quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Casamento Fuga e Vingança - Capítulo 23: Dupla solidão


            Eu evitava falar com minha mãe. Sabia que mais cedo ou mais tarde teria de contar os acontecimentos em minha casa que culminaram comigo procurando minha esposa pelas ruas frias de Boston. Eu agradecia não estar nevando, mas o frio era intenso e com a pouca roupa que Bella usava, a noite deve ter sido horrível.
                                                                                
            - Pode me dizer o que sua mulher faz fora de casa a essa hora? Mal amanheceu.
            - Nós estamos com problemas. Graves problemas. E eu os resolverei com Bella.
            - Deixando ela trancada como se fosse um animal? Qual é o próximo passo Edward, colocar uma coleira nela?
            - Ana não podia ficar quieta! – Inferno!
            - Não, ela não iria ficar quieta enquanto você destrói sua vida, a de Bella e todas as das pessoas que amam você. Como acha que eu me sinto ao saber que o filho que eu tanto amei e eduquei se transformou em um monstro capaz de manter a mulher em cárcere privado!
            - Eu resolverei...
            - Basta Edward! Eu fingia que não via muitas coisas, mas isso acabou. Eu deixei você se tornar muito próximo de Carlisle e seu pai o tornou igualmente amargo.
            - Não misture as coisas mãe!
            - Isso digo eu! Não haja como um monstro! Não fique igual a ele! Amor nenhum suporta conviver com um monstro Edward e, mesmo se Bella o amar, esse amor morrerá se você não aprender a ser um homem de verdade. Acha que eu não amei Carlisle? Amei muito e tentei com todas as minhas forças ficar com ele, mas chegou um momento em que a mente venceu o coração e eu cheguei a conclusão que não era saudável aquela relação.
            - Eu sei que ele não foi um bom marido.
            - E você está indo pelo mesmo caminho. Só preste a atenção no que digo. Seu pai está envelhecendo sozinho e amargurado, destilando o veneno dele em pessoas fracas como você. Pessoas que ele consegue controlar.

            Eu segurava as lágrimas que insistiam em desejar correr por meu rosto. Esme sempre foi assim, dona de uma sinceridade crua, doce e severa como toda boa mãe. Se outra pessoa dissesse que sou fraco eu provavelmente ira explodir e negar até a morte. Mas como negar a verdade dita por quem me deu a luz e, mais do que isso, quem tentou a todo custo evitar que eu me tornasse o que sou. Um mostro. Ela percebeu o quanto suas verdades doeram.

            - Desculpe filho! – Ela passou a mão em meus cabelos. – Mas alguém precisa lhe mostrar a realidade.

Decidi contar o que se passou...apenas o essencial.

            - Nós brigamos mãe. Bella estava descontrolada, me atacou. Eu tinha bebido muito e, sem pensar, a coloquei para fora de casa e disse que ela deveria deixar o condomínio. Eu voltei a beber e só me dei conta do que fiz pela manhã.
            - Meu Deus! – Foi só o que ela disse.
            - Eu preciso encontrá-la mãe!

            Nós ficamos circulando pelas ruas do bairro procurando por ela. Já não chovia em Boston, mas as ruas ainda estavam bem molhadas. Depois de mais alguns minutos rodando sem um destino certo minha mãe deu uma sugestão difícil de aceitar.

            - Vamos ao hospital Edward. Se algo aconteceu ela deve ter sido levada para lá.
            - Isso é o que mais temo.
            - Mas agora não serve de nada temer! – Ela foi dura. – E se não estiver lá, a única alternativa é ir na delegacia.

            Pegamos a avenida principal para seguir em direção ao hospital. Quando passamos por um cruzamento, um tumulto chamou a atenção de Esme. Eu estava concentrado demais para ver qualquer coisa.

            - Filho, olhe. – Tinham algumas pessoas aglomeradas em uma calçada com grama. – Deveríamos ver o que é. Pode ser algo com Bella.
            - Deixe que eu vou.

