domingo, 31 de março de 2013

Regras Quebradas, Limites Ultrapassados - Capítulo 25: o tempo passa


Foi realmente um dia de agenda cheia. A sessão de fisioterapia foi...dolorosa, mas necessária. Tinha que se esforçar para recuperar totalmente os movimentos do pé e das mãos. Logo teria um bebê em seus braços e queria poder cuidar dele como fez com Teddy. Não, não exatamente da mesma forma. Agora não seria somente ela e o bebê. Christian estaria ali em todos os momentos. Para lhe amparar, para auxiliar, para dar amor a esse menino ou menina que logo chegaria.

            - Posso te perguntar uma coisa? – Falou ao acordar nos braços dele.
            - Sempre.
            - O que você sente pelo nosso bebê?
            - Ana...eu achei que você não estava mais insegura quanto a isso. – Havia preocupação em seus olhos. – O que eu tenho que fazer para você acreditar que eu sou sincero? Eu quero esse bebê. Só de pensar que você chegou muito perto de perder ele eu...sofri como se estivesse no inferno.

Ela não estava convencida.

            - É que num momento de dor a gente pode pensar e fazer coisas e depois se arrepender delas. Tenho medo de você mudar de ideia...e aí já seria tarde demais porque nós já estaríamos muito apegados em você. Eu não sei se eu tenho forças para colocar uma mochila nas costas e recomeçar novamente Grey.
            - Eu espero que você não faça isso nunca mais, Ana. E, se fizer, dessa vez não será tão simples. Saiba que eu iria lutar para manter uma relação com meus filhos. Eu amo vocês.

            Com isso eles colocaram ponto final naquele assunto. A consulta com a ginecologista foi tranquila. Ela apenas reafirmou que precisaria manter mais repouso que as grávidas em uma gestação comum. Quando recuperasse a mobilidade normal, poderia caminhar pela casa ou fazer alguns exercícios leves. Mas sem excessos.

            - Hidroginástica é uma ótima opção. Vi que vocês têm piscina aberta e aquecida. Deve aproveitar para ficar em forma e saudável até a hora do bebê nascer.
           
            Evitar excessos também era a regra no campo sexual. Ela pediu mais algumas semanas de abstinência e avisou que depois poderiam voltar a manter relações.

            - De forma leve. Sem estripulias. – Orientou a doutora.

            Christian assistiu Ana ficar corada ao ouvir a médica. A orientação não o surpreendeu. Apesar de ser muito desagradável ter de ficar longe do corpo de Ana, mesmo se ela estivesse fisicamente liberada, não poderia forçar nada agora. Ela tinha de se recuperar psicologicamente primeiro. Flynn iria ajudar. Ao chegarem ao consultório, pediu, delicada, porém de forma firme, para Grey esperar na recepção durante a consulta.
            - Bom, Ana, nós podemos começar com você me contando como está se sentindo nesse momento. Eu não estou falando do que se passou durante seu sequestro, mas de todas as mudanças recentes na sua vida. – Iniciou o médico.
            - Não é pouca coisa.
            - É a história da sua vida, Ana. Não poderia ser ‘pouca coisa’. Eu lembro de quando você veio aqui, há alguns anos, querendo entender o homem que estava namorando. Naquele tempo você não acreditava que era capaz de satisfazer as necessidades de Christian.

Parecia que ele lhe contava um filme. Mas esse era um filme da sua vida.

