sexta-feira, 7 de junho de 2013

Casamento, Fuga e Vingança - Capítulo 16: Meias verdades

Quando Bella acordou, eu, Ana e Esme estávamos em sua cabeceira. Sua aparência era boa, apenas uma leve acentuada na natural palidez. O médico havia nos alertado de que nesse primeiro momento ela poderia apresentar incômodo no peito, onde o impacto contra o cinto de segurança deixou um grande hematoma, mas que ela não teria fortes dores por estar bem medicada. Depois sim, quando a medicação começasse a ser gradualmente reduzida, os pulsos poderiam incomodar, mas era normal. De resto era para ela acordar normal e bem disposta na medida do possível. Ela abriu os olhos lentamente e quando me viu voltou a fechá-los. Não queria me ver, mas eu precisava ouvir sua voz e ter certeza de que tudo estava bem, o pesadelo havia acabado.

- Bella? Abra os olhos, por favor. – Seus longos cílios tremeram de depois abriram espaço para mostrar às íris cor de chocolate.
- Você voltou. – Ela falou em um tom muito baixo.
- Acredita mesmo que eu ficaria em outro país sabendo que você sofreu um acidente?
- Eu...eu não sei. – Falando isso ela tentou se erguer no leito hospitalar. – Ai droga, tá queimando meu peito.
- Não se mexa, a cinto de segurança fez ficar dolorido.
- E depois querem que a gente use esse troço?
- Sem ele você estaria morta Bella.
- Seu pai ia adorar essa possibilidade...talvez até você.

Ana, como sempre um anjo da guarda, resolveu interferir ao ver que nossa conversa não se dirigia para um rumo bom.

- Meninos, vamos comemorar a melhora de Bella e não discutir.
- É bom te ver Ana. – Ela olhou mais para trás. – E você também Esme.
- Não sabe como ficamos preocupados, querida. Você se arriscou tanto. – Esme falava como quem conversava com uma filha. – Por que fez isso Bella? Por quê?
- Eu não quero falar disso. – Ela voltou a fechar os olhos.
- Ela está certa mãe. Bella precisa descansar para se recuperar. Serão poucos dias aqui e depois ela irá repousar em casa e concluir o tratamento até ficar totalmente boa. Quando estivermos em casa, nós conversamos melhor para todos entendermos o que se passou. Durma Bella, lhe fará bem.

E fez. Em três dias Bella recebeu alta do hospital. A vinda não foi fácil. Ter ferimentos em ambas as mãos pode não ser grave, mas complica bastante a mobilidade de qualquer um. Bella não conseguia comer sozinha, não conseguia se vestir, não conseguia escovar os dentes ou tirar a roupa para ir ao banheiro. E a cada vez que tinha de pedir ajuda, ficava mais mal humorada. Para facilitar nossa saída o hospital sugeriu uma cadeira de rodas para que ela fosse confortavelmente encaminhada até o estacionamento subterrâneo onde nosso carro aguardava. Dalí sairíamos sem dar chance aos fotógrafos que aguardavam na porta principal.

Mas não foi tranquilo convencer Bella disso.

- Meu problema é nas mãos, não nas pernas? Posso muito bem caminhar.
- Bella, será que você pode ao menos tentar ser razoável e menos absurda! – Eu já estava perdendo a paciência. – Preciso tirar você daqui rapidamente se não quisermos virar capa de revista mais uma vez.
- Você estava em revistas na semana passada e a causa não era eu!
- Combinamos de conversar em casa e assim faremos. – Parei por um momento para respirar fundo. - Você continua com o corpo dolorido! Por uma acaso consegue me acompanhar, caminhando ao meu lado? – Não esperei ela responder. – Não, não consegue. Então tem duas opções. Ou vai na cadeira ou no meu colo. Como faremos?
- Nessa cadeira pareço uma inválida! – Disse teimosa.
- Pois bem. – Eu apenas a peguei no colo. – Ana, por favor, traga a mala de Bella.

Quando chegamos em casa eu também a carreguei até o quarto, colocando delicadamente sobre a cama.