            Estacionei o carro e segui andando até o tumulto. Eu tremia, mas nada se comparava com o frio gélido que cruzou meu corpo quando vi, em meio aos curiosos, o corpo de Bella o corpo de Bella esticado no chão. As pernas estavam descobertas, com a saia da camisola indo apenas até o meio das coxas, e a parte de cima do corpo estava abrigada por uma jaqueta impermeável. Provavelmente a que o porteiro havia dado.
            Passei pelas pessoas, conferi sua pulsação e a peguei no colo. Alguns devem ter nos reconhecido mesmo estando fora da vizinhança, mas ninguém comentou nada. Levei-a até o carro. Esme viu eu retornar e já nos aguardava com o cobertor estendido. Bella tinha os lábios e a ponta dos dedos começando a ter um tom azulado pelo frio. Liguei o carro com Bella tremendo mesmo enrolada na coberta. Ia tocando o carro para o hospital, mas Esme não quis.

            - Para onde está indo?
            - No hospital, onde mais? Ela não está bem. – Eu jamais me perdoaria pelo que fiz.
            - Ela precisa é de um banho quente. Está gelada. Vamos para casa.
            - Se você acha melhor! – Lembrei de conferir se Ana já havia retornado. – Mãe, me empresta o seu celular?  Eu não trouxe o meu.

Liguei para casa.

            - Oi Ana, sou eu. – Por sorte ela já havia retornado.
            - Edward eu cheguei faz pouco e vi seu quarto. O que aconteceu? Por que está destruído?
            - Depois eu explico Ana, agora preciso de sua ajuda. Encha a banheira com água de morna para quente. Estou chegando com Bella e ela está precisando disso.

            Estacionei enfrente a porta da casa e corri com ela nos braços, ladeado por minhas duas mães, até a banheira do quarto de hóspedes A deitei na cama macia e enquanto tirava sua roupa ela ainda estava sem sentidos e com a pele úmida e gelada. Ana foi testar para ter certeza de que a água ainda estava na temperatura adequada, mas minha mãe permaneceu ao meu lado e logo viu o que não esperava. Ao que parecia eu realmente havia agarrado Bella pelos braços um pouco forte demais.

            - Edward Cullen! Diga que não foi você quem fez isso nos braços de Isabella.
            - Eu estava bêbado mãe, nem lembro direito do que fiz.
            - Isso não perdoa tudo! – Ela não se conformaria fácil assim. – Depois conversaremos. Agora vamos aquecê-la.
           
            Depois que estava nua, colocamos Bella na banheira e ficamos observando. Chamamos o médico da família para examiná-la. Ele era discreto e jamais falaria nada das estranhas marcas nos braços de Bella ou do que originou esse frio todo. Quando estávamos aguardando o médico chegar o Bella já ganhava alguma cor no rosto minha mãe e eu ficamos observando seu corpo na água morna.

            - Ela parece tão frágil. – Eu disse.
            - Sim, perdeu peso.

            De repente Bella recobrou os sentidos e, ao abrir os olhos me olhou com medo, agarrou as mãos de Esme e gritou para eu sair.

            - Socorro Esme....por fa...vor...me ajude! Não deixa ele chegar perto de mim. Ele me prendeu aqui, não me deixava sair e depois...
            - Calma querida. Eu já sei do que aconteceu e garanto, não acontecerá novamente. Confie em mim.
            - Bella...me escute...nós vamos conversar e resolver tudo!
            - Eu não quero conversar! – Ela tentou se erguer na banheira, mas não conseguiu, estava fraca.
            - Isabella, fique tranquila. – Minha mãe tentava acalmá-la. – Edward saia daqui. Ela precisa de repouso.
            - Mas mãe nós precisamos conv...
            - Agora não é hora. Vá a cozinha, peça para Ana preparar um chá e depois uma comida leve para Bella. – Ela me olhou séria. – Fique longe desse quarto. Aproveite para tomar um banho.

