segunda-feira, 27 de maio de 2013

A Mentira - Capítulo 6: sádica decisão


            Ter de pensar em tudo aquilo e ainda por cima não poder contar nada para ninguém. Nem mesmo para Kate. Como assim virar a submissa dele? Tudo bem que ele é lindo, rico, gostoso e estava invariavelmente apaixonada...mas daí a ir para uma fazenda quase perdida no fim do mundo para ser sua ‘escrava’?

            - Não, não Grey. Você está querendo demais. – Ana falava sozinha em seu quarto.

            A decisão envolvia coisas demais. Estaria deixando seus amigos, largando o grupo de dança e desistindo de trilhar uma carreira profissional. Mas, se dissesse não, também estaria abdicando do único homem que a fez realmente amar. Seus outros namorados...bom...namorados mesmo foram apenas dois. Eles eram queridos, simpáticos, gostavam dela. Faziam todos os seus desejos...e aí estava o problema. Nenhum tinha esse instinto de comando que parecia tão natural em Christian. Ela mandava e desmandava nos ex-namorados e isso com o passar do tempo ia ficando chato. Sem falar que na cama eles não pareciam ter nem um décimo da intensidade de Grey.

            - Mas que merda! Eu o quero...porque ele não pode ser normal? Pra que casar agora? Pra que chicotes e varas? Pra que esse negócio de submissão? Pra que contrato?

            Naquela madrugada chegou a conclusão que teria de dizer não para Christian. Não podia simplesmente abandonar todas as suas crenças e se transformar em uma submissa. Não tinha em seu corpo sem mesmo uma gota de sangue submisso. Sempre fora a aluna mais contestadora de sua escola. Brigava pelo que era certo. Questionava os tios e professores quando lhe diziam não.

            - Sou uma garota independente! – Com essa decisão adormeceu.


E sonhou com um homem belíssimo, de olhos acinzentados e barba por fazer andando por uma fazenda distante. Ele lhe chamava para ir com ele.

            Na manhã seguinte estava devorando seu café da manhã no jardim quando José e Alice chegaram. A prima resolveu provocá-la logo cedo. Hoje não estava para brincadeiras. Muito menos as venenosas vindas de Alice.

            - Se comer assim, querida prima, vai ficar gorda feito uma porca e até o Christian, tão apaixonadinho, desiste você.
            - Você deveria ir contar as celulites da própria bunda ao invés de cuidar o que eu como, Alice. Eu não fico gorda, querida prima, fico gostosa. E o Christian não está reclamando.
            - Não briguem meninas. – José sempre tentava apaziguar as discussões. – Ana...eu queria ir montar com você hoje.
            - Claro primo! Vamos sim. – Ela ficou feliz por poder tirar Grey e seu contrato insultante do pensamento por algumas horas.
            - Mas eu achei que você vinha ficar na piscina do clube comigo, primo. – Alice fez biquinho e reclamou.
            - Eu passei os últimos dias com você, Alice. Hoje vou cavalgar com a Ana. Logo papai quer que eu assuma um cargo na diretoria do banco e daí acabaram os dias de farra.

            Foi uma manhã deliciosa. Somente ela, José o os cavalos. Seu primo era um rapaz fantástico. Daqueles que mesmo riquíssimo não era esnobe e tratava a todos bem. Conversavam sobre muitos assuntos. Os filmes que viram, os livros que leram, saudades das férias da infância...e muitas outras coisas. Ser feliz ao lado de José era fácil. E isso evidenciava o quanto a relação com Grey era difícil.

            Foram almoçar juntos e, já no restaurante, José deixou-a sozinha na mesa para cuidar de outros assuntos. Foi aí que tomou coragem, pegou o celular e discou o número dele. Por sorte caiu na caixa de mensagens.

“Oi. É a Ana. Espero que você esteja bem. Sei que me deu uma semana para pensar, mas já tenho sua resposta. É não. Eu me apaixonei por você. Mas não posso largar minha vida para virar um capacho e saco de pancadas seu. Adeus, Christian.”

            Desligou o telefone o mais rápido que pode. Estava leve por ter desabafado, mas triste por ter afastado o homem que amava. Lágrimas encheram seus olhos. Fora covarde e nem mesmo se despediu dele pessoalmente.

            - Tudo bem, Ana? – Perguntou José ao retornar à mesa.
            - Quase tudo. Vocês homens são muito complicados.
            - Nós? Eu não sou nada complicado. Seu namorado pode até ser.
            - Porque diz isso? Acha o Christian complicado? – Ela não disse que tinha terminado com ele. Se é que tinham terminado.
            - Complicado? Não sei. Ele sempre foi muito fechado na faculdade. Não tinha amigos a não ser uma mulher mais velha.
            - Mulher mais velha? – Como assim?
            - É, mas ele não a apresentava para nós. Nem saía com outras garotas. Devia ter um caso com ela. Mas acho que acabou. Depois que concluímos nossos cursos, boa parte do pessoal voltou. Eu, o Grey e mais alguns é que ficamos fazendo pós e outros cursos. Não o vi com ninguém nos últimos tempos.
            - Nenhuma namorada?
            - Ninguém. Mas ele nunca falava da família nem de ninguém. Seu namorada parece ser muito calado e discreto...mas boa gente. Por mais que eu me arrependa de tê-lo convidado para ir lá em casa, tenho que aceitar que ele é um bom homem.
            - Porque se arrependeria, José?
           
Ele olha para a prima por alguns minutos.
            - Você sabe o porque. Se ele não tivesse ido àquela festa, vocês nunca teriam se conhecido e aí, talvez, você teria me dado uma oportunidade.