- Nem aqui posso caminhar?
- Pode, mas prefiro que não chegue perto das escadas. É arriscado e você parece atrair acidentes. Quer descansar ou prefere conversar agora?
- Podemos deixar para depois?
- Sim, só não podemos é esquecer o assunto, infelizmente. Vire de costas.
- Para que? – Bella me olhou desconfiada.
- Vou abrir seu vestido. Vai dormir de sutiã?
- Prefiro que Ana ou Esme me ajude.
- Ambas estão ocupadas. – Menti, eu é que desejava ficar ali, próximo dela. – Não tem as duas ao seu dispor 24 horas por dia.
- Sim, mas...
- Não complique Isabella. Vire, por favor.
- Está ainda mais grosso e mandão do que antes! – Disse, mas obedeceu.
- Engraçado. “grosso” era uma característica que eu jurava que você gostava em mim. Normalmente é assim que as mulheres gostam dos homens. – Eu estava abrindo o fecho de sua roupa e não via seu rosto, mas apostava que ela estava corada. – Não há razão para chamarmos Ana aqui quando eu posso ajudar Bella, e quando eu conheço seu corpo muito bem.

Deixei Bella apenas com a calcinha e fui tomar banho. Frio, mesmo com o peito machucado Bella era bonita. E depois de mais de duas semanas sem ter nenhuma mulher, aquela visão não estava fazendo bem. Isso era ruim, ainda mais por Bella precisar de repouso e o sexo estar fora dos planos por mais algum tempo. Até, no mínimo, ela estar sem nenhuma dor eu teria de ficar longe. Em outros tempos eu procuraria por Tânia e poderia descarregar toda minha frustração em forma de testosterona dentro dela. Hoje não, nem queria. Ela ainda estava morando no apartamento em que a instalei e se eu a deixasse continuar por lá seria apenas para evitar um novo escândalo. Não faltaria jornalista abelhudo para dizer que eu estava colocando fim no caso amoroso com a loira que estava comigo no México e foi a causadora do ‘acidente’ de minha esposa. A outra opção era procurar por uma profissional qualquer, mas essa era uma alternativa que eu evitava. Nada contra, afinal, já cruzei com algumas mais descentes que muita granfina.  O jeito então foi me aliviar no chuveiro mesmo e encontrar uma serena Bella já adormecida na cama. Deitei ao seu lado e me abracei delicadamente à sua silhueta. Comicamente percebi que esta era a primeira vez que dormiria abraçado com minha esposa, apesar de termos anos nessa estranha união.

Na manhã seguinte...

Tive de retornar ao trabalho e deixei Bella aos cuidados de Ana e minha mãe. Quando saí ela ainda dormia. Durante a manhã liguei para saber como ela estava e Ana me informou que tudo correu bem. Avisei que iria almoçar em casa e que a refeição fosse servida para mim e Bella na mesa da rua, em frente à piscina. Sabia que minha mãe compreenderia o fato de não ser convidada. Bella e eu precisávamos conversar.

- Ana, por favor. Peço que nem você nem Esme a questionem ou forcem a falar nada. Quero conversar com ela e eu mesmo saber de tudo.

Quando cheguei para o almoço ela já me aguardava à mesa, bebericando seu suco com um canudinho.

- Foi você o escolhido para ser minha babá na hora do almoço? Eu virei criança novamente e tenho de ganhar comida na boca.
- Vejo que seu humor não melhorou.
- Não suporto depender dos outros e agora não consigo fazer nada sozinha!
- É por pouco tempo. Somente uma de suas mãos teve lesão grave. Em três semanas a outra estará totalmente boa e já fica mais fácil. Enquanto isso...bem, não tem opção então é melhor nem ter raiva.
- Queria ver essa calma toda se fosse você.
- Mas não fui eu que roubei a chave de um carro e o jogou contra um portão de ferro.
            - Portão que eu havia aberto e foi fechado para que eu batesse e... morresse... provavelmente.
            - Sim, eu sei e é por isso que James não está mais aqui.
            - Como assim? Onde está a minha sombra?
            - Ele mesmo me disse que sabia o que aconteceria com você ao fechar o portão eletrônico. Disse que fazia isso por cumprir minhas ordens, mas eu jamais mandaria ele fazer isso.
            - Não?
            - Não! Eu não sou um assassino Bella. Sou um empresário que trabalha dentro  da lei. Tudo que lhe peço são cumprimentos de um acordo do qual você foi bem paga. Então, não posso aceitar que me veja como o vilão da história quando você entrou nisso sabendo exatamente do que se tratava. Não se faça de vítima.

