quinta-feira, 6 de junho de 2013

A Mentira - Capítulo 8: Uma sucessão de mentiras



- Vai ficar plantada aí ou vai desembarcar? Nós ainda temos três horas de carro, Anastásia! – Christian gritou.

Eles tinham voado de São Paulo para Cuiabá e feito outra parte do trajeto de barco. Agora ele informava que ainda teriam mais três horas de carro.

            - Meu Deus! Isso fica no Brasil??? – Ana falou mais para si mesma do que para o marido.
            - Se a princesinha está achando longe demais, pode voltar daqui para a casa dos titios. – Grey continuava demonstrando nervosismo.

            Desde que acordaram da noite de núpcias, maravilhosa, Christian estava estranho, bruto, grosseiro e mal humorado. Ana simplesmente não entendia a razão disso. A noite tinha sido ótima, o sexo fantástico. Foi como um encontro de almas. As peles se tocavam, mas não era só pele, tinha uma paixão tão forte, tão inimaginável que não podia ser efêmera. Mas foi o dia clarear para uma nuvem negra pairar sobre eles e o humor de Grey parecia não melhorar. A primeira vez que o viu ao acordar ele estava falando no telefone e nem lhe deu bom dia. Imaginou que ele estava resolvendo algum problema ou recendo alguma notícia desagradável. Resolveu ter paciência e relevar.
            Mas o dia foi passando e ele seguia sendo desagradável. Sua paciência tinha acabado.

            - Basta Grey! – Gritou no mesmo tom que o marido. E viu a raiva ferver em seus olhos como resposta. – Não adianta olhar de cara feia. Sou sua mulher e não gosto de ser maltratada. É bom que você se lembre disso.

            Em silêncio ele se aproximou dela numa calma fingida. No pouco tempo de namoro e noivado Ana nunca o tinha visto com olhar tão furioso e amedrontador.

            - Nunca mais fale nesse tom comigo, Anastásia. – Disse. – Ou eu posso realmente te maltratar.

            Como tinha certeza de que havia algo de errado com ele, resolveu não contestar. Quando chegassem em casa, na privacidade do quarto e sem empregados por perto, iria perguntar o que se passava.
            Sacolejando no carro, pensava que era impossível aquele ser o caminha mais fácil até a fazenda. Como escoavam a produção de cachaça? Como as pessoas viviam assim? Mas para evitar nova briga, se calou. Notou quando passaram por uma cidadezinha. A igreja, os correios e o posto de polícia ficavam enfrente a uma praça. Era o desenho de uma típica cidade interiorana.

            - Vamos descer? Assim eu estico as pernas e conheço a cidade. – Perguntou.
            - Não. – A resposta dele foi seca.
            - Mas...
            - Não. – Ele sequer a olhava nos olhos. – Anastásia, quando irá aprender a me obedecer? Se eu disse não, você não deve questionar.
            - Eu não obedeço ordens suas.
            - Não é o que dizem os papéis que você assinou. – Com isso ele encerra o assunto. – E pare de morder os lábios como se fosse uma garotinha mimada. É irritante e eu fico com vontade de morder...só que de verdade, até machucar.

            Sem querer assumir, mas já  um pouco preocupada com as escolhas que fez, Ana seguiu muda e entristecida até a fazenda. Apesar de tudo, tinha de reconhecer que o lugar era um verdadeiro paraíso. Com arquitetura histórica, muito verde, área de lazer com piscina e sala de ginástica, e um riacho que passava relativamente próximo, o lugar reunia a beleza típica do interior e o conforto da cidade. Era fantástico e Ana se sentiu feliz pela primeira vez desde que acordou.


                Tão feliz e satisfeita que, num arroubo típico, pulou sobre o marido beijando-o.

                - O que está fazendo, Anastásia? – Disse ele depois do longo beijo.
                - Te agradecendo.
                - Agradecendo? Pelo que? – Propositalmente ele havia sido grosseiro com ela o dia todo. Agora era parecia feliz. Seria possível ou era mais um golpe dessa feiticeira.
                - Por me trazer para viver nesse paraíso. É lindo Grey. E eu sei que nós seremos felizes aqui.

                Ele  a encarou, pasmo. Não esperava por isso. Não queria tê-la beijado novamente. E, o pior, estava fervendo de vontade de levá-la para ‘batizar’ cada um dos cômodos daquele mausoléu isolado onde seu irmão vivia e morreu. Odiava essa fazenda e queria Anastásia infeliz ali. Por isso mandou retirar toda e qualquer ligação com a cidade. Não tinha mais nenhuma linha telefônica na fazenda e os celulares não tinham sinal ali. Para falar com a família, ela precisaria ir a cidade (e ele também). Fez tudo isso para garantir a infelicidade dela. Agora ela saltitava apenas por ver uma casa e alguns cavalos. INFERNO!

