terça-feira, 11 de junho de 2013

A Mentira - Capítulo 9: Não me provoque!

Entardecia quando Christian voltou para casa. A notícia da sua volta havia se espalhado rapidamente e logo surgiram assuntos para resolver. Ao que parecia, a fazenda ia bem. James, apesar de um homem bruto e sem nenhum traquejo social, parecia ser um sócio ativo no local. Mesmo sendo médico do vilarejo, provou que entendia de cachaça. Isso era ótimo, já que nem fazia ideia de como cuidar de uma fazenda. Seus negócios eram de outros ramos e ele teria que se desdobrar para cuidar de tudo dalí, ainda mais com os sérios problemas de comunicação. Raul, o biólogo que trouxe para cuidar da plantação também estava animadíssimo. O negócio prometia gerar muito dinheiro.

            - Pena que você não está aqui para aproveitar de tudo isso, mano. – Disse olhando para o campo semeado. – Mas ela vai pagar. Eu te garanto que ela sofrerá, em dobro, tudo o que te fez passar.

            Saiu em direção a casa sem ter exatamente um plano a cumprir, mas tendo certeza de que não teriam uma primeira noite normal na casa nova. Chegou cansado e mais sujo do que desejava. A vida no campo era boa, mas a poeira o incomodava e deixava com saudade dos escritórios onde podia usar seus ternos e gravatas. Agora elas teriam apenas utilidades...diferenciadas.

            Passou pela sala do casarão, subiu as escadas e foi direto para o seu quarto. A cena que encontrou não agradou em nada. Anastásia e Jéssica tiravam roupas de malas estendidas sobre a cama. Algumas estavam em cabides. Vestidos, calças e blusas femininas estavam misturadas às suas roupas.

            - Que merda está acontecendo aqui? – Disse ao entrar.
            - Patrão! – Jéssica só faltava se ajoelhar a sua frente. Garota esperta. – Tá precisando de alguma coisa? Quer que eu arrume seu banho?
            - Não! Eu quero é saber por que as roupas de Anastásia estão aqui?
            - Porque aqui é o nosso quarto. – Respondeu Ana. – Onde mais nós iríamos arrumar?

            Irritado, Christian pegou uma das malas, jogou algumas das roupas lá dentro e fechou antes de sair do quarto.

            - Venha! E, Jéssica, pega as outras coisas de minha esposa e traga também. – Gritou deixando o quarto sendo seguido pelas duas mulheres.
            - Christian...o que deu em você?

            Ele entrou num quarto no final do corredor. Era quase todo branco, estranho, destoava do resto da casa. Anastásia se sentia perdida olhando para seu marido e para a cena que ele fazia na frente da petulante empregada. Enquanto se banhava e descansava sozinha durante a ausência dele, pensou muito e chegou a conclusão que ele estava nervoso devido a morte recente do irmão. Deve ter sido informado da morte alguns poucos dias antes do casamento e não quis contar e cancelar tudo. Estava irritado, triste e de luto. Ela estava decidida a lhe dar amor e apoio para superar o momento. Só que toda sua calma ia embora com o show que ele aprontava no momento.

            - Christian! Eu estou falando com você! Será que pode responder?
            - Estou trazendo suas coisas para o quarto que você vai ocupar.

            Era muito para ela suportar em um dia só.

            - Eu sou sua esposa. Nós ocupamos o mesmo quarto. – Falou implorando a sua Deusa interior por mais paciência.
            - Eu não me recordo de tê-la convidado a dormir na minha cama. -  Disse ele.
            - Eu não sabia que precisava de convite. – Revidou ela.
            - Convite não, cara esposa, ordem. Na próxima vez, espere eu ordenar.
            - A patroinha quer ajuda com as roupas? Ou vai arrumar sozinha? – Jéssica se divertia ao assistir a cena.

            Revoltada e sentindo-se humilhada, Ana pega uma das malas e atira sobre a garota com toda a força que tem.

            - Sumaaaa! Suma daqui sua puxa saco! – Grita em descontrole.
            - Anastásia pare! Jéssica saia daqui. – Ele espera a garota sair. -  Nunca mais faça isso. Jéssica é uma empregada de confiança da casa há muitos anos. Você não vai chegar aqui criando briga.
            - EU?!?!? Eu vou criar briga? Não, Grey! Você! Você só criou briga desde que abriu os olhos essa manhã. Basta!
            - Não me provoque, Anastásia, não me provoque. Ou você pode se arrepender.

