sábado, 27 de abril de 2013

A Mentira - Capítulo 3: paixão


Chegou a hora do jantar e Grey preferiu não contar da morte de Emmett. Tudo indicava que a mulher não sabia que ele tinha morrido já que Anastásia e Alice não manifestaram nenhum sentimento ao serem apresentados. Ou não perceberam o parentesco! Tinha que tirar essa dúvida.

            - José! – Ele chamou o amigo que conversava com o pai. – Muito prazer, senhor Raymond. Sou Christian Grey. É um prazer conhecê-lo.
            - Igualmente senhor...Grey. Engraçado, fiz negócio com um Grey, não faz muito tempo. Mas ele está sumido faz algum tempo.
            - Emmett Grey? – Sim, era verdade. Seu irmão conheceu essa família. E morreu por causa disso.
            - Sim. Emmett Grey. Ele estava querendo o apoio do banco para seus negócios. Infelizmente o crédito não foi aprovado.
            - Ele é meu irmão, Sr. Fernandes Negrete. Faz muito tempo que não o vejo.
            - Mas você não foi vê-lo assim que chegou? – José questionou lembrou o que ele havia dito no aeroporto.
            - Sim, mas é muito longe e eu resolvi esperar. Logo irei. – Era bom que ainda não soubessem da morte do irmão.

            Ainda ficou observando Anastásia correr e dançar com os amigos. Era uma das mulheres mais belas que já tinha visto. E livre. Muito diferente das submissas que teve na Europa. Não parecia uma mulher obediente e discreta. Saberia receber ordens? Se fosse realmente responsável pela morte de Emmett seria obrigada a aprender. Já teve muitas submissas que o obedeciam cegamente. Só recebeu ordens de uma mulher: Elena. Amiga de sua mãe, Elena mora na Europa há muitos anos e Grace ‘lhe confiou’ cuidar de seu menino enquanto ele ia estudas no exterior. Sendo adotado após uma infância cheia de traumas, cresceu gerando muitos problemas e estudar fora era uma alternativa que agradou seus pais.
            Grace acha que fez a coisa certa afinal seu filho concluiu a faculdade de engenharia e não se envolveu mais em nenhuma confusão. Em poucos anos também fez muito dinheiro com investimentos no mercado financeiro. Elena só lhe fazia elogios.
            Ela apenas não contou como o ensinou a ter disciplina nos estudos e a não se relacionar com ninguém que ela não aprovasse. Foi seu submisso por anos. Suportou duros e cruéis castigos tendo como recompensa deliciosas seções de sexo. Só que faz 7 anos que estava na Europa. Já tinha concluído até um pós graduação. Nesse tempo percebeu que não queria ser submisso, nasceu para dominar. Elena aceitou. Não tinha alternativa. Não queria perder seu garoto. Tornaram-se apenas amigos e ela o ajudava a escolher suas submissas. No momento não tinha nenhuma. E olhar para Anastásia dançando com aquela roupa provocante estava lhe despertando sentimentos desconhecidos. Tinha vontade de lhe dizer que ela não deveria se mostrar para mais ninguém além dele. Que só ele podia lhe tocar. Que aquele sorriso era apenas para os seus olhos. E, principalmente, sentia vontade de levá-la para um local deserto e erguer-lhe a saia para ver se a pele do traseiro era tão branca quanto o restante e depois deixá-la rosada com uma série de palmadas rápidas, fortes e ardidas. Assim ela entenderia quem manda, quem era o dominante. Depois poderia lhe mostrar como era bom ser fodida com força e ouvi-la gemer sem parar em seus braços.

            - Senhor Grey...senhor Grey...- Justamente ela veio lhe tirar desse devaneio.
            - Anastásia...desculpe. Eu estava distraído.
            - Eu percebi. Quero saber se dança comigo.
            - E onde estão todos os seus parceiros? – Era uma oferecida. – Vi que tem vários.
            - Todos se cansaram.- Ela fez uma carinha de inocente que conquistaria a todos.

            Logo estavam colados na pista de dança. Era bom tê-la ali. Mais baixa, Anastásia parecia tão bem encaixada nele. Quando estava perto dela as certezas iam embora novamente.