            - De lá para cá muita água rolou sob a ponte. – Seguiu Flynn. – Vocês casaram, separaram, tiveram um filho, voltaram, passaram por momentos traumáticos e agora parecem decididos a investir na relação. Como você se sente a respeito de tudo isso?
            - Bemmm...nós crescemos de lá para cá. O Christian não é mais aquele homem dependente dos próprios desejos sádicos. Ele teve submissas, mas não é mais tão obsessivo por comandar a minha vida.
            - Quando vocês se separaram, Christian passou por momentos difíceis. Acho que a paternidade foi um aprendizado para ele.
            - Sim, Teddy o fez ver o mundo de outra forma, Flynn. Mas também nos manteve separados por longos cinco anos. Eu não tenho mais medo de sadomasoquismo. Hoje meu maior temor é que Christian me acorde desse sonho familiar e me diga que não pode educar dois filhos. Tenho medo de ver meu castelo desmoronar.
            - Não acha que o tempo lhe trará a confiança?
            - Talvez.
            - E como o sequestro interferiu na relação de vocês? – O experiente profissional ia fazendo-a falar.
            - Muito, acho. Jack veio atrás de mim para resolver problemas do passado dele com Christian. Nunca fui eu o verdadeiro alvo. Ele só desejava atingir Christian.
            - E você acha que as atitudes de Christian estão sendo abaladas pelo sentimento de culpa?
            - Não sei, é possível. Ele está muito arrependido de não ter firmado laços com Teddy e quer me recompensar agora. Mas é impossível. Esse bebê não vai apagar o que se passou há cinco anos.
            - Mas a história de vocês certamente tomou novo rumo. Ele está muito preocupado com sua gravidez. Sinceramente, Ana, é fácil ver que ele ama você e os filhos.
            - Sim, eu sei. – Ela se sentia triste. – Como se nós já não tivéssemos problemas o bastante, agora...fisicamente estamos afastados.
            - Sou médico Ana, pode ser clara. Não tenha vergonha. Vocês não tiveram relações sexuais, imagino.
            - Não. Estou proibida por mais algum tempo. Mas...
            - Mas? – Ele insistiu.
            - Não sei se quero. Não sei o que vou sentir quando ele me tocar. As mãos de Jack em mim ainda me aterrorizam. Eu sonho com ele me tocando ou me abrigando a tocá-lo. É nojento.
            - Já foi nojento com Christian?
            - Não! Nunca! Não é igual. Nunca foi igual.
            - Então porque você acha que vai misturar as estações dessa forma?
            - Não sei. Mas tenho medo.

Ele olhou para o relógio. Ainda tinham tempo, mas sabia que Ana precisa pensar nas próprias nas conclusões que ela mesma tinha encontrado durante a conversa. Ele caminhou até a porta e encontrou Grey com olhos ansiosos e temerosos.

            - Pode entrar Christian. Acho que basta por hoje. Eu gostaria que Ana voltasse aqui em alguns dias.

            Eles não conversaram a respeito do que se passou no consultório. Essa seria uma rotina. Muitas consultas, momentos em família e idas à fisioterapia. Também não faltaram visitas à Ana. Ray, Carla, Kate, Mia, José e o pessoal da editora vinham seguidamente.

            - Ray, seja bem vindo a nossa casa. – Christian disse ao recepcionar o ‘sogro’ com quem não trocava mais do que cumprimentos forçados desde aquele encontro no seu escritório logo após Ana deixar o apartamento e pedir o divórcio. – Ana está deitada. Eu levo você até o nosso quarto. Ela vai adorar ver você.
            - Quer dizer que agora, depois de tudo o que se passou, vocês dividem o quarto? – Ray exibia uma cara de quem não estava nada contente.
            - Eu não pretendo viver em pecado com Ana por muito tempo, Ray. Aliás, por mim nós estaríamos casados. Mas não vou pressionar a Ana nesse momento. Então sim, nós dividimos o quarto.
            - E eu serei avô novamente. – Não era uma pergunta.
            - Ray, eu sei que você não gosta de mim. E até aceito que tenha suas razões. – Em especial depois de tudo o que aprontou. – Mas Ana quer me dar mais uma chance e eu não vou desperdiçá-la. Então eu acho que você vai ter que me aturar por muitos e muitos anos.

            Ray pensou por um momento.

            - Eee parece que não tenho alternativa. – Ele estendeu a mão ao ‘genro’. – Podíamos marcar uma pescaria pra um final de semana desses.
            - Claro.

            8 semanas depois...

            A rotina era algo natural para qualquer casal. Menos quando se morava com Christian Grey. A cada dia ele lhe fazia uma surpresa. Era um café da manhã especial, um piquenique no campo, tardes preguiçosas na cama e preparações para a chegada da filha. Phoebe! Quando completou 4 meses de gravidez foi fazer o exame para ver se teria menino ou menina. E dessa vez ele estava lá, segurando firmemente sua mão. Não cabia em si de tanta felicidade.