            Sem se deixar intimidar Ana o olha bem dentro dos olhos.

            - E você, não me ameace ou pode ficar sem esposa bem rapidinho. Não me tire pra idiota, Grey. Eu não sou!

            Esse era um trunfo que Anastásia sempre teria. Queria sim castigá-la, muito, mas não podia deixá-la fugir e também não teria como evitar que, em algum momento, algum parente viesse à fazenda. Sua vontade era tirar o cinto e lhe dar uma lição agora mesmo, mas ela sairia correndo em busca de socorro. “Ou devolveria cada golpe...selvagem como é”, sua consciência o lembrou. Não podia arriscar.

            - Você é minha mulher, é a dona dessa casa. Não quero que vá embora, Ana. – Disse aparentando muita calma. – Mas gosto de dormir sozinho. Por isso quero quer tenhamos quartos separados.
            - Isso não tem cabimento.
            - Será assim. Está decidido. Não aceito que me contrariem, Ana. – Sabia que ela era teimosa...teria que corrigir isso no quarto de jogos. Por agora apitou por uma resposta amena. Parte da verdade de sua vida. – Eu tenho meus traumas e meus problemas Ana, as vezes tenho pesadelos, gosto de estar sozinho a noite.
            - Eu não me importo. Quero cuidar de você.
            - Não!

            Ainda revoltada, mas entendendo que ele tinha suas razões para fazer o que fez, Ana mudou de assunto.

            - Porque não disse nada quando a Emmett? Questionou e viu os olhos dele voltarem a pegar fogo.
            - Quem te falou dele?
            - Jéssica me disse que ele morreu.
            - Você realmente não sabia? – Ele a encarava. – Tem certeza que você nunca foram mais...próximos.
            - Tenho! E pare de me olhar assim. Só pode tá louco...o que isso? Crise pós núpcias? – Mais uma vez ela optou pelo carinho. – Vem aqui...não quero brigar, quero te beijar, te amar. Ser feliz ao seu lado.
           
            “Tratou de tentar me seduzir para desviar o assunto”...Alertado pela própria consciência Christian a afastou.

            - Arrume suas coisas, nós estamos cansados da viajem, vamos nos ver depois. Eu quero tomar e banho e repousar antes do jantar.
            - Mas...
            - Sem mas, Ana. Aprenda a não contestar o que digo.

            Ela pensou em responder que aquilo era impossível, mas ficou calada apenas para não recomeçarem a brigar.

            - Nos vemos na hora da janta.

            Mesmo indignada, pensou que talvez fosse mais fácil lidar com Grey sem cobranças. Uma hora ele ia ceder. Arrumou seu novo quarto e se arrumou para o jantar. Seria uma refeição a dois, bem íntima e ambos terminariam na cama. Seria tão maravilhoso quanto a lua de mel e ela poderia fazê-lo melhorar o humor.
            Desceu e ficou na cozinha auxiliando observando Esme preparar a janta. Foram conversando e logo percebeu que Emmett e sua morte eram um assunto proibido. Estranho. Quando estava quase tudo pronto, um peão veio procurando pelo patrão e Esme chamou Taylor para cuidar do assunto.

            - O que houve? – Perguntou o braço direito de Christian ao homem.
            - Tem uma mulher, loura, com uma criança aí na entrada. Tá pedindo pra ficar aqui.
            - Aqui? Não. Não estamos precisando de mais ninguém e o patrão não gosta e colocar desconhecidos pra dentro da casa. – Respondeu Taylor.
            - Sim, senhor Taylor.
            - Não, espere. – Ana se intrometeu. – A fazenda é longe da cidade e já é noite. Não pode colocar ela e uma criança na rua. Mande que entre. Ela come aqui, passa a noite e, se realmente não tiver nenhum emprego pra ela, amanhã a levamos até a cidade.
            - Mas o patrão...
            - A patroa da casa deu uma ordem, Taylor. Eu seu que você é de total confiança de meu marido e confio que também poderei contar com você. – Se impôs, Ana.
            - Como desejar, senhora Grey. – Respondeu o homem antes de se voltar ao subordinado. – Você ouviu a patroa. Faça o que ela mandou.