            - Você é uma moça muito bonita. Sr. Fernandes Negrete.
            - Por favor, me chame de Ana ou, se preferir formalidades, Sr. Steele. É o sobrenome real. Não sou filha dos Fernandes Negrete.
            - Ok. Ana, você é uma moça muito bonita.
            - Obrigada, Sr. Grey. – Logo ela deu mais uma prova do quanto podia ser ousada. – Se é assim, porque não me chamou para dançar a noite toda?
            - Não acha que está sendo muito direta, Senhorita Steele?
            - Não. Sou uma mulher descomprometida. Posso dançar com quem desejar. Seguir qualquer instinto.
            - E você segue todos os seus instintos? – Os lábios dela o estavam chamando.
            - Todos. Cada um deles, Sr. Grey.

Levou-a para o outro lado da pista e saiu andando em direção aos fundos da casa. Passou por um garçom e pegou duas taças. Ela bebeu um gole, ele nada. Preferiu provar da bebida em seus lábios.
            Beijou-a com força, seus lábios, língua e dentes se tocaram. Ela estranhou. Logo se afastou e, para surpresa total, sentiu um forte e ardida bofetada estalando em seu rosto.

            - Qual seu problema?! Me beijar assim! Quase machucou minha boca. Não sabe tratar uma mulher? – Ana gritou.

            Há muito tempo nenhuma mulher ousava lhe dar um tapa. A última fora Elena. Quem Anastásia pensa que é? Resolveu fazer o papel de homem compreensivo para não deixar a presa escapar.

            - Desculpe se a ofendi, Ana. É que foi mais forte que eu. Você é uma mulher perigosa.
            - Por que te dei um tapa?
            - Não. Porque é capaz de virar a cabeça de um homem, de fazê-lo enlouquecer e agir loucamente por você. Me diga...nenhum homem cometeu loucuras por você?
            Ela riu sensual antes de responder.
            - Talvez...mas já era louco antes de me conhecer. – Ela disse e Grey sentiu o sangue ferver. – Ninguém é responsável pelos atos dos outros.

            Será que ela iria confessar?

            - Então a mulher que leva o homem a cometer um erro não é responsável? – Ele atirava verde para ouvir sua resposta.
            - Não! Se ele cometeu o erro, ele responderá pelo erro. Simples assim. – Ela voltou a beber. – E porque estamos falando disso?
            - Não sei. – Ela era escorregadia. Teria que ser mais direto. – Você conheceu meu irmão? Emmett Grey? – Perguntou e olhou bem em seus olhos.
            - Sim, claro. Ele veio aqui. Conheci ele em uma festa. – Nenhum relance de tristeza ou de arrependimento em seu rosto. – Ele está bem?
            - Muito bem. – Foi a resposta seca.

            A festa terminou sem ele ter a certeza de que realmente precisava. E, o pior, percebeu que não queria se afastar de Anastásia. Sendo ela a culpada ou não. Desejava essa perigosa mulher.  Precisava ter uma conversa com Alice. Não desconfiava dela, mas tinha que tocar no nome de Emmett para ver sua reação. Quando estava se despedindo de todos ela se aproximou.

            - Gostei de vê-lo dançar com Ana. Assim ela largou de José um pouco.
            - Eu também gostei de dançar com ela.
            - Todos gostam. Ana é assim...encanta a todos. Enlouquece os homens. – Estranho...parecia ter muito ciúme na voz dessa moça. – Acho que formarão um lindo casal.
            - Não antecipe as coisas, Senhorita Alice. Mas me diga uma coisa...meu irmão já esteve nessa casa...talvez o conheça.
            - Quem é? – Ela perguntou. Por um momento sentiu algo falso em sua voz. Mas logo deixou de lado.
            - Emmett Grey. – Falou e sequer a viu piscar.
            - Não, nunca ouvi falar. São tantas pessoas a vir aqui.
            - Sim, claro.

            Christian deixou a mansão sem saber muito bem o que fazer. Alice não conheceu Emmett, Anastásia sim. Esta não se considerava culpada de nada. Somente porque não foi ela a apertar o gatilho não significa que não é a responsável. Foi por ela que ele se matou. Pela sua crueldade. Mas e se não for ela? E o que faria com ela quando confirmasse?
            Já em seu quarto no hotel fez uma ligação para Elena. Na Inglaterra a loura exuberante ficou feliz em ouvir a sua voz. Mas não com o que ele perguntou.