            Nossa refeição chegou e eu agradeci ao bom senso de Ana. Era um estrogonofe com arroz branco. Delicioso como tudo que Ana preparava e, o principal, fácil de comer. Assim, eu intercalava colheradas no prato a minha frente e outras no de Bella. Ela não gostava nada de receber a comida na boca, mas não tinha alternativa. Enquanto isso íamos conversando.

            - Imagino que a revista que encontrei sobre nossa cama seja uma das razões para sua atitude impensada, mas sei que não foi a única. Fale o que mudou Bella.
            - Não sei o que faço aqui.
            - Como assim?
            - Não tenho nada a perder se for embora e nada a ganhar por ficar aqui.
            - A sua vida aqui pode não ser a melhor que já teve, mas não é pior que a da prisão. – Eu não queria voltar às ameaças, mas não tinha alternativa.
            - Será? Tem vezes em que penso em descobrir se isso é mesmo verdade.
            - Faria isso com seu pai?
            - Será que ele merece tratamento diferente. Se fosse o contrário, se tivesse ido ameaçar ele, eu já estaria presa faz tempo e Charlie estaria aproveitando a vida por aí. – Depois disso tive uma ideia do porque fugir. Ou um dos motivos.
            - Então a visita ao seu pai teve haver com isso?
            - Sim e não. Ele não falou nada disso comigo. Aliás, ele praticamente não falou comigo.
            - Então como...
            - Então eu fiquei me perguntando se vale todo o sacrifício. – Fazia sentido, mas ainda não era só isso.
            - Ok, mas você não tentou escapar naquela tarde e também não foi a revista que decidiu sua atitude. O que mais te incomoda Isabella?

Para meu desespero ela riu, gargalhou.

            - Precisa de mais? Sou sua prisioneira nessa casa, praticamente uma incubadora com pernas porque você está obcecado com a ideia de me fazer parir uma criança sua. Coisa que eu não posso. NÃO POSSO E NÃO QUERO!
            - Quanto ao poder, os relatórios que recebo da clínica dizem que o tratamento vai muito bem. E do querer...bom...devia ter pensado nisso antes de aceitar o acordo. Você terá um filho meu Isabella.
            - Não.
            - Sim. – Disse mais alto, mas sem gritar. – Não sei porque se importa tanto com isso. Serão só alguns meses de sacrifício. Depois poderá ir embora com um bom dinheiro na conta bancária. E eu e meu filho ficaremos longe de seu olhar.
            - Fará uma família feliz com Tânia? – Era como se saíssem faíscas de seus olhos.
            - Deixe Tânia fora dessa conversa. – O ciúme que eu via nela me fazia bem, era bom ela experimentar um pouquinho que eu senti ao vê-la ir embora de nosso casamento com outro homem.
            - Ela nunca esteve fora disso! Ela fez questão de destruir tudo. Destrói tudo que pode e acabou com qualquer chance nossa de viver bem! – Como assim?
            - Do que está falando Bella? Quando você conheceu Tânia?
            - Muito antes do que você pensa. Enche a boca para dizer que eu desrespeitei nosso casamento, mas foi você a convidar a amante para estar lá! Acha que gostei de ver ela lá?
            - Ela não estava convidada, foi, mas não por minha vontade. Assim como eu não a levei para o México. Não devia acreditar em tudo que ouve.
            - Eu não ouvi boatos Edward eu falei com ela na festa do casamento. Pouco antes de vocês terem uma rapidinha! – Vi em seus olhos que ela falava a verdade.
            - Não ouve rapidinha alguma. – Mas percebi que aquela conversa não podia ser apenas isso. Tânia não foi ao meu casamento apenas para dize à Bella que transaríamos. Tinha algo mais. – O que ela disse?
            - Precisa de mais? Já não basta deixar claro que sempre estaria entre nós?! – Ela falou e saiu correndo.

            Nosso almoço em paz terminava ali.

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