            - Deixe eu te apresentar os funcionários da casa.  Esse é o Taylor, meu braço direito. –Informou.
            - Seja bem vinda, senhora Grey. – Disse o homem bem arrumado e sério.
            - Esse é James. Ele não é funcionário, na verdade meu irmão firmou com ele uma parceria aqui na fazenda. Ele me ajuda com algumas coisas, mas é médico na cidade.
            - Boa tarde, Senhora. – Disse o homem com cara de poucos amigos.
            - A esposa dele ajudou a preparar a casa para você. Ela se chama Gail...você se darão bem, acho. E essa moça é Jéssica. Ela auxilia Esme, nossa cozinheira, e ajuda na arrumação da casa. O marido de Esme, Carlisle, é o administrador do lugar.
            - Que bom que está de volta, patrão. – Jéssica não cumprimentou Ana.
            - Os outro você vai conhecer depois. – Ele olhou em volta. – Entre, eu vou checar como está tudo e depois nos falamos.

            Ele saiu sem falar mais nada. Fugiu dela....tentava desesperadamente se desvencilhar do  feitiço que ela tinha sobre ele. Iria cuidar dos negócios e deixar que ela se instalasse sozinha. Se entrasse com ela, seus planos iriam por água abaixo. Ou levaria Anastásia para cama e transariam até ele matar todo aquele desejo que o estava deixando desesperado ou, a segunda alternativa, apresentaria a ela o quarto de jogos que montou ali e bateria nela até cansar, até descarregar naquela pele branca e perfeita toda a sua raiva. Mas não podia. Sabia disso. Podia ser um dominador, mas não era imbecil. Queria castigá-la, não afugentá-la. Melhor ir trabalhar.

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            De modo geral, todos na casa foram simpáticos. Respeitavam Christian e pareciam nutrir carinho por ele. Menos Jéssica...essa parecia nutrir mais que carinho e não ter respeito algum pela nova dona da casa.

            - Eu corto suas asas bem rapidinho. – Disse ela olhando Grey se afastar com Taylor.
            - Disse algo patroa? – Esme perguntou.
            - Não, nada não. Estou apenas cansada. Por favor, me mostre onde fica o meu quarto e de meu marido.
            - Claro, senhora.
            - Esme, por favor, me chame de Ana. Somente Ana.

            A simpática senhora apenas sorriu.


            Entrar no quarto foi uma surpresa. Não era o que espera. O lugar não combinava com a fazenda. E era muito parecido com o do hotel onde Grey se hospedava. Não parecia o lar de ninguém. Era um ambiente frio. Combinava com ele, era contraditório como Christian. Deixou tudo sobre a cama e pediu que Jéssica a acompanhasse em um tour pela casa.

            - Aaaa sim, mas é que eu tenho muita coisa pra fazer agora e...
            - Agora eu, sua PATROA está dizendo que quer conhecer a casa e você irá me mostrar os cômodos.
            - Sim senhora. – Disse ela a contragosto.
            - Olhe Jéssica...eu costumo tratar a todos bem e acho bonito sua fidelidade ao Christian, mas eu sou a esposa dele e dona dessa casa. Por isso acho bom você me respeitar.

            A jovem não respondeu. Estava claro que a convivência não seria fácil.

            Cozinha, salas de TV e de jantar, escritório, dois banheiros e a área de empregados dominavam a parte de baixo da casa. O segundo piso tinha a academia, biblioteca, sala do piano, o quarto dela e de Grey e mais três quartos de hóspedes, cada um com seu banheiro privativo.

            - O que há nesse quarto? – Perguntou Ana ao tentar abrir uma porta trancada.
            - Não sei. Só o patrão sabe. Era um quarto antes, mas ele mandou reformar e se trancou aí um dia todo. Ninguém sabe o que tem...mas deve ser algo que ele gosta muito. A senhora...que é a esposa... devia saber.

            Sem conseguir entender e com medo de tentar descobrir, Ana deixou isso passar. Tinha que falar com Grey. Não gostava de ser surpreendida na própria casa. Lembrou de outra questão.

            - E o irmão de meu marido? Pensei que ele vivia nessa casa. Onde fica o quarto dele?
            - Do que a senhora está falando? – Jéssica empalideceu.
            - Estou falando de Emmett, o irmão mais velho de meu marido. Ele não vive aqui?
            - O patrão Emmett vivia sim. Mas ele está morto.

            Ana sentiu as pernas fraquejarem. Morto? Como morto? E ela sem saber disso.

            - Faz pouco tempo? – Perguntou.
            - Sim, pouco tempo. – A garota estava estranha. – Eu já lhe mostrei tudo...será que posso ir fazer meu trabalho agora.
            - Pode. Eu vou tomar um banho e descansar antes de desfazer as malas.

            E foi o que fez. Tinha muito o que pensar antes de enfrentar Grey.




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