            Fiz tudo que Esme mandou e fiquei sentado na sala enquanto Bella era examinada pelo médico. A demora era muita e fui entrando em desespero lembrando tudo que tinha feito nos últimos meses. Tudo o que forcei Bella, tudo o que vivemos juntos. Eu que jamais havia chorado na vida estava nesses dias emocionado demais. Nesse momento não eram lágrimas contidas de dor ou sofrimento que me vinham aos olhos. Não, era desespero puro. Desespero de quem sabe ter cometido erros irremediáveis. Eu nunca conseguiria ter a confiança de Bella novamente e agora ela tinha ainda mais motivos para considerar o tal Jacob um parceiro melhor do que eu. Meu corpo sacudia enquanto todo esse sofrimento vinha à tona.
            Quando olhei para o lado vi Ana, Esme e o médio observando meu pranto em silêncio.

            - Como ela está?
            - Sua esposa  irá se recuperar meu jovem. O maior problema é psicológico. Precisa de paz. E de muitas horas de sono. – Ele me observou atentamente. – Pelo visto não é só ela. Acho que você também precisa de um calmante Edward.

            Eu não queria, mas minha mãe insistiu e acabei aceitando o remédio. Alguns minutos depois dormia pesadamente.

Muitas horas depois...

            Acordei com a cabeça pesada sem saber onde estava. Sim...eu foi dormir em outro quarto já que o meu estava destruído e Bella havia dormido no de hóspedes. Levantei. Olhei as horas....

22:00

            Dormi 12hs...estranho...nunca fiz isso antes. Foi ao banheiro e joguei água gelada em meus olhos. Ao passar pelo corredor pensei em ir no quarto onde Bella estava, mas achei melhor esperar e ver o que se passava na casa. Desci até a cozinha, peguei um xícara de café e procurei por Ana.

            - Bom dia Ana. – Ela olhava para baixo, fugindo dos meus olhos. Deveria ser por estar brava pelo que eu fiz. Não tirava sua razão.
            - Bom dia filho.
            - Bella está acordada?
            - Eu...- Ana gaguejou um pouco. – Acho que sim.
            - Como ela está? – Eu tinha medo de encará-la novamente e ver o pânico em seus olhos.

            Ana estranhamente olhou pela janela da cozinha.

            - Acho melhor perguntar para sua mãe. Ela está chegando.
            - Onde ela foi?
            - Ela terá todas as respostas que você quer Edward.

            Quando minha mãe entrou na casa foi muito direta e pediu que eu a acompanhasse até o escritório. Eu não sabia o que se passava. Mas descobri ao entrar no cômodo em que trabalhava. A gaveta onde estava o passaporte de Bella estava aberta. Saí correndo pela casa apenas para confirmar. Cheguei ao quarto e o vi vazio e sem vida. Exatamente como eu estava. Observei minha mãe vir me procurar.

            - Como pôde fazer isso comigo? Aproveitou que eu estava dopado!
            - Um dia você irá me agradecer Edward. Vocês precisam desse afastamento. Ela relação deixou de ser saudável.
            - Ela não podia ir embora sem termos conversado!
            - Uma conversa não apaga magoas tão profundas como as de Bella.

Eu só podia perguntar uma coisa...

            - E tem algo que apegue? – A desolação tomava conta de meu corpo.
            - Não, mas o tempo alivia, curra as feridas. Deixe Bella currar suas próprias feridas, dê esse tempo a ela e, enquanto isso, trate das suas. Cuide das suas magoas e avalie se vale a pena tentar novamente. Assim, no calor dos acontecimentos, não se deve decidir nada.

            Minha mãe saiu do quarto e eu fiquei ali curtindo uma solidão dupla. Além de estar sem a mulher que amo e sem o filho que tanto sonhei, estava sem sentimentos. Me sentia completamente vazio. Era como se um trator tivesse desmembrado cada pedacinho de meu corpo e eu não tivesse ânimo para tentar me reerguer.

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