            Logo depois pode conversar com a tal mulher. Era loira, alta e linda. Se chamava Kate e, obviamente, não era uma empregada doméstica qualquer. Tinha estudo e fugia de algo. A menina tinha menos de 3 anos, praticamente um bebê, linda, chamada Bianca.

            - Posso saber o que você procura aqui? Um lugar tão afastado. – Perguntou enquanto a moça dava uma sopinha a neném.
            - Quero trabalho. Posso ajudar na casa, limpar, cozinhar. Ela quase nunca chora, não vai atrapalhar. – Disse quase implorando.
            - Kate, você não é doméstica, nem é dessa região, não tem o sotaque das pessoas daqui. Acho que você entende que não posso colocar dentro da minha casa uma desconhecida. Quem me garante que essa menina é realmente sua?
            - Sim, é minha filha! Tem de acreditar. – A loira exuberante disse. – Sou de São Paulo, jornalista formada. Mas fugi com Bianca.
            - Fugiu de quem?
            - Do pai dela.
            - Seu marido? -  Já estava decidida a ajudar a moça. Gostou dela.
            - Ele era meu noivo, não chegamos a casar. Era muito ciumento. Achava que eu o traía, quando engravidei ficou pior, começou a me agredir mais e, quando eu tive minha bebê eu fugi.
            - Por que veio para o Mato Grosso?
            - Fui pro sul, mas tive medo dele me encontrar então viajei pra cá. Na cidade me disseram que essa fazenda tava sendo reconstruída pelo novo dono então eu vim. Aqui ele nunca vai nos achar.
            - É...a julgar pela viagem que eu fiz pra chegar aqui, nunca mesmo. – Que história louca. – Você tem estudo, por que não o denunciou? Sabe que tem direitos!
            - Tive medo e...no início eu gostava dele.. Depois, quando vai se repetindo...a gente se acostuma a apanhar. Sabe?

            Não, Ana não sabia. Até Grey vir com aquele sexo mais violento, nunca tinha levado um tapa na vida. E, mesmo assim, era diferente. Era prazeroso, era autorizado. Kate estava fugindo de um homem violento ao ponto de colocar a vida dela e da filha em perigo. Não, não poderia comparar homens como esse ao seu marido.

            - Esme, por favor, tem algum quarto onde Kate e Bianca possam ficar?
            - Tem...a ala dos funcionários é muito boa e foi reformada agora. – Ela balançou a cabeça. – mas acho melhor falar com o senhor Grey antes.

            Isso já estava enchendo o saco!

            - Leve as duas para o quarto e as ajude a se instalar. Eu falo ao meu marido que acabo de fazer essa contratação. A casa ganhou uma nova arrumadeira. – Era bom ter uma aliada ali. Aquela Jéssica não era confiável. – Será bom ter mais alguém da minha terra por aqui. Também sou de São Paulo.

            Christian não gostou muito da ideia, mas aparentemente estava esgotado demais para brigar.

            - Como assim você contrata alguém sem me falar? Coloca uma estranha na casa?
            - Para mim todos aqui são estranhos, Grey. Ela precisava do emprego, tem uma filha, não pude deixá-la na rua.

            Ele a encarou, mas cedeu.

            - Tudo bem. Mas é mais uma que vai pra sua conta...que já está grande.
            - Conta? – Ela estranhou.
            - Sim, conta. Digamos que a cada desobediência, sua dívida aumenta comigo.
            - E eu irei pagar essa conta com os seus joguinhos de submissão, imagino?
            - Sim. – Respondeu seco.
            - Até que pode ser divertido. – No fundo ela achava sensual, não tinha medo. Ele não seria louco de machucá-la de verdade. – Pena que, em quartos separados fique difícil fazer qualquer coisa.
            - Oraaaa querida Anastásia, não se preocupe. Eu preparei um cômodo todo especial para nossos jogos. – Ele se levantou da mesa. – Venha ver.

            Curiosa, ela obedeceu, coisa rara de fazer. Ele parou em frente a misteriosa porta trancada. Tirou uma chave do bolso, destrancou, mas não girou a maçaneta.

            - Vá! – Ordenou.

            Ela levou um minuto para tomar coragem. No fim, a curiosidade venceu o medo. Entrou...e sentiu a pernas tremerem.


            Amarras no teto, objetos que lembravam salas de tortura, um grande X na parede, algemas, cordas, chicotes, varas, muito couro e uma imensa cama.

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