            - Por que está dizendo essas coisas, Grey? O que você fez? – Ela estava apreensiva.
            - Ainda não fiz nada. Mas quero sua opinião. Você acha possível eu ter uma submissa que não é adepta ao sadomasoquismo e que não tenha exatamente...escolhido participar disso?
            - Garoto o que você está aprontando? Possível tudo é. Eu já tive um assim.
            - A é?
            - Sim, mas dura pouco tempo. Se não gosta da dor o submisso logo desiste.
            - Eu não lhe daria a opção de desistir. Quem decide quando acaba sou eu. – Ele foi tão enfático que até Elena se assustou.
            - Grey, preste a atenção: o que nós fazemos é uma prática consensual. Qualquer coisa fora isso deixa de ser submissão para escravidão.
            - Não estou dizendo que irei escravizar uma pessoa, Elena...estou apenas pensando em castigar, ao nosso modo, alguém que comete erros muito graves e sequer percebe o que vem fazendo.
            - E ela assinaria os papéis?

            Ele não respondeu.

            - Christian!
            - Talvez...o termo de confidencialidade, o contrato de permissão à submissão e, talvez um outro contrato.
            - Do que está falando, Grey? Você está muito estranho.

            Ele encerrou a ligação sem falar nada e deixou Elena muito preocupada.

            Mas não era só Elena. Na mansão dos Fernandes Negrete, Alice também não conseguia dormir de preocupação. Havia algo de estranho com o amigo de José. Percebeu logo cedo que ele ficava observando ela e Ana de forma obsessiva. Mas só soube quando ele perguntou de Emmett. O desgraçado sabe que teve algo com Emmett Grey.

            - Claro que sabe! São irmãos!

            Mas ele parecia em dúvida. Podia não saber.

            - Que importa? Não devo nada para ninguém!

            Tinha terminado o relacionamento há algumas semanas. Teve um tempo em que Emmett pareceu um bom partido. Dizia que ficaria rico com a fazenda produtora de cachaça. Mas só a ideia de morar naquele fim de mundo...não. E José estava chegando. Era muito mais fácil afastar José de Ana e casar com ele do que ficar arrancando migalhas de um fazendeiro que ‘achava’ que ia fazer fortuna. Sem falar que em São Paulo estava perto de Jasper...ele sim era seu amor. E pai do filho que esperava. Tiveram uma briga quando fez o aborto. Jasper ficou bravinho quando tirou o bebê, mas teve que explicar que José não era bobo como Emmett para acreditar que aquele filho é seu. Preocupada, ligou para Jasper.

            - E você acha que o tal Christian sabe que você deu o golpe no irmãozinho?
            - Não. Saber não, mas ele desconfia de algo. Amor, o que eu faço? – Alice perguntou desesperada.
            - Você deixou alguma prova? Algum recado em rede social? Algum e-mail? Algo assinado?
            - Eu não sou burra, Jas! Claro que não. Eu falava com ele por telefone e mandei uns cartões. Mas assinava só com a letra A. Não tem como ele me achar.
            - Então porque está nervosa? – Jasper já estava de saco cheio desses Grey trazendo dor de cabeça.
            - Porque ele ficava perguntando de mim e da Ana. E se falar algo para o José? Meu plano vai por água abaixo!
            - Ele pode estar desconfiado da Ana.
            - Não! Isso não! Eu quero mais é que ele pense que a Ana é a mulher da vida dele e fique com ela. Assim o José é meu.
            - Bommm Alice, eu to com sono. – Mesmo gostando do golpe que dariam, Jasper sentia ciúmes de Alice. - Vá resolver os seus problemas. Boa noite!
            - Jasper! Não me deixe sozinha nisso!
            - O que você quer que eu faça?
            - Me ajude a encontrar uma saída.
            - Alice, o que você tem de fazer é queimar a Ana com a família e aproximar ela do Grey.
            - Como? – Falar era fácil.
            - Ainda tem aquele laudo?
            - Da gravidez e do aborto? – Ela tinha apresentado a identidade da prima na clinica e o laudo de gravidez saiu com o nome de Anastásia Stelle. Quando  foi a emergência após tirar o filho, a internação também foi feita com o nome de Ana. – Sim.
            - Mande para seu tio e José. Eles vão perder a confiança nela, mas não vão contar pra ninguém. Sua família não vai querer o escândalo de um aborto. E, com sorte, sem a atenção dos tios ela se aproxima do Grey.
            - Sim, você está certo.
            - Ótimo, agora durma e me deixe dormir.


            Alice começava a armar seu plano.


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