas antes seria mais castigada.
            Saiu à procura de Jéssica. Tinha lhe pedido para descobrir um casebre qualquer, podia até ser uma cabana. Só tinha se ser muito afastada, no meio do serrado. Um lugar de onde Ana não tivesse sequer coragem de tentar escapar.
            - Achou?
            - Sim, patrão.
            - Então me leve até lá. Agora.

            Foi um longo caminho cavalgando. Era realmente afastada e simples. Provavelmente Ana nunca viveu com tamanha humildade.
            - Temos que trazer mantimentos. Traga bastante água potável e comida.
            Jéssica virou a cara.
            - Já vai começar a mimar ela?
            - Eu nunca farei ninguém passar fome. Isso nunca. – Respondeu afastando as lembranças ruins. – Traga tudo ainda pela manhã.
            - Vai trazer ela hoje, patrão? Vai prender a patroa aqui muito tempo?
            - O tempo necessário. – Caminhou pelo lugar analisando que teria que trazer algumas coisas do quarto de jogos. O lembrete de Elena o alertando de que uma sessão sádica só poderia ocorrer com o escravo desejando participar ainda o fazia esmorecer. – Só o necessário.
            - Se o padre ou o Jacob descobrirem...vão ligar pra família dela. Ou pra polícia!
            - Que façam isso!
            - Não quero que seja preso, Patrão. Ela não merece isso. – Jéssica abriu a própria blusa. – Não precisa dela. Eu...to aqui...eu te satisfaço. – Ela se aproximou e foi abrindo a fivela do cinto dele.
            - Chega, Jéssica! – Afastou-se. – Se vista!
            - Ela não é mulher para...       
            - Ela é a minha mulher! E chega de papo! Vá buscar os suprimentos. Se for para eu ser preso, que seja!

            Ana estava mais calma e procurando uma alternativa para resolver seus problemas. Não queria ir embora deixando-o pensar que era culpada, mas não parecia ter alternativa. Kate veio lhe trazer um bilhete. Era de Jacob.
            - Ele teve que viajar. – Falou para a amiga.
            - E te avisou disso?
            - E disse que o barco ficou ancorado aqui...para o caso de eu precisar ir embora. – Era uma possibilidade. – Eu contei pra ele que não estava feliz.
            - Ele gosta de você. – No fundo Kate sentia um pouquinho de inveja da amiga. Era bom ter alguém que gostasse dela e Ana tinha Jacob e José, além do marido.
            - Eu já tenho problemas o suficiente, Kate.

            Sem saber muito o que fazer, Ana resolveu ir visitar Gail. Ela ainda estava preocupada com a amiga que aparentemente tinha problemas conjugais ainda mais graves. Sabia que ela havia sido agredida. Talvez fosse com frequência. Sabendo que James não estava em casa ela bateu na porta.
            - Oi, Gail. Vim ver como você está. – Sem nenhuma maquiagem e com os cabelos presos era possível ver o machucado no rosto e Ana podia apostar que a roupa escondia muitos outros. – Ele te bateu por minha culpa? Foi porque eu pressionei perguntando sobre o Elliot?
            - Não, Ana. Não se preocupe. – Ela estava envergonhada. Gail era uma mulher muito fechada. Vivia amarrada pelo medo que sentia do marido. – Quando James bebe ele procura um motivo. Se não fossem as suas perguntas, seria outra coisa.
            - Por que você aguenta isso?
Primeiro Gail apenas observou Ana. Depois perguntou.
            - Porque você suporta tudo o que Grey lhe faz?
            - Somos umas tolas, Gail. Não devíamos suportar isso. Temos que mudar isso.
            - Você é mais jovem, Ana. Eu não tenho mais o que esperar...da vida.
            - Gail! Você tem o que...45 anos? Não é tão velha?
            - Tenho 39, Ana. – Ana se envergonhou pelo erro, mas Gail aparentava ter mais idade. A vida difícil a deixou assim. – Mas o que eu faria se pedisse o divórcio? Como eu me sustentaria? Ninguém me daria emprego. Deixa isso pra lá. E você? Como vai?
            - Eu vou ter que ir, Gail. Cada vez me convenço mais. Parece que algo me prende aqui. E me pergunto o que eu ainda faço aqui.
            - Eu sentirei sua falta.

            Depois de almoçar com Gail, calmamente Ana voltou para a fazenda. Foi surpreendida por Jéssica no meio da estrada. Não queria conversa. Muito menos com ela. Mas garota insistiu que precisava levá-la para outro lugar. Achou estranho, mais foi com ela e cavalgaram até chegar. Cavalgaram muito.
            - Que lugar é esse? Porque me trouxe aqui?
            - Entra na casa. – Disse a jovem empregada.
            - Que casa? Isso é uma casa? – Mas entrou e viu um lugar muito humilde. – O que você quer, Jéssica.
            A garota demorou para responder.
            - O patrão quer te prender aqui. Ele vai te trazer hoje a noite! Eu só to te mostrando porque não quero que ele seja preso. Ele é obcecado por se vingar de você e vai te trazer aqui e...fazer coisas que eu nem sei o que é. Mas não é coisa boa.
            Ana não queria acreditar, mas viu sobre um móvel um pequeno chicote de montaria. Reconheceu-o. Era do quarto de jogos. Era verdade.
            - E você está me ajudando pra ele não ser preso?
            - Sim.
            - Obrigada, Jéssica. Mesmo não sendo em mim que você está pensando. Parece que meu casamento não tem mais jeito...e você vai ficar com ele.
            - Não patroa...ele não me quer. Ele tá louco pela senhora. Louco como Emmett ficou pela outra. A que o patrão acha que é você...mas eu sei que não é.
            - Como sabe?
            Jéssica abaixou a cabeça timidamente.
            - Fale garota!
            - O patrão Emmett tinha outra foto da mulher, uma que tava junto do corpo quando nós encontramos. Essa não tá rasgada. E a cara da mulher não é igual a sua. Olha! – Jéssica estendeu a foto amassada e Ana viu Alice e Emmett abraçados.
            - É Alice, minha prima. Foi ela! Ela se envolveu com Emmett...e terminou com ele quando José avisou que voltaria para casa. – Tinha que alertar José que ela era um monstro. – Você sempre soube! Sempre! E deixou eu viver um inferno aqui!
            - Eu queria que o patrão a mandasse embora e se ele soubesse da verdade não ia fazer isso! Ele ia amá-la cada vez mais!

            Jéssica ficou ali chorando e Ana saiu em cavalgada. Iria esfregar na cara de Christian a verdade e depois iria embora. Não ficaria com um homem capaz de organizar um calabouço daqueles só para fazê-la sofrer. Iria embora ainda hoje.

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