            Anastásia ficou vermelha de vergonha. Não iria negar. Talvez José estivesse certo. Ele poderia tê-la feito feliz. Mas isso foi antes de conhecer Christian Grey. Agora nenhum homem parecia poder competir com ele.


            Somente no meio da tarde Christian ouviu a mensagem deixada por Ana. Ela estava nervosa. Quase gaguejava. Não parecia ter desistido completamente do relacionamento deles, mas estava dizendo não claramente.

            - O que eu faço agora? – Disse dando um murro na mesa.

            Não queria e não podia desistir dela. Sua vontade era ir até a mansão onde vivia colocá-la sobre os ombros e obrigá-la a se submeter a ele. Não podia. Malditas obrigações legais! Sempre teve a mulher que desejou...desde Elena, de quem foi submisso e depois com quem aprendeu a dominar e com todas as parceiras que se seguiram. Nunca, nenhuma lhe disse não. Mas não era essa a questão.

            - Posso achar outra mulher quando desejar!

            - Não...não podia. Não a mulher que merecia sua vingança. Anastásia era com ela. Era como a prostituta do crack. Anastásia não respeitava, não amava. Só usava e jogava fora sem nenhuma preocupação. Não zelava por aqueles que a amavam assim como a mulher que o colocou no mundo não zelou por ele.

            - Você não vai escapar assim de mim, Anastásia.


            Ana pretendia sair para dançar com os amigos quando bateram na porta de seu quarto. Era a tia. Não estava com cara de quem queria bater um papo amigável.

            - Sim, tia. Quer falar comigo?
            - Sim. – Disse ela já entrando. – Não gostei do que você fez hoje.
            - Bom, isso não é muito novidada. Mas o que lhe desagradou dessa vez?
            - Não fale comigo nesse tom! Posso não ser sua mãe, mas te criei quando não tinha nenhuma obrigação de fazer isso. – Lembrou a elegante mulher.
            - O engraçado é que para Alice a senhora não atira isso na cara a cada oportunidade que aparece.
            - Porque Alice sabe se colocar, sabe se comportar, sabe não envergonhar minha família. Enquanto você não nega a raça que tem.
            - Pois eu tenho a mesma raça que a sua família, tia Melissa. Sou filha do irmão do tio Ray.
            - Mas puxou a sua mãe! Uma mãe que envergonhou a família ao fugir com outro homem.

            Ana cresceu ouvindo cochichos desse assunto. Era o que todos comentava. Carla tinha se envolvido com outro homem e foi embora abandonando marido e filha. Seu pai morreu de desgosto. Mas nunca fora tão humilhada. Nunca tinham lhe ofendido dessa forma.

            - E posso saber o que tanto a ofendeu titia? O que eu fiz de tão grave para vir aqui me dizer essas coisas?

            Melissa pareceu se envergonhar do que disse.

            - Desculpe, Ana. Sei que não tenho que te falar isso. – Ela resolveu mudar de assunto. – Alice passou o dia triste porque José ficou com você.
            - Ela tem de reclamar com ele. – Ana respondeu.
            - Não é assim e você sabe. Alice ama o meu filho e você sente nada por ele. Então porque fica dando corda as investidas dele. Vá viver sua vida com o Grey ou com qualquer outro dos seus namorados. Alice é a mulher certa para José! Eles podem formar uma família.
            - Mas tia...
            - Estou te pedindo Anastásia, não estrague a vida de meus filhos. Deixe-os serem felizes juntos.

            E com isso a tia deixava claro que para ela Alice era como uma filha. Ela não.

            - Eu entendi o recado, tia. Agora, por favor, não me deixe sozinha. -  Disse ela querendo ficar sozinha para chorar.

Precisava pensar na vida e tomar uma atitude. Era muito triste viver numa casa onde não era desejada. Onde nem mesmo seu tio Ray a tratava bem mais. Logo ele que fora um pai para ela durante a infância, agora a tratava com frieza. Não tinha mais o que fazer ali.

_________#____________

            O relógio marcava 11:45. Christian havia tomado banho e estava só de roupão olhando pela sacada de seu quarto de hotel. Já tinha falado com Taylor, o administrador que contratou para a fazenda, e tudo estava perfeito. Havia contratado uma governanta chamada Gail para preparar tudo. E ele mesmo tinha organizado seu quarto de jogos, que agora era um cômodo proibido e trancado a chave. Tudo pronto para receber a dona da casa. Sua esposa. Sua mulher. Sua submissa. Anastásia. Só que ela disse não.
            O mau humor tomava conta de seu corpo. Do que ela precisava? Flores e chocolates? Podia dar isso a ela. No dia seguinte iria procurar Ana. Tinha que fazê-la reconsiderar a resposta. Precisava de sua vingança. Precisava de Anastásia.
 Sem que a recepção o hotel o avisasse, a campainha da porta toca. Não estava esperando ninguém e nem mesmo trocou de roupa para atender. Sua surpresa e felicidade não poderiam ser maiores ao abrir a porta.


            - Ana...você aqui? Eu ouvi sua resposta e ia procurá-la para fazê-la pensar melhor em minha proposta. – Ele percebeu que ela estava perturbada, mas não a deixou falar. – Podemos negociar algumas partes do contrato. Você me dirá quais limites eu não posso ultrapassar e eu respeitarei isso.

            - Sim, Grey. Eu estou dizendo sim à sua proposta. Vou me casar com você e morar na fazenda.


Nota da autora: Se alguém se interessar. Esse vídeo tem um gostinho do próximo cap:
  
É a entrada da novela A Mentira aqui no Brasil. A música é cantada por Bruno e Marrone e é MUITOOOOO dramática. Mas têm cenas do casamento do nosso casal. (q na novela se chamava Verônica e Demétrio) É pra quem curte um drama.

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