domingo, 18 de agosto de 2013

A Mentira - Capítulo 19: fera em recuperação


            Ana se sentia confusa. Lembrava de estar no hospital e até de discutir com Christian...depois um imenso mar negro tomava conta de suas lembranças. E agora abria os olhos e estava na fazenda. Por um momento chegou a pensar que tivera um sonho, mas as dores no corpo comprovaram que era tudo real.
            Estava com muita dor no quadril e em uma das pernas. Não lembrava de ter sofrido tantas dores enquanto estava na capital. É claro que lá dormia tanto que pouco se lembrava.
            - Você acordou...ainda bem. – Kate disse ao seu lado. - Como se sente?
            - Dor, muita dor. – Foi só o que conseguiu falar.
            - Eu vou chamar Gail. James deve ter deixado algum medicamento com ela.
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            Sem saber que Ana tinha acordado e vivendo uma série de dúvidas, Christian fez algo que não gostava. Foi conversar com o Padre. Não era uma confissão, afinal só se confessava quem havia se arrependido de algo que fez e esse não era o caso. Tudo que Anastásia estava sofrendo era por responsabilidade dela própria. E, além disso, era pouco, perto do que ela fez.
            - Fiquei sabendo que trouxe sua esposa para casa. Irei visitá-la ainda hoje. – Disse o religioso logo que o cumprimentou.
            - Ela ainda não está bem o bastante para isso. Melhor esperar.
            - Então por que a trouxe de volta? Não tem medo de ela ainda precisar de algum atendimento médico?
Tinha, mas não assumiria nada.
            - James pode cuidar dela. – Mesmo sem ser convidado, sentou-se à mesa da sacristia. – Vim porque preciso desabafar, Padre. Estou confuso...não sei mais o que devo fazer da minha vida...e da vida de Anastásia.
            - Você não é Deus para decidir a vida de sua mulher...muito menos para tentar tirá-la! – Falou duramente.

            Por essa acusação Grey não esperava. Já não bastasse Anastásia já ter insinuado que ele poderia matá-la, agora o Padre vinha com essa acusação absurda.
            - Quem pensa que é para me acusar disso? Eu não sou um assassino!
            - Não grite na casa de Deus! Se você não respeita os votos que fez em seu casamento, ao menos respeite essa igreja!
            - Está ao favor de Anastásia porque já esqueceu o que ela fez. Mas eu não! Eu nunca vou esquecer.
            - Nada disso justifica você tirá-la de casa, da família, levá-la ao altar, fazer juras perante Deus e depois descumpri-las. Você a trouxe saudável e agora ela se encontra sobre um leito! Você mentiu para Deus! Jurou amar e proteger Anastásia e...
            - Ela matou meu irmão!
            - Ninguém mente pra Deus e fica impune, Christian. – Os ombros que Christian já se encontraram mais baixos e o desespero vivido por ele aparecia nas lágrimas que corajosamente prendia. – E olhando para você, Grey, é fácil perceber qual é o seu castigo.
            - Qual? – Uma gota solitária molhou sua face.
            - Você se apaixonou tórrida e perdidamente por Anastásia. E cada ‘castigo’ que dá à ela, sente na própria carne. Você sofre vendo sua mulher sofrer. E sente essa dor em dobro porque sabe que é o responsável.
            - Isso é um absurdo! O que você pode saber sobre o amor?! Um padre falando sobre amor tórrido!
            - Nunca amei uma mulher...mas conheço o amor à Deus. E ele está te mostrando que ninguém jura em falso no altar e sai indevidamente. Se bem que...o seu juramento não foi tão falso. Já vi muitos casais, mas nunca estive na frente de um homem tão possessivo e apaixonado.
            - Eu não a amo! Não AMO! A ODEIO! – Cada palavra foi dita junto com um murro na mesa.
            - Não? Então se está tão seguro de sua vingança incansável, o que está fazendo aqui? Para que me procurou? – Padre Henrique já não sabia o que fazer com a cegueira sentimental daquele homem.
            - Eu...não sei...queria conversar.
            - Não seria para me contar como Anastásia caiu daquele cavalo?
            Christian empalideceu.
            - O Senhor sabe. Ela saiu nervosa e forçou demais o animal. – O que mais poderia ser?
            - Tem certeza, Christian? – Estavam olhos nos olhos.
            - Absoluta! – Jamais faria nada que fizesse Ana cair. – Ao contrário da sua ‘protegida’, não sou um assassino. E não admito que duvidem da minha palavra!
            - Quem não admite sou eu, Christian Grey! Não fecharei os olhos para mais nenhum sofrimento que você infligir a essa moça! E para mais nenhum estranho ‘acidente’.
            - Pare de insinuar que eu fiz algo para matar minha Ana! Eu não fiz! – Aquele ‘minha’ calou forte no coração do Padre Henrique. Mas ele seguiu pressionando.
            -Então por que o cavalo da senhora Grey estava sem a cela quando foi encontrado? Eu falei com Jacob e ele me disse que aquele animal é sim arisco, mas que não se assusta fácil. E nós sabemos que ele aceitava muito bem a montaria de Ana.
            - O senhor acha que...
            - É muito fácil concluir que Anastásia não caiu por imperícia ou pela montaria ter se assustado. O acidente foi causado porque a cela estava solta.
            Não...isso era impossível...
            - Eu não fiz isso. Eu nem sabia que ela iria sair naquela noite. Tentei segurá-la lá! – Ele passava a mão pelos cabelos, despenteamos ainda mais. Tem que acreditar em mim, Padre!
            - Ok, eu acredito Christian. Se você me diz, eu acreditarei. – O religioso sorriu. – Talvez esse lhe seja um bom exemplo de que as vezes mesmo com muitos indícios, muitas certezas, ainda assim não estamos certos.
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            Na capital, Alice recebia uma notícia que a revoltou. Dessa vez não adiantou recorrer à tia. Não conseguiu o que queira.
            - Meu amor, acho que Alice está certa. José não pode ficar de babá da Ana pela vida toda.
            - Não! – Ray foi enfático. – Namorando ou não namorando Alice, José é primo de Ana. Um primo querido em quem ela sempre confiou. Eu não posso deixar o banco nesse momento. Mas não vou deixar uma filha abandonada.
            - Sim, papai. – José adorou a tarefa.
            - Então eu vou junto! – Disse Alice.
            - Não, senhorita. – Ele novamente podou os planos da sobrinha. – Você ficará aqui fazendo companhia para sua tia e estudando para o vestibular. Não é por que quer casar que não vai estudar. Só a vejo falar em casamento!
            - Mas tio...
            - Calada, Alice. – Era uma ordem. – José vai até essa fazenda vistoriar tudo em meu nome. Quero ter certeza que Anastásia está feliz. E também levará os celulares. Se não pegar, teremos que viabilizar um telefone fixo. Ela não fica mais isolada naquele lugar. Nem que eu tenha de construir uma antena no quintal dessa fazenda!


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