            - Você ganhou um bom peso, Anastásia. Quem olha seus exames hoje, nem imagina como você deu entrada nesse hospital meses atrás. – Disse a médica.
            - É que eu tenho sido muito bem tratada e alimentada. – Disse em provocação a Christian que vivia lhe oferecendo comida.
            - E tem dado ótimos resultados. Olhe como essa barriga já está redondinha? – Até a doutora estava surpresa com a evolução da gestação. – O bebê está perfeitamente formado. No peso e no tamanho correto. Se o senhor é o responsável pelos cuidados, Sr. Grey, está de parabéns. Será uma linda menina.

            Elogiado pela médica, Christian ficou ainda mais obsessivo em seus mimos e cuidados. Ela tinha comido um farto café da manhã há apenas três horas e ele insistia que ela precisa de um lanche.

            - Eu não sinto fome, amor.
            - Você pode não sentir, mas minha filha sente. Se ela puxou ao pai, certamente sente mais fome que você.
            - Ela é um bebê, Grey.
            - Por isso mesmo! Está em fase de crescimento! Você vai comer, Anastásia. Não discuta comigo.

            Até pensou em discutir, mas parou quando ele colocou a sua frente uma deliciosa taça de salada de frutas com uma generosa bola de sorvete de baunilha. Ela se deliciou com a guloseima gelada.

            - Como ficou a questão do processo pela morte do Jack, Grey? – Ela aproveitou que ele estava relaxado e tocou no assunto difícil.
            - Já disse para não se preocupar com isso, Ana. Eu cuido desse assunto. Você tem apenas de cuidar da sua saúde.
            - Isso também me diz respeito.
            - Ana, por Deus, tenho uma equipe de advogados justamente para resolver essas questões. Não quero você estressada. – Mas vendo que ela não desistiria, respondeu. – Ana, o processo ainda não foi julgado. Mas estamos alegando que matei por legítima defesa. O que é a mais pura verdade. A questão da quantidade de tiros complica um pouco, mas nenhum júri irá me condenar por acabar com aquele desgraçado.
            - Se você tivesse me deixado assumir a culpa. Havia minhas digitais naquela arma. Seria muito mais fácil provar que eu me defendi.
            - Não! – Ele nem cogitou isso.
            - É mais fácil me absolverem do que a você.
            - Eu serei absolvido. – Tinha certeza. – E, se tivesse que passar alguns dias na cadeia, ao menos eu não estou grávido.

            Não adiantava ficar brigando com ele por causa disso. Só podia torcer para que os advogados caríssimos realmente fizessem um bom trabalho. Ele tratou de mudar de assunto.

            - Você tem consulta com Flynn hoje?
            - Sim, às 16hs.
            - Ótimo. Depois podemos pegar Teddy na escola e ir fazer compras.
            - Claro. – Ela queria tocar em outro assunto. – Chris eu...estou vivendo aqui há dois meses e nós...bom nós...ainda não...

            Ele a encarava e não sabia bem como agir naquela situação. Dizer que tudo bem? Que ela não precisava ter pressa? Que não sentia a falta de seu corpo? Não podia. Sentia sua distância a cada minuto. Via o corpo dela se modificar e queria fazer amor. Queria experimentar tocá-la enquanto gera aquela vida. Mas ela ainda estava arredia a alguns toques. Já tinha ido conversar com Flynn. ‘Deixe que ela tome a iniciativa’, aconselhou o especialista. Mas era difícil ajudá-la a se banhar, dormir abraçado a ela e não poder simplesmente tomar o que sempre fora seu.

            - O quer que eu diga, Ana? Que não sinto falta? Estaria mentindo. Faz sim dois meses. E têm sido meses difíceis pra mim. Eu queimo por você exatamente como antes e me seguro para não te tocar. – A abstinência o estava deixando nervoso e esse foi um desabafo.
            - Eu ainda tenho medo de alguns toques.
            - Ana...calma. Faz só três semanas que a sua ginecologista te liberou. Nós vamos evoluir nisso juntos. Antes você não aceitava toque nenhum meu. Nem mesmo um beijo. Agora já não é assim.
            - Mas não transamos. E eu sei que você quer.
            - Quero, quero muito. Sempre vou te querer. Mas eu sei esperar.

            Cada dia Ana se sentia pior com aquela situação. Inferno! Também o queria. Tinha que tomar uma atitude e enfrentar o próprio medo. Ia fazer isso. 

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